terça-feira, 3 de março de 2015

Aos machões


O Dia Internacional da Mulher é no próximo domingo. Mas deveria ser hoje também. E amanhã. O dia da mulher deveria ser todo dia. A mulher merece todas as homenagens, todos os elogios, todas as reverências, todos os salamaleques. Todos os comerciais cor-de-rosa que a publicidade for capaz de inventar. Todas as mensagens cafonamente sinceras que você for capaz de compartilhar nas redes sociais. Todas as rosas que aquela ONG de defesa dos direitos dos ornitorrincos ucranianos ameaçados de extinção for capaz de distribuir. Em suma: todas as honras em buquê.

Ainda assim, ainda que as mulheres façam jus a todos os Oscars honorários e humanitários (especialmente os humanitários), não vou escrever sobre elas. Pelo menos não no sentido estrito da palavra, do conceito. A ideia aqui é prestar um tributo, sim – mas aos homens. Especificamente aos mais másculos, aos mais viris: aos verdadeiramente machões.

Aos machões que arrumam a própria cama e cujo QI permite que dobrem até lençol de elástico; aos machões que põem a mesa do café sem entornar o açúcar; aos machões que lavam a louça; aos machões que enxugam a louça; aos machões que passam aspirador e tiram pó; aos machões que manejam uma vassoura com destreza de espadachim; aos machões que esfregam o chão da cozinha e secam a pia do banheiro; aos machões que dedilham os botões da máquina de lavar roupa como se estivessem trocando o canal da tevê; aos machões que sabem a diferença entre sabão e amaciante.

Aos machões que ajudam o filho ou a filha no dever de casa; que vão à reunião de pais; que se esbaldam nos cajuzinhos em festinha de play; que assistem à novela com a companheira (ou companheiro) até quando há um jogão entre o Piracicabense e o Mangaratibano no mesmo horário; que passeiam no shopping com disposição de serem mais que cabides; que choram em comédia romântica; que não perdem uma reprise de A noviça rebelde; que passam uma semana – no mínimo – cantarolando “Do-ré-mi”; que leem a Martha Medeiros todo domingo; que agarram o Mickey toda vez que vão à Disney.

Por fim, minha mais profunda saudação aos machões que escrevem, leem e/ou recitam poesia. Um feliz dia, semana, ano, década, vida inteira internacional da mulher a todos.

P.S.: Os mesmos votos de felicidade e a mesma consideração às mulheres que não só tiram essa lista para dançar, como também valsam solidariamente ao lado do companheiro (ou companheira), enquanto ele (ou ela) acompanha o videoteipe com os melhores momentos de Piracicabense e Mangaratibano. Golaço é o que vocês são.








Fábio Flora é autor de Segundas estórias: uma leitura sobre Joãozito Guimarães Rosa (Quartet, 2008), escreve no Pasmatório, tem perfil no Twitter e no Facebook.

2 comentários:

Ana Dietrich disse...

adorei sua perspectiva das questões homem-mulher. Parabéns, Fábio!

7 de março de 2015 às 14:46
Fábio Flora disse...

Brigado, Ana. :-)

7 de março de 2015 às 18:28

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