quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Espaços Comunicantes: a interação doxa-a-doxa nas ruas de SP



Mais doce Cidade….

São Paulo - Avenida Paulista.
 Foto: Katia Peixoto.
"São Paulo é a mais doce cidade. Porque eu e outros adotados, nós vemos beleza é na oportunidade. E a oportunidade de trabalhar e de se afirmar é como um mágico pincel que tudo embeleza." Tom Zé.
São Paulo - Metrô Barra Funda.
Com que vestes vestes, ser?  Aquela que posso, aquela que quero, aquele que preciso….
Foto: Leandro Daniel. 

São Paulo - Avenida Paulista.
Foto: Katia Peixoto.
Os sapatos são ao mesmo tempo o 
studium e o punctum Roland Barthes, 1984), eles falam da cumplicidade e denunciam um tempo, uma forma. 
A coluna de hoje é dedicada a imagem e a escuta dos espaços abertos: sem tetos e sem paredes, o externo  a rua. O olhar, a observação, o sentir, o clique. Fotografo os movimentos, as ações que ocorrem neste espaço híbrido e dinâmico de um universo vivido por todos no dia-a-dia e intensamente importante nas relações sociais. Inúmeras formas de comunicação são possíveis; as que provem do olhar, de pedaços de conversas, dos papos rápidos que se formam e se transmudam  a cada instante, dos sons e ruídos que se misturam a buzinas, músicas. Na interação com o outro se estabelece relações sensoriais, afetivas, dramáticas, sociais, culturais, geográficas e políticas. Efêmeras sim, porém significantes. Nestes espaços comunicantes da visualidade e do acústico, estamos face to face, doxa-a-doxa com os outros, estrangeiros ou ex-acústicos  em instantes mágicos e energéticos construindo relações e se estabelecendo como tais. A medida em que se fazem fugazes e aparentemente distantes, as interações comunicativas são perceptíveis aos olhos de quem as visualiza. Sutis e infinitas relações. 
As passadas sincronizadas na Paulista.
Foto: Katia Peixoto.
As passadas sincronizadas na Paulista.
Foto: Katia Peixoto.
MASP  na Paulista
Foto: Katia Peixoto

O Espaço e o Tempo

Segundo Lucrécia Ferrara (2007), a espacialidade à qual se aliam a visualidade e a comunicabilidade, constroem a aparência e proporciona o pronto reconhecimento do significado e da expressividade. Portanto a percepção do mundo se dá a partir de três categorias: espacialidade, visualidade e comunicabilidade.  Os espaços abertos nos proporcionam uma visualidade não previsível, um vai e vem de pessoas que preenchem e esvaziam a cada instante o lugar. O presente que se faz assim do preencher e esvaziar-se. A comunicação se dá pelo viés do imprevisível que fica a mercê do tempo, do clima, da arquitetura e dos objetos que cortam a passividade do imóvel o transformando a cada instante. A comunicação da rua está na escadaria do prédio, que em um momento está vazia e no seguinte instante lotada de pessoas que saem da escola.  Na sequência preenchido pela água que escorre da chuva ou do sabão da limpeza. Nos ruídos dos carros, no silêncio da noite, na música que sai dos carros. A rua é a mutação do espaço num tempo móvel.
A rua pode ser palco de manifestações nas agruras do  povo. Também da alegria, do inusitado, do comum, do usual. A alegria e o prazer dos blocos de carnaval,  da parada gay, dos músicos, dos  hippies, dos atores,  enfim, dos artistas. Moradia para alguns que vivem observando como repórteres visuais que não publicam suas experiências nem em fotos, nem em escritas. Há também as crianças que pedem no semáforo, àquelas que brincam, àqueles soltas tarde da noite.  A rua está na Cravolândia, ignorada pelo poder público e extinta do pensamento e planejamento urbano ficando sem sua concepção de lugar. Um não lugar que existe, que está lá e que é visível.

O Boi da Vila Madalena 
foto: Katia Peixoto
O Boi da Vila Madalena
foto: Katia Peixoto
O Boi da Vila Madalena
foto: Katia Peixoto

A Fotografia e o Tempo - o êxtase fotográfico

Quando Barthes iniciou o livro, julgava poder distinguir um campo de interesse cultural, o studium, do inesperado que o feria, o punctum. Porém, diz, há outro punctum (estigma), além do detalhe. Ele não é mais da forma, mas de intensidade, que é o Tempo; é a força do noema (“isso-foi”), sua representação pura.
Este punctum pode ser lido na fotografia histórica. Nela há sempre o esmagamento do Tempo: isso está morto e isso vai morrer. 
O noema da foto é simples: “Isso-foi”. A Fotografia, como imagem, é a ausência do objeto[1], porém, nos diz que, o que se vê, realmente existiu. Para Barthes, é aqui que está a loucura, pois é, apenas, a partir dela, que pode-se assegurar que algo existiu no passado: “falsa no nível da percepção e verdadeira no nível do tempo.” As imagens que o tinham pungido (ação do punctum), faziam com que ele ultrapassasse a irrealidade da coisa representada e entrasse no espetáculo, na imagem daquilo que está morto, o que vai morrer - daquilo que não é mais, mas, apenas, daquilo que foi.
Vera Maria B. C. Q. Guimarães 

[1] Barthes diz que, na fenomenologia, a imagem é um nada de objeto.

A  rua nossa de cada dia está, esteve e se foi. E amanha novamente está, esteve e se foi, como num circulo cheio que se esvazia para encher de novo, do novo, do velho, do efêmero, do eterno.
E para terminar, uma imagem que me seduz, um lugar, um espaço na encruzilhada entre o cinema, a comida vegana e os amores. Rua Augusta... altura do Cine Itaú experimentem ..

Ele, um artista de rua que de vez em quando se apresenta na galeria em frente do Cine Itaú. Canta lindas músicas de um tempo que se foi mais que ainda pode ser vivido numa espécie de memória reconfigurada no tempo  presente. Amo esse lugar !
Foto: Katia Peixoto
Antônio Carlos da Silva Silva, músico da Vila Madalena e eu
Foto: Jair Cesar  
 Katia Peixoto dos Santos é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega
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