domingo, 18 de maio de 2014

Homenagens de um poeta de São Bernardo - SP


Em homenagem à poesia, escolhi dois poemas de escritores consagrados e um de minha autoria:




AQUI EU TE AMO - PABLO NERUDA
Aqui eu te amo.
Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.
Fosforece a lua sobre as águas errantes.
Andam dias iguais a perseguir-se.

Descinge-se a névoa em dançantes figuras.
Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.
As vezes uma vela. Altas, altas, estrelas.
Ou a cruz negra de um barco.
Só.
As vezes amanheço, e minha alma está úmida.
Soa, ressoa o mar distante.
Isto é um porto.
Aqui eu te amo.

Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.
Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.
As vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,
que correm pelo mar rumo a onde não chegam.

Já me creio esquecido como estas velhas âncoras.
São mais tristes os portos ao atracar da tarde.
Cansa-se minha vida inutilmente faminta..
Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.
Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.
Mas a noite enche e começa a cantar-me.
A lua faz girar sua arruela de sonho.
Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.
E como eu te amo, os pinheiros no vento,
querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre.
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CONFISSÃO - CHARLES BUKOWSKI
esperando pela morte
como um gato
que vai pular
na cama
sinto muita pena de
minha mulher
ela vai ver este
corpo
rijo e
branco
vai sacudi-lo talvez
sacudi-lo de novo:
hank!
e hank não vai responder
não é minha morte que me
preocupa, é minha mulher
deixada sozinha com este monte
de coisa
nenhuma.
no entanto
eu quero que ela
saiba
que dormir todas as noites
a seu lado
e mesmo as
discussões mais banais
eram coisas
realmente esplêndidas
e as palavras
difíceis
que sempre tive medo de
dizer
podem agora ser ditas:
eu te
amo.
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NADA MAIS RESTARÁ - C.H. MAGOGA
Solitário, perdido,
Desesperado em um mundo cão
Medroso, acuado.
Animal enjaulado e torturado
As correntes se soltarão
Liberando toda a violência
Incendiar, deixar queimar
Romper o ciclo, irromper
A farda não lhe veste mais
As regras, finalmente, terão fim
Do que há, nada restará
Nem mesmo o retrato na parede
Muros ao chão, balões ao ar
Por trás do olhar,
Nova luz que se acende
Outra mente, outra visão
Os escravos não mais servirão
Antes de se deitar
Um beijo de boa noite
Para selar a transição


Carlos Henrique Magoga é poeta e escritor, morador de São Bernardo do Campo.



Fica uma dica de uma palestra para amanhã 19 de maio:

Curadoria é tema de palestra da Fundação Pró-Memória

A Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul promoverá na próxima segunda-feira (19/5), das 19h às 22h, a palestra As possibilidades de se pensar curadoria hoje, como parte das atividades paralelas desenvolvidas na exposição 4ª Vitrine de Arte – Mostra Coletiva de Artistas de São Caetano do Sul, que entrará em cartaz na Pinacoteca Municipal nesta quinta-feira (15/5) e seguirá no local até o dia 12 de julho. Com participação gratuita, o encontro ocorrerá no prédio da instituição (Av. Dr. Augusto de Toledo, 255, Bairro Santa Paula) e é voltado para o público em geral, interessados em arte e curadoria de arte.

A palestrante Elly Rozo Ferrari, mestre em artes e doutora em cultura, organização e educação, fará um bate-papo tratando das temáticas contemporâneas em torno da arte e sobre as possibilidades curatoriais na atualidade. São oferecidas 70 vagas. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas pelo email mariana.zenaro@fpm.org.br ou pelo telefone 4223-4780.

Vitrine - A 4ª Vitrine de Arte – Mostra Coletiva de Artistas de São Caetano do Sul, que reúne 91 obras de 58 artistas de São Caetano do Sul, tem o objetivo o conhecimento e a divulgação da produção artística local, além de revelar novos talentos e provocar discussões em torno desta produção. Entre pinturas, fotografias, esculturas e instalações de artistas que nasceram, residem, estudam ou trabalham no município, será possível encontrar obras com temas e materiais tradicionais ou mesmo deparar-se com inusitados fazeres contemporâneos.

Marília Tiveron
Fundação Pró-Memória

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