quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Imagens de Sampa

 Após quase um mês em terras tupiniquins visitando a família, os amigos e matando as saudades do tempero brasileiro, cá estou eu de volta “em casa”. Aproveitei este tempinho para descansar e passear, colocando em dia as coisas da terrinha (i.e. cinema, livrarias, bares, praia etc..), mas também aproveitei para tirar muitas fotos! Essa foi a quinta vez que voltei ao Brasil em férias desde que cheguei ao Japão em março de 2010 (sim, haja $$$...), nas outras vezes tirei fotos, mas foram poucas e de forma esporádica. Desta vez, praticamente sai para fotografar quase todos os dias, principalmente na região da av. Paulista e do centro velho. Carregava minha pequena Fuji X10 para onde eu ia, sem medos ou receios. Aliás, esse foi um dos vários costumes herdados do modus vivendi nipônico.
            Andava para cima e para baixo nas desniveladas ruas paulistanas, clicando e disparando o flash da minha câmera sem muitos pudores ou temores (outra herança da minha vivência nipônica). Tirei mais de 1500 fotos, boa parte snapshots do cotidiano da paulicéia desvairada. Só tive tempo de ver os resultados aqui em Osaka, quando baixei as fotos no computador e dei uma olhada mais cuidadosa para ver o que se poderia “salvar” no quesito fotografia de rua e candid. O interessante, ao olhar atentamente para as fotos, foi comparar desde o momento da abordagem dos meus “alvos” pelas ruas paulistanas até a reação (ou não) dos mesmos. Posso dizer que os brasileiros reagem de forma completamente diferente aos japoneses quando tem uma câmera, mesmo que não diretamente, apontada para si por um estranho. A maioria dos japoneses ignora quase que completamente essa atitude, muitos absortos em seu mundo particular, seja no celular, em joguinhos eletrônicos, lendo, comendo ou se maquiando, geralmente eu “passo batido” pelas minhas vítimas. Para ser sincero, acho que o que chama mais a atenção dos transeuntes é a minha cara de estrangeiro do que propriamente a minha pequena câmera sendo apontada para o sujeito. Algumas vezes recebo um sorrisinho ou um olhar surpreso, nada além disso. Já no Brasil, grosso modo, duas reações foram quase imediatas: um olhar meio curioso/ressabiado que imediatamente se transforma em verbalização com a pergunta: “Você é repórter? É para TV? É para o jornal? Ok.”. A outra reação, não tão gentil assim, também é verbal: “Que isso, meu? Pode apagar!”. Apago, sem maiores problemas. Houve até um caso de um pedinte (eu não tirei a foto dele!) que achou que eu o estava fotografando e me parou em uma banca de jornais na av. Paulista e me disse: “Meu filho, se eu recebesse um real por foto que tiram de mim, eu não estaria nesta condição...”.
            No Japão, em três anos fazendo a mesma coisa, fatos como este NUNCA aconteceram comigo. Culturas dferentes, formas de aproximação e distanciamento também.
             Essas situações fazem parte deste ramo da Fotografia, a fotografia de rua que ainda (infelizmente) é algo pouco praticado no Brasil. Mas há aqueles (“alvos”) que nem percebem que estão sendo fotografados, fazendo a alegria deste aspirante a Cartier-Bresson.:)) Aqui vão algumas fotos “não percebidas” (i.e. Candid) que tirei nesta minha última visita. Um abraço!

Elvis Presley paulistano (Av. Paulista).

Pausa para um cigarrinho (Rua Oscar Freire).

Esperando... (Estação Pinheiros CPTM).

A alegria do povo (Rua Sete de abril).

Oops... (Rua Oscar Freire).

Amizade (Estação Osasco CPTM).

Fim de tarde (Av. Paulista).

"Esperando Godot"(Estação Antônio Dias  CPTM).



Todas imagens publicadas na coluna possuem direitos autorais Copyright ©2014AkitiDezem


Rogerio Akiti Dezem é professor visitante de língua portuguesa e cultura brasileira da Universidade de Osaka, no Japão. Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Matizes do Amarelo - A gênese dos discursos sobre os orientais no Brasil (Humanitas, 2005) entre outros livros. Além da História sua grande paixão é a Fotografia (http://akitidezemphotowalker.zenfolio.com/).


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