quinta-feira, 9 de abril de 2015

Novas percepções do patrimônio cultural: linguagens das artes, literatura e experiências artísticas em Educação Patrimonial





Atualmente, quando pensamos em Educação Patrimonial, é preciso criar condições de formação profissional e de desenvolvimento de ações para que os/as educadores/as criem nas escolas práticas concretas e cotidianas que favoreçam a vivência da experiência artística e literária em projetos e propostas interdisciplinares de ensino-aprendizagem, independente do nível de escolarização (Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II, Ensino Médio, Ensino Superior), tanto na educação formal quanto informal. 

Isto porque as linguagens das Artes em diálogo com o patrimônio histórico, cultural e natural, contribuem para a sensibilização e conscientização dos/as estudantes e da comunidade escolar como um todo para que se conheça de fato o patrimônio e seus bens culturais. Ao se expressar por meio das linguagens artísticas, os/as estudantes podem se apropriar do conhecimento sobre patrimônio cultural e histórico existente, assumindo o compromisso de defendê-lo e lutar para preservá-lo e conservá-lo. A Arte e a Literatura possibilitam que se trabalhe cotidianamente a percepção, as formas de representação e as várias possibilidades de interpretação dos bens culturais, do patrimônio histórico e da sua própria cultura local, regional, nacional e mundial.

Por isso, um dos objetivos dos/as educadores/as, sobretudo nas áreas de conhecimento de Artes, de Língua Portuguesa e de História, entre outras é, sem dúvida, se debruçar sobre os fundamentos e as práticas de Educação Patrimonial, conhecendo e unindo-se às ações de preservação dos bens culturais materiais e imateriais. 

Para tanto, é preciso organizar itinerários culturais com os/as estudantes e toda a comunidade escolar, promovendo vivências diretas com o patrimônio natural, histórico e cultural, com atividades e projetos educativos que possibilitem aos estudantes identificar territórios, cidades e prédios históricos, com seus bens culturais móveis e imóveis. É fundamental conhecer e valorizar as expressões artísticas e culturais locais, incluindo o artesanato como arte popular, a literatura, a música e as festas folclóricas, e todas as manifestações das culturas populares tradicionais, com seus costumes, culturas alimentares, lendas, ritos e mitos, entre as variadas formas de expressão humana que são consideradas como patrimônio e parte de nossas riquezas histórico-culturais que serão legadas às futuras gerações por meio dos vestígios que também pudermos criar em nosso presente.

É necessário e urgente, portanto, e ainda de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, criar e participar de projetos de valorização, conhecimento e preservação dos bens culturais materiais e imateriais tanto dentro quanto fora das escolas. O/A educador/a precisa incluir em seu planejamento pedagógico a educação patrimonial, em parceria com profissionais de várias disciplinas (Artes, História, Língua Portuguesa, Geografia, Ciências, Matemática), com o objetivo de transformar os/as estudantes em protagonistas do desenvolvimento desses projetos educativos e culturais.



 Olívio Jekupé, liderança Guarani, da Aldeia Guarani Krukutu, localizada nas fronteiras dos municípios de São Paulo e São Bernardo do Campo, conta histórias e mostra a cultura material e imaterial guarani por meio da literatura indígena da qual ele e seu filho são autores. Foto registrada na visita promovida pelo Centro de Referência das Culturas Populares Tradicionais Parque Chácara Silvestre - Prefeitura de São Bernardo do Campo em parceria com o Grupo de Pesquisa e Extensão ABC das Diversidades UFABC, em março de 2015. 



Ao levar visitantes por uma trilha na mata, o Cacique Geraldinho apresenta outra visão do patrimônio natural paulista ao falar de um território Guarani unindo, de um lado das águas da represa, o município de São Paulo, e do outro, o município de São Bernardo do Campo. As escolas podem solicitar participação em visitas à essa Aldeia Guarani junto ao Centro de Referência das Culturas Populares Tradicionais e assim fazer um rico e único itinerário cultural com Educação Patrimonial na região do ABC.  

Ao solicitar e orientar atividades em que os/as estudantes façam mapeamentos, desenhem, fotografem, interpretem, leiam e registrem histórias sobre o patrimônio cultural, natural e histórico, criamos uma educação voltada para a cidadania, com mais pessoas de diversas faixas etárias e níveis de escolaridade que se envolverão de fato com a preservação, a defesa, a conservação, a divulgação do nosso patrimônio, tornando-se mais um agente importante da Educação Patrimonial em suas comunidades, nas cidades, regiões e no país também. As escolas precisam assumir o trabalho com a Educação Patrimonial em parceria com outras instituições que são responsáveis pelo patrimônio em âmbito local, criando projetos interinstitucionais, que transformem práticas pedagógicas e metodológicas.


É possível e desejável que haja maior integração e parceria entre as escolas e o ambiente cultural, histórico e natural em que estas se inserem, convidando todas as instituições que lidam ou deveriam se envolver com a Educação Patrimonial para fazer esse trabalho educativo, cultural e de cidadania. 

As perspectivas pedagógicas inter, multi e transdisciplinares já são há muito tempo tratadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que defendem o amplo desenvolvimento de atividades junto aos estudantes e à comunidade para colocar o patrimônio cultural, histórico e natural como temas em que a percepção, a interpretação e a produção artística e cultural - todos fenômenos também ligados à Arte e à integral formação humana - sejam trabalhados e avaliados como critérios relevantes para um excelente processo educacional e cultural em nossa coletividade.

Para saber mais sobre o Centro de Referência das Culturas Populares Tradicionais Parque Chácara Silvestre (Prefeitura de São Bernardo do Campo) e suas atividades de Educação Patrimonial em parceria com o ABC das Diversidades UFABC, veja a reportagem no vídeo:
http://www.metodista.br/rronline/videos/reportagens/2015/2015/03/centro-das-culturas-populares-tera-seu-acervo-renovado#.VRDADWaazXg.facebook


Andrea Paula dos Santos Oliveira Kamensky é historiadora, focalizadora de Danças Circulares, estuda Artes Visuais, leciona na Universidade Federal do ABC (UFABC). Coordena o grupo de pesquisa ABC das Diversidades, o Curso “Gênero e Diversidade na Escola” na rede pública de educação (PROEX-UFABC/MEC/ Secr. de Direitos Humanos Pref. SP). É autora de blogs educativos, poesias e contos em livros artesanais, além do livro Ponto de Vida: cidadania de mulheres faveladas (Ed. Loyola, 1996) e co-autora dos livros Vozes da Marcha pela Terra (Ed. Loyola, 1998, finalista do Prêmio Jabuti, cat. Reportagem); Patrimônio Natural dos Campos Gerais do Paraná (Eduepg/Fund. Araucária, 2007); da Col. História em Projetos (4 v., São Paulo: Ed. Ática, 2007, ganhadora do Prêmio Jabuti, cat. Livros Didáticos, em 2008); Simão Mathias Cem Anos: Química e História da Química no início do século XXI (Ed. SBQ/Cesima, 2010); História e Memória (M. Marchiori, org., v. 4, Col. Faces da Cultura e da Comunicação Organizacional, Difusão Ed./Ed. Senac RJ, 2013).

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