sábado, 29 de março de 2014

Ninfomaníaca de Lars: um só filme em dois volumes.


Ninfomaníaca, (Nymphomaniac), filme de Lars Von Trier com 5 horas de duração, está dividido em dois volumes para possibilitar sua exibição nos circuitos comerciais de cinema. É preciso assisti-los de forma linear caso contrário seria como começar a ver um filme pelo meio. A história de Joe, (Charlotte Gainsbourg), autointitulada ninfomaníaca, tem a maior parte da trama contada em flashback. Dois tempos se mostram: Aquilo que foi; passado, e  aquilo que é; presente. Esses dois tempos se articulam  no enredo sendo que a ênfase maior é dada ao passado no primeiro volume e ao presente, no segundo. A protagonista conta suas aventuras eróticas para Seligman (Stellan Skarsgard), um homem que a encontra, aparentemente por acaso, ferida num beco escuro.

Universo femenino tratado com carinho.
Seligman tem uma importância fundamental na trama pois suas intervenções, que traz a história para o tempo presente, dá dinamismo à trama e serve como um contraponto energético tranquilizando o erotismo do filme.  Por ser um homem conhecedor de pescaria, filosofia, música barroca e apaixonado por livros, Seligman contribui para introduzir uma espécie de refinamento a história de Joe. Ele a ouve como um padre e ela a conta como se estivesse em um confessionário. O olhar  doce e assexuado de Seligman contribui para a fluência da história,  contada em oito capítulos: The Compleat AnglerJeromeMrs. HDeliriumThe Little Organ SchoolThe Eastern and Western Church (The Silent Duck) The Gunem. Estas partes se apresentam de forma linear e são separadas pelas ênfases em pessoas que foram importantes a Joe, conduzindo o espectador a um domínio melhor da importância da história. Essa forma de contar, em capítulos,  dá mais pontos aos filmes do diretor, como se estabelecesse  uma didática lógica que leva em consideração  quem assiste os filmes.  Sem se perder durante a trama, o público tende a ficar mais concentrado e com isso  entrar na história sem extenuar-se.  É como se Lars soubesse exatamente do que o público precisa para se encantar com a história e leva-o pelas suas mãos leves a momentos de conflito extremos com doçura e paixão. Esse é Lars.

Lars sempre surpreende pela coragem e pelo ceticismo.
O fato predominante na trama é  que Seligman tenta amenizar a culpa de Joe com suas intervenções intelectuais. O propósito é de  inocentá-la,  amenizando a culpa que sente por  ser uma criatura perversa e má. 
 Os oito capítulos vão tecendo a saga de Joe desde o descobrimento de sua sexualidade na infância perpassando pela relação fria com a mãe e sua paixão pelo pai e chegando aos momentos cruciais em que se depara com todos os tipos de homens. 
Outra questão relevante no filme são as cenas eróticas, muito mais explicitas do que as de costume em outros filmes  do diretor. Elas se apresentam por vezes dramáticas e por vezes cômicas, frias e racionais, lembrando o sexo grupal de “Os Idiotas” 1997, também de Lars.
O universo feminino que envolve o filme é intenso e verdadeiro.

Para ver o trailer original clique aqui no link do Vimeo pois o Youtube retirou o trailer oficial de cartaz.
 https://vimeo.com/80817649


Katia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.



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