terça-feira, 28 de outubro de 2014

Saga acordeonística





Eu e um camarada, o Augusto, fomos de Sk8 no Show da Erykah Badu em Santo André.



No trajeto de nossa casa até lá, passamos por uma rua e vimos um churrasco acontecendo ali. Paramos para comprar uma água e um espetinho, mas era festa de casamento, não estavam vendendo nada. Nos convidaram para confraternizar a mais recente união da "comunidade". Como ainda era cedo e estávamos com fome/sede aceitamos proposta. Conversamos com algumas das pessoas presentes, brincamos com as crianças de SK8 e ensinamos para algumas delas os passos básicos do forró - som que estava rolando no casório.

Um senhor (Antônio) com sua companheira, chegou em mim e comentou que tínhamos noção de compasso e ficaram contentes por termos tratado as crianças bem, disse que em breve compraria um acordeon para dar aulas e gostaria de me ensinar a tocar.

Cheguei em casa e comentei com minha mãe nordestina. Foi então que ela comentou comigo que sempre foi um sonho para ela quando nova e que inclusive tínhamos uma tia que tocava… Porém, meu avô Manuel era extremamente conservador, embora pobre,  e machista, disse para minha mãe que acordeon não era um instrumento para mulheres tocar.

Soraia O. Costa e seu avô Manuel na Bahia em 1989. 


Comecei a pesquisar este instrumento e me encantei por ele, realmente constatei que são poucas as mulheres que o tocam. Passou o ano e o senhor Antônio ainda sem tempo e sem o equipamento para ensinar... até que minha irmã Daniela comentou comigo de um local que dava oficinas gratuitamente em Mauá. Fui até lá ver quais eram as possibilidades, apesar de ter pouco tempo, consegui encaixar as aulas de acordeon na minha rotina, que além de "grátis" não precisaria ter o meu próprio instrumento para aprender. 

Comecei a aprender e a me encantar pelo novo aprendizado. Soube que um parceiro, o Marcelo tinha um acordeon parado, consegui uma vaga para ele também fazer aulas grátis e as vezes ele me emprestava para poder treinar também nas horas vagas.

Oficinas Culturais de Mauá.
Foto: Marcelo Galindo

Como ele também tem pouco tempo para se dedicar, as vezes era ruim dividir comigo seu instrumento e o custo dele é muito alto e algumas pessoas cientes da minha situação financeira começaram a me ajudar comprando número de rifa (ideia da minha companheira Letícia!), doação de $ (presente de aniversário adiantado!) e outras com apoio moral e indicações de locais/pessoas que vendiam mais barato.

Fole gasto é mais difícil, todo respeito com os artistas de rua!
Foto: Ellen Flamboyant.

Até que um parceiro no futebol e da vida, o Danilo, sabido da minha saga, me escreveu da Áustria e se ofereceu para pesquisar um acordeon por lá! Aceitei a proposta por ter conseguido juntar uns trocados e por saber que fora do Brasil instrumentos (e muitos outros equipamentos) são muito mais baratos.

Auto-Retrato, com acordeon emprestado.
Após pesquisas realizadas, ele encontrou uma feira que haviam dois acordeons de 80 baixos… Resultado, ele comprou os dois! Porém para trazer de avião passou por algumas complicações, e do Rio de Janeiro para São Paulo teve que despachar um deles que chegou quebrado.




Para arrumar o prejuízo, levamos numa loja os dois e vimos que seria interessante trocar ambos por dois afinados, ainda assim saímos com alguma vantagem.

Agradeço as pessoas que apoiaram neste momento e vos informo que finalmente posso treinar com um instrumento nas horas vagas!

E quem sabe num futuro possa tocar as músicas que minha mãe gosta e um dia também ensiná-la a tocar?

Acredito que todas mulheres podem fazer o que quiserem! E comprovo à todas por meio dos aprendizados no acordeon, por jogar futebol e andar de Sk8 que somos, além habilidosas, fortes!


Soraia Oliveira Costa, mestranda em História da Ciência pela UFABC e graduada em Ciênciais Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA). Trabalha com fotografia, audiovisual e oralidades desde meados de 2007, quando começou a analisar o cenário urbano, a natureza, o trabalho, as transformações sensíveis, os transportes, o comportamento, a cultura, a arte...Diretora do documentário"Transformação sensível, neblina sobre trilhos", sobre a vila de Paranapiacaba, feito com incentivo do MEC/SESu pela UFABC e pelo Centro Universitário Santo André.








2 comentários:

Miriam Adelman disse...

Gostei do relato, valeu!

30 de outubro de 2014 às 13:41
Soraia O Costa disse...

Lhe agradeço pela leitura e comentário, Miriam.

3 de novembro de 2014 às 00:08

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