sexta-feira, 2 de outubro de 2015

"O Clube" de Larraín, coloca o público em xeque ao tratar da hipocrisia nossa de cada dia



Falar do que todos já sabem, mas que preferem não tocar no assunto é uma especialidade do diretor chileno Pablo Larraín. Em No (2012) Larraín revive uma questão política esquerdista resolvida pelo viés midiático, deixando o público boquiaberto ao discorrer sobre um assunto que quer ser esquecido, mas que se perpetua na memória dos chilenos. No faz referência a 1988, quando o ditador Augusto Pinochet aceita realizar um plebiscito nacional para definir sua continuidade ou não no poder. René Saavedra (Gael García Bernal) coordena uma campanha publicitária contra a manutenção de Pinochet. A criatividade de René associada a sua perspicácia faz com que o povo chileno acredite que Pinochet não é mais a melhor opção de governo. A persuasão a serviço do povo.

Aos que crêem no amor 
Quinteto excomungado 
Ontem estreou no circuito nacional o seu novo filme, O Clube, premiado com o  Urso de Prata (grande prêmio do júri) na última edição do Festival de Berlim. Aqui o foco recai sobre os padres excomungados pedófilos e contraventores. Numa casa de praia, quatro padres e uma freira vivem isolados, castigo dado àqueles que cometem delitos sérios contra os dogmas cristãos. Escondidos, porém sustentados pela igreja, esse quinteto vive como numa prisão social e sob forte auto pressão moral. Entre um trago e outro, uma corrida de cachorro e outra, o grupo leva uma vida pacata, até que um tal de padre Matías Lascano aparece para dar uma guinada na história. Padre Garcia surge para descobrir o que se passa com o grupo após uma morte trágica. 

O personagem justiciero e salvador: padre Garcia  
Pablo Larraín - filme premiado em Berlim 
A fotografia é surpreendente, escurecida e azulada, dando opacidade às cenas e deixando-as tenebrosas. A relação dicotômica entre o bem e o mal é um exercício constante do espectador. Os depoimentos dos padres e suas ações na casa fazem com que momentos de compaixão se intercalem com momentos de indignidade perante os personagens. 

Fotografia azulada e escurecida para falar do lado bad da vida 
O espectador é levado, quase que num movimento inevitável, a esboçar um posicionamento, um juízo de valor mediante as personagens. No entanto, não é tarefa fácil decidir quando o que se tem em voga são questões complexas que envolvem a igreja, a comunidade e seus valores. O diretor instiga o público a acionar sua consciência e seus valores. O questionamento permeia essa instância analítica: O que fazer com os perversos homens? Com os pedófilos? Os corruptos? Aqueles que se entregam aos vícios? 
Recuperá-los? De que forma ? 
Escondê-los?
Escondidos, longe da comunidade, é mais fácil entender que a humanidade é boa. Assim seria possível continuarmos a nos esquivar da nossa própria humanidade nefasta e hipócrita?
 Castigo aos vícios e prêmios às virtudes?
Qual castigo deve ser dado aos homens perversos protegidos pela igreja? 
É possível escondê-los de todos? Protegê-los da justiça comum?
É assim que Larraín nos faz pensar, evocando nossa consciência. 



Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

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