quinta-feira, 25 de junho de 2015

Vale tudo?




Caminhando pelas ruas do centro do Rio de Janeiro, apenas escutei uma discussão cujo tema era o que “A” achava do comportamento de “B”. Nada mais ouvi, não sou tão fofoqueiro assim. Isso me relembrou de outros momentos sociais em que o “achismo” ganhou cada vez mais espaço.

É muito comum ler nas redes sociais discussões acirradíssimas sobre o que fulano acha ou o que cicrano discorda. Até aí tudo bem! Mas, vejamos bem: é altamente preocupante o número crescente de cidadãos autodidatas em várias áreas, desde medicina, direito, aos direitos humanos. Isso porque cada um acha mais e melhor que o outro e, muitas vezes, sem nem pesquisar a fundo sobre o tema. O que importa é impor a sua opinião como verdade universal.

Há pouco tempo, até li uma matéria na qual Umberto Eco acaba por criticar o mau uso das redes sociais. E, acho muito importante propor uma reflexão sobre esse tema. Estamos sendo responsáveis ao relatar o que pensamos? Pensamos mesmo isso ou apenas, num momento de compulsão, julgamos o que não conhecemos a fundo?

Obviamente, isso implica em outro problema que causa bastante confusão e que se lê por aí da seguinte forma: “E a liberdade de expressão?”. Acho bastante complexo falar em liberdade de expressão quando isso implica diretamente a privação/violação dos direitos alheios. Parece, na verdade, que muitos acreditam que estamos numa sociedade do vale-tudo. Mas, vale? E se fosse você a pessoa ofendida? Voltando ao início do meu texto e à conversa que escutei, utilizando um argumento cristão, cadê o respeito ao livre arbítrio?

Vivemos numa sociedade que não consegue sequer compreender o que é “Moral”, a qual, conforme o filósofo Gilles Deleuze (2002, p.29) relaciona-se ao julgamento, à utilização dos valores de bem e mal, que, muitas vezes, acaba por propagar uma ilusão de valores a qual “se confunde com a ilusão da consciência: porque a consciência é essencialmente ignorante, porque ignora a ordem das coisas e das leis, das relações e de suas composições, porque se contenta em esperar e recolher o efeito, desconhece toda a Natureza”. Falar em moral, impondo uma determinada, não é ignorar? É tão custoso assim conhecer e buscar um plano mais conciliatório pautado no respeito ao Outro e não somente aos achismos acerca do outro? Reflexões que busco fazer sem intuito pedagógico. Apenas acredito que o questionamento de si mesmo e das atitudes que temos diante do Outro faz-se imprescindível no tal mundo que se deseja melhor. E como teremos alguma melhoria num mundo onde todos devem ter os mesmos direitos e deveres, mas que muitas vezes é conhecido por desrespeitá-los? 

Referência:
DELEUZE, gilles.  Espinoza: filosofia prática. São Paulo: Escuta, 2002.

Rodrigo Corrêa Machado é colunista da ContemporARTES desde 2009, quando a revista foi criada. Juntamente com Ana Dietrich, Izabel Livisk e Vanisse Simone é coordenador desse periódico. Ele trabalha com coordenação e orientação pedagógica no Colégio Pedro II, é professor substituto de literatura portuguesa na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), doutorando em Estudos de Literatura pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre e licenciado em Letras pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).

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