quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

HÔJÔKI


Antes de iniciar a escrita desta minha penúltima coluna (já com um certo saudosismo...), pensei em vários temas. Um deles, foi escrever sobre o haikaista japonês– ou melhor, mestre máximo do haikuMatsuo Bashô (1644-1694). Ao pesquisar sobre o mesmo na internet, encontrei muito material bom (e péssimo, também...) e por isso, resolvi não escrever mais “alguma coisa” sobre Bashô. Parei e pensei em alguém do universo do pensamento nipônico, mais poético e filosófico e que fosse pouco divulgado em língua portuguesa. Alguém que eu pudesse “jogar uma luz” com minhas breves linhas nesta coluna, contribuindo para a divulgação do seu pensamento.
Então, resolvi falar um pouco sobre a obra Hojoki, em português "Relatos da minha cabana". Acredita-se que esses ensaios de autoria do poeta e monge budista Kamo-no-Chômei (1155-1216) foram escritos numa minúscula cabana em seu retiro no monte Hiei entre os anos de 1211 e 1212. Os ensaios seguem o estilo zuihitsu, uma narrativa contemplativa, produto de observações – algumas vezes críticas -   do cotidiano, retrato pouco poético da realidade e das atitudes do seres humanos a sua volta. No caso da obra  Hojoki, o universo descrito por Chômei é o caos vivido pela capital Quioto, devastada por terremotos, tempestades e incêndios, cujo autor, desiludido, abandona, se retirando desse “desumano mundo” e refletindo profundamente sobre ele.


A essência da obra esta na concepção do mujô ou “impermanência”, pois tudo na vida transcende e essa concepção de raízes budistas é uma dos principais pilares da filosofia de japonesa.

Abaixo o clássico prelúdio da obra HÔJÔKI:

Yuki kawa no nagare wa taezushite
shikamo moto no mizu ni arazu
yodomi ni ukabu utakata wa
katsu kie katsu musubite
hisashiku todomaritaru tameshi nashi
yononaka ni aru hito to sumika to
mata kaku no gotoshi


The flowing river
never stops
and yet the water
never stays
the same
Foam floats
upon the pools,
         scattering, re-forming,
never lingering long.
So it is with man
and all his dwelling places
here on earth.

(Traduzido por Yasuhiko Moriguchi e David Jenkins)


Para além de se pensar, viver. Um bom início de dezembro a todos!



Todas imagens publicadas na coluna possuem direitos autorais Copyright ©2014AkitiDezem

Para saber mais:

Hojoki. Visions of a Torn World. Text by Kamo-no-Chomei. Translated by Yasuhiko Moriguchi and David Jenkins with illustrations by Michael Hofman. California, Stone Bridge Press, 1996.








Rogerio Akiti Dezem é professor visitante de língua portuguesa e cultura brasileira da Universidade de Osaka, no Japão. Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Matizes do Amarelo - A gênese dos discursos sobre os orientais no Brasil (Humanitas, 2005) entre outros livros. Além da História sua grande paixão é a Fotografia (http://akitidezemphotowalker.zenfolio.com/).







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