sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Quantas Vivianes Amsalem ainda existem no Brasil? “Gett: O Julgamento de Viviane Amsalem"



Filme autoral dos irmãos israelenses Ronit e Shomi questiona a situação da mulher em Israel. 
Os irmãos Ronit e Shomi Elkabetz são contundentes em Gett: O Julgamento de Viviane Amsalem, ao tratarem da situação do divórcio em Israel. O filme faz parte da trilogia sobre a personagem Viviane:  To Take a Wife, Shiva e agora Gett.  Os três abordam os  perrengues enfrentados por uma mulher dentro de uma família tradicional israelense. Ronit, também atriz do filme, disse em entrevista,  que sempre gostou de escrever e como atriz  já encarou filmes franceses.  Segundo os cineastas, as histórias foram inspiradas na mãe deles em situações vivenciadas por ela numa sociedade regida por homens e pela religião. Gett,  foi lançado em Cannes  2014 e só chegou agora nos cinemas brasileiros.


O filme tem praticamente duas horas e poderia ser tedioso assisti-lo, levando em consideração que só tem praticamente uma locação com paredes brancas e  salas vazias de um Tribunal. Os planos são repetitivos, as cores lavadas e apesar do filme ser colorido às vezes temos a impressão que é em preto e branco.  O juri é composto por três rabinos com barbas, sobretudos pretos e camisas brancas ortodoxas tradicionais. No entanto, o espectador é motivado  a acompanhar o caso do divórcio pela expectativa criada por acontecimentos que se repetem. Muda o tempo mas não o espaço e a situação.  Como num espelho que reflete o próprio espelho criando aquela sensação infinita de repetição. Essas repetições quase hipnóticas são valiosas chamando à atenção do espectador para o caso do divórcio do casal e o tradicionalismo com que a questão é tratada.

Viviane é  a única mulher no seu julgamento 
O eixo central da trama está na vontade de Viviane em separar-se  do marido após 15 anos de relacionamento.  O impasse reside no fato de que, para a mulher pedir divórcio em Israel ela precisa ter sofrido maus tratos ou provar que o conjugue é impotente. Como Viviane deixou de amar o marido, seu motivo não se encaixa nessas duas condições, sendo assim,  o divórcio é sempre negado pelo  Tribunal religioso. Para completar, o marido de Viviane, Elisha,  não concorda em divorciar-se dela,  complicando muito a situação.


O caso de Viviane vai à um Tribunal porque ela precisa provar aos integrantes do Tribunal, rabinos ortodoxos, que não ama mais o marido e que isso é  motivo suficiente para se libertar dele.  Em Israel as leis civis não se aplicam as questões familiares sendo determinadas por leis e tribunais religiosos.
Apesar de 
ter deixado o marido, ela continua levando comida para ele e cuidando da casa e dos quatro filhos. O que fica evidente é o ódio intrínseco  as mulheres, as leis  seculares e as  ideias rígidas. São fortes as cenas em que se repete a mesma situação depois do primeiro pedido de divórcio por Viviane. Passam-se 10 meses, 18 meses, 3 anos .... e assim por diante.

O marido e o advogado 
Apesar da aspereza e crueldade da situação, o filme tem muito senso de humor e “brinca” um pouco com toda situação,  ridiculizando-a. Mas o drama está lá, em todas as cenas a trágica situação da mulher com sua voz diminuta perante o tribunal religioso e misógino, é constrangedor e humilhante. Os subtitulos inseridos antes das cenas  informam ao espectador a data da audiência, colocando-nos a par de quanto tempo se passou entre uma e outra.
O filme já circulou por 30 países com razoável  êxito de público.


Esse fato se explica também não só pela situação exótica de Israel mas por as questões relacionadas aos direitos das mulheres e ao preconceito, ainda presente em grande parte do mundo.  O que ficou pra mim:  Apesar de estarmos no séc. XXI, as mulheres ainda vivem sob comandos machistas que são fortalecidos pela midia, pelas próprias mulheres e  pelas religiões.
Talvez o pior preconceito seja aquele que não desejamos ter consciência.




Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

1 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns, Katia!
Adorei a matéria, muito interessante mesmo.
abraço.
Bel

20 de setembro de 2015 às 13:02

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