MADE IN OSAKA 3
“Nome: Hiromichi (aka Daido)
Moriyama ; Data de nascimento: 10 de outubro de 1938; Local: Ikeda
shi, Osaka; Profissão: Fotógrafo em atividade; “stray dog”.
Vive em Tóquio desde 1961.”
Para os admiradores da fotografia
do pós-guerra no Japão a figura citada acima, de forma sucinta, é
uma verdadeira lenda viva. Principalmente para aqueles que,
como eu, são adeptos do universo da “street photography” menos
bressoniano e mais transgressor. Moriyama san e suas imagens
monocromáticas – na grande maioria -, granuladas ao extremo,
borradas, (des)carregadas de significados foram uma das minhas
maiores descobertas em terras nipônicas. Claro que não é
necessário vir ao Japão nem morar aqui, para descobrir esse ícone
da fotografia contemporânea, aliás ele é mais conhecido fora de
seu país de origem.
A representatividade de sua obra
(considerada por muitos críticos no âmbito do “ame-a ou deixe-a”)
por si só já vale uma coluna, além disso, o “cara” nasceu aqui
na terrinha, Osaka.
O que me fez aproximar-me da obra
de Moriyama san e admirá-la foi seu estilo (ou, para alguns, a
“falta de”) ao retratar o universo urbano nipônico,
principalmente a área de Shinjuku em Tóquio, verdadeiro microcosmo
de uma das faces do moderno ethos nipônico. Já estive duas
vezes em Shinjuku e posso afirmar que não há nada comparável por
estas bandas osaquenses. A celebridade desse pedaço da frenética
capital nipônica se deve à presença da maior e mais movimentada
estação de metrô do mundo (com mais de 100 saídas!) - você pode
encontrar um universo sui generis nas apinhadas ruas/ruelas ao
redor desse espaço ultramovimentado. Daí (a quase) obviedade de
Moriyama san ao escolher esse mosaico urbano para nele viver,
perambular, - frequentar o mesmo bar por mais de 50 anos... - e
FOTOGRAFAR...
Verdadeiro flaneur urbano
na concepção do historiador francês Michel De Certeau, que em seu
ensaio “Walking in the city”(1988), propõe duas formas de
experimentar/ a cidade: observando-a – como voyeur - ou
caminhando por ela – em flanêrie. Enquanto a primeira
requer distanciamento, a segunda requer uma verdadeira imersão, ação
primordial, bem ao estilo de Moriyama san, que se considera um “cão
vadio”, deambulando pelas ruas com sua câmera. Muito mais um
espectador/observador do caos urbano (i.e. Japão 1960-70) do que um
crítico social.
Tendo sua formação na área de
fotografia e influenciado, dentre outras, pela obra (genial) do
fotógrafo norte-americano William Klein, o jovem Moriyama obteve
projeção nacional no final dos anos de 1960 como fotógrafo
free-lancer e um dos membros do grupo PROVOKE (プロヴォーク),
formado pelos escritores (Koji Taki e Takahiro Okada) e pelos
fotógrafos vanguardistas japoneses (Yutaka Nakahashi e Takuma
Nakahira), que, ao publicarem uma revista fotográfica homônima,
literalmente “provocaram” fissuras profundas na estética
fotográfica nipônica em apenas três edições e uma coletânea em
livro publicadas entre 1968-1970.
Entre os vários livros de
fotografia de sua autoria, quero citar aqui três: a sua primeira
obra publicada, Japan a photo theater (にっぽん劇場写真、editora
Muromachi Shobo,1968), o icônico (caro e raro) Farewell
Photography (写真よさようなら,
da editora Shain Yoron sha, 1972) e uma obra mais
contemporânea (e acessível em $) Osaka plus (editora
Getsuyosha ltda., 2007). Acabei por comprar este último e, ao
folheá-lo calmamente, consegui identificar alguns lugares de
imediato, outros mais recônditos (“the dark sides of
Japan”, como o jornal britânico Daily Telegraph definiu
o gosto de Moriyama san) só fui descobrir graças às andanças
fotográficas por Osaka com meus caríssimos amigos fotógrafos da
“velha guarda” Maeda san e Minoru san, grandes admiradores da
obra de Daido Moriyama desde os seus primeiros trabalhos e que me
mostraram cada canto retratado pelo nosso ídolo.
Moriyama san também passou um
tempo flanando pela metrópole paulistana, e o produto da sua visita
foi publicado no livro São Paulo (editora Kodansha, 2009).
Interessante ver a metrópole paulistana sob a perspectiva do
experiente fotógrafo nipônico, ou seja, monocromática, borrada,
granulada, com snapshots contundentes e ângulos inusitados.
No entanto é uma de suas obras menos admiráveis, na minha humilde
opinião. Tavez a razão seria porque sou “nativo” de Sampa? E por
isso o meu olhar já esteja acostumado/viciado com o ritmo da
tresloucada e poluída ex- cidade da garoa? Preconceito meu?...
Em tempo: Ele também tem outras
obras publicadas com trabalhos realizados fora do Japão, sobre Nova
Iorque, Buenos Aires, Havaí entre outros.
Vida longa a Moriyama san!
Todas
as imagens publicadas na coluna possuem direitos autorais:
Copyright ©2014AkitiDezem
Links:
http://www.artic.edu/aic/collections/exhibitions/Ryerson/Provoke/4
Rogerio
Akiti Dezem é
professor visitante de língua portuguesa e cultura brasileira da
Universidade de Osaka, no Japão. Mestre em História Social pela
Universidade de São Paulo (USP), é autor de Matizes
do Amarelo - A gênese dos discursos sobre os orientais no
Brasil (Humanitas,
2005) entre outros livros. Sua grande paixão é a Fotografia
(http://akitidezemphotowalker.zenfolio.com/).
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