sábado, 20 de dezembro de 2014

“O Auto da Compadecida”: A arte e sua função histórico-social


Luis Henrique de Oliveira e Eliane Aparecida Goulart Mendes contribuem com o Espaço do Leitor desta semana trazendo uma reflexão  sobre a obra  “O Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna e sua função histórico-social. Vale a leitura!


“O Auto da Compadecida”: 
A arte e sua função histórico-social

       
“O Auto da Compadecida”, obra que atraiu deslumbrantemente um grande público, foi aproveitado não só para o teatro que é uma manifestação artística da antiguidade clássica, como também na arte contemporânea (televisão e cinema). A representação da divindade por Ariano leva a população brasileira a uma reflexão e resgate de valores etnológicos, criando por meio disso uma realidade atual, uma vez que os cidadãos brasileiros precisam se conscientizar de que é necessário se libertar do preconceito e assumir que o sangue negro circula nas veias deste povo.


Esta é uma obra de fundo popular e religioso, encenada pela primeira vez em 1955, e que, embora seja contemporânea apresenta grande carga semântica ao representar a divindade por meio de um Deus Negro, além de mostrar as desigualdades  sociais de uma realidade marcada por sertanejos e coronéis. Desta forma a literatura busca, com base em um contexto histórico, analisar os pontos fulcrais de uma sociedade. Ela não só nasce vinculada a certa realidade mas também pode interferir nessa realidade, auxiliando no processo de transformação social.

“A literatura tem sido, ao longo da história, uma das formas mais importantes de que dispõe o homem, não só para o conhecimento do mundo, mas também para a expressão, criação e re-criação desse conhecimento. Lidando com o imaginário, trabalhando a emoção, a literatura satisfaz sua necessidade de ficção, de busca de prazer. Conhecimento e prazer fundem-se na literatura, e na arte em geral, impelindo o homem ao equilíbrio psicológico, e faz reunir as necessidades primordiais da humanidade: a aprendizagem da vida, a busca incessante, a grande aventura humana” (VIEIRA, 1978).

        Dentre os pontos comuns entre as expressões artísticas, o principal é a própria essência da arte, ou seja, a possibilidade de o artista recriar a realidade, transformando-se em criador de mundos, de sonhos, de ilusões, de verdades. O artista tem, dessa forma, um poder mágico em suas mãos: o de moldar a realidade segundo suas convicções, seus ideais, sua vivência.


       O poeta e crítico de arte Ferreira Gullar assim se manifesta sobre essa transformação simbólica do mundo:

“A arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é, parece, é uma transformação simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um mundo outro – mais bonito ou mais intenso ou mais significativo ou mais ordenado – por cima da realidade imediata.Naturalmente, esse mundo outro que o artista cria ou inventa nasce de sua cultura, de sua experiência de vida, das idéias que ele tem na cabeça, enfim, de sua visão de mundo” (GULLAR, Ferreira. 1982).

O homem, como ser histórico, tem, anseios, necessidades e valores que se modificam constantemente suas criações entre elas a literatura – refletem seu modo de ver a vida e de estar no mundo. Assim, ao longo da História, a literatura foi concebida de diferentes maneiras. Mesmo os limites entre o que é e o que não é literatura variaram com o tempo. Literatura é a arte que utiliza a palavra como matéria prima de suas criações. A literatura (re)cria a realidade, utilizando suas próprias convenções e cada obra representa um modo particular de ver a realidade.


     A obra “O Auto da Compadecida” de Ariano Suassuna, possui uma preocupação estética, provocando prazer, entretenimento e cultura por sua forma, conteúdo e organização, sendo assim, uma expressão do homem com seus anseios e frustrações por meio da antítese (vida e morte), uma forma privilegiada de comunicação, ao explorar todas as potencialidades da linguagem. Ela busca o essencial, o universal, contribuindo ricamente para a formação dos homens, indicando-lhes modos de agir, retratando-os em seus desejos, angústias e prazeres. Desse modo, faz com que o homem se conheça cada vez melhor, e ao produzir modificações nas mentalidades, contribuindo para a transformação coletiva e individual.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ÁVILA, Affonso. O lúdico e as projeções do mundo barroco. 2ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 1980.

WITTGENSTEIN, L. Estética, psicologia e religião. Trad. José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1966.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 3ª ed. São Paulo: Cultrix/Edusp, 1975.

GULLAR, Ferreira. Sobre arte. Rio de Janeiro: Avenir; São Paulo: Palavra e Imagem, 1982
Alice Vieira. O prazer do texto – perspectivas para o ensino de literatura. São Paulo: E.P.U., 1978 – p. XI.)


Sobre os autores...




Luis Henrique de Oliveira é graduado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto, Mestre em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora, professor titular da FaSaR- Faculdade Santa Rita e professor do ensino médio na rede pública e privada de ensino.








Eliane Aparecida Goulart Mendes é mestre em letras pela UninCor e professora da Faculdade e colégio Santa Rita-FaSar.



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