quarta-feira, 9 de abril de 2014

MADE IN OSAKA 3



Nome: Hiromichi (aka Daido) Moriyama ; Data de nascimento: 10 de outubro de 1938; Local: Ikeda shi, Osaka; Profissão: Fotógrafo em atividade; “stray dog”. Vive em Tóquio desde 1961.”
Para os admiradores da fotografia do pós-guerra no Japão a figura citada acima, de forma sucinta, é uma verdadeira lenda viva. Principalmente para aqueles que, como eu, são adeptos do universo da “street photography” menos bressoniano e mais transgressor. Moriyama san e suas imagens monocromáticas – na grande maioria -, granuladas ao extremo, borradas, (des)carregadas de significados foram uma das minhas maiores descobertas em terras nipônicas. Claro que não é necessário vir ao Japão nem morar aqui, para descobrir esse ícone da fotografia contemporânea, aliás ele é mais conhecido fora de seu país de origem.


A representatividade de sua obra (considerada por muitos críticos no âmbito do “ame-a ou deixe-a”) por si só já vale uma coluna, além disso, o “cara” nasceu aqui na terrinha, Osaka.
O que me fez aproximar-me da obra de Moriyama san e admirá-la foi seu estilo (ou, para alguns, a “falta de”) ao retratar o universo urbano nipônico, principalmente a área de Shinjuku em Tóquio, verdadeiro microcosmo de uma das faces do moderno ethos nipônico. Já estive duas vezes em Shinjuku e posso afirmar que não há nada comparável por estas bandas osaquenses. A celebridade desse pedaço da frenética capital nipônica se deve à presença da maior e mais movimentada estação de metrô do mundo (com mais de 100 saídas!) - você pode encontrar um universo sui generis nas apinhadas ruas/ruelas ao redor desse espaço ultramovimentado. Daí (a quase) obviedade de Moriyama san ao escolher esse mosaico urbano para nele viver, perambular, - frequentar o mesmo bar por mais de 50 anos... - e FOTOGRAFAR...
Verdadeiro flaneur urbano na concepção do historiador francês Michel De Certeau, que em seu ensaio “Walking in the city”(1988), propõe duas formas de experimentar/ a cidade: observando-a – como voyeur - ou caminhando por ela – em flanêrie. Enquanto a primeira requer distanciamento, a segunda requer uma verdadeira imersão, ação primordial, bem ao estilo de Moriyama san, que se considera um “cão vadio”, deambulando pelas ruas com sua câmera. Muito mais um espectador/observador do caos urbano (i.e. Japão 1960-70) do que um crítico social.
Tendo sua formação na área de fotografia e influenciado, dentre outras, pela obra (genial) do fotógrafo norte-americano William Klein, o jovem Moriyama obteve projeção nacional no final dos anos de 1960 como fotógrafo free-lancer e um dos membros do grupo PROVOKE (プロヴォーク), formado pelos escritores (Koji Taki e Takahiro Okada) e pelos fotógrafos vanguardistas japoneses (Yutaka Nakahashi e Takuma Nakahira), que, ao publicarem uma revista fotográfica homônima, literalmente “provocaram” fissuras profundas na estética fotográfica nipônica em apenas três edições e uma coletânea em livro publicadas entre 1968-1970. 

 
Entre os vários livros de fotografia de sua autoria, quero citar aqui três: a sua primeira obra publicada, Japan a photo theater (にっぽん劇場写真editora Muromachi Shobo,1968), o icônico (caro e raro) Farewell Photography (写真よさようなら, da editora Shain Yoron sha, 1972) e uma obra mais contemporânea (e acessível em $) Osaka plus (editora Getsuyosha ltda., 2007). Acabei por comprar este último e, ao folheá-lo calmamente, consegui identificar alguns lugares de imediato, outros mais recônditos (“the dark sides of Japan”, como o jornal britânico Daily Telegraph definiu o gosto de Moriyama san) só fui descobrir graças às andanças fotográficas por Osaka com meus caríssimos amigos fotógrafos da “velha guarda” Maeda san e Minoru san, grandes admiradores da obra de Daido Moriyama  desde os seus primeiros trabalhos e que me mostraram cada canto retratado pelo nosso ídolo.
Moriyama san também passou um tempo flanando pela metrópole paulistana, e o produto da sua visita foi publicado no livro São Paulo (editora Kodansha, 2009). Interessante ver a metrópole paulistana sob a perspectiva do experiente fotógrafo nipônico, ou seja, monocromática, borrada, granulada, com snapshots contundentes e ângulos inusitados. No entanto é uma de suas obras menos admiráveis, na minha humilde opinião. Tavez a razão seria porque sou “nativo” de Sampa? E por isso o meu olhar já esteja acostumado/viciado com o ritmo da tresloucada e poluída ex- cidade da garoa? Preconceito meu?...
Em tempo: Ele também tem outras obras publicadas com trabalhos realizados fora do Japão, sobre Nova Iorque, Buenos Aires, Havaí entre outros.
Vida longa a Moriyama san!

Todas as imagens publicadas na coluna possuem direitos autorais: Copyright ©2014AkitiDezem

Links:


http://www.artic.edu/aic/collections/exhibitions/Ryerson/Provoke/4



 


Rogerio Akiti Dezem é professor visitante de língua portuguesa e cultura brasileira da Universidade de Osaka, no Japão. Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Matizes do Amarelo - A gênese dos discursos sobre os orientais no Brasil (Humanitas, 2005) entre outros livros. Sua grande paixão é a Fotografia (http://akitidezemphotowalker.zenfolio.com/).



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