Espaços Comunicantes: a interação doxa-a-doxa nas ruas de SP
Mais doce Cidade….
São Paulo - Avenida Paulista. Foto: Katia Peixoto. |
"São Paulo é a mais doce cidade. Porque eu e
outros adotados, nós vemos beleza é na oportunidade. E a oportunidade de
trabalhar e de se afirmar é como um mágico pincel que tudo embeleza." Tom Zé.
São Paulo - Metrô Barra Funda. Com que vestes vestes, ser? Aquela que posso, aquela que quero, aquele que preciso…. Foto: Leandro Daniel. |
São Paulo - Avenida Paulista. Foto: Katia Peixoto. Os sapatos são ao mesmo tempo o studium e o punctum ( Roland Barthes, 1984), eles falam da cumplicidade e denunciam um tempo, uma forma. |
A coluna de hoje é dedicada a
imagem e a escuta dos espaços abertos: sem tetos e sem paredes, o externo a
rua. O olhar, a observação, o sentir, o clique. Fotografo os movimentos, as
ações que ocorrem neste espaço híbrido e dinâmico de um universo vivido por
todos no dia-a-dia e intensamente importante nas relações sociais. Inúmeras formas
de comunicação são possíveis; as que provem do olhar, de pedaços de conversas,
dos papos rápidos que se formam e se transmudam
a cada instante, dos sons e ruídos que se misturam a buzinas, músicas. Na
interação com o outro se estabelece relações sensoriais, afetivas, dramáticas, sociais,
culturais, geográficas e políticas. Efêmeras sim, porém significantes. Nestes espaços
comunicantes da visualidade e do acústico, estamos face to face, doxa-a-doxa
com os outros, estrangeiros ou ex-acústicos em instantes mágicos e
energéticos construindo relações e se estabelecendo como tais. A medida em que se fazem fugazes e aparentemente distantes, as interações comunicativas são perceptíveis aos olhos de quem as visualiza. Sutis e infinitas relações.
As passadas sincronizadas na Paulista. Foto: Katia Peixoto. |
As passadas sincronizadas na Paulista. Foto: Katia Peixoto. |
MASP na Paulista Foto: Katia Peixoto |
O Espaço e o Tempo
Segundo Lucrécia Ferrara (2007), a espacialidade à qual se aliam a visualidade e a comunicabilidade, constroem a aparência e proporciona o pronto reconhecimento do significado e da expressividade. Portanto a percepção do mundo se dá a partir de três categorias: espacialidade, visualidade e comunicabilidade. Os espaços abertos nos proporcionam uma visualidade não previsível, um vai e vem de pessoas que preenchem e esvaziam a cada instante o lugar. O presente que se faz assim do preencher e esvaziar-se. A comunicação se dá pelo viés do imprevisível que fica a mercê do tempo, do clima, da arquitetura e dos objetos que cortam a passividade do imóvel o transformando a cada instante. A comunicação da rua está na escadaria do prédio, que em um momento está vazia e no seguinte instante lotada de pessoas que saem da escola. Na sequência preenchido pela água que escorre da chuva ou do sabão da limpeza. Nos ruídos dos carros, no silêncio da noite, na música que sai dos carros. A rua é a mutação do espaço num tempo móvel.
A rua pode ser palco de
manifestações nas agruras do povo. Também
da alegria, do inusitado, do comum, do usual. A alegria e o prazer dos blocos
de carnaval, da parada gay, dos músicos,
dos hippies, dos atores, enfim, dos artistas. Moradia para alguns que
vivem observando como repórteres visuais que não publicam suas experiências nem
em fotos, nem em escritas. Há também as crianças que pedem no semáforo, àquelas
que brincam, àqueles soltas tarde da noite.
A rua está na Cravolândia, ignorada pelo poder público e extinta do
pensamento e planejamento urbano ficando sem sua concepção de lugar. Um não lugar que existe, que está lá e que é visível.
O Boi da Vila Madalena foto: Katia Peixoto |
A Fotografia e o Tempo - o êxtase fotográfico |
Quando Barthes iniciou o livro, julgava poder distinguir um campo de interesse cultural, o studium, do inesperado que o feria, o punctum. Porém, diz, há outro punctum (estigma), além do detalhe. Ele não é mais da forma, mas de intensidade, que é o Tempo; é a força do noema (“isso-foi”), sua representação pura.
Este punctum pode ser lido na fotografia histórica. Nela há sempre o esmagamento do Tempo: isso está morto e isso vai morrer.
O noema da foto é simples: “Isso-foi”. A Fotografia, como imagem, é a ausência do objeto[1], porém, nos diz que, o que se vê, realmente existiu. Para Barthes, é aqui que está a loucura, pois é, apenas, a partir dela, que pode-se assegurar que algo existiu no passado: “falsa no nível da percepção e verdadeira no nível do tempo.” As imagens que o tinham pungido (ação do punctum), faziam com que ele ultrapassasse a irrealidade da coisa representada e entrasse no espetáculo, na imagem daquilo que está morto, o que vai morrer - daquilo que não é mais, mas, apenas, daquilo que foi.
E
para terminar, uma imagem que me seduz, um lugar, um espaço na encruzilhada entre o cinema, a
comida vegana e os amores. Rua Augusta... altura do Cine Itaú… experimentem ..
Antônio Carlos da Silva Silva, músico da Vila Madalena e eu Foto: Jair Cesar |
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