O filme "O Diário de Uma Camareira" explicita o antissemitismo na França da virada do séc XIX/XX
“O Diário de Uma Camareira” de Benoit Jacquod estreiou nesta quinta nos cinemas de SP. Provavelmente o que irá motivar o público brasileiro à assisti-lo, é a beleza da protagonista: a premiada e linda Léa Seydoux, a Ema de “Azul é a Cor Mais Quente”. A atriz está simplesmente exuberante como Celestine, a camareira. No entanto não é só Léa que chama atenção no filme. Baseado no livro “A Camareira” de Octave Mirbeau, 1990, o filme mostra o momento de tensão na França dos Anos Loucos, quando a agravação antissemita veio a público por jornais e pelos intelectuais que começavam a mostrar descaradamente suas tendências racistas.
Poster do Filme |
Este discurso antissemita fica evidente pelas palavras do personagem discreto e calado Joseph, servidor da casa normandia onde Celestine também prestava seus serviços. Em uma de suas falas Joseph declara sua posição diante dos judeus. Tomando essa cena pela perspectiva alegórica, esse momento histórico foi crucial para difundir o antissemitismo que começaria a se propagar por toda Europa, tendo com consequência desenlaces devastadores, como por exemplo a formação das bases do pensamento totalitário, facista e nazista, precursores da Segunda Guerra Mundial.
Léa |
A atriz em "Meia Noite em Paris " |
Léa como Celestine em "O Diário de Uma Camareira" |
A atriz em "Meia Noite em Paris " |
Léa em "Azul é a Cor Mais Quente" |
Na França do inicio do séc. XX, os maridos frustrados com a frigidez de suas esposas, usavam os serviços das camareiras também para fins sexuais. As mulheres, sem muitas opções de trabalho, eram subjugadas a esses senhores, donos de grandes propriedades. As empregadas da Casa Grande deitavam com eles para não perderem seus empregos, e, muitas vezes engravidavam, visto que na época não existiam métodos anticonceptivos eficazes, aumentando desta forma o número de abortos clandestinos.
Renoir e Buñuel já haviam adaptado a obra de Octave Mirbeau “ A Camareira”, porém durante entrevista o diretor de "O diário da Camareira", Benoit, disse que não tinha intenção de fazer um remake e sim colocar sua visão do livro.
Com um tom eloquente, Benoit nos presenteia com essa adaptação para refletirmos a respeito das atrocidades cometidas injustamente neste período.
A Paris dos "ismos" e das inesquecíveis Vanguardas Históricas Européias também foi cenário de intolerâncias atrozes, bizarras e do trabalho precarizado.
A Paris dos "ismos" e das inesquecíveis Vanguardas Históricas Européias também foi cenário de intolerâncias atrozes, bizarras e do trabalho precarizado.
O filme é uma declaração dos valores em voga na França da virada do séc. XIX/XX, no prelúdio da Primeira Guerra Mundial e do Totalitarismo: Racismo, antissemitismo, trabalho quase escravo, machismo e frieza na relações interpessoais praticados de forma lúcida, sem melindres.
Ao blasé francês com carinho !!!
Ao blasé francês com carinho !!!
Bom filme !
Fiquem com o trailer!!!!
Fiquem com o trailer!!!!
Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.
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