quarta-feira, 25 de junho de 2014

A DIALÉTICA NAS IMAGENS DE "ITÁLIA, MON AMOUR"...



A exposição fotográfica “Italia Mon Amour”, que acontece entre os dias 24 de maio a 30 de junho no SESC Água Verde, faz parte do Projeto Mia Cara Curitiba 2014. A curadoria foi realizada por Gaia Bindi (¹), que proferiu uma palestra no auditório do Solar do Rosário, apresentando os destaques da nova geração de fotógrafos na Itália: Claudio di Francesco, Gabriele Menconi, Mongobì e a dupla Simoncini.Tangi.

“O título escolhido para essa exposição nasce como explícita declaração de amor para um País que, filho de um grande passado, está procurando retomar o futuro. Mas traz consigo também uma citação de Hiroshima mon amour, filme francês de 1959 que levou ao sucesso um comovente roteiro da escritora Marguerite Duras. Dirigido por Alain Resnais, o filme conta a história de um amor que, surgido sobre as ruínas da cidade destruída por uma bomba atômica, não consegue se concretizar.

É a história de um sentimento apaixonado e triste ao mesmo tempo, que vive de uma melancólica mistura entre o ontem e o hoje, entre recordação e imaginação, em uma tentativa de superar a dor através da esperança. Um hino desesperado ao desejo, ao sonho, à confiança na possibilidade de renascimento.

Com esses sentimentos, vive, existe e resiste a Itália hoje. Não há a necessidade de se ​​lembrar de como a crise econômica, que começou em 2007, afetou a sua realidade, tanto coletiva quanto individualmente. Causando dor e ruínas (e não apenas as de Pompéia), trazendo um descontentamento social e uma geral desilusão. "Há um predomínio de sentimentos negativos - escreve Vittorio Meloni na Introdução Viagem à Itália. Em busca da Identidade Perdida (2012) - Efeito de uma crise prolongada que não mostra sinais de acabar.

Há uma sensação de que o nosso destino não está mais em nossas mãos, que as energias milenares de um povo estejam adormecidas ou talvez apagadas. Mas há também uma consciência da extraordinária força de um país que consegue, no entanto, a opor-se ao declínio e que, apesar de todo o pessimismo, mantém o seu próprio peso no mundo, e sente um grande orgulho do seu grande patrimônio de história e cultura, no qual se reconhece e, por vezes, se  identifica". (Gaia Bindi, curadora)

O antropólogo Julio César Ponciano(²), assim se referiu a respeito das imagens: "A importância dessas obras não é meramente estética. Elas são belas por que têm algo a dizer sobre a realidade. E é então que surge a mágica performática. Ultrapassada a impressão primária do bonito ou feio, o olhar aos poucos vai mergulhando na tensão entre os pares de elementos e uma outra estética vai se revelando.

A realidade não está nas fotos, ela está registrada na imagem invisível que reside “entre” os pares de elementos que criam pontos de tensão, numa dialética simbólica que se articula em polos de contradição. 'Como assim? Não vi nada disso', alguém poderia reclamar.
 
Foto: Mongobì  (Série DaytoDay, 2012)

É por intermédio desse “choque” realista que o olhar vai decodificando a mensagem. A exemplo das fotografias de Claudio di Francesco, os andaimes recobrem monumentos que resistiram aos últimos terremotos que assolaram cidades italianas. Monumentos de valor humanitário que resistem suportados pelos andaimes, enquanto o socorro e o restauro não chegam. Talvez quando chegarem, será tarde demais. 


Foto: Claudio di Francesco (Série Tubos, 2013)

Uma realidade que é representada simbolicamente pela tensão de pares de imagens signo. E neste ponto, chega aquele momento de questionar, “o que é a realidade, então”? Tendemos a pensar que a realidade seja somente essa dimensão da experiência vivida, do aqui e do agora. 

Mas as fotografias vistas nesta exposição, narram uma experiência, um ponto de vista tecido por inúmeros “fios”, ligações que vão ganhando significado quando postos em movimento pelas tensões, especialmente pela memória, pelos valores morais, pela cultura, pelos papéis sociais que ocupamos. Uma fotografia que tem algo a dizer sobre a realidade e a manifestação ideológica do artista. 


Foto: Claudio di Francesco (N.Sra. de Appari, 2012)

Ou seja, uma fotografia que constrói o olhar de quem vê, produtora de consciência e espanto, como uma metáfora do tempo. Espanto, porque o que se descortina diante nós, não é a bela Itália que esperamos. Fotografar a realidade é registrar uma forma de expressão em processo, ou seja, uma dialética contínua entre pares de significados. 


Foto: Mongobì  (Confetti Series #4, 2012)

Essa rede de intersignificações redimensiona nossa percepção da realidade e das coisas numa crítica destituída de discurso, porém, potencializada pela narrativa de quem tem algo a dizer sem ser explicito. Performático. Foi esta a impressão que eu registrei e compartilho com vocês neste pequeno texto." 

(1)- Curadora e historiadora de arte, a italiana Gaia Bindi é Professora de História da Arte Contemporânea na Academia de Belas Artes de Carrara, já atuou no Museu Picasso de Paris e é consultora do Parco Arte Vivente – PAV, Centro Experimental de Arte Contemporânea, em Turim, na Itália.

(2)- Mestre em Antropologia pela UFPR, Julio César Ponciano é também editor e publicitário.

Agradecimentos a Christophe Spoto, da gerência de Cultura do Sesc PR.

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Izabel Liviski, é fotógrafa e doutora em Sociologia pela UFPR. Pesquisa História da Arte, Literatura e Artes Visuais. Escreve na revista ContemporArtes desde 2009, editando a coluna INCONTROS quinzenalmente, é também co-editora da Revista ContemporArtes.

Contato: <izabel.liviski@gmail.com>

1 comentários:

SILVETE disse...

ESSA EXPOSIÇÃO ESTÁ MARAVILHOSA!

25 de junho de 2014 às 21:47

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