quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Jean Wyllys em Berlim ou Não perca seu Tempo falando dos Outros





Neste último sábado fui ver o Deputado Federal Jean Wyllys falar na XXII Conferência Internacional Rosa Luxemburg, aqui em Berlim. Iniciada e organizada pelo Jornal marxista junge Welt, como o apoio de sindicatos, mídias e organizações de esquerda, a Conferência acontece desde 1996 e tem como intuito discutir sobre as perspectivas de mudanças socais, sobre a atualidade da obra de Rosa Luxemburg, sobre teorias e políticas de esquerda e sobre os movimentos anti-imperialistas do passado e de hoje. Sempre com palestrantes vindos de outros „contextos políticos“, principalmente convidados internacionais.

Jean Wyllys representaria a esquerda brasileira numa conferência, digamos assim, repleta de significados políticos e históricos. Estava contente pela oportunidade de ouvir o famoso Deputado e cheia de expectativas, mas qual não foi a minha surpresa quando, no fim, a sua fala se “limitou” a explicar o Brasil aos alemães, a explicar como se dá as relações sociais repressivas e como a direita, com a ajuda da mídia, manipulou o povo e usurpou o poder. Sem deixar de esquecer de explicar o episódio da cusparada, o deputado ganhou palmas da plateia ao dizer que “cuspiu na cara do fascista”. Não sem uma autocrítica,  é preciso dizer.

Mas como? É isso? Vir aqui e explicar aos gringos o país e dizer como tudo lá é injusto? A fala do deputado se limitou a dizer como a elite no Brasil é ruim... Fiquei com gosto de “querer algo mais além”. Não que o que foi dito seja errado, ou falso, ou indevido, mas fiquei querendo saber da força, das estratégias, das vitórias ou derrotas da luta. Afinal o partido do Deputado foi ao segundo turno das eleições ao Governo do Rio de Janeiro! Alguma coisa foi dita rapidamente apenas na respostas das poucas perguntas que lhe foram feitas. Deixo um link com a palestra para quem se interessar.

A coisa piorou, quando logo depois dele, ouvi a fala de Arnaldo Otegi, o líder do movimento de independência basca na Espanha, preso político, ex-militante do ETA. O cara falou das conquistas e da experiência política na Espanha, do que eles alcançaram e não alcançaram em sua luta, dos erros e do que buscam. Ele falou do movimento, e não do Estado ou do “outro” opressor. Isso me deixou ainda mais decepcionada com a fala do Deputado Wyllys, queria que ele mostrasse que existe força, que existe vida inteligente no Brasil... ele mostrou apenas a direita. 

O que falta neste discurso da esquerda brasileira? (com permissão à generalização) Seria uma outra autoconsciência? Seria bradar o seu potencial e ter claro a sua estratégia de luta, ao invés de ficar apontando para os opressores?
Dias depois vejo no face a entrevista de Vladimir Saftle para a caros amigos, e num trecho ele toca no ponto que me sensibilizou na fala do Deputado Wyllys. Ele identificou o ponto, e vejo que não estive errada na minha impressão.

"(...) é muito fácil (...) começar a fazer esse esporte tradicional no Brasil, que é tacar pedra na direita. (...) Só que isso pode ser uma satisfação narcísica, a gente lembrar que não é como eles. Mas isso não vai servir de nada, porque a questão não é essa. A questão é: nós, o que a gente tem para oferecer hoje, de fato? (...)"  (Vladimir Safatle à revista Caros Amigos)




Fala do deputado Jean Wyllys
https://www.youtube.com/watch?v=WdiEF4cdw2s&feature=youtu.be
https://www.youtube.com/watch?v=zWJuYZDWIGQ

http://www.carosamigos.com.br/index.php/grandes-entrevistas/8916-vladimir-safatle-por-uma-autocritica-da-esquerda

Ana Valéria Celestino, mora em Berlim há quase duas décadas, tempo que vem observando as mudanças da cidade. Estudou História em São Paulo e em Berlim, hoje trabalha como tradutora.

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