domingo, 18 de dezembro de 2016

CTRL+ALT+ESCOLA


     Um grupo de empreendedores da área tecnológica e investidores está promovendo algo novo na educação fundamental norte-americana: a AltSchool, uma comunidade colaborativa de micro escolas que reúnem ótimos professores, aptos à pesquisa aprofundada e utilização de ferramentas inovadoras, no intuito de oferecer uma experiência de aprendizagem personalizada. Alt é referência à tecla computacional Alternativa, que sozinha nada realiza, mas em conjunto com outras exerce funções impactantes.


     Na AltSchool o regime não é seriado, um aluno pode estudar matemática no nível de quarta série, ler em nível de terceira e desenvolver habilidades sociais e emocionais de alunos da quinta série; acredita-se que a educação deve refletir sua singularidade. Os educadores realizam curadoria de atividades individuais e em grupo, que sejam relevantes e supram necessidades de cada aluno.

     A escola foi fundada por Max Ventilla, que trabalhou para o Google, saiu e fundou uma startup na qual desenvolveu a ferramenta "busca social" – algoritmo para acesso a informações – que vendeu para o Google em 2010 por alguns milhões de dólares, voltando à empresa como gerente de produtos. Demitiu-se novamente para iniciar a AltSchool em 2013, sem nenhuma experiência prévia como professor ou administrador educacional, mas com amplo conhecimento de redes, e bastante discernimento do que pode ser alcançado a partir de uma boa base de dados.



     Na AltSchool crianças são também orientadas a desenvolver dinamismo, empatia e perseverança, para que possam maximizar seu aprendizado, descobrindo cedo o quanto o fracasso é apenas um passo no caminho provável para o sucesso. A base metodológica é que perguntas do mundo real trazem aprendizagem para a vida; através de projetos desenvolvidos, os estudantes podem colocar habilidades fundamentais diretamente em prática, com interdisciplinaridade.

      O perfil educacional buscado para os alunos tem a forma de um T: grande amplitude de conhecimento em todas as disciplinas, e profundidade naquelas pelas quais mais se interessem. Além de cultivar habilidades sociais e emocionais fortes, os alunos da AltSchool devem construir competências em todas as áreas acadêmicas fundamentais: matemática, ciências, artes, estudos sociais. Acredita-se que a aprendizagem deva ser ao mesmo tempo rigorosa e envolvente para o aluno; considerando que no sistema educacional dos Estados Unidos uma forte base acadêmica abre as portas para as melhores escolas secundárias e faculdades.




     Ainda incipiente, a empresa emprega hoje cerca de cento e cinquenta pessoas, entre educadores, tecnólogos e administradores de sistemas. Sua implantação e crescimento foram financiados por cento e dez milhões de dólares em capital de risco e vinte milhões em taxas do empreendimento, levantadas ao longo dos últimos dois anos, estando entre os maiores investimentos já feitos em tecnologia de educação. O capital da AltSchool vem de alguns dos maiores investidores do Vale do Silício.

     No ano passado, a entidade filantrópica Silicon Valley Community Foundation aportou quinze milhões de dólares, através de um fundo financiado por Mark Zuckerberg. A Fundação Bill & Melinda Gates é outro grande investidor. Atualmente, as mensalidades cobrem a maior parte das despesas de funcionamento das escolas, incluindo os salários dos professores, e o dinheiro de investimento ajuda a cobrir os salários dos tecnólogos, custos imobiliários e outras despesas relacionadas com o crescimento da organização.




   Os apoiadores investem sem espectativa de serem apenas proprietários de pequenas escolas sofisticadas; acreditam na viabilidade da AltSchool reinventar a educação americana, querem facilitar o fornecimento de aplicativos para educadores que desejem iniciar suas próprias escolas; e, por fim, oferecer seu software para uso em escolas públicas de todo o país, um objetivo que a empresa espera alcançar entre três e cinco anos, e mais tarde poderia beneficiar países emergentes como o Brasil.

     Trata-se de um experimento ambicioso, com muitas qualidades e, certamente, alguns defeitos que necessitarão ser sanados, mas demonstra o quanto de esforço comunitário precisa estar voltado à melhoria de qualidade do sistema educacional.

Obs.: As imagens aqui postadas foram retiradas da internet para ilustração da matéria, sem finalidades comerciais.


                                                   ***





WANDA CAMARGO, estréia hoje como articulista da Revista ContemporArtes, responsável pela Coluna Educação & Cotidiano. Conheça um pouco da sua trajetória profissional e atividades:
Graduada em Física e Engenharia Civil, especialista em técnicas de Aprendizagem, mestre em Ciências Geodésicas (UFPR). Professora aposentada da Universidade Federal do Paraná, onde foi Chefe do Departamento de Informática, Coordenadora de Curso e de Extensão, representante de sua classe docente no Conselho de Administração. Atualmente é assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil, onde já exerceu os cargos de Presidente da Comissão Central do Concurso Vestibular e Diretora Acadêmica. É coordenadora dos Projetos UniBrasil Futuro, Academia UniBrasil, UniBrasil nas Escolas e demais projetos culturais. Autora e coautora de diversos livros, todos na área educacional.           



1 comentários:

Francisco Cezar de Luca Pucci disse...

Importantíssima a iniciativa dessa coluna num momento em que a educação está sendo discutida amplamente. O currículo da colunista fala por si só. Parabéns à Revista por propor e à professora Wanda por aceitar esse desafio.

18 de dezembro de 2016 às 11:44

Postar um comentário

Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.