quarta-feira, 2 de abril de 2014

FOTÓGRAFOS PARANAENSES: A HORA E A VEZ DE ZÉ SUASSUNA



“Ser artista significa: não calcular nem contar; amadurecer como uma árvore que não apressa a sua seiva e permanece confiante durante a tempestade da primavera, sem o temor de que o verão não possa vir depois. Ele vem apesar de tudo.” (Rainer Maria Rilke)

Dando continuidade à série fotógrafos paranaenses, trazemos nesta edição o olhar de águia de Zé Suassuna. Recentemente, ele foi assim definido em uma publicação:

"Fotógrafo em tempo real e total, ele captura o adormecido em imagens de rara felicidade. José Evaldo Suassuna de Oliveira é seu nome de pia batismal, mas no meio ele é conhecido como Zé Suassuna dos amigos de batalha e dos leitores de jornal. Parente de Ariano, o Suassuna do Nordeste, é um dos grandes fotógrafos da terrinha dos pinheirais, embora avesso às badalações e dos papos de boteco girando em torno de lentes e fotômetros." (Jornal A Gralha de 24/03/2014).
Convidado para esta edição, foi pedido a ele que relatasse sua trajetória profissional e artística, e mostrasse algumas imagens, é claro. Com a palavra, simplesmente, o Suassuna:
"Comecei  profissionalmente em 1985 em Maringá. Meu tio Dr. Teodorico Gomes de Oliveira Filho (médico) perguntou-me se eu entendia alguma coisa de fotografia, respondi que não.
- Então tem a chance de aprender a fazer certo.
Comecei a fotografar para o Doutor Teodorico. Aprimorava a  fotografia médica e  um aprendizado intensivo de fotografia em geral. As câmeras eram duas Pentax: uma K-1000  e outra ME. Lia tudo que me chegava ao alcance."



"Passados uns dois anos comecei a fotografar em P&B, logo virei rato de laboratório. Passava horas e horas estudando revelação de filmes, modificando ou fabricando reveladores conforme o objetivo desejado.
Era uma obsessão. Ganhava um 'troquinho' e gastava em químicos, filme e papel. Mais atividade no laboratório copiando negativos ruins e ganhando a mais por isso.  


Tive aulas de desenho no Centro de Criatividade do Parque São Lourenço na adolescência. O Professor era João Osório. Este me ensinou a ver para depois desenhar. Em 1991 conheci o meu Mestre na fotografia, Geraldo Magella Vermelho. Foi Magella quem orientou o estudo no lab." 



"Através de Magella é que tive contato com Walter Firmo, Nair Benedicto, Zé de Boni, João Carlos Horta, Felizardo e mais um monte de gente que influenciaram meu olhar. Foi nas Semanas da Fotografia promovidas pela Fundação Cultural de Curitiba que tive contato com a maioria deles. Além de Magella, Orlando Azevedo, Lina Faria, João Urban e Valdir Cruz podem ser citados como as maiores influências."



Em sua trajetória Suassuna, elenca "a Fotografia clínica, o laboratório e o fotojornalismo, esta última a melhor de todas as escolas de fotografia. Também realizei algumas experiências com papéis 'luz do dia' como Cianótipo, Kalótipo e Marrom Van Dick.  Aqueles que eu faço e mais agrada aos outros do que a mim. Das minhas fotos eu sou muito vaidoso. Esse é o trabalho que me agrada mais."



Curiosamente, foi uma situação, e não um trabalho, aquilo que se tornou o mais gratificante na vida do fotógrafo:"Tive contato com duas pessoas que passavam momentos difíceis. A primeira com o pai idoso hospitalizado. Essa moça me agradeceu por postar fotos na internet. As longas horas de espera e angústia eram suavizadas pelas minhas fotos. E a outra só agradeceu. Não me disse o motivo da dor, mas relatou o mesmo, as fotos lhe traziam algum conforto nas horas difíceis." 



Sobre os projetos em curso, relata: "Tenho um projeto em vista, com Tomás Eon Barreiros. Uma publicação sobre arquitetura talvez um livro, isso depende de verba, não posso precisar a estatura do projeto sem saber lastro financeiro disponível.  Gosto muito deste Estado, gostaria de fotografar todas as cidades e também as pessoas. No mais eu fotografo. Tudo. Compulsivamente as vezes."



Ao falar sobre um caso engraçado ocorrido em sua carreira como fotógrafo, relembra: "Casa da jornalista e colunista social Ana Maria Petruzziello. Aniversário da Primeira Dama Fani Lerner. E eu consegui engatar uma alça do equipamento no bico do bule de chá. Este veio ao chão somente com prejuízo do chá. Todo mundo já ia me olhar com 'aquela cara' quando Ana Maria veio em meu socorro. Faltava o 'VIVA' na festa, concluiu a anfitriã. Todos gritaram, 'viva',  e eu respirei aliviado."

"O primeiro trabalho jornalístico realizado foi por via da Comissão Pastoral da Terra com a jornalista Malu Maranhão em 1994. Depois Jornal I&C de 1995 a 1998, Revista Top Magazine. Ainda em 99 entrei pra Folha de Londrina. Saindo em 2007. Entre 2008 e 2011 produzi muito pouco. No final de 2011 recomecei a fotografar e em 2012 comecei a postar no G+ e no Facebook. 



Por influência e estímulo de alguns fotógrafos que conheci no G+: o francês Many Soufan, o alemão Mike Reichardt, Yans Hapins e muitos outros G+. Assim fui aprimorando o que se vê hoje em minhas imagens. Eu confesso que a princípio não tinha me dado conta deste trabalho e seu valor. De uma hora pra outra virei artista. Passei a vender as fotos."



Sobre o ser fotógrafo, e o ato de fotografar, resume: "Uma necessidade visceral de expressão. No livro Cartas a um jovem poeta, Rilke explica bem isso. Onde se lê escrever, leia-se fotografar e pronto."  

“Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada: preciso escrever? Desenterre de si mesmo uma resposta profunda. E, se ela for afirmativa, se o senhor for capaz de enfrentar essa pergunta grave com um forte e simples "Preciso", então construa sua vida de acordo com tal necessidade; sua vida tem de se tornar, até na hora mais indiferente e irrelevante, um sinal e um testemunho desse impulso.” (RILKE, 2006, p.25) 



Referências:
RILKE, Rainer Maria- Cartas a um jovem poeta, L&PM, Porto Alegre:2006.


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Izabel Liviski é fotógrafa e doutoranda em Sociologia pela UFPR. Pesquisa História da Arte, Literatura e Artes Visuais. Edita a coluna INCONTROS quinzenalmente.

Contato: izabel.liviski@gmail.com




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