sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O que sobrou de Ernesto Guevara ( Che ) na Argentina dos anos de 1990? “Las Ensoladas”



O que sobrou de Ernesto Guevara ( Che ) na Argentina dos anos de 1990? “Las Ensoladas”

Gosto demais dos filmes argentinos, principalmente pela habilidade e competência que os roteiristas e diretores possuem em acreditar na história que decidem contar. Um eixo central que parte de um story-line bem resolvido, isto é, sincero, honesto sem pretensão de mostrar aquilo que não é da essência da história, tem mais chances de encantar o público.
Um pequeno incidente, corriqueiro aparentemente sem nenhum charme e graça se torna grande quando parte de um conceito explicito de credibilidade no que se tem de imediato e exclusivo.  Sem perder de vista o eixo temátco, calmamente, sem pressa, vai se tecendo circunstâncias lúdicas e ao mesmo tempo críticas para prender o espectador e deixá-lo se deliciar com a história.  

Quando o sol ilumina as esperanças 

Taretto acerta novamente baseando seu filme em um curta-metragem realizado em 2002

“Las Ensoladas”, 2015 de Gustavo Taretto que estreou na Mostra de Cinema Latino em São Paulo e está em cartaz desde o dia 13 de agosto no circuito comercial, é assim, um filme lúdico, engraçado e bem sucedido. Diferente de “Medianeras - Buenos Aires na Era do Amor Virtual” em que Taretto teve uma aceitação incrivel do público argentino e brasileiro, em “Las Ensoladas”, o público da terra natal de Taretto se dividiu. Muitos argentinos acharam que ver mulheres tomando sol em uma laje e ouvi-las falando sobre futilidades é entediante. Aqui no Brasil o filme tem tudo para “bombar”, no bom sentido.
Para mim, nada no filme me remete ao tédio. Logo na abertura, a canção “Here Comes The Sun”( The Beatles) - para nós brasileiros, é a versão de Lulu Santos que nos vem a mente -  faz par com um passeio do sol, em câmera adiantada, pelos prédios de Buenos Aires, iluminando a cidade portenha no começo da manhã. Poesia pura. 
Há uma referência explicita a “La Dolce Vita” de Fellini quando um helicóptero  sobrevoa o prédio e as meninas acenam pra ele.

Sol, mulheres, laje, mate, alfajores, salsa, churros, marijuana, cuba libre, frutas, muito papo e, Buenos Aires .... Las Ensoladas 

Questões importantes são discutidas nas falas sem importâncias das garotas

Prestes a estourar a crise na Argentina, 1995, as garotas parecem alienadas à politica e não mostram exatamente ter conciência do que está por vir.  No entanto, fica explícito que estão descontentes com o país e sonham com um lugar que faça sol o ano todo, como o Caribe, por exemplo. Falando assim dá impressão que a futilidade rola solta, mas a surpresa está no texto. À la Tarantino, o diretor arrebenta no texto verborrágico das personagens e faz uma alusão a Revolução Cubana e o que sobrou dela na Argentina. Uma brincadeira com o nome do Comandante Ernesto “Che” somado a impossibilidade de irem ao Caribe, Havana lhes vem a mente pois além do gosto pelo sol a salsa as aproxima de Cuba.
Beleza colocada na mesa... ou melhor, na laje 


Sucesso garantido com praticamente uma locação: Uma laje de um prédio no cento de Buenos Aires

Bela sacada do diretor que é ovacionado em “Medianeras” e repete a dose de humor, critica e beleza numa história bem escrita com lindas muchachas, papo bom, muito sol e a Buenos Aires querida como pano de fundo.

A esperança vem da mídia Outdoor

O outdoor preso na laje do prédio em que elas estão,  anuncia um pacote para Cuba e faz com que elas substituiam o Caribe por Cuba.
O que sobrou da Revolução de Che na Argentina foi o sol e a Salsa Cubana. Uma Rueda de Casino pode encerrar a discussão com muita dança e, no pacote das meninas a vontade de serem livres, belas e soltas.   



Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

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