Volta, Loki
As marveletes que me desculpem: mas o novo capítulo dos Vingadores – Era de Ultron – não é essa joia do infinito toda.
Tem lá seus momentos? Tem. Dois deles, aliás, garantem os orgasmos prometidos nos trailers: a sequência sem cortes que abre o longa, na qual cada herói apresenta suas supercredenciais; e o clímax em câmera lenta, quando a equipe inteira – inclusive uma turma recém-promovida – se reúne para proteger o núcleo da cidade flutuante.
Outro momento inspirado é a piada envolvendo o martelo do Thor. Começa na festchenha dos Vingadores, no início do filme, e só é concluída no ato final, ao fechar habilmente uma lacuna do roteiro.
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(Alguém me explica como aquele escudo foi parar ali?)
O que mais incomoda, no entanto, é o vilão da vez. Ainda que James Spader confira alma e personalidade àquela espécie de Pinóquio do Mal – um trabalho de ator que por si só justifica toda a ojeriza às cópias dubladas –, Ultron soa pouco ameaçador. A facilidade (spoiler) com que o todo-poderoso software é desconectado da internet pelo Visão me fez sentir saudades da aparentemente invencível Skynet, até hoje combatida por John Connor na saga O exterminador do futuro.
É tudo tão rápido que fico me perguntando por que era de Ultron. Seu mandato não passa de uma semaninha e olhe lá.
Outro aspecto que enfraquece a trama é o excesso de personagens, o que dilui o fio condutor da história – a relação criador-criatura entre Stark e Ultron – e contribui para que a ambiguidade do primeiro (herdada pelo segundo) não seja suficientemente explorada. Muito mais do que em qualquer filme do Homem de Ferro até aqui, era preciso que o roteiro sublinhasse o quanto o bilionário simboliza ao mesmo tempo esperança e ameaça – esperança de paz por integrar um time de super-heróis; ameaça de guerra por personificar a própria indústria armamentista.
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Fábio Flora é autor de Segundas estórias: uma leitura sobre Joãozito Guimarães Rosa (Quartet, 2008), escreve no Pasmatório, tem perfil no Twitter e no Facebook.
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