sexta-feira, 26 de junho de 2015

"O Último Poema do Rinoceronte", filme iraniano em cartaz nos cines de SP



"Só quem vive as margens pode cultivar a terra"

Quem já assistiu, “Tempo de Embebedar Cavalos” (2000), “Tartarugas Podem Voar” (2004) e gostou, vai se encantar ainda mais com "O Último Poema do Rinoceronte", todos três do talentoso diretor iraniano Bahman Ghobadi. Com produção de Martin Scorsese, o filme, além de lindas imagens, tem um roteiro supra-sumo baseado nos diários do poeta iraniano-curdo Sadegh Kamangar e na história do estudante Sane Jaleh, ambos mortos pelo regime iraniano.
Presos políticos   - os direitos humanos tolidos
A história tem como protagonistas; o poeta Sahel e sua esposa Mina, que são encarcerados sem justificativa durante a Revolução Islâmica dos aiatolás, que pôs fim ao regime do Xá, em 1979.
Grandes panorâmicas evidenciam a  natureza grandiosa perante o homem e a persistência em compreender a sua própria humanidade. 
O filme trata da violação dos Direitos Humanos e é dedicado principalmente “a todos os políticos prisioneiros ainda mantidos como reféns no Irã”.
A fotografia é impecável com grandes panorâmicas que enaltecem o sentido da impossibilidade humana mediante a imensidão da natureza e traça um paralelo com a impossibilidade do povo diante das incontroláveis ações impostas pelos regimes políticos hegemônicos e ditatoriais.  As panorâmicas se contrapõem aos planos fechados nos rostos dos personagens relevando sofrimento, abnegação e resistência. Os close-ups descortinam as dores e as belezas dos personagens.
o Homem e a Imensidão 
A poética das imagens é uma característica recorrente do diretor. Neste filme, a beleza da atriz italiana Monica Bellucci também nos encanta e nos traz uma de suas melhores atuações.

A atriz italiana Monica Bellucci, numa de suas melhores atuações. 
Antes dos filmes iranianos, o Irã era um lugar muito estranho à nós. O olhar poético e humanista dos seus filmes tem cativado todo o mundo. Por isso, o cinema iraniano já fez estrada e é respeitado pela cinematografia mundial, recebendo investimentos de países da Europa, como da Itália, por exemplo.  Os diretores iranianos nos mostram "o outro lado do mundo", para deixamos de encará-los com estranheza e sabermos que, apesar de viverem dramas diferentes dos nossos, também preservam grande senso de humanidade e poesia.


A inveja e o amor que pune 

Um olhar poético das dificuldades ...

O que ficou para mim foi a sensação incrível de assistir um filme de qualidade. Lembrar das obras-primas de  Abbas Kiarostami como: “O Gosto de Cereja”, “Através das Oliveiras”, “Close-up” e “Onde fica a casa de meu amigo”. Repensar o documentário de Jafar Panahi em “Isto não é um filme”, em que foi explicitado a condição de prisão domiciliar de Jafar, ocorrida há pouco tempo atrás. Recordar “A Caminho de Kandahar” de Mohsen Makhmalbaf  e de tantos outros filmes que me fizeram entender melhor o Irã, pela estética fílmica e sua forma de se comunicar.
O cinema iraniano nos proporciona um olhar ampliado do Irã, um olhar que vai além do mostrado pelas mídias televisiva e jornalística, limitados a cobrirem os conflitos ocorridos no país. Nos filmes, os assuntos íntimos, políticos e culturais são tratados com reflexão, poesia e arte.


Belo filme !


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

1 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns, Kátia! achei brilhante sua análise do filme em questão.
abraço,
Bel

28 de junho de 2015 às 09:55

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