sábado, 7 de março de 2015

QUARTO DE DESPEJO: DIÁRIO DE UMA FAVELADA





Nesta semana, o Espaço do Leitor traz a contribuição de Maikely Teixeira Colombini, que faz uma breve análise da obra QUARTO DE DESPEJO: DIÁRIO DE UMA FAVELADA, DE CAROLINA MARIA DE JESUS.





QUARTO DE DESPEJO: DIÁRIO DE UMA FAVELADA, DE CAROLINA MARIA DE JESUS


O livro Quarto de despejo: Diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus é, sem dúvida, um autêntico testemunho de vida. Carolina Maria de Jesus nasceu no estado de Minas Gerais em 14 de março de 1914 e mudou-se, em 1947, para a cidade de São Paulo. Em 1960, Audálio Dantas, jornalista brasileiro, encantado com a história de Carolina, uma catadora de papel que vivia na favela Canindé - SP, buscou meios de editar o diário que vinha sendo escrito por Carolina Maria de Jesus.


            Lançado em 1960, o livro revela a necessidade de testemunhar da autora, que escreve o seu cotidiano nas comunidades pobres da cidade de São Paulo. Carolina luta pela sobrevivência e narrar as suas vivências é como pedir socorro. É através da palavra que Carolina manifesta os seus medos e se mostra [sobre]vivente. 
A meu ver, o livro Quarto de despejo: Diário de uma favelada é um documento de cultura, pois dá voz a uma pessoa que foi silenciada, dominada pela sociedade. O livro é um dos documentos mais interessantes da manifestação do oprimido e um dos marcos da escrita feminina no Brasil.
            Se pensarmos que “despejo” diz respeito à “desocupação, por ordem judicial, de imóvel alugado ou desapropriado pelos poderes públicos”, ou “sistema de esgoto que consiste em enviar diretamente à rede coletora os dejetos das casas e as águas servidas”, temos que o quarto de “despejo” de Carolina Maria de Jesus é o significado da palavra “despejo” no seu sentido mais literal possível.

O quarto de Carolina Maria é um espaço digno de desocupação e a ele dizem respeito outros termos como: esterco, imundície, impureza, lixo, porcaria, sujeira, entulho, etc. Nas palavras de Carolina, o barraco ou barracão, que fica na favela – nunca casa – tanto no interior como no exterior é sujo. Para ela, a favela é o quintal onde se joga o lixo e quando Carolina ocupa esse espaço é como se ela fosse um objeto fora de uso, um objeto digno de estar num quarto de despejo, digno de ser queimado ou jogado no lixo. Carolina desconhece outros espaços, mas reconhece que a favela é o Quarto de Despejo de São Paulo, sucursal do inferno ou o próprio inferno. Carolina Maria de Jesus sente-se uma despejada.
Quanto à linguagem, a fala de Carolina diz tudo: “A voz de pobre não tem poesia”. A linguagem de Carolina Maria é objetiva, crua. Não há rodeios, não há ornamentos, pelo contrário, há uma escrita dura que revela uma sociedade ainda mais dura e difícil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza. In: Walter Benjamin – Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Prefácio de Jeanne Marie Gagnebin. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 114-119. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet.

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: Diário de uma favelada. São Paulo: Ática & Francisco Alves (Original), 1960.


Maikely Teixeira Colombini é mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Viçosa e graduada em Letras - Português e Literaturas de Língua Portuguesa - 
pela mesma instituição.

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