Mulher maravilha
Mas só ela é capaz de preparar as almôndegas mais suculentas, o bolo de cenoura mais fofo; de coar o feijão diariamente para o filho que não come o caroço; de acordá-lo aos cafunés no meio da noite para dar o remédio na hora certa; de não dormir enquanto ele não chega da balada; de cortar as unhas do seu pé; de lavar suas cuecas; de ajudá-lo a fazer o cartaz para a escola.
De escutar suas histórias (e ler seus textinhos, claro) com atenção de fã número um; de enxugar suas lágrimas com paciência de monge tibetano; de festejar suas alegrias como se fosse as dela; de repreendê-lo sem chinelos ou cintos na mão quando necessário; de incentivá-lo feito vascaína na arquibancada mesmo nas pequenas derrotas do dia a dia.
De abraçá-lo em silêncio e dizer-lhe todas as boas palavras apenas com o coração.
De deixar o fogão, o tanque, o aspirador, o telefone, o computador, a revista, o livro, o rádio, a tevê, a ginástica, a manicure, a feira, o supermercado, o shopping, o cinema, a festa, a viagem, o estudo, o sono, o resfriado, a menopausa, a tristeza, a oração, a amiga, o marido – ela própria até – para salvá-lo do perigo, para estar ao seu lado.
Por tudo isso – e por ser a única pessoa a aparecer quando certa criaturinha desesperadamente gritava "Manhêêêêêêê, acabeeeeeeei" –, ela merece o beijo mais doce, o abraço mais apertado, o carinho mais desapressado, o presente mais bonito, a homenagem mais justa, o agradecimento mais sincero, a alegria mais desejada.
Fábio Flora é autor de Segundas estórias: uma leitura sobre Joãozito Guimarães Rosa (Quartet, 2008), escreve no Pasmatório e tem perfil no Twitter.
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