PERFORMANCE e EXPERIMENTAÇÕES: VOCÊ TEM CORPO de QUÊ?
O questionamento acerca da noção de identidade é sempre perpassado por respostas hegemônicas às
interrogações relativas a quem e eu. De tal modo, a problemática identitária
consiste na construção de si e do modo do posicionamento perante o mundo de
cada sujeito.
A categoria do eu está articulada à noção de sujeito e aos
registros da razão instrumental e da consciência. Desta forma, sendo a
identidade uma narrativa reflexiva do eu que surge a partir de transformações na
experiência individual, busquei uma experiência subjetiva que se subverte aos
modos cotidianos da organização social no intuito de experimentar uma vivência
identitária.
Esta busca se deu por meio da execução de uma performance,
intitulada Você tem corpo de quê?, cujo
intuito é vivenciar uma experiência sobre a questão apresentada no início deste
artigo. De tal forma, performance e experiência corporal comunicam-se na medida
em que a experiência estética apresentou-se como uma silenciosa abertura para o
conhecido e desconhecido.
Usando
a estrutura de um tecido vermelho, construí uma espécie de casulo, propondo
este espaço que se criara como um Lugar para reflexão do questionamento Tenho corpo de quê?. Concomitante ao
pensar, este Lugar criado também possibilitou uma estrutura que sugeriu
movimentos que ajudassem na análise desta questão.
Assim, esta performance propõe num pensar através de movimentos, que
facilitaram no esclarecimento de indagações e conceitos acerca do corpo como elemento simbólico.
Foto: Jane Eyre Piego |
A roupa escolhida
para esta performance foi um macacão inteiramente preto, cobrindo todos os
membros do corpo, inclusive a cabeça. O intuito foi passar a noção de um corpo
homogêneo, não identificável. Contudo, esta opção mostrou-se como peça
fundamental neste quebra-cabeça identitário que eu mesma estava propondo.
Foto: Ana Teixeira |
Da noção que se tem de corpo,
Merleau-Ponty[1] propõe que ele é a iniciação
ao mistério do mundo e da razão.
Surgem na trama dos acontecimentos corporais: espaço, tempo, motricidade,
sexualidade, linguagem, visão, emoção, pensamento e liberdade.O
corpo é um sensível exemplar de um mundo de coisas sensíveis. Através
da interpenetração entre pensamento e experiência, entre sujeito e objeto, o
corpo é a iniciação aos mistérios do mundo.
De
tal forma, Você
tem corpo de quê? É pautada numa noção de identidade-corpo
relacionada ao deslocamento de meu sujeito representacional para um sujeito
pulsional e experiencial.De tal modo, busquei na
corporalidade esta pulsão criadora que possibilitou novos elementos para serem
trabalhados.
Foto: Ana Teixeira |
Assim, a performance situada na esfera da subjetividade foi
assimilada por incorporações de sentimentos, propondo a decodificação de meu
interior como nova subjetividade.
Tendo em vista que a grande chave da contemporaneidade está
relacionada à objetificação do mundo, para entender-se como sujeito, portanto,
devemos nos afastar de nós mesmos e nos tornamos objeto de análise, propondo um
descentramento do sujeito e encontrando a estrangeirice de si
mesmo.
Em suma, por meio desta proposta de apresentar-me como objeto
artístico para análise, finalizo tais reflexões com uma pergunta: seria a Arte
uma instância para se substancializar a vida? Acredito que, sendo ela um lugar de transformação de interioridade,
a Arte não vai ser aquilo que cura ou salva, mas aquilo que se propõe a ser uma
experimentação da vida.
[1]CHAUI, Marilena. Merleau-Ponty:
a obra fecunda. A filosofia como
interrogação interminável. Disponível em http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/merleau-ponty-a-obra-fecunda/.
A autora:
Maria Paula Ribeiro Bueno é
graduada em Ciências Sociais com ênfase em Antropologia pela Unicamp e atualmente
complementa seu currículo com a habilitação em Licenciatura e ênfase em
Sociologia. Também faz pós-graduação em Gestão Cultural pelo Senac-SP.
Contato: mplaffer@gmail.com
1 comentários:
Interessantíssima a experiência. queria saber mais sensações. Parabéns!
30 de agosto de 2014 às 13:35Postar um comentário
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