Ninfomaníaca de Lars: um só filme em dois volumes.
Ninfomaníaca, (Nymphomaniac),
filme de Lars Von Trier com 5 horas de duração, está dividido em dois volumes para
possibilitar sua exibição nos circuitos comerciais de cinema. É preciso
assisti-los de forma linear caso contrário seria como começar a ver um filme
pelo meio. A história de Joe, (Charlotte Gainsbourg), autointitulada
ninfomaníaca, tem a maior parte da trama contada em flashback. Dois tempos se mostram:
Aquilo que foi; passado, e aquilo que é; presente. Esses dois tempos se
articulam no enredo sendo que a ênfase maior é dada ao passado no
primeiro volume e ao presente, no segundo. A protagonista conta suas aventuras
eróticas para Seligman (Stellan
Skarsgard), um homem que a encontra, aparentemente por acaso, ferida num beco escuro.
Universo femenino tratado com carinho. |
Seligman tem uma importância fundamental
na trama pois suas intervenções, que traz a história para o tempo presente, dá
dinamismo à trama e serve como um contraponto energético tranquilizando o
erotismo do filme. Por ser um homem
conhecedor de pescaria, filosofia, música barroca e apaixonado por livros,
Seligman contribui para introduzir uma espécie de refinamento a história de
Joe. Ele a ouve como um padre e ela a conta como se estivesse em um
confessionário. O olhar doce e assexuado de Seligman contribui para a fluência da
história, contada em oito capítulos: The
Compleat Angler, Jerome, Mrs. H, Delirium, The
Little Organ School, The
Eastern and Western Church (The Silent Duck) e The Gunem. Estas partes se apresentam de forma linear e são separadas pelas ênfases
em pessoas que foram importantes a Joe, conduzindo o espectador a um domínio
melhor da importância da história. Essa
forma de contar, em capítulos, dá mais pontos
aos filmes do diretor, como se estabelecesse uma didática lógica que leva em consideração quem assiste os filmes. Sem se perder durante a trama, o público tende a ficar mais concentrado e com isso entrar na história sem extenuar-se. É como
se Lars soubesse exatamente do que o público precisa para se encantar com a
história e leva-o pelas suas mãos leves a momentos de conflito extremos com doçura
e paixão. Esse é Lars.
Lars sempre surpreende pela coragem e pelo ceticismo. |
O fato predominante na trama é que Seligman tenta amenizar a culpa de Joe
com suas intervenções intelectuais. O propósito é de inocentá-la, amenizando a culpa que sente por ser uma criatura perversa e má.
Os oito capítulos vão tecendo a
saga de Joe desde o descobrimento de sua sexualidade na infância perpassando
pela relação fria com a mãe e sua paixão pelo pai e chegando aos momentos cruciais em que se depara com todos os tipos de homens.
Outra questão relevante no filme são as cenas eróticas, muito
mais explicitas do que as de costume em outros filmes do diretor. Elas se
apresentam por vezes dramáticas e por vezes cômicas, frias e racionais,
lembrando o sexo grupal de “Os Idiotas” 1997, também de Lars.
O universo feminino que envolve o filme é intenso e verdadeiro.
Para ver o trailer original clique aqui no link do Vimeo pois o Youtube retirou o trailer oficial de cartaz.
https://vimeo.com/80817649
Para ver o trailer original clique aqui no link do Vimeo pois o Youtube retirou o trailer oficial de cartaz.
https://vimeo.com/80817649
Katia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.
0 comentários:
Postar um comentário
Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.