O lenço azul
Como
é o instante em que se perde um grande amor? Para responder a essa pergunta,
trago um texto de uma mulher que relembra esse momento...
Dezembro.
Sol lilás perdido na espiral do tempo. Brisas fugidias a soprar sussurros de
mágoas nas sombras rendadas das centenárias árvores. Praça Ozório. Lusco-fusco
de personas, children e o ônibus amarelo.
Uma
jovem. Vinte e dois anos. Olhos negros profundos e inertes, fixos em seu algoz.
Sim, escolhemos nosso algoz. Seu corpo trêmulo, desconexo, suspenso pela
surpresa da ingratidão e da traição. Sonhos desfeitos. Quimeras. Pássaros
cantando o desamor daquele trágico momento. Seus olhos ardiam, sarça
denunciando as labaredas da alma.
Então
o gesto de adeus e o lenço azul. Nem era sua cor preferida. Copiosas lágrimas
pela face emudecida pela dor. Foram as últimas choradas, em sua existência. E a dor de amor, que não tem cura. É para
sempre. O
lenço azul, oferecido como último ato de misericórdia, para suavizar as lágrimas insanas.
Hoje
seus olhos esmaecidos buscam no crepúsculo um repouso.
E o lenço azul, banhado pelas lágrimas atemporais do adeus e do desamor descansa, como em relicário patinado pelo tempo, em uma caixa com flores de lavanda secas e esmaecidas, emoldurado pela finitude da vida não vida.
E o lenço azul, banhado pelas lágrimas atemporais do adeus e do desamor descansa, como em relicário patinado pelo tempo, em uma caixa com flores de lavanda secas e esmaecidas, emoldurado pela finitude da vida não vida.
Margot
Stern é enfermeira e professora. Ainda acredita no amor e ainda guarda aquele
lenço azul...
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