sexta-feira, 10 de outubro de 2014

“Attila Marcel”, do mesmo diretor de “As Bicicletas de Belleville” - um filme lúdico e adoravelmente fantástico.


"Achamos tudo em nossa memória: ela é uma espécie de farmácia, de laboratório de química, onde encontramos sem querer ora um calmante, ora um veneno perigoso." (Marcel Proust)

Hoje fui a estreia de Attila Marcel, 2013, um filme estonteantemente lúdico. Num tom de fábula, Sylvain Chomet realiza seu o primeiro filme em live-action (com atores reais). O diretor ficou conhecido pelo premiado “As Bicicletas de Belleville” (The Triplets of Belleville, 2002), que concorreu ao Oscar de melhor animação e melhor canção em 2003. Sylvain traz agora, numa comédia melancólica, a história de Paul (Guillaume Gouix), um pianista de 30 anos que vive como uma criança mimada.  Atormentado por pesadelos indecifráveis, o estranho Attila é traumatizado por ter presenciado a morte dos seus pais aos 2 anos de idade. Sendo criado pelas tias bailarinas, ele vive numa rotina enfadonha e monótona.


A ideia principal da trama é nos remeter à mente do protagonista para presenciarmos momentos reveladores de sua vida de bebê. O ponto de virada acontece quando Attila conhece Madame Proust (Anne Le Ny) que lhe ensina a ver suas memórias. Nesses momentos o espectador é transportado para dentro da cabeça de Atilla bebê, com a ajuda de uma câmera subjetiva  que posiciona o mundo pelo imaginário infantil.


Esse filme me comoveu pois é leve, harmonioso e  envolvente. A música dá  corpo as imagens. O ukulele, tocado pela madame Proust, dá beleza e poética a trama.
Cinema é isso, emoções que são vivenciadas por quem pode acreditar no que vê e ouve. Quando estou no escurinho do cinema, inebriada pela tela grande, me lanço no enigma ficcional e me torno um ser crédulo disposto a me entregar a trama. Ser cinéfila é, de alguma forma,  acreditar naquilo que lá está, naquilo que as imagens e os sons lhe proporcionam. Quando o filme me convence, sendo um absurdo ou não, passo a senti-lo. E vivo esses momentos com intensidade e desprendimento e dele retiro e absorvo pedaços de histórias que mudam o percurso da minha própria história.
Adorei o filme.



Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.



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