terça-feira, 12 de maio de 2015

Volta, Loki


As marveletes que me desculpem: mas o novo capítulo dos Vingadores – Era de Ultron – não é essa joia do infinito toda.

Tem lá seus momentos? Tem. Dois deles, aliás, garantem os orgasmos prometidos nos trailers: a sequência sem cortes que abre o longa, na qual cada herói apresenta suas supercredenciais; e o clímax em câmera lenta, quando a equipe inteira – inclusive uma turma recém-promovida – se reúne para proteger o núcleo da cidade flutuante.

Outro momento inspirado é a piada envolvendo o martelo do Thor. Começa na festchenha dos Vingadores, no início do filme, e só é concluída no ato final, ao fechar habilmente uma lacuna do roteiro.

Há ainda esse ou aquele diálogo interessante entre Bruce Banner e a Viúva Negra, Tony Stark e o Capitão América, Ultron e qualquer outro personagem – instantes que, no entanto, acabam espremidos por cenas de ação em geral editadas à moda Michael Bay, o que costuma dificultar o entendimento do que está acontecendo na tela.

(Alguém me explica como aquele escudo foi parar ali?)

O que mais incomoda, no entanto, é o vilão da vez. Ainda que James Spader confira alma e personalidade àquela espécie de Pinóquio do Mal – um trabalho de ator que por si só justifica toda a ojeriza às cópias dubladas –, Ultron soa pouco ameaçador. A facilidade (spoiler) com que o todo-poderoso software é desconectado da internet pelo Visão me fez sentir saudades da aparentemente invencível Skynet, até hoje combatida por John Connor na saga O exterminador do futuro.

É tudo tão rápido que fico me perguntando por que era de Ultron. Seu mandato não passa de uma semaninha e olhe lá.

Outro aspecto que enfraquece a trama é o excesso de personagens, o que dilui o fio condutor da história – a relação criador-criatura entre Stark e Ultron – e contribui para que a ambiguidade do primeiro (herdada pelo segundo) não seja suficientemente explorada. Muito mais do que em qualquer filme do Homem de Ferro até aqui, era preciso que o roteiro sublinhasse o quanto o bilionário simboliza ao mesmo tempo esperança e ameaça – esperança de paz por integrar um time de super-heróis; ameaça de guerra por personificar a própria indústria armamentista.

Mesmo que não vingue como poderia no terreno filosófico que tangencia, a Era de Ultron ainda é um bom passatempo. Diverte até a última pipoca, entretém até o último gole de refri. Pena que – a exemplo da cena pós-créditos, já uma tradição em todo filme da Marvel – não surpreenda o espectador mais aprimorado.







Fábio Flora é autor de Segundas estórias: uma leitura sobre Joãozito Guimarães Rosa (Quartet, 2008), escreve no Pasmatório, tem perfil no Twitter e no Facebook.

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