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HÔJÔKI


Antes de iniciar a escrita desta minha penúltima coluna (já com um certo saudosismo...), pensei em vários temas. Um deles, foi escrever sobre o haikaista japonês– ou melhor, mestre máximo do haikuMatsuo Bashô (1644-1694). Ao pesquisar sobre o mesmo na internet, encontrei muito material bom (e péssimo, também...) e por isso, resolvi não escrever mais “alguma coisa” sobre Bashô. Parei e pensei em alguém do universo do pensamento nipônico, mais poético e filosófico e que fosse pouco divulgado em língua portuguesa. Alguém que eu pudesse “jogar uma luz” com minhas breves linhas nesta coluna, contribuindo para a divulgação do seu pensamento.
Então, resolvi falar um pouco sobre a obra Hojoki, em português "Relatos da minha cabana". Acredita-se que esses ensaios de autoria do poeta e monge budista Kamo-no-Chômei (1155-1216) foram escritos numa minúscula cabana em seu retiro no monte Hiei entre os anos de 1211 e 1212. Os ensaios seguem o estilo zuihitsu, uma narrativa contemplativa, produto de observações – algumas vezes críticas -   do cotidiano, retrato pouco poético da realidade e das atitudes do seres humanos a sua volta. No caso da obra  Hojoki, o universo descrito por Chômei é o caos vivido pela capital Quioto, devastada por terremotos, tempestades e incêndios, cujo autor, desiludido, abandona, se retirando desse “desumano mundo” e refletindo profundamente sobre ele.


A essência da obra esta na concepção do mujô ou “impermanência”, pois tudo na vida transcende e essa concepção de raízes budistas é uma dos principais pilares da filosofia de japonesa.

Abaixo o clássico prelúdio da obra HÔJÔKI:

Yuki kawa no nagare wa taezushite
shikamo moto no mizu ni arazu
yodomi ni ukabu utakata wa
katsu kie katsu musubite
hisashiku todomaritaru tameshi nashi
yononaka ni aru hito to sumika to
mata kaku no gotoshi


The flowing river
never stops
and yet the water
never stays
the same
Foam floats
upon the pools,
         scattering, re-forming,
never lingering long.
So it is with man
and all his dwelling places
here on earth.

(Traduzido por Yasuhiko Moriguchi e David Jenkins)


Para além de se pensar, viver. Um bom início de dezembro a todos!



Todas imagens publicadas na coluna possuem direitos autorais Copyright ©2014AkitiDezem

Para saber mais:

Hojoki. Visions of a Torn World. Text by Kamo-no-Chomei. Translated by Yasuhiko Moriguchi and David Jenkins with illustrations by Michael Hofman. California, Stone Bridge Press, 1996.








Rogerio Akiti Dezem é professor visitante de língua portuguesa e cultura brasileira da Universidade de Osaka, no Japão. Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Matizes do Amarelo - A gênese dos discursos sobre os orientais no Brasil (Humanitas, 2005) entre outros livros. Além da História sua grande paixão é a Fotografia (http://akitidezemphotowalker.zenfolio.com/).







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Olhares japoneses sobre o Japão...



Posso dizer sem titubear, que “Fotografar no Japão”  e “Fotografar o Japão” foram as minhas mais importantes descobertas nestas paragens. Hábito que se tornou um vício, uma necessidade, que não só me possibilita um prazer instantâneo do ato de fotografar em si, mas também um caminho para tentar  compreender o “outro” japonês,  não apenas como expectador, flâneur, mas como participante. Explico.
Desde que comecei a praticar fotografia de rua por aqui em 2011, além das saídas fotográficas, li muito sobre o tema e vi muitos trabalhos de fotógrafos consagrados, como também dos menos conhecidos, comecei dessa forma a criar meu(s) conceito(s) sobre o que viria a ser fotografar o e no Japão e uma das primeiras questões que surgiram estava associada à questão do olhar. Quais seriam as diferenças entre o olhar de um (A) estrangeiro (“gaijin”) e de um (B)  japonês ao fotografar o Japão? Em um mesmo espaço urbano, para onde se dirigem os olhares de A a B? Para o mesmo ponto? Diferentes pontos? Por quê? Haveria um “padrão japonês”  para a prática da fotografia de rua? Por exemplo, geralmente o fotógrafo japonês deve contemplar seu objeto de forma mais próxima ou distante? Até que ponto o background cultural influenciaria no direcionamento do olhar e na foto produzida? Muitas perguntas, não? Claro que as respostas passam pelas  técnicas utilizadas e pelos estilos pessoais (perspectivas únicas?), impossíveis de se evitarem quando analisamos o olhar de um fotógrafo, no entanto minha busca é pelo que aproxima mais A e B do que pelo que os distancia.

 Com certeza o Japão e, principalmente, a cidade de Tóquio esta entre as “Mecas” da fotografia de rua, como Nova Iorque, Paris e Istambul entre outras megalópoles. Estas cidades possuem uma tradição urbana-histórica, configurando-se como destinos perfeitos para o exercício da arte de flanar com uma câmera na mão. Deixo claro aqui, que em qualquer espaço urbano é possível produzir ótimas e intrigantes imagens “street” per se, cabe ao sujeito por trás da câmera, captá-las, produzi-las e revelá-las a nós... MAS as cidades que citei, possuem encantos, uma “sinfonia urbana” característica, única, possuem um “peso”, uma “aura” graças a sua diversidade, complexidade e tradição, tornando-se  um verdadeiro deleite (e desafio) para os fotógrafos de rua mais experientes.

Para tentar encontrar algumas respostas plausíveis as minhas questões citadas anteriormente, conheci (via Flickr) e passei a trocar e-mails com alguns fotógrafos de rua japoneses de  Osaka e de Tóquio. Tive a feliz oportunidade de conhecer alguns deles pessoalmente e sair pelas ruas japonesas fotografando e aprendendo. Pessoas de diferentes idades, estilos, técnicas que vão desde o uso de uma clássica Leica M5, passando por Nikons, Canons, Sonys até fotografar usando iPhone e  filtros Hipstamatic. Enfim, são muitas as possibilidades usadas pelos meus fotógrafos de rua japoneses favoritos e que irei apresentar aqui de forma breve, pois as imagens cheias de maestria e criatividade – sem perder a ternura JAMAIS! – falam por si...

Começo apresentando aquele que tem na fotografia analógica a sua referência e essência: o fotógrafo Junichi Nishimura san (a.k.a. junku-newclews). Junku san e seu inseparável combo Leica M5/Summarit formam uma combinação vintage, mas letal em se tratando de street photography. Procurando suas “vítimas” de forma instintiva, geralmente em Tóquio (em Kyushu também), pelas ruas, em onsens e bares noite a fora, ele tem um estilo mais clássico, retrô, conciso, cujo enquadramento é um elemento poderoso de sedução estética quando nos deparamos com o seu belo trabalho. Aliado a isso, suas fotos contrastadas em branco e preto, na maioria das vezes, retratam um lado mais humano dos japoneses, revelando detalhes do sisudo cotidiano com um certo ar de comicidade. Em entrevista ao blog The Leica Camera (link: http://blog.leica-camera.com/photographers/interviews/junku-nishimura-street-shooting-set-to-music/) Junku san afirma que ele sempre tem em mente quando fotografa três conceitos : “Vida, verdade e morte”. Na minha opinião, isso realmente faz sentido e é plenamente representado em suas obras em filme fotográfico (Kodak Tri-X). Obra  que pode ser vista e adquirida via  internet ou em suas exibições no Japão.

pilots for desire (2014)

happy (2014)

Para ver mais Junku san: https://www.flickr.com/photos/junku-newcleus/


O próximo fotógrafo de rua “made in Tokyo” é Hirokazu Toda ou Roka san (a.k.a. Dance with the Strangers). Uma figura que tive o prazer de conhecer pessoalmente no início de 2013 e sair pelas ruas de Shinjuku  para praticar (e aprender) um pouco mais sobre a arte da fotografia de rua. Roka san usa como instrumento de trabalho uma câmera digital Ricoh GRD IV, talvez a melhor câmera atualmente para se fotografar pelas ruas, pequena, rápida e silenciosa como Roka san, ou seja, um par perfeito! Transitando entre a fotografia colorida e em branco e preto, uso de flash ou não, as imagens produzidas por ele são facilmente reconhecidas pela frontalidade (close-ups) como são produzidas, muitas usando a técnica from the hip, lembrando muito alguns trabalhos do lendário fotógrafo japonês Daido Moriyama.
 O rosto, geralmente de (belas) garotas japonesas se torna o foco principal de suas fotografias, sempre nos dando a sensação de movimento e MUITA proximidade! Roka san é um fotógrafo de rua que leva muito à sério sua atividade, sempre na busca de ângulos diferentes e/ou composições de caráter único, usando uma combinação de cores/movimento/sombras para retratar com verdadeira maestria a caótica Tóquio .


Just My Imagination (2014)


Tokyo Night (2014)

Para ver mais Roka san: https://www.flickr.com/photos/rokahu/

Sem sair da capital japonesa, nos deparamos com um fotógrafo que tem como paixão principal a relação entre os felinos e a cidade, principalmente na área de Taito em Tóquio. Masao Murakoshi san (a.k.a. Kahoumono) possui um verdadeiro faro canino para encontrar gatos - seres esquivos por natureza - que em suas fotos se tornam os protagonistas, às vezes parecendo posar para Masao san (!!). E que belas imagens ele produz! Munido geralmente de uma Canon EOS M, ele também retrata o cotidiano nipônico pelas intricadas ruelas suburbanas, apresentando uma visão às vezes nostálgica, às vezes simples e objetiva  O trabalho de Masao san (e de alguns outros fotógrafos  japoneses)  é a prova de que a fotografia de rua de forma alguma não deve se ater apenas aos atores humanos como protagonistas, mas também a outros elementos a sua volta representantes da cacofonia urbana.


Ueno (2014)


Oji (2014)

Para ver mais Masao san: https://www.flickr.com/photos/kahoumono/


A nossa quarta personagem, ou melhor, fotógrafa de rua, além de ser a representante feminina da lista, possui um estilo mais moderno e peculiar. Também assídua frequentadora das ruas de Tóquio, Kaori Nohara san (a.k.a. kao0915), utiliza em seu trabalho diferentes câmeras como a pequena Ricoh GRIV, uma DLSR Nikon D3200 e um iPhone 5 (plus filtros do Hipstamatic). Essa versatilidade pode ser notada em suas incríveis fotografias em branco e preto que, além de demonstrarem a singularidade dos seus frames, retratam de forma poética e às vezes minimalista a realidade do cotidiano de Tóquio. O denso contraste, bem trabalhado na pós-produção, é presença obrigatória em sua produção fotográfica e na minha opinião sua marca registrada. Outro elemento característico das fotos de Kaori san são as legendas, geralmente escritas em japonês e com um viés reflexivo, quase um koan.


 Your song (2014)


ただ全てが真実で (2014)

Para ver mais Kao san: https://www.flickr.com/photos/103607064@N05/

Agora saímos das ruas de Tóquio para flanar pelas ruas da minha querida Osaka. E para representar a fotografia de rua “made in Osaka”, eu escolhi dois fotógrafos da velha guarda que conheço pessoalmente e admiro muito. Conhecedores de cada meandro da “Veneza da Ásia” (i.e. Osaka??!) estes senhores tem muitas histórias para contar e uma grande quilometragem de rolos de filme queimados e pixels gravados. Vamos a eles:

Com um olhar aguçado e muita experiência na arte da Fotografia (não só de rua), Minoru Karamatsu san (a.k.a. Minoru Karamatsu) munido de sua Sony RX100M2, produz um trabalho de alto nível, tanto estético como metafórico. Poucos como ele sabem o momento certo de pressionar o shutter e captar uma bela imagem de rua sem pressa. É como se o “momento decisivo” durasse uma fração de segundo a mais, justamente esperando ser captado (apenas) por Minoru san. Geralmente usando a clássica distância de focal de 28mm-35mm para fotografia de rua, Mestre Minoru conhece bem os atalhos osakenses, não só captando a essência da cidade, mas revelando seu olhar contemporâneo, ainda que nostálgico, de uma cidade que pode – e deveria - ser recriada a partir do seu olhar de artesão da fotografia.


1970's



Bear ・・?くん たぶん・・・・ (2014)

 Para ver mais Minoru san: https://www.flickr.com/photos/pandx1/

Last but not least, apresento um fotógrafo muito espirituoso e pelo qual tenho grandes afinidades eletivas, principalmente quando se trata do universo feminino nipônico, Seiichi Maeda san (a.k.a. Higepal). Autor de uma longa série de fotos entitulada “yumematibito”, ele retrata vários lugares da cidade de Osaka como um verdadeiro viajante solitário. Ao optar por isso, Maeda san cria uma narrativa única, pungente, que em um primeiro instante, para alguns parece não fazer sentido, mas que em um segundo olhar, mais atento ao conjunto da obra,  personifica um mosaico ora colorido, ora branco e preto, geralmente enfatizando elementos humanos como crianças e idosos em lugares comuns, mas muito representaivos do modus vivendi japonês.


yumematibito 8084 (2014)


yumematibito 0071 (2014)

Para ver mais Maeda san: https://www.flickr.com/photos/93035962@N04/


Sim, a lista é curta e pessoal. No entanto, com certeza estes fotógrafoscom seus diferentes estilos, técnicas e principalmente, olhares sobre as duas maiores metrópoles japonesas, merecem a nossa atenção e respeito. Deixo aqui meu sincero agradecimento a Junku san, Roka san, Kao san, Masao san, Minoru san e Maeda san pela paciência e prontidão sempre que solicitei algo e também pela gentileza por autorizarem a publicação das fotos que ilustram este artigo. Domô Arigatou mina san!

Abaixo um link do Flickr onde você poderá encontrar e se deleitar com os olhares de outros ótimos fotógrafos de rua nipônicos, além dos já citados neste breve artigo:

https://www.flickr.com/photos/oldroger/galleries/72157648866018906/


ATENÇÃO! Todas as fotos deste artigo possuem direitos autorais. Você precisa da permissão dos proprietários/autores das imagens se deseja cópia-las ou divulgá-las em quaisquer meios. (WARNING! All photos on this article are copyrighted and all right are reserved. You need the permission of the copyright owners if you want to copy the image or share it in any media)











Rogerio Akiti Dezem é professor visitante de língua portuguesa e cultura brasileira da Universidade de Osaka, no Japão. Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Matizes do Amarelo - A gênese dos discursos sobre os orientais no Brasil (Humanitas, 2005) entre outros livros. Além da História sua grande paixão é a Fotografia (http://akitidezemphotowalker.zenfolio.com/).




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Halloween à Japonesa


Antes de começar, gostaria de dizer que não sou adepto a Cosplay (“Costume play”) e nem curto Halloween, MAS aqui no Japão, eu fiquei surpreso pela maneira como muitos japoneses “celebram” essa data importada do Tio Sam, por isso resolvi escrever algumas linhas sobre a maneira nipônica sui generis de celebrá-la.
O Dia das Bruxas (“All Hallow’s Eve”) tem sua origem anglo-saxã, consistindo em um ritual pagão que foi cristianizado pela igreja católica durante a Idade Média na forma do Dia de Finados (2 de novembro). No caso japonês, a celebração dos mortos ocorre durante o Obon, celebração de origem budista que ocorre na segunda semana de agosto. Tanto para os brasileiros como para os japoneses, o Halloween não tem nenhuma ligação direta com a lembrança dos ancestrais mortos.
Como é sabido, o Japão não tem raízes cristãs, apesar das tentativas de missionários portugueses e espanhóis em introduzir o cristianismo no arquipélago e converter os japoneses, fato que ocorreu entre meados do século XVI e o início do século XVII. Atualmente o número de cristãos (católicos e protestantes) no Japão não chega a 1% da população. Por isso podemos imaginar que celebrações cristãs como o Natal e Páscoa sejam diferentes do Brasil, certo? Mais ou menos... Sem o caráter religioso dessas celebrações e a tradição de se reunir com a família, o elemento que aproxima brasileiros e japoneses é o comércio. Certamente os japoneses são mais consumistas nestas datas, que na realidade são ótimos motivos para se consumir sempre um pouquinho mais por aqui, já que o mercado interno é o principal eixo da economia nipônica. Praticamente em meados do mês de setembro, as lojas de departamento, pequenas padarias,  lanchonetes como McDonald’s e Burger King, enfim, grande parte dos estabelecimentos comerciais já estão com decorações e cardápios temáticos de Halloween. Alguns de péssimo gosto... Assim que a data passa, já se inicia em novembro as decorações para o Natal, neste sentido não muito diferente do Brasil, né?

No ano passado e neste ano saí com amigos à noite pelas  ruas de Osaka para dar uma espiada no clima de Halloween. A diferença entre o ano passado e este, foi que em 2013 fomos a uma casa noturna, onde o pessoal ia fantasiado para beber e curtir o Halloween, ficamos por lá até uma três da manhã. Este ano foi mais “light”, apenas perambulamos pelas ruas de Amerika-mura, bairro dos jovens descolados e de “gringos”. Nestes dois anos, o que mais chamou a atenção do meu “olhar estrangeiro” foi a quantidade de pessoas fantasiadas, na maioria jovens entre 18-25 anos e, é claro, suas fantasias!Além disso, vi crianças com os pais fantasiados se divertindo,  garotas com fantasias minúsculas em uma temperatura de 18 graus (!!), rapazes bêbados (poucos) flertando e até uma galera - leia-se “gringos” – fumando maconha, mas nenhuma briga, nenhuma confusão, nada. Apenas a galera curtindo o momento e é claro tirando muitas fotos. As fantasias, algumas bem simples, outras super-elaboradas em conjunto com maquiagens de primeira,  dão o tom alegre, colorido e singular da celebração. Na verdade, o Halloween só “pegou” no Japão a partir de meados da década de 1980 e cresceu graças a disseminação do Cosplay (jap. コスプレ, Kosupure) em terras nipônicas. Um parênteses: o Cosplay , hoje tão comum no mundo é uma criação norte-americana e não japonesa como alguns acreditam. Acho que melhor do que esta minha breve introdução, são as imagens do Halloween à Japonesa. As fotos abaixo foram tiradas em 2013 em uma casa noturna e em 2014 nas ruas de Amerika mura. Tirem suas próprias conclusões...

Preparando-se para o Halloween (2013)


Clube noturno em Umeda, Osaka (2013)

Clube noturno em Umeda, Osaka (2013)

Clube noturno em Umeda, Osaka (2013)

Nas ruas de Amerika mura, Osaka (2014)

Nas ruas de Amerika mura, Osaka (2014)


Nas ruas de Amerika mura, Osaka (2014)

Nas ruas de Amerika mura, Osaka (2014)

E aí? Igual ao Halloween brasileiro??


Todas imagens publicadas na coluna possuem direitos autorais Copyright ©2014AkitiDezem








Rogerio Akiti Dezem é professor visitante de língua portuguesa e cultura brasileira da Universidade de Osaka, no Japão. Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Matizes do Amarelo - A gênese dos discursos sobre os orientais no Brasil (Humanitas, 2005) entre outros livros. Além da História sua grande paixão é a Fotografia (http://akitidezemphotowalker.zenfolio.com/).




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Há 50 anos...


Em 1º outubro de 1964, a viagem de pouco mais de 500 km entre Tóquio e Osaka se tornava mais rápida, passando das rotineiras seis horas e 40 minutos para cerca de quatro horas. O responsável por essa drástica diminuição de tempo foi o Shinkansen (jap. 新幹線 , “nova linha troncal”), mais conhecido entre nós como trem-bala (tradução da palavra japonesa dangan ressha, jap. 弾丸列車). Na época, com sua incrível velocidade de 220km/h, essa “nova” maravilha da engenharia ferroviária assombrou não só os japoneses, mas o mundo. Tornando-se umas das principais referências nipônicas nos dias de hoje.
O desejo pela criação de um trem de alta velocidade existia desde a década de 1930 no Japão. No entanto, ele só foi se materializar a partir do final da década de 1950, no início do chamado “milagre econômico” japonês. O trem-bala era  parte do gigantesco projeto visando preparar a cidade de Tóquio para receber às Olimpiadas de 1964. Cabe ressaltar aqui, que desde 1872, com a construção da linha pioneira ligando a capital Tóquio à cidade de Yokohama,  os trens são parte integrante da paisagem do arquipélago nipônico, ligando todo o país de forma rápida, segura e pontualíssima. Eu mesmo não consigo mais dissociar trens/estações da minha imagem sobre o Japão. O cotidiano japonês é regulado, entre outras coisas, pela pontualidade. Um território com área exígua, montanhosa e com um alto indíce de concentração populacional urbana, teve como um dos principais eixos do seu processo de modernização a construção de ferrovias. Desenvolvendo, em pouco mais de cem anos, um dos melhores e mais eficientes sistemas ferroviários do mundo. O Shinkansen, pode ser considerado a epítome deste processo. Só para se ter uma ideia da eficiência do sistema, no ano de 2012,  a média de atrasos dentre todos os Shinkansen em operação foi de 36 segundos. Além disso, em 50 anos de operação nunca foi registrado um acidente fatal. Tristemente, muitos dos acidentes fatais que acabam paralisando as linhas de Shinkansen  são causados por suicídios.


Desde sua primeira viagem inaugural em outubro de 1964 até os dias atuais o trem-bala vem sendo aprimorado tecnologicamente e esteticamente. No entanto, para mim a sua primeira versão (série 0) aposentada em dezembro de 2008 é a mais charmosa de todas as séries. Ela foi carinhosamente apelidada de 団子っ鼻( dangoopana jap. だんごっぱな) devido ao seu característico “nariz” arredondado.

Dentre os Shinkansen o que mais chama atenção dos japoneses - e a minha também - é a versão amarela ou “Dr. Yellow” (jap.ドクターイエロー).  Este “trem-bala”, como o próprio nome indica,  tem como objetivo checar e diagnosticar quaisquer problemas nas linhas, como também no sistema de cabos de transmissão de energia. O “Dr. Yellow” entra em ação a cada dez dias e na maioria das vezes,  trafega a partir do fim da noite, portanto, dificílimo de ser visto. Por isso muitos japoneses acreditam que é sinal de sorte caso você consiga ver um desses em ação. Eu nunca vi...



Sim, viajar de Shinkansen é realmente  uma experiência única. Administrado desde 1987 pelo grupo JR (Japan Railways), toda a estrutura ligada a este serviço é de primeiríssima linha. E como tudo o que é bom tem o seu preço, a passagem não é barata, mesmo para os padrões nipônicos. Algumas vezes fica “menos caro” viajar de avião do que de trem-bala, mas dependendo da distância, eu (e muitos japoneses) prefiro ir de Shinkansen. Na maioria das vezes em que usei este meio de transporte foi no trecho da linha Tôkaidô entre as cidades de Osaka e Tóquio, onde a cada dia cerca de 400 mil pessoas utilizam o serviço. O valor da passagem (ida e volta) pelo Nozomi (mais rápido)? Exatos 28,900 ienes ou cerca de 650 reais. A opção mais barata seria pegar o ônibus noturno que leva sete horas para percorrer os mesmos 550 km entre as cidades e custa cerca 5 vezes menos. Os ônibus também são muito bons, o único problema é o espaço, muito apertado para nós “ocidentais”, espaço que o Shinkansen tem de sobra, bem mais do que a classe econômica de um voo doméstico.
Atualmente a viagem entre Tóquio e Osaka leva exatas duas horas e 25 minutos. Existem sete linhas operando em todo o Japão e os modernos Shinkansen da série N700 operam com uma velocidade de 300km/h.

Otanjiyobi omedetou e vida longa a essa verdadeira obra-prima da engenharia !

Todas imagens publicadas na coluna possuem direitos autorais Copyright ©2014AkitiDezem




Fontes interessantes:


東海道新幹線ビジュアル大図鑑 (洋泉社MOOK 鉄道Special) Edição de fevereiro de 2014) (rômaji: Tôkaidô Shinkansen Bijuaru Daizukan) 

Dan Free, Early Japanese Railways 1853-1914. Engineering Triumphs that transformed Meiji-era Japan. Tokyo, Tuttle, 2008. 


http://www.japan-guide.com/e/e2018.html

Bela homenagem Shinkasen série 0:  http://www.youtube.com/watch?v=huIahNEnyM4
Este video (em inglês) é bem interessante: http://www.youtube.com/watch?v=pQha2xDSbbo
 Shinkansen Hayabusa (em japonês): http://www.youtube.com/watch?v=kMFEr7GizcU
Shinkansen “Dr. Yellow”(em japonês): http://www.youtube.com/watch?v=_IOlVYxxo4M









Rogerio Akiti Dezem é professor visitante de língua portuguesa e cultura brasileira da Universidade de Osaka, no Japão. Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Matizes do Amarelo - A gênese dos discursos sobre os orientais no Brasil (Humanitas, 2005) entre outros livros. Além da História sua grande paixão é a Fotografia (http://akitidezemphotowalker.zenfolio.com/).





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