JOSÉ FRANCISCO BORGES = J. BORGES, um pernambucano de Bezerros
Há diversidade na temática empregada pelo artista, com narrativas da vida,
fé, ritos, profissões, comportamentos, imaginação sempre presentes. Alguns
destes temas, e detalhes das xilogravuras de Borges:
Pedindo esmola para o santo
A vinda da cegonha
Os Pescadores
A Charrete do Diabo
A mulher que botou o diabo na garrafa
Terreiro de macumba
A missa do vaqueiro
O contador de mentiras
A moça que virou cobra
A morte da mulher boa
O bicho de sete cabeças
Abriga dos dragões
O namoro do matuto
Os temas perpassam a realidade, o contexto de entorno simples e cotidiano
para dialogar com a fantasia, a imaginação. São narrativas que poderiam
caracterizar suas vivencias pessoais, familiares ou contar sobre aquilo que o rodeia,
num comportamento peculiar daquele que humanamente percebe a vida e seus
detalhes.
Sendo o artista, um habitante do agreste pernambucano, do pacato município
de Bezerros, que teve no cordel uma ferramenta de alfabetização, lhe é comum a
narrativa aliada à imagem.
A produção, do cordel a xilogravura, na arte de Borges tem na publicação O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de
Petrolina (1964), uma significativa marca foi seu primeiro cordel e o
segundo, O Verdadeiro Aviso de Frei Damião
Sobre os Castigos que Vêm, o que lhe indicou o caminho para o entalhe, a
xilogravura.
Na década de setenta muitos artistas, colecionadores, galeristas,
pesquisadores se interessam por sua obra. Nessa época sua produção artística passou
a ser observada, assim como sua pessoa, uma figura humana, com seus causos de
visão bem-humorada.
¨Os assuntos
abordados pela xilogravura de J. Borges podem ser identificados a partir de
duas categorias básicas de comercialização: as criações por encomenda, sobre
temas e para fins específicos, e as criações dirigidas aos apreciadores e ao
mercado de arte de modo geral. Na primeira categoria encontram-se matrizes produzidas
especialmente para capas de discos, livros, impressos em tecidos e outros
suportes, rótulos, cartazes e folhetos promocionais sobre assuntos propostos
pelo cliente. Com algumas exceções, essas xilogravuras assemelham-se às das
capas de folhetos de cordel, sobretudo pela intenção explícita de se valorizar essa
relação como forma de agregar valor aos produtos associados.¨ (p.22)
Em seu processo de produção não existem esboço, estudos e rascunhos, ele
produz o desenho direto na madeira, com lápis. E a diferenciação entre as áreas
claras e escuras ocorre no momento da impressão. Tendo no título a referência
para criar o desenho, onde narrativas próprias do cordel têm seu espaço na
expressiva imagem da gravura.
O artista por ele mesmo
¨O que vi acontecer
o que vivi
e ouvi alguém dizer¨.
Fui criado no tempo em que o telefone
era um grito. Os remédios eram chás de folha do mato, o médico era uma
rezadeira, as festas eram comemoradas com um samba de toada e o almoço era um
guisado de miúdo de boi. (...)
O que eu mais almejava na vida era
aprender a ler e escrever, e um domingo eu estava numa venda que havia na
região quando chegou um jovem que ensinava particular, num sítio vizinho. (...) e nessa ida a escola passei apenas dez
meses estudando. Lá aprendi a ler, escrever e fazer contas. (...) Daí em diante
já fui explorar a pequena leitura que até hoje me serve, e procuro sempre
cultivá-la ainda aprendendo. (...) Aos 21 anos ingressei na vida literária. (...)
Eles vêem meu trabalho como peça de arte, mas para isso acontecer eu tive que
enfrentar muitos anos de luta com otimismo e esperança de vencer as
dificuldades que me apareciam ao longo dessa trajetória. Para isso eu tive que
ter paciência, humildade, coragem, fé no ramo e cabeça fria.¨ (p.52)
Curiosidade - A partir de 1899 têm-se notícias da produção de gravura
no nordeste quando o paraibano Leandro Gomes de Barros iniciou a impressão de folhetos
de cordel.
Bibliografia: Catálogo - A ARTE DE J.BORGES DO CORDEL À XILOGRAFIA, MON
– Curitiba, 2008.
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