terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Apagões e soluções


Palavra de especialista: não é só a falta de chuvas e o consequente esvaziamento dos reservatórios das usinas hidrelétricas que vêm provocando apagões país afora. É a diminuição da conta de luz. É o aumento do consumo. É mais gente comprando tevê dilédi e geladeira fosfri, é mais gente ligando ventiladô e ar-condicionado ispriti, é mais gente acessando Feicebuque e Intúbio do próprio tablete.

Em suma, o problema é mais gente.

Como não é possível amarrar todo esse povo no poste com trava de bicicleta para que não gaste tanta energia, a solução seria – ainda segundo o especialista – reajustar a conta de luz acima da inflação e dobrar o IPI da linha branca. Assim a venda de refrigeradores cairia e o risco de blecaute, especialmente durante a Copa, tenderia a zero. A nova classecê nem sentiria muito a diferença: afinal, sempre gelou sua cerva no bom e velho isoporzinho.

O governo, se de fato fosse responsável, não pararia por aí – continua o especialista. Outra medida a ser tomada contra esse excesso de pessoal exercendo o direito de ir e vir, o que só faz as cidades desperdiçarem mais megawatts, seria o aumento imediato do preço das passagens. De todas as passagens. Do trem que descarrila ao avião que atrasa. Um acréscimo de cem por cento já amenizaria a crise. No dia seguinte, o metrô não estaria mais tão superlotado, o saguão do aeroporto deixaria de ser a rodoviária em que se transformou e o sistema de refrigeração de ambos seria menos exigido.

A Aneel e os senhores passageiros com destino a Nova York agradeceriam penhorados.

Eu agradeceria também, o especialista se empolga, se tirassem pelo menos um terço dos automóveis das ruas. A começar pelos das domésticas e dos porteiros. Acredita que até a babá do Mauricinho – que mal completou o ensino médio e já está pensando em faculdade – tirou carteira de motorista e deu entrada num popular? Carro para todos não é ecologicamente sustentável: só gera mais congestionamento, mais poluição atmosférica, mais aquecimento global, mais consumo de energia. Necessariamente nessa ordem. Onde vamos parar?

O especialista, não sei e tenho medo de saber. Mas antes que ele sugira um rolezinho dos cidadãos de bem pela cidade a fim de praticar o esporte do momento – tortura de menores, mendigos e afins por equipes –, vou desligar a tevê e abrir um livro. Já ajuda a economizar na conta de luz.










Fábio Flora é autor de Segundas estórias: uma leitura sobre Joãozito Guimarães Rosa (Quartet, 2008) e escreve no Pasmatório (http://pasmatorio.blogspot.com.br).

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