domingo, 9 de março de 2014

Strawberry fields forever com Marcy Rock



Um dos momentos bastante marcantes do Projeto Memória dos Paladares no ano passado foi a participação, em julho, no Festival de Inverno de Paranapiacaba. Tivemos uma convidada especial, a atriz Marcy Rock que adaptou uma montagem de sua autoria especialmente para a temática do projeto. Com o nome Strawberry Fields Forever, traduzindo, campos de morango para sempre, a atriz fez sua performance tendo como fundo a música homônima dos Beatles na parte aberta da frente da Casa Fox, onde estava instalada as atividades do projeto, e em um vagão-restaurante instalado na vila. Abaixo, resenha feita pela própria contando-nos os bastidores da apresentação que mostra que alimento tem tudo a ver com arte!


Processo criativo dos campos de morango


            A cena Strawberryfieldsforever foi construída  e apresentada em 2008, dentro de um processo colaborativo de amarração de cenas que partiam do individual e buscavam o coletivo. Os temas escolhidos para a construção das cenas partiram do teatro não realista, que era a proposta da peça. Cada ator escolheu um tema específico que gostaria de expor, e trabalhou dentro da proposta de um teatro mais abstrato, ao final, todas as cenas foram costuradas e formaram a peça “Pia-Máter”, que além das cenas, continha também músicas que eram cantadas pelos atores e tocadas por um pianista.





Fotos Thomas Arques

A Cena “dos morangos” passou por muitos processos e mudanças, a princípio na sua ideia original não existiam os morangos, nem essa música dos Beatles, ela começou com um ursinho de pelúcia um espelho e um athame, era uma cena sem falas, e continha apenas uma trilha sonora “imagine” de John Lennon. Durante o processo de construção e ensaios ela foi se modificando, começou a ter algumas falas, a música mudou para “A day in the life” também dos Beatles e os morangos, martelo, táboa de madeira, pregos e o famoso tecido vermelho foram inclusos. Algumas modificações de texto surgiram também e por fim a música foi alterada novamente, desta vez era Strawberryfieldsforever, que chegou para ficar.

Para o Festival de Paranapiacaba fiz mais algumas sutis adaptações, foi incluso o data show,clipes e imagens que iriam incorporar na cena além da trilha sonora já existente.

Tivemos três dias de apresentações, a princípio a cena seria apresentada na Casa Fox, dentro de uma pequena sala, mas, quando vi o tamanho da sala, que era muito pequena, resolvi apresentá-la em frente a casa, do lado de fora, em um gramado. Adaptamos uma série de artefatos e parafernálias  para fazer isso acontecer, o ator tem que ser flexível e saber lidar com mudanças sempre, e a melhor experiência do festival foram as mudanças, pois as coisas não saíram como foi planejado, mas acabou dando tudo certo. 

Nesse primeiro dia tivemos que esperar anoitecer para iniciar a cena, pois o sol atrapalhava as projeções, as pessoas foram chamadas por um microfone, elas iam passando pela rua e parando para assistir. Tive que lidar com as dificuldades como: barulhos de pessoas andando, falando, passagem de som de bandas, as pedras que eram enormes e estavam nesse gramado, tinha que tomar cuidado para não cair, a escuridão atrapalhava a movimentação corporal da cena, mas ao mesmo tempo, acrescentou novas movimentações que tiveram que ser criadas na hora. O melhor de tudo foi ter a oportunidade de experimentar esse espaço totalmente alternativo e sujeito a acasos e para lá de imprevisível, o “visual” do céu estrelado que bateu justamente com o texto e proposta de cena, foi para mim o auge dessa apresentação.

No segundo dia iríamos migrar para um outro espaço,o Núcleo Olho d’água, um espaço também aberto, porém com mais recursos para as projeções e sonoplastia. A neblina tomou conta da cidade inglesa no meio da tarde e a garoa começou a despencar, com isso a prefeitura não montou os equipamentos e ficamos sem o espaço. Fomos para o plano B, migrar de local novamente, lá vamos nós com caixas de som, data show, mochilas e sacolas, para o “Bar do Rock”, um local que conheci por acaso, gostei e resolvi tentar me apresentar por ali. Deu certo, o dono do bar me deu carta branca para eu fazer o que quisesse e assim foi o segundo dia de apresentação, em um novo espaço, desconhecido, novamente adaptei a cena, modificando algumas coisas,o data show não reconheceu os clipes que estavam no pen-drive e tive que tirar essa parte. O terceiro e último dia, foi parecido com o segundo, no mesmo local, da mesma forma, porém com pessoas diferentes para fazer a minha técnica de som, elas não conheciam a cena e tive que explicar tudo na hora, fui me adaptando dentro das possibilidades que o espaço me fornecia. 

Essas mudanças e imprevistos  contribuem de alguma forma para a nova criação, para explorar novos movimentos, novas falas e gestos, que de alguma forma fazem o ator crescer, mas confesso que a falta de certezas me deixou um pouco tensa. Quando estamos preparados e sabemos o que fazer dentro do que nós nos propormos, sempre damos a volta por cima, o público sempre deve vir em primeiro lugar e mesmo  com os imprevistos, eu apresentaria de qualquer forma, tem que se dar um jeito, e fazer o seu melhor, sempre.

O que me chamou a atenção foi uma coincidência talvez, pois essa cena começou da mesma forma que se encerrou pelo menos nessa temporada do festival, com mudanças e transformações. Para ela chegar no que levei para o festival, passou por 3 mudanças, da primeira para a segunda foram mudanças bem drásticas e da segunda para a terceira um pouco mais sutil, e assim se criou a cena Strawberryfieldsforever em 2008,e tivemos 3 dias de apresentação no festival, com uma mudança drástica de espaço do primeiro e segundo dia e mais leve do segundo para o terceiro, seja lá o que for, acaba tento tudo a ver com o que a cena transmite ao público.

Gostaria de agradecer primeiro a Ana Dietrich pelo convite e pela oportunidade e suporte oferecidos para que eu pudesse participar desse festival, agradeço também a todo pessoal do Batuclagem, Memória dos Paladares e Neblina sobre trilhos,por terem me auxiliado, e em especial a Luana Sabatini e Cyntia Morishita que me ajudaram no primeiro dia, com a cena e técnica.

 Agradeço também a Soraia OC por ter montado os equipamentos de som e imagem e ter me ajudado na técnica de som, agradeço também a Danielle Bandeira e o Rafael Duaity por terem me ajudado na técnica de som e na apresentação do último dia que estive lá, e agradeço também ao Carlos Frei,que me cedeu o espaço do  Vol. 4 Rock Bar em Paranapiacaba, para as apresentações dos últimos dias, e agradeço aos queridos que filmaram e fotografaram: Thomas Arques, Sueli Regina, Ana Dietrich, Hellen Tozi entre outros.

Marcy Rock é atriz.



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