sexta-feira, 11 de abril de 2014

PARAÍSOS DE PEDRA



O livro Paraísos de Pedra, lançado em 2013, traz narrativas da infância da autora Barbara Lia na cidade de Peabiru e contos que utilizam como cenário a cidade de Curitiba: Memória e Invenção. Paradiso” trafega por locais curitibanos: A Feira de Artesanato do Largo da Ordem, o chafariz – A fonte da memória – do escultor curitibano Ricardo Tod que evoca os tropeiros que vinham a Curitiba para comercializar seus produtos transportados por carroças e mulas. Naquela época os animais utilizavam o pequeno bebedouro - ainda existente - no Largo da Ordem. O bar Sal Grosso - reduto de poetas e artistas. O Café Express e a Confeitaria das Famílias. O Mercado das Flores, a Rua XV...


Capa do livro-Foto: João Debs

Cinema Paradiso” utiliza títulos de filmes para narrar uma infância mágica vivida em Peabiru. Alguns garotos da cidade a denominaram – Parisbiru. Uma cidade que tem o poder de cravar dentro da alma dos que ali viveram uma indescritível nostalgia que faz com que o pensamento sempre retorne para suas ruas marrons, para sua praça pequena e para os detalhes que fazem desta cidade uma espécie de paraíso perdido.

Os contos da maturidade tem a urgência de dizer: A vida escoa. Os da infância perdem-se em relatos da memória, longos como os dias em Peabiru. O sol ao lado, sempre.


Desenho: Rafa Camargo

  (...)

 — Quero ser baliza no dia da Independência.
Ela me olhou com aquele olhar mel curativo, temendo não encontrar palavras para dizer que uma garota com sequela de pólio não seria aceita no pelotão de balizas. Ela era inteligente e me amava o suficiente para não me magoar e foi assim que ela jogou o encargo para a professora de Educação Física.

— Se a professora te aceitar no time, tudo bem, você pode ser baliza.
Fiquei tão feliz que não cabia em mim.

No segundo ano eu procurei a professora. Ela se chamava Maria Lúcia e era uma pessoa livre. Quando você desejar alçar algum degrau em sua vida reze para encontrar pessoas livres pelo caminho. Elas nunca bloqueiam os voos das pessoas e elas nunca lhe cortam as asas. Maria Lúcia pediu que eu executasse algumas acrobacias. Por alguns dias deixou tudo no ar sem dizer se ia ou não ia me colocar no pelotão que eu ansiava. Em uma manhã, na hora da nossa aula, ela me disse que era para começar a pensar e combinar com minha mãe sobre a roupa do desfile. O mundo ficou imenso e largo e ampliado de alegria.

Fragmento do conto “O Milagre” – páginas 90/91
Paraísos de Pedra – Editora Penalux/2013


O início do livro foi disponibilizado no site da Editora, onde é possível ler o conto - Paradiso:



Foto: Arquivo pessoal

Bárbara Lia
(Assaí, Brasil, 1955) é poeta e escritora. Publicou nove livros (de poesia, conto e romance). Destaque nos prêmios SESC, UFES, Helena Kolody e Newton Sampaio. Antologias: O que é poesia? (Confraria do Vento), O melhor da festa - 3 (Festipoa) e Amar, verbo atemporal (Rocco), entre outras. Vive em Curitiba.

http://chaparaasborboletas.blogspot.com.br/


1 comentários:

Dininha disse...

Muito bom voltar a infância através da leitura e maravilhoso saber que Peabiru te inspira Bárbara Lia.

15 de abril de 2014 às 21:54

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