quarta-feira, 1 de julho de 2015

PARIS: TRAÇANDO OS MAPAS AFETIVOS DA CIDADE...


"Errar é humano, flanar é parisiense"  Victor Hugo (1802-1885) 

Charles Baudelaire, outro célebre escritor e poeta francês, descreveu em 1863 no ensaio intitulado O Pintor da Vida Moderna, a figura do flâneur, o cidadão que anda pela cidade sozinho e sem rumo. Foi graças a ele, em grande parte, que “flanar” fixou-se como verbo em várias línguas, inclusive em português. Diz Baudelaire:

"Para o perfeito flâneur, para o observador apaixonado, é um imenso prazer fixar residência na multiplicidade, em tudo o que se agita e que se move, evanescente e infinito: você não está em casa, mas se sente em casa em toda parte; você vê todo mundo, está no centro de tudo, mas permanece escondido de todos."

"Le Vélo"
Hoje é corriqueiro encontrar pessoas flanando pelas ruas nas grandes cidades modernas, só pelo prazer de entrar em contato com a vida urbana, mas esse comportamento teve tempo e lugar para nascer, é digamos, uma atitude ‘datada’. Essa figura do caminhante solitário surgiu em Paris durante o Iluminismo, no século 18, e foi moldada pelas transformações que a cidade sofreu na época.



"L'Interdit"

Mas assim como Bourdieu nega o ato ‘desinteressado’, ao dizer que a escolha artística está fundada em critérios bem claros, ou seja, os ‘interesses estéticos, também a arte da flânerie não está isenta de intenções. Ao se diferenciar da multidão, o flâneur afirma uma vontade específica, ou seja, conhecer uma realidade que escapa à percepção da maioria das pessoas.


"Dans la Pâtisserie"
Assim, movida pela vontade de enxergar uma Paris ‘com meus próprios olhos’, tentando fugir dos estereótipos que há muito se estabeleceu no imaginário de quase todos a respeito da cidade, lá fui eu...não poderia fugir dessa aventura visitando a Paris do século XXI. Em meio ao turbilhão de pessoas de toda a parte do mundo, em uma verdadeira babel de línguas, de perfumes e de um visual que a todo momento surpreende, fui traçando meus mapas afetivos da cidade.


"Deux lapins"
Com uma pequena câmera nas mãos para não impedir o caminhar livremente pelas ruas, entre os monumentos e pessoas da cidade, fui clicando tudo o que queria de alguma forma eternizar e manter na memória. O conjunto dessas imagens acabou se tornando uma colagem, ou uma bricolage, no sentido usado pela Antropologia, uma unidade na diversidade...


"Monsieur Voleur..."
É como defino as imagens aqui apresentadas: alguns fragmentos de uma experiência, um caleidoscópio de sensações e vivências. O estado de espírito que me guiava era aquele descrito por Benjamin em suas anotações: “Sair quando nada nos força a fazê-lo, seguir nossa inspiração como se o fato de virar à direita ou à esquerda constituísse em si um ato poético”.


"Au nom de la Rose"

"Beige et Blanc"

"Petites oranges sur la fênetre"

"La vie en rouge"

"Immigration"

"La pluie"

"Mazurka"

"Lumiére"

"Festival des chapeaux"

"Punk?"

"Vélo II"

"Monde de la fantaisie"

"Petits Amis"


Referências:

Ortiz, Renato – Ciências Sociais e Trabalho Intelectual, Edit. Olho d’Água, S.Paulo:2002.
Turcot, Laurent - Le Promeneur à Paris au XVIII Siècle, Edit. Gallimard, Paris:2007.

FOTOS: Izabel Liviski 







Izabel Liviski é Professora e Fotógrafa. Doutora em Sociologia pela UFPR, escreve a coluna INCONTROS desde 2009 e é também co-editora da Revista ContemporArtes.
















Version Française

Paris: le traçage des cartes affectives de la ville

«L'erreur est humaine, et promener est parisien» - Victor Hugo (1802-1885)

Charles Baudelaire, un autre célèbre écrivain et poète français, décrit en 1863 dans l'essai intitulé Le Peintre de la vie moderne, la figure du flâneur, le citoyen marchant seule dans la ville et à la dérive. Ce fut grâce à lui, en grande partie, que «flâner» se tenait comme un verbe en plusieurs langues, y compris le portugais. Baudelaire dit:

Pour le flâneur parfait, pour l'observateur passionné, il est un grand plaisir à régler dans la multiplicité, dans tout ce qui remue et se déplace, de fuite et infinie: vous n'êtes pas à la maison, mais se sent partout chez lui; vous voyez tout le monde est au centre de tout, mais reste caché à tout le monde.

Aujourd'hui, il est courant de trouver des gens qui flânent dans les rues dans les grandes villes modernes, juste pour le plaisir de contact avec la vie urbaine, mais ce comportement eu le temps et le lieu de naître, est dit, une attitude 'daté'. Cette figure du solitaire marcheur a émergé à Paris au siècle des Lumières au 18ème siècle, et a été façonné par les transformations que la ville a subies à l'époque.

Tellement ému par le désir de voir l'un de Paris avec mes “propres yeux”, essayant d'échapper aux stéréotypes qui ont longtemps été établies dans l'esprit de la quase totalité de les gens, je suis parti ... ne pouvait pas échapper à cette aventure, visiter Paris de le XXI siècle. Au milieu de la vague de gens de partout  le monde, dans une véritable Tour de Babel de langues, parfum et un regard qui surprend tout le temps, j’ écris mes cartes affectifs de la ville.

Avec une petite caméra à la main pour ne pas entraver la marche librement à travers les rues, parmi les monuments et les gents de la ville, a été cliquant tout ce qu'on voulait en quelque sorte à perpétuer et maintenir dans la mémoire. Pris ensemble, ces images se sont avérées être un collage, ou de bricolage, dans le sens utilisé par l'Anthropologie, une unité dans la diversité. 

Il est comment je définis les images présentées ici: quelques fragments d'une expérience, un kaléidoscope de sensations et d'expériences. L'ambiance qui m'a guidé était celle décrite par Walter Benjamin dans ses notes: "Quitter lorsque rien ne nous oblige à le faire, suivant notre inspiration, comme si le fait de tourner à droite ou à gauche elle-même constituait un acte poétique."

Références:
Ortiz, Renato - Sciences Sociales et travail intellectuel, Edit. Oeil de L'eau, S.Paulo: 2002.
Laurent Turcot - Le promeneur à Paris au XVIII Siècle, Edit. Gallimard, Paris: 2007.

PHOTOS: Izabel Liviski 


Izabel Liviski est un enseignant et photographe. Doctorat en Sociologie par l'UFPR, écrit la colonne INCONTROS depuis 2010 et est également co-rédacteur en chef du Magazine ContemporArtes.

3 comentários:

Francisco Cezar de Luca Pucci disse...

Novamente publiquei um comentário é a página "engoliu" sem publicar.

1 de julho de 2015 às 11:55
Anônimo disse...

Superbe, félicitations !

Hélène Joncheray - Université Paris Descartes.

2 de julho de 2015 às 09:54
Ana Dietrich disse...

amei tudo, as fotos e o texto...

18 de julho de 2015 às 20:55

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