terça-feira, 27 de maio de 2014

A poeta como A emancipação




Se separarmos a história da humanidade em gêneros, mulheres de UM lado e homens de outrO, iremos nos deparar com um estado profundo de clausura histórica concernentes À condição femininA. Tudo depois de postO O patriarcadO sempre foi (e ainda é) contadO pelOs homens, que dispõem de força vencedora com privilégios para abrir estE livro dA vidA e dAs oportunidades A hora que lhe aprouver.

A história da humanidade é A dA lutA de classes, distinguindo portanto, O opressor e o(A) oprimido(A). A luta se acentuou na formação dO capitalismo, deixando de UM lado quem detinha OS bens de produção, e de outrO, quem só tinha força de trabalho para vender nO mercadO.

A mulher entra nestAs relações humanAs como ser inferior, digna em muitos patamares históricos somente como reprodutorA dA vida, rainhA dO lar nos seu termo mais esdrúxulo. Assim esta clausura foi tomando dimensões inumanas, pois impediram o afloramento das potencialidades femininas, as capacidades humanas no seu desabrochar mais amplo, como foi permitido ao homem. Cabia À mulher O cárcere do espaço privado, o movimento da espera, das amarras; foram vetados seus corpos, sua sexualidade, a possibilidade de ter sonhos, de aprender. Difundiam a idéia de que os cérebros femininos eram inferiores, portanto com capacidades de execução rebaixada. A cultura judaico-cristã afirma e perpetua seus valores paternalistas em seus dogmas e tenta provar em suas lógicas, tais veredictos misóginOs. É o caso do escolásticO SantO Tomás de Aquino que diz que A mulher está abaixo dO homem assim como O homem está abaixo de cristo.

Restava-lhe A felicidade, tal como era entendida apenas quando podia se casar. Em sua grande maioria, As mulheres brasileirAs no século XIX viviam enclausuradAs, em uma rígida indigência cultural. A primeira bandeira que urgia ser levantada foi o direito básico de aprender a ler e a escrever. O que estava postO até então para O aprendizadO delas eram uns poucos conventos que as preparavam para ser boAs esposAs e algum ensino particular voltadO às questões domésticAs e de servilismo. E foram estas pequenAs e poucAs mulheres que dispuseram deste conhecimento tomando para si a tarefa libertadora que tinham pela frente. Zahidé Muzart afirma que [...] no século XIX, As mulheres que escreveram, que desejaram viver dA pena, que desejaram ter umA profissão de escritorAs, eram feministas, pois só o desejo de sair dO fechamento domésticO já indicava umA cabeça pensante e um desejo de subversão. E eram ligadas À literatura. Então, nA origem, A Literatura femininA no Brasil esteve ligadA sempre a um feminismo incipiente4. 4 (apud DUARTE, 2003)


Assim, a DeusA História sempre foi inimigA dAs mulheres, não cantando seu vigor, SUA grandeza. Soterrados Os gritos ainda ecoam, mesmo abafadOs, nOs muros canônicOs sobre Os quais se erguem nossA literatura hipócrita e machista. Gritos estEs que entoarão nestA matéria. Dividiremos em três partes. A poéticA femininA no século XIX, XX e XXI. Começaremos recuperando a produção destAs mulheres que quase foram esquecidAs nA terra machA que Os olhos hão de comer (todAs foram engolidAs ao longO dA históriA). Literatas com um peso fundamental para A trajetória dA mulher e dAs Letras nO Brasil.


Poeta ou poetisa?
AO substantivO em questão, paira sempre a dúvida de qual é A maneira corretA dO vocábulo. Em termos linguísticOs, partindo da normatização dA língua, poetisa adquire, para alguns autores, um caráter mais delimitativO nA definição dO gênero...  Entretanto, a questão alça horizontes que vão para além das formalidades (sempre de raízes machistas que são seu berço). Pensar poetisa simplesmente como questão de derivação sufixal é nO mínimO ingênuO, visto que o espaço dA mulher dentro dA arte é sempre história magrA (diante de tantA gordurA machA), e que a mulher na poesia ainda é um sujeito (?) estereotipado, fadado às eternas ideias de feminilidade/submissão, assumir-se enquanto POETA é um posicionamento essencial, dialógico com A apropriação dA língua vivA, enquanto instrumento social, não tê-lA como regras impostas dO altO; A mesmA e últimA flor-dO-Lácio há também que se curvar à mulher e suas desamarras tão bem atadAs. Que fique aos homens o “a”, acho que não quereriam O termo “poetO ou“poetiso”.

O lugar dA poeta não se dissociaria do dA mulher como um todo; logo, que meandros perpassam sua arte? Vemos infelizmente que, as vozes poéticas ainda reproduzem seu paraíso idílico, alguém que diz num falar trêmulo suas vontades emparedadas. Percorre, como bem explicitado por Simone de Beauvoir em “O Segundo Sexo”, caminhos equivocados para se encontrar: A narcisista, A amorosa ou A mística. Ela coze com Os fios que já lhe impuseram, A roupinha dA boneca fragilizadA. Posta como coadjuvante em suas histórias, seus retratos acabam, não rarO, por vislumbrar paisagens internAs. O querer ser vaziO, se reduzir a nada, ceder-se aO amadO, divinizá-lO ou fundir-se aos ídolOs sagradOs são todOs Os seus anseios. Ora solidão, ora possessiva com aquelE que A possui, a concepção paternalista dO mundo onde habita a influencia também nas inspirações, expiradas ainda em cárcere - faz-se uma poesia inventiva, habilidosa e sensível (nenhuma surpresa para quem em tantas tem de se desdobrar), voltada para o universo fecundo que há em si - por acaso mais que O outrO, é mãe dO lar que mora e dA casa que é; é ness universo que desenvolve a visão apurada, capaz de contemplar minúcias, de alimentar vida ofegante e tantA morte em suas tentativas; é A faca de dois gumes de se enxergar: não se vê somente o que se quer, mas os potenciais que há no interior conferem-lhe A liberdade de acender chama e construir castelos de areia nO escurO reinO dO opressOr. PoucAs são As que realmente põem em vista As mazelas de fora; há muito que se ater àquelAs que lhe corroem por dentro.

Bárbara Eliodora Guilhermina da Silveira (São João del rei-MG, 1759 –São Gonçalo do Sapucaí-MG, 1819). Primeira poeta de que se tem notícia, se casa com o poeta Alvarenga peixoto e a filha Maria Efigênia, é chamada de Princesa do Brasil pelos inconfidentes mineiros. Sua poesia pertence ao movimento literário arcadista característica deste período, haja vista sua relação próxima com o também poeta Tomaz Antônio Gonzaga expoente deste movimento. Sua temática central foi o sofrimento vivido pelos inconfidentes.


I.
Meninos, eu vou ditar
As regras do bem viver;
Não basta somente ler,
É preciso ponderar,
Que a lição não faz saber,
Quem faz saber é o pensar.

II.
Neste tormentoso mar
De ondas de contradições,
Ninguém soletre feições
Que soletre feições,
Que sempre se há de enganar,
De caras e corações
Há muitas léguas que andar.

III.
Aplicai, ao conversar,
Todos os cinco sentidos,
Que as paredes têm ouvidos
E também podem falar;
Há bichinhos escondidos
Que só vivem de escutar.

IV.
Quem quer males evitar,
Evite-lhe a ocasião,
Que os males por si virão,
Sem ninguém os procurar:
Antes que ronque o trovão
Manda a prudência ferrar.

V.
Não vos deixeis enganar
Por amigos, nem amigas,
Rapazes e raparigas
Não sabem mais que asnear;
As conversas e as intrigas
Servem de precipitar.

VI.
Sempre vos deveis guiar
Pelos antigos conselhos,
Que dizem que ratos velhos
Não há modos de os caçar;
Não batais ferros vermelhos,
Deixai um pouco esfriar.

VII.
Se é tempo de professar
De taful o quarto voto,
Procurai capote roto,
Pé de banco de um bilhar,
Que seja sábio piloto
Nas regras de calcular.

VIII.
Se vos mandarem chamar
Para ver uma função,
Respondei sempre que não,
Que tendes em que cuidar;
Assim se entende o rifão:
Quem está bem deixa-se estar.

IX.
Deveis-vos acautelar,
Em jogos de paro e topo
Prontos em passar o copo
Nas angolinhas do azar;
Tais as fábulas de Esopo,
Que vós deveis estudar.

X.
Quem fala, escreve no ar,
Sem pôr vírgulas nos pontos,
E pode quem conta os contos,
Mil pontos acrescentar:
Fica um rebanho de tontos
Sem nenhum adivinhar.

XI.
Com Deus e o rei não brincar,
É servir e obedecer,
Amar por muito temer,
Mas temer por muito amar,
Santo temor de ofender
A quem se deve adorar!

XII.
Até aqui pode bastar,
Mais havia o que dizer;
Mas eu tenho que fazer,
Não me posso demorar
E quem sabe discorrer,
Pode o resto adivinhar.

 Narcisa Amália (1852-1924) Fluminense; Traz no bojo de sua poesia a resistência, foi a primeira jornalista profissional do Brasil. Movida por grande sensibilidade social, combateu a opressão da mulher, o regime escravista; é o que mostra um trecho do poema “Miragem”:

“Meu Deus, quando há-de esta raça
Que, genuflexa, rebrama,
Erguer-se de pé ungida,
Das crenças livres na chama?”

A liberdade é um dos temas favoritos de Narcisa. Guiada por ideias europeias liberais, ela coloca sua pena a serviço dos princípios democráticos progressistas, da modernização das estruturas da nação e da elevação do nível cultural e material da população. Em “Pesadelo”, ela faz referência à Revolução Francesa e reafirma seu ideal:

Salve ! oh ! salve Oitenta-e-nove
Que os obstáculos remove !
Em que o heroísmo envolve
O horror da maldição !
Rolam frontes laureadas
Tombas testas coroadas
Pelo povo condenadas
Ao grito – Revolução !

No pedestal da igualdade
Firma o povo a liberdade,
Um canto a fraternidade
Entoa a voz da nação
Que em delírio violento
Fita altiva o firmamento
E adora por um momento
A deusa – Revolução

Buscava com sua poesia uma identidade nacional e, sobretudo, uma identidade feminina, uma poesia uterina que imprime as vozes ao lugar de onde foi arrancada a mulher da vida social. Mulher a frente de seu tempo, funda um jornal em 1884, chamado Gazetinha onde publica textos em favor da abolição da escravatura, em defesa da mulher e dos oprimidos.

POR QUE SOU FORTE
Dirás que é falso. Não. É certo. Desço
Ao fundo d’alma toda vez que hesito…
Cada vez que uma lágrima ou que um grito
Trai-me a angústia – ao sentir que desfaleço…
E toda assombro, toda amor, confesso,
O limiar desse país bendito
Cruzo: – aguardam-me as festas do infinito!
O horror da vida, deslumbrada, esqueço!
É que há dentro vales, céus, alturas,
Que o olhar do mundo não macula, a terna
Lua, flores, queridas criaturas,
E soa em cada moita, em cada gruta,
A sinfonia da paixão eterna!…
- E eis-me de novo forte para a luta.

Narcisa tinha uma poesia vigorosa e engajada. Vítima de maledicência, principalmente pelos homens, já que a palavra não deveria ser um instrumento de afirmação da mulher; só as funcionais frases feitas, quase não-ditas, mas murmuradas nas alcovas. Sua morte aconteceu sem se ver sua luta vencida.

AUTA DE SOUZA (1876-1901) Nasceu em Macaiba, RN e publicou apenas um livro: Horto (1900) A vida de Auta é digna de se tomar nota. Sofredora desde os três anos de idade. Perde a mãe e alguns anos mais tarde o pai. Aos sete anos já sabia ler e escrever, graças a um professor amigo e aos oito anos de idade "lia para as crianças pobres, para humildes mulheres do povo ou velhos escravos as páginas simples e ingênuas da História de Carlos Magno". Sofre mais uma da vida, o irmão  vai ser juntar aos pais em um grave acidente com uma lamparina de querosene. Ela por sua vez cresce profunda amante das palavras, porém contrai a doença do século: Tuberculose que a mata aos 24 anos. Sua poética é marcada por este sofrimento, traz o sentimento de religiosidade nos seus versos e era chamada de “A COTOVIA MÍSTICA DAS RIMAS".

TUDO PASSA
I
Aquela moça graciosa e bela
Que passa sempre de vestido escuro
E traz nos lábios um sorriso puro,
Triste e formoso como os olhos dela…
Diz que su’alma tímida e singela
Já não tem coração: que o mundo impuro
Para sempre o matou… e o seu futuro
Foi-se n’um sonho, desmaiada estrela.
Ela não sabe que o desgosto passa
Nem que do orvalho a abençoada graça

Faz reviver a planta que emurchece.
Flávia! nas almas juvenis, formosas,
Berço sagrado de jasmins e rosas,
O coração não morre: ele adormece…

A potiguar marca sua obra com ferro em brasa, o mesmo que repousou sua pele cheia de sofrimento e dor. Fala de seus caminhos tortuosos, das perdas que teve no decorrer de sua curta existência- retratos não raros na vida dA Mulher nordestinA. No texto a seguir, observa-se ela e o irmão que caminham sós as longas distâncias vazias que o sertão oferece. Note-se também os aspectos arcaicos da língua da época.

CAMINHO DO SERTÃO...
A meu irmão João Cancio

Tão longe a casa!... Nem siquer alcanço
Vêl-a, atravéz da matta. Nos caminhos,
A sombra desce... E, sem achar descanço,
Vamos, nós dois, meu pobre irmão, sosinhos!

E' noite, já! Como, em feliz remanso,
Dormem as aves nos pequenos ninhos...
Vamos mais devagar... de manso e manso,
Para não assustar os passarinhos.

Brilham estrellas... Todo o céo parece
Rezar de joelhos a chorosa prece,
Que a Noite ensina ao desespero e à dôr...

Ao longe, a Lua vem dourando a treva,
Thuribulo immenso, para Deus eleva
O incenso agreste da jurema em flor.


Vídeo sobre autora:


Francisca Júlia da Silva (1871-1920) Poeta paulista do Vale do Ribeira produziu sua obra com cunho Simbolista e Parnasiano. Sua poesia era famosa por ser “impassível”. Grande parte dela era demasiadamente espiritualizada com uma perscepção aguçada de mistério.


VÊNUS
Branca e hercúlea, de pé, num bloco de Carrara,
Que lhe serve de trono, a formosa escultura,
Vênus, túmido o colo, em severa postura,
Com seus olhos de pedra o mundo inteiro encara.

Um sopro, um quê ele vida o gênio lhe insuflara;
E impassível, de pé, mostra em toda a brancura,
Desde as linhas da face ao talhe da cintura,
A majestade real de uma beleza rara.

Vendo-a nessa postura e nesse nobre entono
De Minerva marcial que pelo gládio arranca,
Julgo vê-la descer lentamente do trono,

E, na mesma atitude a que a insolência a obriga,
Postar-se à minha frente, impassível e branca,
Na régia perfeição da formosura antiga.

Abusando das riquezas de vocábulo, tem voz firme e aguda, perfeccionista com a metrificação do verso, imprime nele elementos mitológicos e pagãos, além de colocar-se com superioridade e impetuosidade vetados ao sexo frágil. Em 1899 publica o Livro da Infância, destinado às crianças de escolas públicas do estado. Tinha como intenção começar uma literatura destinada ao público infantil, pioneira neste tipo de empreendimento.

DE VOLTA DA GUERRA
Aqui me vou... Quanta afflicção me invade
Andando a passo, vagarosamente...
Que angustiosa, que intima saudade
Da minha gente!
O céu é negro, o passaredo * mudo,
O ambiente
 que me envolve é tão pesado!
Como tudo está triste, como tudo
Tão transformado!
Esta estrada que sigo é longa e recta,
Pedregosa, sem fim e sem abrigo;
E eu caminho por ella, de muleta,
Como um mendigo.
Quando fui para a guerra, ó sol nascia ;
Fiquei com os olhos humidos de pranto ;
Minha esposa, meus filhos nesse dia
Choraram tanto !


Maria Firmina dos Reis, nasceu em 1885 em São Luís do Maranhão. Negra, Pobre, Filha Bastarda.  Dedicou-se ao ensino das Letras. Ao magistério, único trabalho bem visto para as mulheres na época. Paralelamente às atividades, possuiu participação constante na imprensa local, publicando diversas, poesias, crônicas e contos. Aos 34 anos, em 1859 publica o que vinha a ser o primeiro romance abolucionista brasileiro, e o primeiro romance da literatura afro-brasileira. As temáticas que perpassam sua obra, são de mulher indignada com sua condição de negra e de mulher no período escravocrata. O romance Úrsula não foi publicado sob o nome de Maria Firmina dos Reis e sim sob o pseudônimo, como era muito comum em seu tempo:“Uma Maranhense”. Já no prólogo, a autora afirma que “pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados”. A escritora funda a primeira escola mista e gratuita do Maranhão. A escola causa um escândalo tendo de ser fechada tempos depois de sua formação.
Sua voz tão contundente na prosa não acompanhou tamanha força em sua poesia, considerada menor pensando em termos de luta. Assim sua poesia traz marinada a temática do amor e da ternura.

O MEU DESEJO
A um jovem poeta guimaraense
Na hora em que vibrou a mais sensível
Corda de tu’alma – a da saudade,
Deus mandou-te, poeta, um alaúde,
E disse:Canta amor na soledade.
Escuta a voz do céu, – eia, cantor,
Desfere um canto de infinito amor.
Canta os extremos duma mãe querida,
Que te idolatra, que te adora tanto!
Canta das meigas, das gentis irmãs,
O ledo riso de celeste encanto;
E ao velho pai, que tanto amor te deu,
Grato oferece-lhe o alaúde teu.
E a liberdade, – oh! poeta, – canta,
Que fora o mundo a continuar nas trevas?
Sem ela as letras não teriam vida,
menos seriam que no chão as relvas:
Toma por timbre liberdade, e glória,
Teu nome um dia viverá na história.
Canta, poeta, no alaúde teu,
Ternos suspiros da chorosa amante;
Canta teu berço de saudade infinda,
Funda lembrança de quem está distante:
Afina as cordas de gentis primores,
Dá-nos teus cantos trescalando odores.
Canta do exílio com melífluo acento,
Como Davi a recordar saudade;
Embora ao riso se misture o pranto;
Embora gemas em cruel soidade…
Canta, poeta, – teu cantar assim,
Há de ser belo enlevador enfim.
Nos teus harpejos juvenil poeta,
Canta as grandezas que se encerram em Deus,
Do sol o disco, – a merencória lua,
Mimosos astros a fulgir nos céus;
Canta o Cordeiro, que gemeu na Cruz,
Raio infinito de esplendente luz.
Canta, poeta, teu cantar singelo,
meigo, sereno com um riso d’anjos;
Canta a natura, a primavera, as flores,
Canta a mulher a semelhar arcanjos.
Que Deus envia à desolada terra,
Bálsamo santo, que em seu seio encerra.
Canta, poeta, a liberdade, – canta.
Que fora o mundo sem fanal tão grato…
Anjo baixado da celeste altura,
Que espanca as trevas deste mundo ingrato.
Oh! sim, poeta, liberdade, e glória
Toma por timbre, e viverás na história

Eu não te ordeno, te peço,
Não é querer, é desejo;
São estes meus votos – sim.
Nem outra cousa eu almejo.
E que mais posso eu querer?
Ver-te Camões, Dante ou Milton,
Ver-te poeta – e morrer. 
[ CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, pags. 33-35 ]
AH! NÃO POSSO
Se uma frase se pudesse
Do meu peito destacar;
Uma frase misteriosa
Como o gemido do mar,
Em noite erma, e saudosa,
De meigo, e doce luar.
Ah! se pudesse!… mas muda
Sou, por lei, que me impõe Deus!
Essa frase maga encerra,
Resume os afetos meus;
Exprime o gozo dos anjos,
Extremos puros dos céus.
Entretanto, ela é meu sonho,
Meu ideal inda é ela;
Menos a vida eu amara
Embora fosse ela bela.
Como rubro diamante,
Sob finíssima tela.
Se dizê-la é meu empenho,
Reprimi-la é meu dever:
Se se escapar dos meus lábios,
Oh! Deus, – fazei-me morrer!
Que eu pronunciando-a não posso
Mais sobre a terra viver. [CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, pags. 45-4]
Continuamos estA pesquisa para A próximA atualização dA coluna Ecos da Urbanidade, com As poetas dO século XX. 
Até lá!
Lívia Marcelino Xavier. Bacharel e licenciada em Ciências Sociais FAFIL/CUFSA. Pesquisadora da área da literatura, estética e arte. 
Rafael Nunes de Sousa nascido em São Bernardo do Campo, em 25 de agosto de 1990. Estudou Comunicação das Arte do Corpo na PUC-SP e Letras na Fundação Santo André. É feminista, poeta e professor.

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