LINHA de LEITURA: UM BEM SUCEDIDO PROJETO ENTRE A HOLANDA E O BRASIL
Nesta última edição de 2016 da
coluna Incontros, trazemos a público um importante projeto
Pedagógico desenvolvido pela professora brasileira radicada na Holanda, Lilia Wachowicz*. E para a melhor compreensão da
proposta, fizemos uma entrevista com a autora, confira:
Esse
projeto nasceu em 2013, um ano após meu desligamento da escola onde
lecionei por 10 anos na Holanda (2002–2012). Ele foi baseado em
diferentes metodologias de leitura holandesas, na observação do
desenvolvimento dos alunos e nos seus resultados. Também como mãe,
acompanhando o aprendizado de leitura das minhas duas filhas, que
vivem naquele país. No decorrer dos anos, observei uma significativa
diferença na capacidade e no prazer de leitura nas crianças
holandesas, em relação as do Brasil, onde também lecionei durante
muitos anos.
É
comum na Holanda, ver adolescentes e adultos lendo em suas horas de
lazer, seja onde for. Isto impressiona e motiva. Além da diferença
cultural entre os dois países, da economia e até mesmo do clima,
acredito que essa diferença está no fato de que as escolas
holandesas do Fundamental I, trabalham para que a maioria dos seus
alunos atinja um nível de leitura ideal para ingressarem no
Fundamental II. Para isso, utiliza-se metodologias desenvolvidas e
exigidas desde os anos 70, pelo Ministério da Educação da daquele
país.
Sempre pensei como professora na Holanda, que fosse possível trabalhar a leitura em sala de aula também nas escolas brasileiras. Acredito que através da aplicação deste projeto nas escolas, seja possível estimular o aprendizado da leitura, trazendo às crianças uma oportunidade de desenvolver uma forma mais eficiente e ampla da prática da leitura, como também estarem melhor preparadas para o restante de sua carreira escolar e profissional.
Embora o projeto seja baseado nas minhas experiências em sala de aula com diferentes metodologias de leitura holandesas, é importante salientar que não se trata de uma simples tradução das mesmas, mas uma adaptação às dificuldades gramaticais e complexidades da língua portuguesa, como também à literatura nacional disponível para as diferentes idades das crianças envolvidas no projeto.
A pesquisa mostra que no Brasil se lê até quatro livros por ano e na Holanda entre 15 a 18 livros/ano. Acreditando que essa gritante diferença se deve também à aplicação diária desse método em todas as escolas holandesas, foi que criei o Método Linha de Leitura para as escolas brasileiras.
A pesquisa mostra que no Brasil se lê até quatro livros por ano e na Holanda entre 15 a 18 livros/ano. Acreditando que essa gritante diferença se deve também à aplicação diária desse método em todas as escolas holandesas, foi que criei o Método Linha de Leitura para as escolas brasileiras.
Qual
a metodologia utilizada nesse projeto e o que ele proporciona aos
alunos participantes?
A metodologia consiste em atingir 8 níveis de leitura, ou mais dependendo do desenvolvimento da leitura dos alunos em até 5 anos, a partir da alfabetização. Alunos com problemas de leitura ou distúrbios de aprendizagem, são avaliadas de forma diferenciada, de acordo com seu desenvolvimento e capacidade. Os níveis de leitura são em ordem progressiva de vocabulário. Quanto mais alto o nível, mais complexo é o livro lido.
No início 3º. ano do Fundamental I, nas escolas municipais, e no 2º. ano nas escolas particulares, onde se finaliza a alfabetização, o aluno inicia sua Linha de Leitura e termina quando atinge o último nível, até o 5º. ano, sempre respeitando seu tempo e interessse. Depois disso, espera-se que os alunos tenham adquirido um hábito diário e uma maior facilidade de leitura, importantíssimo para os anos seguintes. A idade em que o projeto é aplicado é fundamental, pois aproveita a fase lúdica da criança e a sua rapidez na leitura a ajuda consequentemente, a interpretar melhor o que lê.
A leitura é diária, feita em duplas. Os alunos são previamente avaliados através de testes iniciais de leitura, que determinam as duplas, de acordo com o seu nível de leitura. As “duplas de leitura” sentam-se lado a lado e lêem em voz alta, durante quinze minutos consecutivos o mesmo livrou ou texto, tendo em vista que a oralidade da escrita ajuda na memorização visual e auditiva do aluno. A leitura é intercalada, ou seja, cada um deve ler para o outro, uma frase, um parágrafo ou uma página, dependendo do nível de leitura em que se encontram.
O outro deve seguir a leitura com os olhos e caso haja erro, o companheiro deve avisar para que a palavra seja re-lida corretamente. A passagem de um nível para outro se dá depois da leitura de todos os livros e textos do nível onde a dupla se encontra, passando então por uma avaliação individual de leitura - específica para cada nível, estando então o aluno apto para ler os livros do nível seguinte. Cada nível de leitura é marcado com uma cor diferente, para facilitar o reconhecimento dos mesmos. Por exemplo, todas as pastas de textos, a cesta dos livros e os livros no nível 6, são marcadas com fita adesiva verde.
As cores ajudam os alunos a identificarem o material necessário a ser retirado ou devolvido pelos mesmos durante o horário da leitura, proporcionando autonomia aos alunos para que, sozinhos mantenham a ordem do material e para que as professoras tenham mais tempo para dar assistência aos alunos que assim necessitam.
Outro fator importante do projeto é que, como todos os livros de cada nível, são lidos ao mesmo tempo em voz alta, pode haver um clima de agitação no local. Por isso, é importante esclarecer às crianças que o momento de leitura é somente com seu companheiro e não com os outros, isso exige das crianças concentração e respeito pelo outro.
Assim, a leitura acontece de uma maneira espontânea e tranquila, e é claro que isso demanda disciplina e organização por parte do professor, cuidando que uma dupla não interfira na leitura da outra. Cada aluno é acompanhado individualmente, e os resultados alcançados por ele são registrados e arquivados. Avaliações de leitura de todos os níveis, assim como suas dificuldades, superadas ou não - no decorrer dos anos, são passados junto com o aluno para o ano seguinte, para que o próximo professor responsável, tenha em mãos o histórico do desenvolvimento de leitura de cada criança.
Quais
as perspectivas futuras para esse projeto?
A metodologia consiste em atingir 8 níveis de leitura, ou mais dependendo do desenvolvimento da leitura dos alunos em até 5 anos, a partir da alfabetização. Alunos com problemas de leitura ou distúrbios de aprendizagem, são avaliadas de forma diferenciada, de acordo com seu desenvolvimento e capacidade. Os níveis de leitura são em ordem progressiva de vocabulário. Quanto mais alto o nível, mais complexo é o livro lido.
No início 3º. ano do Fundamental I, nas escolas municipais, e no 2º. ano nas escolas particulares, onde se finaliza a alfabetização, o aluno inicia sua Linha de Leitura e termina quando atinge o último nível, até o 5º. ano, sempre respeitando seu tempo e interessse. Depois disso, espera-se que os alunos tenham adquirido um hábito diário e uma maior facilidade de leitura, importantíssimo para os anos seguintes. A idade em que o projeto é aplicado é fundamental, pois aproveita a fase lúdica da criança e a sua rapidez na leitura a ajuda consequentemente, a interpretar melhor o que lê.
A leitura é diária, feita em duplas. Os alunos são previamente avaliados através de testes iniciais de leitura, que determinam as duplas, de acordo com o seu nível de leitura. As “duplas de leitura” sentam-se lado a lado e lêem em voz alta, durante quinze minutos consecutivos o mesmo livrou ou texto, tendo em vista que a oralidade da escrita ajuda na memorização visual e auditiva do aluno. A leitura é intercalada, ou seja, cada um deve ler para o outro, uma frase, um parágrafo ou uma página, dependendo do nível de leitura em que se encontram.
O outro deve seguir a leitura com os olhos e caso haja erro, o companheiro deve avisar para que a palavra seja re-lida corretamente. A passagem de um nível para outro se dá depois da leitura de todos os livros e textos do nível onde a dupla se encontra, passando então por uma avaliação individual de leitura - específica para cada nível, estando então o aluno apto para ler os livros do nível seguinte. Cada nível de leitura é marcado com uma cor diferente, para facilitar o reconhecimento dos mesmos. Por exemplo, todas as pastas de textos, a cesta dos livros e os livros no nível 6, são marcadas com fita adesiva verde.
As cores ajudam os alunos a identificarem o material necessário a ser retirado ou devolvido pelos mesmos durante o horário da leitura, proporcionando autonomia aos alunos para que, sozinhos mantenham a ordem do material e para que as professoras tenham mais tempo para dar assistência aos alunos que assim necessitam.
Outro fator importante do projeto é que, como todos os livros de cada nível, são lidos ao mesmo tempo em voz alta, pode haver um clima de agitação no local. Por isso, é importante esclarecer às crianças que o momento de leitura é somente com seu companheiro e não com os outros, isso exige das crianças concentração e respeito pelo outro.
Assim, a leitura acontece de uma maneira espontânea e tranquila, e é claro que isso demanda disciplina e organização por parte do professor, cuidando que uma dupla não interfira na leitura da outra. Cada aluno é acompanhado individualmente, e os resultados alcançados por ele são registrados e arquivados. Avaliações de leitura de todos os níveis, assim como suas dificuldades, superadas ou não - no decorrer dos anos, são passados junto com o aluno para o ano seguinte, para que o próximo professor responsável, tenha em mãos o histórico do desenvolvimento de leitura de cada criança.
O projeto Linha de
Leitura depende do apoio de parcerias entre as prefeituras
municipais e clubes filantrópicos/sociais, como tem acontecido
atualmente, como o Rotary Club de Curitiba-Oeste, que tem fornecido
todo o material utilizado no projeto para mais de 9 escolas municipais
em Pinhais. Também, recebe ajuda de algumas empresas que tem
interesse em investir seus recursos na melhoria da educação no
Brasil. No caso das escolas particulares, o projeto acontece sendo financiado pela própria escola e o material em sua maioria está
disponível na própria biblioteca.
Em 2015, ficou definido
pela Secretaria de Educação de Pinhais que o Linha de Leitura seria
implantado em todas as escolas da sua rede municipal, atualmente ele
já foi implantado com sucesso em 10 escolas. Estamos na metade do
caminho, e infelizmente, as últimas notícias são que, com as
dificuldades econômicas que o Brasil atravessa, talvez a
continuidade do projeto esteja comprometida por falta de recursos da
prefeitura, mas ainda tenho esperanças que, haja alguma possibilidade
de se estender às outras escolas do município, que estão há algum
tempo esperando por isso.
A maioria das escolas
já sabem dos benefícios do projeto e estão esperando ansiosamente
que ele ocorra em suas unidades, pois a descontinuidade do
projeto nessas 10 escolas onde ele já foi implantado ficaria comprometida. Muitos pedagogos e professores (novos em suas
unidades) dependem de um novo treinamento para atuar em
suas escolas com qualidade, o que aconteceria em fevereiro de 2017. Além disso, existe o
interesse no projeto de algumas escolas particulares em Curitiba e de
alguns outros munícipios, como São José dos Pinhais, mas ainda
estão amadurecendo a idéia e levantando recursos.
A Secretaria de Educação de Curitiba também mostrou interesse em implantar o
projeto em sua rede municipal, principalmente nas escolas onde o
rendimento escolar dos alunos é menor, por exemplo nas escolas que fazem parte do
projeto Equidade (2015), pois os resultados
evidenciados na E. M. Vila Torres foram muito satisfatórios, mas vai depender da existência de recursos para a viabilização do projeto nesses locais.
Pretendo
retornar ao Brasil em fevereiro de 2017, para atender a mais escolas
em Pinhais caso o projeto tenha continuidade e a uma escola municipal de
Ponta Grossa, em caráter piloto, que será patrocinado pela parceria
de alguns clubes de Rotary da região e a Prefeitura Municipal.
*Meu nome é Lilia Maria Pontoni Wachowicz, bióloga de profissão mas professora de coração. Fiz magistério no Sion-Curitiba e desde meus 17 anos leciono com muito prazer. Atuei também como pesquisadora, participando inclusive da Expedição Antártica Brasileira em 1990, mas meu coração sempre bateu mais forte pelas crianças e a sala de aula. Mudei para a Holanda em 1992, constituí família e hoje sou mãe de duas lindas filhas, Iris de 19 e Shayna 16 anos, que continuam estudando na Holanda, e por isso minha necessidade de retornar para lá depois de alguns meses por ano no Brasil, tempo necessário para implantar o projeto em diferentes escolas brasileiras. No início na Holanda, me dediquei a aprender holandês, melhorar meu inglês e tirar os diplomas necessários para atuar profissionalmente no país. Nos últimos 15 anos me dediquei novamente a área de educação, sendo professora do ensino Fundamental I por mais de 10 anos.
As imagens desta matéria foram realizadas na Escola Municipal João Leopoldo Jacomel, no Jardim Weissópolis, em Pinhais, Paraná. Entrevista e Fotos: Izabel Liviski.
- Foi publicado em 16/03/2015, na fanpage do Colégio Sion Curitiba, a seguinte chamada: Confira o depoimento da pedagoga Lilia P. Wachowicz falando sobre o projeto inédito de incentivo à leitura do Sion, em entrevista para a Revista Escada. http://bit.ly/1GMTmE9. A postagem conta com imagem da autora e seu depoimento e pode ser conferido acessando-se o link: https://www.facebook.com/sioncuritiba/photos/a.153257634777560.19441.152800494823274/553258364777483/?type=3&theater
- Foi publicado em 18/03/2015, na fanpage do Colégio Sion Curitiba, a seguinte chamada: Com o objetivo de incentivar o hábito da leitura nos alunos, o Projeto Linha de Leitura chegou ao Sion Batel. O processo consiste em estruturar duplas que estejam no mesmo nível e todos os dias um lê para o outro durante 15 minutos consecutivos o mesmo livro, intercalando por página, parágrafo ou frase. Entenda como funciona no Blog: http://bit.ly/1L84XAY. A postagem pode ser conferida acessando-se: https://www.facebook.com/sioncuritiba/photos/a.153257634777560.19441.152800494823274/553830441386942/?type=3&theater
*Meu nome é Lilia Maria Pontoni Wachowicz, bióloga de profissão mas professora de coração. Fiz magistério no Sion-Curitiba e desde meus 17 anos leciono com muito prazer. Atuei também como pesquisadora, participando inclusive da Expedição Antártica Brasileira em 1990, mas meu coração sempre bateu mais forte pelas crianças e a sala de aula. Mudei para a Holanda em 1992, constituí família e hoje sou mãe de duas lindas filhas, Iris de 19 e Shayna 16 anos, que continuam estudando na Holanda, e por isso minha necessidade de retornar para lá depois de alguns meses por ano no Brasil, tempo necessário para implantar o projeto em diferentes escolas brasileiras. No início na Holanda, me dediquei a aprender holandês, melhorar meu inglês e tirar os diplomas necessários para atuar profissionalmente no país. Nos últimos 15 anos me dediquei novamente a área de educação, sendo professora do ensino Fundamental I por mais de 10 anos.
As imagens desta matéria foram realizadas na Escola Municipal João Leopoldo Jacomel, no Jardim Weissópolis, em Pinhais, Paraná. Entrevista e Fotos: Izabel Liviski.
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Izabel Liviski é Doutora em Sociologia pela UFPR, pesquisadora do Cespedh (Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos), professora de Fotografia e pesquisadora de História da Arte, Poéticas Visuais e Sociologia da Imagem. Edita a coluna INcontros desde 2009 e é Co-editora da Revista ContemporArtes.
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