sábado, 30 de agosto de 2014

PERFORMANCE e EXPERIMENTAÇÕES: VOCÊ TEM CORPO de QUÊ?


   
O questionamento acerca da noção de identidade é sempre perpassado por respostas hegemônicas às interrogações relativas a quem e eu. De tal modo, a problemática identitária consiste na construção de si e do modo do posicionamento perante o mundo de cada sujeito.

A categoria do eu está articulada à noção de sujeito e aos registros da razão instrumental e da consciência. Desta forma, sendo a identidade uma narrativa reflexiva do eu que surge a partir de transformações na experiência individual, busquei uma experiência subjetiva que se subverte aos modos cotidianos da organização social no intuito de experimentar uma vivência identitária.

Esta busca se deu por meio da execução de uma performance, intitulada Você tem corpo de quê?, cujo intuito é vivenciar uma experiência sobre a questão apresentada no início deste artigo. De tal forma, performance e experiência corporal comunicam-se na medida em que a experiência estética apresentou-se como uma silenciosa abertura para o conhecido e desconhecido.

Usando a estrutura de um tecido vermelho, construí uma espécie de casulo, propondo este espaço que se criara como um Lugar para reflexão do questionamento Tenho corpo de quê?. Concomitante ao pensar, este Lugar criado também possibilitou uma estrutura que sugeriu movimentos que ajudassem na análise desta questão.

Assim, esta performance propõe num pensar através de movimentos, que facilitaram no esclarecimento de indagações e conceitos acerca do corpo como elemento simbólico.

Foto: Jane Eyre Piego
A roupa escolhida para esta performance foi um macacão inteiramente preto, cobrindo todos os membros do corpo, inclusive a cabeça. O intuito foi passar a noção de um corpo homogêneo, não identificável. Contudo, esta opção mostrou-se como peça fundamental neste quebra-cabeça identitário que eu mesma estava propondo.

 Foto: Ana Teixeira
Da noção que se tem de corpo, Merleau-Ponty[1] propõe que ele é a iniciação ao mistério do mundo e da razão. Surgem na trama dos acontecimentos corporais: espaço, tempo, motricidade, sexualidade, linguagem, visão, emoção, pensamento e liberdade.O corpo é um sensível exemplar de um mundo de coisas sensíveis. Através da interpenetração entre pensamento e experiência, entre sujeito e objeto, o corpo é a iniciação aos mistérios do mundo.

De tal forma, Você tem corpo de quê? É pautada numa noção de identidade-corpo relacionada ao deslocamento de meu sujeito representacional para um sujeito pulsional e experiencial.De tal modo, busquei na corporalidade esta pulsão criadora que possibilitou novos elementos para serem trabalhados. 

Foto: Ana Teixeira
Assim, a performance situada na esfera da subjetividade foi assimilada por incorporações de sentimentos, propondo a decodificação de meu interior como nova subjetividade.

Tendo em vista que a grande chave da contemporaneidade está relacionada à objetificação do mundo, para entender-se como sujeito, portanto, devemos nos afastar de nós mesmos e nos tornamos objeto de análise, propondo um descentramento do sujeito e encontrando a estrangeirice de si mesmo.

Em suma, por meio desta proposta de apresentar-me como objeto artístico para análise, finalizo tais reflexões com uma pergunta: seria a Arte uma instância para se substancializar a vida? Acredito que, sendo ela um lugar de transformação de interioridade, a Arte não vai ser aquilo que cura ou salva, mas aquilo que se propõe a ser uma experimentação da vida.



[1]CHAUI, Marilena. Merleau-Ponty: a obra fecunda. A filosofia como interrogação interminável. Disponível em http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/merleau-ponty-a-obra-fecunda/.



                
                 A autora:
Maria Paula Ribeiro Bueno é graduada em Ciências Sociais com ênfase em Antropologia pela Unicamp e atualmente complementa seu currículo com a habilitação em Licenciatura e ênfase em Sociologia. Também faz pós-graduação em Gestão Cultural pelo Senac-SP.
Contato: mplaffer@gmail.com

   









1 comentários:

Ana Dietrich disse...

Interessantíssima a experiência. queria saber mais sensações. Parabéns!

30 de agosto de 2014 às 13:35

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