segunda-feira, 7 de julho de 2014

JOSÉ FRANCISCO BORGES = J. BORGES, um pernambucano de Bezerros


 A importância da narrativa na arte de J. Borges nos remete a percepção dos temas que envolvem suas produções. É por meio do tema, que se faz presente na imagem da própria obra, que o artista dá inicio a sua criação.



Há diversidade na temática empregada pelo artista, com narrativas da vida, fé, ritos, profissões, comportamentos, imaginação sempre presentes. Alguns destes temas, e detalhes das xilogravuras de Borges:
           
           Pedindo esmola para o santo




A vinda da cegonha




Os Pescadores




A Charrete do Diabo



A mulher que botou o diabo na garrafa

Terreiro de macumba

A missa do vaqueiro

O contador de mentiras

A moça que virou cobra

A morte da mulher boa

O bicho de sete cabeças

Abriga dos dragões

A farinhada


O namoro do matuto




Os temas perpassam a realidade, o contexto de entorno simples e cotidiano para dialogar com a fantasia, a imaginação. São narrativas que poderiam caracterizar suas vivencias pessoais, familiares ou contar sobre aquilo que o rodeia, num comportamento peculiar daquele que humanamente percebe a vida e seus detalhes.

Sendo o artista, um habitante do agreste pernambucano, do pacato município de Bezerros, que teve no cordel uma ferramenta de alfabetização, lhe é comum a narrativa aliada à imagem.
A produção, do cordel a xilogravura, na arte de Borges tem na publicação O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina (1964), uma significativa marca foi seu primeiro cordel e o segundo, O Verdadeiro Aviso de Frei Damião Sobre os Castigos que Vêm, o que lhe indicou o caminho para o entalhe, a xilogravura.

Na década de setenta muitos artistas, colecionadores, galeristas, pesquisadores se interessam por sua obra. Nessa época sua produção artística passou a ser observada, assim como sua pessoa, uma figura humana, com seus causos de visão bem-humorada.

¨Os assuntos abordados pela xilogravura de J. Borges podem ser identificados a partir de duas categorias básicas de comercialização: as criações por encomenda, sobre temas e para fins específicos, e as criações dirigidas aos apreciadores e ao mercado de arte de modo geral. Na primeira categoria encontram-se matrizes produzidas especialmente para capas de discos, livros, impressos em tecidos e outros suportes, rótulos, cartazes e folhetos promocionais sobre assuntos propostos pelo cliente. Com algumas exceções, essas xilogravuras assemelham-se às das capas de folhetos de cordel, sobretudo pela intenção explícita de se valorizar essa relação como forma de agregar valor aos produtos associados.¨ (p.22)

Em seu processo de produção não existem esboço, estudos e rascunhos, ele produz o desenho direto na madeira, com lápis. E a diferenciação entre as áreas claras e escuras ocorre no momento da impressão. Tendo no título a referência para criar o desenho, onde narrativas próprias do cordel têm seu espaço na expressiva imagem da gravura.




O artista por ele mesmo

¨O que vi acontecer
o que vivi
e ouvi alguém dizer¨.

Fui criado no tempo em que o telefone era um grito. Os remédios eram chás de folha do mato, o médico era uma rezadeira, as festas eram comemoradas com um samba de toada e o almoço era um guisado de miúdo de boi. (...)
O que eu mais almejava na vida era aprender a ler e escrever, e um domingo eu estava numa venda que havia na região quando chegou um jovem que ensinava particular, num sítio vizinho.  (...) e nessa ida a escola passei apenas dez meses estudando. Lá aprendi a ler, escrever e fazer contas. (...) Daí em diante já fui explorar a pequena leitura que até hoje me serve, e procuro sempre cultivá-la ainda aprendendo. (...) Aos 21 anos ingressei na vida literária. (...) Eles vêem meu trabalho como peça de arte, mas para isso acontecer eu tive que enfrentar muitos anos de luta com otimismo e esperança de vencer as dificuldades que me apareciam ao longo dessa trajetória. Para isso eu tive que ter paciência, humildade, coragem, fé no ramo e cabeça fria.¨ (p.52)

Curiosidade - A partir de 1899 têm-se notícias da produção de gravura no nordeste quando o paraibano Leandro Gomes de Barros iniciou a impressão de folhetos de cordel.

Bibliografia: Catálogo - A ARTE DE J.BORGES DO CORDEL À XILOGRAFIA, MON – Curitiba, 2008.

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