HÔJÔKI
Antes de iniciar a escrita desta minha penúltima
coluna (já com um certo saudosismo...), pensei em vários temas. Um deles, foi
escrever sobre o haikaista japonês– ou melhor, mestre máximo do haiku – Matsuo Bashô (1644-1694). Ao
pesquisar sobre o mesmo na internet, encontrei muito material bom (e péssimo,
também...) e por isso, resolvi não escrever mais “alguma coisa” sobre Bashô.
Parei e pensei em alguém do universo do pensamento nipônico, mais poético e
filosófico e que fosse pouco divulgado em língua portuguesa. Alguém que eu pudesse
“jogar uma luz” com minhas breves linhas nesta coluna, contribuindo para a
divulgação do seu pensamento.
Então, resolvi falar um pouco sobre a obra Hojoki, em português "Relatos da minha cabana". Acredita-se que esses ensaios de autoria do poeta e monge
budista Kamo-no-Chômei (1155-1216) foram escritos numa
minúscula cabana em seu retiro no monte Hiei entre os anos de 1211 e 1212. Os ensaios seguem o estilo zuihitsu, uma narrativa contemplativa, produto de observações –
algumas vezes críticas - do cotidiano,
retrato pouco poético da realidade e das atitudes do seres humanos a sua volta.
No caso da obra Hojoki, o universo descrito por Chômei é o caos vivido pela capital
Quioto, devastada por terremotos, tempestades e incêndios, cujo autor,
desiludido, abandona, se retirando desse “desumano mundo” e refletindo
profundamente sobre ele.
A essência da obra esta na concepção do mujô ou “impermanência”, pois tudo na
vida transcende e essa concepção de raízes budistas é uma dos principais pilares
da filosofia de japonesa.
Abaixo o clássico prelúdio da obra HÔJÔKI:
Yuki kawa no nagare wa
taezushite
shikamo moto no mizu ni
arazu
yodomi ni ukabu utakata wa
katsu kie katsu musubite
hisashiku todomaritaru
tameshi nashi
yononaka ni aru hito to
sumika to
mata kaku no gotoshi
The
flowing river
never
stops
and
yet the water
never
stays
the
same
Foam
floats
upon
the pools,
scattering, re-forming,
never
lingering long.
So
it is with man
and
all his dwelling places
here
on earth.
(Traduzido por Yasuhiko Moriguchi e David Jenkins)
Para além de se pensar, viver. Um bom início de
dezembro a todos!
Todas imagens publicadas na coluna possuem direitos autorais Copyright ©2014AkitiDezem
Para saber mais:
Hojoki.
Visions of a Torn World. Text by Kamo-no-Chomei. Translated by Yasuhiko
Moriguchi and David Jenkins with illustrations by Michael Hofman. California,
Stone Bridge Press, 1996.
Rogerio Akiti Dezem é professor visitante de língua portuguesa e cultura brasileira da Universidade de Osaka, no Japão. Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Matizes do Amarelo - A gênese dos discursos sobre os orientais no Brasil (Humanitas, 2005) entre outros livros. Além da História sua grande paixão é a Fotografia (http://akitidezemphotowalker.zenfolio.com/).
0 comentários:
Postar um comentário
Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.