O que sobrou de Ernesto Guevara ( Che ) na Argentina dos anos de 1990? “Las Ensoladas”
O que sobrou de Ernesto Guevara ( Che ) na Argentina dos anos de 1990? “Las Ensoladas”
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Gosto demais dos filmes argentinos, principalmente pela habilidade e competência que os roteiristas e diretores possuem em acreditar na história que decidem contar. Um eixo central que parte de um story-line bem resolvido, isto é, sincero, honesto sem pretensão de mostrar aquilo que não é da essência da história, tem mais chances de encantar o público.
Um pequeno incidente, corriqueiro aparentemente sem nenhum charme e graça se torna grande quando parte de um conceito explicito de credibilidade no que se tem de imediato e exclusivo. Sem perder de vista o eixo temátco, calmamente, sem pressa, vai se tecendo circunstâncias lúdicas e ao mesmo tempo críticas para prender o espectador e deixá-lo se deliciar com a história.
Quando o sol ilumina as esperanças |
Taretto acerta novamente baseando seu filme em um curta-metragem realizado em 2002
“Las Ensoladas”, 2015 de Gustavo Taretto que estreou na Mostra de Cinema Latino em São Paulo e está em cartaz desde o dia 13 de agosto no circuito comercial, é assim, um filme lúdico, engraçado e bem sucedido. Diferente de “Medianeras - Buenos Aires na Era do Amor Virtual” em que Taretto teve uma aceitação incrivel do público argentino e brasileiro, em “Las Ensoladas”, o público da terra natal de Taretto se dividiu. Muitos argentinos acharam que ver mulheres tomando sol em uma laje e ouvi-las falando sobre futilidades é entediante. Aqui no Brasil o filme tem tudo para “bombar”, no bom sentido.
Para mim, nada no filme me remete ao tédio. Logo na abertura, a canção “Here Comes The Sun”( The Beatles) - para nós brasileiros, é a versão de Lulu Santos que nos vem a mente - faz par com um passeio do sol, em câmera adiantada, pelos prédios de Buenos Aires, iluminando a cidade portenha no começo da manhã. Poesia pura.
Há uma referência explicita a “La Dolce Vita” de Fellini quando um helicóptero sobrevoa o prédio e as meninas acenam pra ele.
Há uma referência explicita a “La Dolce Vita” de Fellini quando um helicóptero sobrevoa o prédio e as meninas acenam pra ele.
Sol, mulheres, laje, mate, alfajores, salsa, churros, marijuana, cuba libre, frutas, muito papo e, Buenos Aires .... Las Ensoladas |
Questões importantes são discutidas nas falas sem importâncias das garotas
Prestes a estourar a crise na Argentina, 1995, as garotas parecem alienadas à politica e não mostram exatamente ter conciência do que está por vir. No entanto, fica explícito que estão descontentes com o país e sonham com um lugar que faça sol o ano todo, como o Caribe, por exemplo. Falando assim dá impressão que a futilidade rola solta, mas a surpresa está no texto. À la Tarantino, o diretor arrebenta no texto verborrágico das personagens e faz uma alusão a Revolução Cubana e o que sobrou dela na Argentina. Uma brincadeira com o nome do Comandante Ernesto “Che” somado a impossibilidade de irem ao Caribe, Havana lhes vem a mente pois além do gosto pelo sol a salsa as aproxima de Cuba.
Beleza colocada na mesa... ou melhor, na laje Sucesso garantido com praticamente uma locação: Uma laje de um prédio no cento de Buenos Aires |
Bela sacada do diretor que é ovacionado em “Medianeras” e repete a dose de humor, critica e beleza numa história bem escrita com lindas muchachas, papo bom, muito sol e a Buenos Aires querida como pano de fundo.
A esperança vem da mídia Outdoor
O outdoor preso na laje do prédio em que elas estão, anuncia um pacote para Cuba e faz com que elas substituiam o Caribe por Cuba.
O que sobrou da Revolução de Che na Argentina foi o sol e a Salsa Cubana. Uma Rueda de Casino pode encerrar a discussão com muita dança e, no pacote das meninas a vontade de serem livres, belas e soltas.
Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.
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