CORAJOSAS DA ESTRADA (I): Diane di Prima.
Parceira de estrada dos "grandes nomes" da geração
Beat e escritora de poesia e prosa, Diane di
Prima é até hoje a escritora mais reconhecida da geração Beat. Atualmente,
junto com minha colega Renata Senna Garrafoni, historiadora (e também
professora da UFPR), estamos realizando
pesquisa sobre as mulheres que faziam parte desse círculo, desse movimento
cultural que ficou tão conhecido e
admirado– tanto pela rebeldia social que representava quanto pela inovação
literária e artística que realizava. Não obstante, aqui no
Brasil, até hoje, o movimento é entendido e lido quase exclusivamente através
de seus representantes masculinos. Nos
E.U.A., desde os anos 90, há uma produção relativamente intensa sobre elas, que inclui crítica, análise, e re-edição de
obras suas, resgatando a enorme e diversa contribuição de mulheres que faziam parte do
círculo Beat. O objetivo principal do nosso trabalho é fazer
que esta obra se conheça por aqui, que a partir da vida e os escritos destas se
mulheres, se entenda mais um pouco sobre
experiências e lutas de mulheres artistas e escritoras do século vinte - e desta geração pioneira em particular. Nas próximas semanas, dedicarei esta coluna para falar sobre várias delas.
Di Prima nasceu em Nova Iorque em 1934, filha de filhos de imigrantes italianos. Jovem rebelde e estudante brilhante, deixou a faculdade para privilegiar a experiência e o fazer artístico cotidianos; foi mãe solteira, amante de homens e mulheres e até moradora de rua. Em certo momento seguiu o caminho de muitos Beats, migrando para a Califórnia, onde vive até hoje. Na sua prolífica obra, ela reconstrói um tempo histórico e as vivências de pessoas que desafiaram normas e códigos de comportamento, acreditando na sua própria capacidade de abalar o "American way of life".
Do livro de memórias “Recollections of my life as a woman: the New
York Years”
Carta Revolucionária #1
Acabo de perceber que o que está em jogo sou eu
Não tenho outra moeda de resgate, nada para
quebrar ou trocar, a não ser minha vida
meu espírito parcelado, em fragmentos, esparramado sobre
a mesa de roulette. eu recupero o que posso,
só isso para enfiar embaixo do nariz do maitre de jeu
só isso para jogar pela janela, nenhuma bandeira branca
só tenho minha pele para oferecer, para fazer minha jogada
com esta cabeça imediata, com aquilo que inventa, é a minha vez
enquanto deslizamos sobre o tabuleiro, pisando sempre
(assim esperamos) nas entrelinhas
Diane di Prima
versão: Miriam Adelman
Acabo de perceber que o que está em jogo sou eu
Não tenho outra moeda de resgate, nada para
quebrar ou trocar, a não ser minha vida
meu espírito parcelado, em fragmentos, esparramado sobre
a mesa de roulette. eu recupero o que posso,
só isso para enfiar embaixo do nariz do maitre de jeu
só isso para jogar pela janela, nenhuma bandeira branca
só tenho minha pele para oferecer, para fazer minha jogada
com esta cabeça imediata, com aquilo que inventa, é a minha vez
enquanto deslizamos sobre o tabuleiro, pisando sempre
(assim esperamos) nas entrelinhas
Diane di Prima
versão: Miriam Adelman
Referência:
Di Prima, Diane. Recollections of my life as a woman: the New York Years. Penguin Books:2001.
Imagem: Regina Camargo.
Miriam Adelman é socióloga, tradutora e poeta. Nascida nos EUA, radica em Curitiba desde 1991; é professora do Departamento de Ciências Sociais da UFPR desde 1992. Atualmente coordena o núcleo de pesquisa (UFPR/CNPq) Mulheres e Produção Cultural. Publica regularmente no Brasil e no exterior, na sociologia e áreas afins. (foto: Pedro Zaniolo)
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