AS CORDELISTAS
A origem da literatura de
cordel data da Idade Média, da poesia trovadoresca portuguesa, onde os poetas
andavam de burgo em burgo, castelo em castelo.
Os poetas nordestinos iam de feira em feira ou de cidade em cidade,
seguindo os ciclos das festas religiosas.
Na
idade Média era vetado às mulheres os prazeres da poesia, e dos recitais públicos.
A elas cabia o gineceu (locais exclusivos às mulheres onde teciam canções de
gesta, romances e serões literários. Eram grupos literários gestados por
matronas sábias, que passavam a experiência para perpetuar a memória oral. Pois
na vida privada as mulheres conservavam a leitura dos romances, porém na vida
pública eram os homens que cantavam as tradições, entretanto ao serem
questionados nos seus repertórios diziam claramente que decorriam de suas
linhagens femininas. De acordo com a tese de Sílvio Romero de que: “as mulheres não são somente arquivo das tradições orais, mas,
sobretudo, autoras de muitas delas.”
O autor nos
dá um parâmetro das regras que circundam o cordel, vale a pena transcrevê-las
na íntegra:
“Não adianta escrever poemas, trovas ou estrofes que
não sejam em sextilhas, setilhas, décimas, setissilábicas ou em decassiílabos,
e vir dizer que é Literatura de Cordel. Muitos eruditos andam escrevendo
opúsculos até em prosa dizendo ser Literatura de Cordel.
Quando os versos são compostos em forma de
narrativa, tem de ser em sextilhas […]. E assim o poeta vai continuando a sua
narração arte completar 8, 16 ou mesmo 32 páginas – as mais usadas. Em cada
página cabem cinco estrofes [sendo em sextilhas]. Na primeira, apenas quatro –
para que o título da história, do folheto ou do romance fique mais destacado,
bem como o nome do autor […].
O tamanho do folheto não deve ultrapassar 11-16 cm.
Quando maior ou menor, perde sua característica de cordel.
Não adianta o poeta mostrar eruditismo sem colocar
as palavras difíceis em seus respectivos lugares. O cordel sempre foi um
veículo de aceitação nos meios rurais e nas camadas chamadas populares, porém
precisa arte e técnica de que escreve. Um folheto mal rimado e desmetrificado é
um dinheiro perdido de que empresa a sua edição. Existem folhetos que se tornam
clássicos, quer pelo seu conteúdo, quer pela sua versificação. Precisa também
muito cuidado na colocação do título, que deve ser rápido, sucinto e, ter seu
“ponto focal” de atração para os leitores”
A tese de mestrado de Doralice Alves de Queiroz, Mulheres cordelistas –
percepção do universo feminino na literatura de cordel, apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Letras – Estudos Literários, da UFMG, em 2006,
analisa os perfis de mulheres no percurso da história da literatura oral e mais
recentemente de cordel. Suas produções num reduto essencialmente masculino.
Mas, não devemos esquecer que sempre coube a mulher a educação familiar, a transmissão
dos conhecimentos e das tradições orais: cantigas, lendas, e costumes.
A primeira mulher que publicou, em 1938, o fez sob pseudônimo masculino,
somente a partir de 1970 é que se pode verificar a autoria feminina em
publicação de folhetos de cordel. A figura da mulher sempre apareceu com
características de – virtude, honestidade, beleza e, sob a ótica masculina e com
cunho moralizante. A mulher, na sociedade patriarcal, era reclusa, aos cuidados
do lar e a educação dos filhos, à satisfação social do marido. Sua educação não
ia além da possibilidade de contar histórias e contos de encantamento para os
filhos, das cantigas de ninar; ler e escrever livros de receitas, quando muito.
Valia o jargão: “se uma mulher aprende a ler, será capaz de receber cartas
de amor”. A estrutura de reclusão era imposta de forma muito velada e
justificada como “zelo familiar”. Havia os gêneros mais adequados para as
mulheres, face à moral e os bons costumes. Ainda assim, algumas mulheres, neste
jogo de poder burlavam a vigilância patriarcal ou dos maridos e apoderavam das
formas poéticas executadas pelos homens Veja a quadrinha popular do início do
século XX, abaixo:
“Menina que sabe muito
É menina atrapalhada,
Para ser mãe de família,
Saiba pouco, ou saiba nada.”
A mulher, no início do século XX, quando os folhetos de cordel proliferaram no
Nordeste, na ausência de jornais, rádios e televisão, era descrita como:
princesa – obediente e calada diante dos valores paternos, da sociedade e da religião;
mãe devotada, esposa exemplar - àquela que protege o lar e filhos dos perigos,
defensora da moralidade. O contrário disso era descrito como perigos
para a manutenção da estrutura família. A mulher que se atrevesse a elaborar
versos de cordel, era vista como em luta contra o diabo, a serpente e, isto
como castigo por suas ações. A prostituição é tema de
contraponto relevante entre poetas para exemplificar e exaltar a virtude e
castigar as atitudes “inadequadas para uma mulher”, dessa forma fazia-se valer
os valores da moralidade vigente.
Uma das primeiras descobertas de mulher escrevendo cordel foi o folheto
publicado em 1938, sob o pseudônimo de Altino Alagoano, pseudônimo de Maria das
Neves Batista Pimentel, filha do poeta e editor Francisco das Chagas Batista.
Nestes primeiros momentos de composições femininas, elas ainda reproduzem os
valores temáticos masculinos. Somente recentemente esses valores foram deixados
de lado e as mulheres buscam firmar suas próprias visões do mundo e da sociedade.
Dentre essas mulheres cito Salete Maria, Dalinha Catunda, que rompem com a
acomodação feminina e “viram a mesa” em suas abordagens
ousadas – ora de clamores por valores sociais não respeitados, denúncias
políticas e, abordam também o caráter de humor – um dos marcos da poesia de
Dalinha Catunda; Bastinha Job, poeta e professora, que leva a literatura de
cordel para a Universidade, também preocupada com linguagem e temáticas
femininas; Creusa Meira, que discute os problemas de uma sociedade em que a
mulher ainda busca sua afirmação; Nelcimá de Moraes, também professora, que
leva para seus alunos a musicalidade da poesia de cordel como ferramenta
interdisciplinar; Josenir Lacerda, Anilda Figueiredo, dentre outras tantas
mulheres que firmam a personalidade feminina no universo masculino da
literatura de cordel.
Todas, com base em suas vivências, expõem as
feridas de uma sociedade patriarcal e coalhada de hipocrisias e falsos
moralismos.
Vejamos algumas de nossas cordelistas
contemporâneas:
Salete Maria da Silva
Lugar de mulher
Do ponto onde me encontro
Na janela dum sobrado
Daqui donde me defronto
Com meu presente e passado
Fico metendo a colher
Do ‘meu lugar de mulher’
Neste mundão desgarrado
Do meu ângulo obtuso
Num canto da camarinha
Afrouxo um parafuso
Liberto uma andorinha
Desmancho uma estrutura
Arranco uma fechadura
Desmonto uma ladainha
Reza a história do mundo
Que mulher tem seu lugar
É um discurso ‘corcundo’
E prenhe de blá-blá-blá
Eu que ando em toda parte
Divulgo através da arte
Outro modo de pensar:
Lugar de mulher é quarto
Sala, bodega e avião
Lugar de mulher é mato
Cidade, praia e sertão
Lugar de mulher é zona
Do Estado do Arizona
À Vitória de Santo Antão
Lugar de mulher é sauna
Capela, bonde, motel
Lugar de mulher é fauna
Terreiro, campus, quartel
Lugar de mulher é casa
Seja na Faixa de Gaza
Ou no Morro do Borel
Lugar de mulher é cama
Seresta, parque, novena
Lugar de mulher é lama
Escola, laje, cinema
Lugar de mulher é ninho
Dos becos do Pelourinho
Às águas de Ipanema
Lugar de mulher é roça
Riacho, circo, cozinha
Lugar de mulher é bossa
Reisado, feira, lapinha
Lugar de mulher é chão
Das ruelas do Sudão
Às veredas da Serrinha
Lugar de mulher é mangue
Deserto, vila, mansão
Lugar de mulher é gangue
Novela, birô, oitão
Lugar de mulher é mar
Das praias do Canadá
Ao céu do Cazaquistão
Lugar de mulher é ponte
Trincheira, jardim, salão
Lugar de mulher é fonte
Indústria, baile, fogão
Lugar de mulher é mina
Do solo de Teresina
Ao Morro do Alemão
Lugar de mulher é barro
Palco, metrô e altar
Lugar de mulher é carro
Camarote, rede, bar
Lugar de mulher é trem
Dos caminhos de Belém
À serra do Quicuncá
Lugar de mulher é show
Favela, brejo e poder
Lugar de mulher é gol
Ringue, desfile e lazer
Lugar de mulher é creche
Das bandas de Marrakech
Às vilas do ABC
Lugar de mulher é serra
Obra, beco e parlamento
Lugar de mulher é guerra
Missa, teatro e convento
Lugar de mulher é pia
Das tendas de Andaluzia
À Santana do Livramento
Lugar de mulher é tudo
Por onde possa passar
Seja pequeno ou graúdo
Seja daqui ou de lá
Lugar de mulher é Terra
Mas não onde o gato enterra
O que precisa ocultar
Lugar de mulher é dentro
Mas também pode ser fora
Lugar de mulher é centro
Que a margem não ignora
Lugar de mulher é leste
Norte, sul, também oeste
De noite, tarde e aurora
De minha perspectiva
Mulher não tem ‘um lugar'
Onde quer que sobreviva
Pode ser seu habitat
Lugares existem zil
Eu mesma sou do Brasil
E vivo no Ceará!
(Salete Maria)
Zilma Ferreira Pinto
Nasceu em Tacima-PB. Muito jovem, ingressou por
concurso no magistério, missão que exerceu não só na sua cidade natal como em
Alagoa Grande, Pocinhos, Cabedelo e João Pessoa, cidade onde atualmente reside. Ainda criança compôs seus
primeiros versos. Iniciou-se nas letras paraibanas com o “Cancioneiro
Experencial, em 1987. Sua obra tem sido reconhecida, tendo obtido alguns
prêmios entres os quais o “Prêmio novos autores paraibanos”. Seja na categoria
poesia, como na conto infanto-juvenil (A história da pedra maliciosa, 1977 )
como na cordel (O romance de Ferdinando
e Maria, UFPB,1998), ou em concursos de
trovas e poesias, vem recebendo também
vários prêmios.
Minha Cantiga
No castelo do Destino
Dividi-me por igual.
Ficaram duas meninas
No meio de um roseiral.
Uma bordando a ouro,
Outra o mais fino metal.
Uma transpôs a soleira
Que era a porta pra o mar.
Tomou o barco da vida,
Partiu sem querer sonhar.
A outra subiu à torre
Que ia dar nas estrelas
No barco da meia-lua
Foi para a mais longe delas...
Um dia encontro as meninas
Bem longe do roseiral
Nelas havia a tristeza
Dividida por igual.
Nenhuma bordava a ouro,
Nem o mais fino metal.
Fui escolher! Não sabia
Com qual das duas ficar!?
Castelos já não havia
E a torre para sonhar.
.Sem manto bordado a ouro;
Sem palmatória de rei!
Ai! Minhas pobres meninas
Qual de vós escolherei?!
(Zilma
Ferreira Pinto)
Abram alas, meus senhores,
para o verso popular
que em nosso Cordel de Saia
a mulher tomou lugar.
É cordel feito ciranda
cantada à beira do mar
*
Vem de lá Xica Barbosa
com seu repente brilhante.
Vem Zilma Ferreira Pinto
Vem Socorro Cavalcante.
Nelcimá e tantas outras
Levando o cordel adiante.
*
Abram alas, meus senhores,
pra ciranda do cordel.
Que nesta nossa ciranda
a mulher tem seu papel.
E o cordel que ela canta
tem a doçura do mel.
(Zilma ferreira Pinto)
Dalinha Catunda
Maria de Lourdes Aragão Catunda, mais conhecida
como Dalinha Catunda é uma cordelista natural de Ipueiras, Ceará. Dalinha ocupa
a cadeira número 25 da ABLC que tem como patrono Juvenal Galeno. Possui vários
folhetos publicados com temáticas de cunho social e sua vivência em sua terra
natal; além disso, possui dois blogs, o Cantinho da Dalinha e o Cordel de Saia,
que divide com a também cordelista e pesquisadora Maria do Rosário. Além disso,
faz recitais, escreve no jornal Gazeta de Notícias do Vale do Cariri no sul do
Ceará e é membro correspondente da AILCA - Academia Ipuense de Letras, Ciências
e artes. Traz no bojo de sua poesia o humor. Os
substantivos, verbos e adjetivos são próprios do linguajar feminino.
Seus versos são impecáveis no trato com a rima e da estruturação das orações.
Saias no cordel
1
Sou poeta cordelista
Nascida lá no sertão.
Ipueiras é minha terra,
O Ceará é meu rincão.
Adoro ser nordestina.
Levo comigo uma sina,
Amar meu agreste chão.
2
Minha mãe fazia versos,
E gostava de declamar.
Foi professora primaria,
Com ela aprendi a rimar.
Ter gosto pela cultura,
Abraçar a literatura,
E o velho cordel amar.
3
E assim me fiz mulher
Abraçando a poesia.
Meu mundo encantado
Era cheio de magia.
Talvez um pouco irreal.
Mas para mim era ideal,
Pois era o que eu queria.
4
A mulher abriu caminhos,
Difíceis de percorrer.
Pôs os pés na estrada.
Pra demonstrar seu saber.
Foi bem grande sua luta
Mas ficar sempre oculta
Impossível conceber.
5
Durante muito tempo
Fomos só inspiração.
Musa que os poetas,
Traziam no coração.
Sonhávamos ter um dia
Nossa popular poesia
Com farta publicação
6
Não estou insinuando
Que a mulher não atuava.
Ela já fazia seus versos
Apenas não publicava.
Mostrava sua alegria
Nas rodas de cantorias
E aplauso conquistava.
7
Apesar do machismo,
A mulher se aventurou,
Mesmo analfabeta,
Entrou na roda e cantou
Sem ligar pro: ora veja!
Encarando as pelejas
O homem desafiou.
8
No livro “Cantadores”
Pra minha satisfação
Conheci cantadoras.
Uma chamou atenção
Por ser bem animada,
E cheia de presepada,
Zefinha do Chabocão!
9
Pelo Nordeste afora,
Nas rodas de cantoria,
Rita Medeiros cantava,
Chica Barrosa se via.
Até Maria Tebana,
Agia naquelas bandas,
E aplauso garantia.
10
Quando a mulher decidiu,
Por imprimir seu cordel.
Foi nome masculino,
Que ela botou no papel.
Essas pobres criaturas,
Sofriam com a tortura,
Do patriarcado cruel.
11
Mas tudo modificou,
Hoje a coisa é diferente.
O cordel está em festa
E a mulherada presente.
Homem agora é parceiro
Até virou companheiro,
No cordel e no repente.
12
Hoje as cordelistas,
Assumem seu lugar.
Na Bahia, Pernambuco,
Paraíba e Ceará.
O Nordeste brasileiro,
Há muito virou celeiro,
De mulheres a versejar.
13
Pelos cantos do Brasil,
A mulher faz poesia.
Temos em Juazeiro,
A boa Salete Maria.
Que audaz em sua meta,
Tem postura correta,
E desbanca hipocrisias.
14
Na Paraíba temos,
Nelcimá de Morais.
Mestra e cordelista.
É engajada demais.
Pesquisando o cordel,
A mulher e seu papel,
Em tempos medievais.
15
Já Josenir Lacerda,
Com Bastinha, é fato,
As duas são pioneiras
Da academia de Crato.
Trazem com devoção
O cordel no coração,
Dando a ele bom trato.
16
Tem Maísa Miranda,
É safra lá da Bahia.
Temos Ilza Bezerra
Recebendo honrarias.
O cordel está crescendo
Mulheres aparecendo,
Sa1ve os novos dias.
17
Muitas mulheres agem
Neste mundo do cordel.
Ativas e anônimas
Respeito cada papel.
Mas pra falar a verdade,
A minha felicidade
É vê-las rasgando o véu.
18
Pesquisadores buscam,
Nossa arte revelar
Cordel de boca em boca.
Chega a todo lugar.
Agora com a internet
Esta obra do Nordeste.
Ficará mais popular.
19
Eu sempre fui inquieta
E cheia das novidades.
Enxerida como que!
Para falar a verdade.
Amasiada com cordel,
Faço dele meu corcel,
E minha felicidade.
20
Sou Dalinha Catunda,
Não foi minha intenção,
Sobre o cordel feminino,
Fazer vasta explanação.
Só um parco recado:
Que se abra o mercado
Para nossa produção
(Dalinha Catunda)
A mulher e sua trilha
Divina musa! inspirai-me
Para narrar uma história
Que, os menestréis me contaram.
Mulheres de amor e glória,
Ilustraram os romances
De beleza e vitória
2
Meus poetas cordelistas
Hoje, venho vos narrar,
As histórias do passado,
De princesas vou falar,
Vivendo encasteladas,
Querendo o amor desfrutar
3
E muitas destas princesas
Em noites de escuridão
Choraram por seus amores
Naquela horrível prisão
Sonhando contos de fadas
De amores e paixão
4
Mas isto foi lá na Europa
Aqui a vida é mais dura
Não há príncipe encantado
Somente a desventura
Marcada pelo cangaço
E um mundo de amargura
5
Sem desfrutar do amor
Mulheres, quase meninas,
Transformaram suas vidas
Num castelo de ruínas
Filhas de pais muito austeros
Amargaram tristes sinas
6
E quando se rebelavam,
Seus pais desorientados
Reféns da ignorância
Davam-lhes as costas, coitados!
Sem imaginar que um dia
Sem preconceito ou pecados
7
Aquelas mesmas mulheres
Que lutaram por amores
De suas prisões voaram,
Superando suas dores
Cantando e trabalhando
Desenvolvendo pendores
8
Com amor e com trabalho
Conquistaram seu espaço
Ampliaram os horizontes
Vivendo sob o compasso
Do pensamento liberto
Nunca pensando em fracasso
9
Nosso mundo evolui
Hoje a mulher determina
Que norte dará à vida
Mesmo sendo nordestina
Não carrega o estigma
Daquela pobre menina
10
Tristes tempos do passado
Quando as meninas caseiras
Sem muita oportunidade
Só casamento e canseiras
Cheias de filhos, coitadas!
Era muita trabalheira
11
Hoje ela tem profissão
Escolhe a vida que quer
Sem preconceito que diga
Se meretriz, ou qualquer!
Conquistou a felicidade
O orgulho de ser mulher
12
No mercado de trabalho
Conquistou sua projeção
Em outros tempos diriam
Isso é conversação
Num mundo tão masculino
É mesmo pura invenção
13
Estatísticas demonstram
Em percentual seguro
A mulher ultrapassou
Da universidade, o muro
Soma número relevante
Demarcando o seu futuro
14
Além de educadoras,
De propensões naturais
São cientistas, sim senhor!
Estudam mapas astrais,
Olhos observadores,
Nos círculos celestiais
15
Antes os olhos só viam
Estrelas de romantismo...
Indagam solenes, agora,
Sobre o ambientalismo
Não esquecendo sequer,
De estudar o ecologismo...
16
São mulheres engajadas
Crescendo junto com os filhos,
Os companheiros percebem
Na profissão os seus brilhos
À braços com suas mulheres
Têm que andar nos trilhos
17
Com o futuro garantido
E sempre pra frente olhando
Uma vida mais tranqüila
Assim, vão assegurando,
Vivendo de seus trabalhos
Elas vão se orgulhando
18
São as mulheres de hoje
Cumprindo suas jornadas
São mães e profissionais
Caminhando nas estradas
Sustentando os seus lares
Amando e sendo amadas
(Rosário Pinto)
(Dedicado à Dalinha Catunda, Mulher, guerreira e poeta popular)
Assumir a bruxa
No cordel,
que é arraigado tão fortemente à religiosidade, nota-se o quão sem saída fica a
mulher e sua imagem, alvo de especulações preconceituosas. Sempre havendo de
ser castas e puras, não necessariamente carregam o título de donzelas; Eva foi
a mulher que pecou, que expulsou o homem do paraíso; desde então, uma nuvem de
mistérios ronda sua figura - sendo vilã, não é sua fragilidade mais que uma
máscara para uma genialidade escondida. Não é raro os folhetos (sobretudo os
mais antigos) anunciarem verdadeiros demônios que, com seus diversos meios de
manipulação, maquinam planos e utilizam-se de seu “poder” para benefício
próprio, para levarem uma vida de regalos, enquanto seus pobres cônjuges são
alvos, presas de suas tramoias. Nas obras de diversos autores, ficam todas sem
saída, uma vez que não há a tal candura que se pretende: são todos – homens e
sua ingenuidade, objetos do mal feminino que domina. A fraqueza, no imaginário
popular nordestino, é também instrumento de valorização masculina (geralmente unidos
à dura pobreza) para derrotar os donos de terras e riquezas. O poder dos bens
(tanto de posses quanto de divindade e inocência) fica com os homens, e com
quem ficaria o dos feitiços?
Continuamos de pé... até breve!
Lívia
Marcelino Xavier. Bacharel e licenciada em Ciências Sociais
FAFIL/CUFSA. Pesquisadora da área da literatura, estética e arte.
Rafael
Nunes de Sousa nascido em São Bernardo do Campo, em 25 de agosto de
1990. Estudou Comunicação das Arte do Corpo na PUC-SP e Letras na
Fundação Santo André. É feminista, poeta e professor.
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