HOMOFOBIA NO MEIO UNIVERSITÁRIO


Ao meio estudantil universitário geralmente se associa a indivíduos de mente aberta. No entanto, quem convive ou já conviveu sabe que infelizmente as coisas não são bem assim. Casos de racismo, de sexismo e de homofobia são constantemente presenciados nas universidades através de múltiplas formas.

Episódios como os que aconteceram na Universidade Federal de Viçosa no ano de 2009 com a queima de uma bandeira LGBT, por um estudante com declarações explicitamente homofóbicas, são reproduzidos cotidianamente no meio estudantil universitário em todo o país. Recentemente a publicação de um “jornalzinho” por alguns estudantes de farmácia da USP confirma esse triste diagnóstico.

Logo abaixo há uma reprodução na íntegra do texto homofóbico publicado no jornalzinho que se intitula “O Parasita” na página 02:
"Lançe-merdas e Brega será na Faixa - Ultimamente nossa gloriosa faculdade vem sendo palco de cenas totalmente inadmissíveis. Ano passado, tivemos o famoso episódio em que 2 viadinhos trocaram beijos em uma festa no porão de med. Como se já não bastasse, um deles trajava uma camiseta da Atlética. Porra, manchar o nome de uma instituição da nossa faculdade em teritório dos medicus não pode ser tolerado. Na última festa dos bixos, os mesmos viadinhos citados acima, aprontaram uma pior ainda. Os seres se trancaram em uma cabine do banheiro, enquanto se ouviam dizeres do tipo "Aí, tira a mão daí." Se as coisas continuarem assim, nossa faculdade vai virar uma ECA. Para retornar a ordem na nossa querida Farmácia, O Parasita lança um desafio, jogue merda em um viado, que você receberá, totalmente grátis, um convite de luxo para a Festa Brega 2010. Contamos com a colaboração de todos. Joãozinho Zé-Ruela", escreve "O Parasita".

Bom o que dizer sobre essas tantas asneiras? Infelizmente essa não é uma posição isolada, quantas outras pessoas não pensam e se comportam dessa forma? E nessa muita gente vai apanhando, sendo apelidado e sofrendo inúmeros preconceitos. O texto acima é uma declaração explicita de homofobia, de aversão à homossexualidade; nem dá para o tal “Zé Ruela” afirmar que é apenas uma opinião. Como se já não bastasse os termos ofensivos como “viadinhos”; “eca” o individuo lança um desafio com premiação “jogue merda em um viado, que você receberá, totalmente grátis, um convite de luxo para a Festa Brega 2010”.

No entanto na contra corrente de tanta besteira, já houve declarações de discentes de outros cursos da USP na qual deixaram claro o repudio por tal incitação homofóbica. Como afirma a defensora Maíra Diniz, coordenadora do núcleo de combate à discriminação, racismo e preconceito, "O Parasita" infringiu a Lei Estadual 10.948 que trata do combate à homofobia. Outros órgãos de combate a homofobia também já estão entrando com processos e levando caso a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). Maiores informações sobre o caso podem ser lidas no site da G1.

Espera-se que medidas punitivas sejam tomadas para corrigir essa incitação preconceituosa, violenta e covarde. Mas sabe-se muito bem que o problema é maior, que isso é apenas a ponta de um imenso irceberg, de uma sociedade mergulhada no preconceito, no machismo e na hipocrisia. Nas quais determinados valores sociais e religiosos são colocados a cima do respeito aos direitos e a liberdade humana.


Daniele Leonor Moreira é coordenadora da equipe de avaliação/ revisão da Contemporâneos - revista de Artes e Humanidades e estudante de História da Universidade Federal de Viçosa. Uma das atuais coordenadoras do projeto Primavera nos Dentes.
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POR UM TEATRO IMAGINADO


 OU
“ME ABRACE SIMPLESMENTE, NÃO FALE, NÃO LEMBRE, NÃO CHORE MEU BEM”


Aléxis Loviz,


O que define o encantamento? Segundo o Dicionário Houaiss, encantar é enfeitiçar, envolver ou ser envolvido por algo sedutor. Signfica ainda: maravilhar-se.

Pois é assim que me sinto depois de nossas intensas trocas de correspondências. Sei que as cartas ficaram obsoletas nesses tempos modernos... Assim mesmo, ontem, cuidei de guardar tuas palavras, tão importantes, recebidas nos últimos dias. Numa das minhas muitas caixas de guardados, passei a acumular esses nossos afetos.

E são tantos, Álexis. Tuas mensagens chegam, às vezes, objetivas, outras cifradas, quase um enigma. Mas enchem meus dias com uma dúvida, uma tal perplexidade, que quase sempre me conduzem pela mão a um mundo de sensações novas, reveladoras. Algumas, cheias de humor inteligente, revelam a genialidade de algumas idéias. Outras são breves e ternas declarações de amor mútuo, compartilhado à arte de Talma. Não me esqueço de tuas belas atuações, de personagens memoráveis que você trouxe para o palco, seu respeito à sua vocação que trabalhava dia-a-dia, com o labor do ourives, “beneditinamente”. Quando me lembro de tuas atuações, lembro das palavras da Tânia Brandão quando, ao longo da História do teatro, identifica uma única linha contínua de ação, uma fonte inesgotável de todo o fazer: “a força e o desejo dos atores. São eles, na verdade, o alicerce do teatro brasileiro. Desde João Caetano até o vertiginoso ritmo atual de nomes e cartazes, são os atores os responsáveis pela vitalidade do palco no país” (BRANDÃO, 2003, 14.).

Tenho ainda o prazer de trocar informações, dicas, sugestões, enfim, referências. Tudo isso me deixa tão pleno, com um desejo tão forte de expandir esses caminhos.

Uma coisa, porém, é certa.

Ao ler tua última carta, fiquei absorto. Não pela surpresa da missiva, mas pelo fato da inesperada resolução.

Realmente tua consulta coloca-me em apertadíssimo embaraço.

Quase todas as cartas trocadas entre nós possuem um elo em comum: o respeito e a admiração pelo ator. E me sinto recompensado por falar sobre isso, praticamente todos os dias. Esta profissão não é apenas mais uma profissão, tu bens sabe. A singularidade que a cerca está ligada, necessariamente, à palavra que cito no início dessa carta, encantamento, mas, também, à busca de leis objetivas na aprendizagem das regras elementares contrárias à criação ao acaso e sem fundamentos.

Você, como ninguém, acompanhou durante tanto tempo essas idéias, soube do meu esforço em manter viva a mágica, a aura, o sentido, em torno do ator. Portanto, se eu tivesse que aconselhar uma criançola fútil, sem outra noção de prática social além das leviandades tributárias aos 18 anos, não hesitaria na resposta, peremptória, incisiva e rude até, em mandá-lo bugiar se me viesse perguntar se era bom entrar para o teatro.

Mas a ti? Isso se torna gravemente sério.

Raciocinemos.

Sabes o que é, ou por outra, o que está sendo atualmente o teatro neste país? De Norte a Sul? Leste e Oeste? Valerá a pena falar dele?

O teatro – a arte de um modo geral – é uma traficância, um negócio de balcão, uma feira de novidades, em que a imprensa faz de arlequim à porta da barraca, anunciando e pufiando as sumidades, conforme a gorjeta dos patrocinadores. Os atores, ah, os atores, Álexis, estão morrendo. Em seu lugar está nascendo o ator-cacoete; o ator-clichê; o ator-timidez; o ator-superficial, de voz fanhosa, olhar vago, gesto indefinido; o ator-tensão, desprovido de energia e objetivos; o ator-obscuro; o ator-vadio-faltoso-atrasado; ator-picareta; o ator-sub-reptício, que “quanto menos tem valor, mais tem pretensão e impertinência, mais se emproa e se pavoneia. E todos acham quem compre sua mercadoria” (ROTTERDAN, 1997, P. 52).

Essas novidades, ambicionadas a todo o momento, são estrangeiras. Tu és estrangeiro? Não.

Este é o teatro, esta é a nossa vida.

Tu me dirás: e tu, homem, se o teatro é tudo isso, se tu falas dele com essa angústia, por que ainda aí permaneces?

Não argumentes comigo.

Tu saíste quando manifestavam no Brasil os sintomas mais graves da decomposição geral, saíste, por conseqüência, na melhor das ocasiões. Eu, porém, fiquei e fui preso por contágio. Fiquei e hoje para mim o hábito constitui-se em lei, que jamais poderei derrogar, se não quiser arriscar-me a sucumbir na luta. Para mim, hoje, “fazer teatro é um ato de heroísmo” (BRANDÃO, 2002, 13.), sou uma espécie de cristo da humanidade e o teatro muito mais uma condenação do que uma dádiva.

Ah, Álexis, o teatro, o ator, hoje é um engodo, um mistifório ao sabor do público, que adora de preferência tudo quanto corrompe e decai; um gênero de arte fácil e sem regras, onde a careta é uma criação e o esgar trejeitoso e descompassado uma especialidade de mérito que toca às raias do gênio.

Uma miséria. Tu nunca depravaste a arte, tu nunca concorreste para a desmoralização dos teus colegas; ao contrário, foste vítima, como eu, dos gaviões, das rapinas daqui. Queres voltar? Queres comer um novo pão, ainda mais amargo e duro do que já comeste?

Por favor querido amigo, repenses, repenses.

Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.
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A História das Pioneiras


Numa época histórica conturbada, onde imperava o fascismo, Annemarie Schwarzenbach, foi mulher, escritora, jornalista e fotógrafa. Escolheu viver uma vida repleta de aventuras e perigos, desafiando-se a si própria, retratando o mundo, descrevendo o que vivia e o que sentia.

A sede de viagens, fez com que percorresse vários países retratando as suas realidades históricas e culturais e descrevendo as suas próprias vivências. Uma mulher atraída pelo perigo e que vivia sobre o limite do risco. Uma vida difícil, um testemunho que é caracterizado pela coragem de simplesmente se ser o que se é. O poder da imagem e da palavra foi o bem mais valioso que entregou ao mundo.

Annemarie Schwarzenbach, nasceu em Zurique a 23 de Maio de 1908. Proveniente de uma família abastada e conservadora, frequentou escolas particulares, explorou a vertente artística musical e, mais tarde, veio a obter o doutoramento em história pela Universidade de Zurique.

Rompeu a regra e fez parte do grupo das primeiras mulheres a obter este status universitário. Descobriu cedo a sua vocação para a escrita, tendo publicado o seu primeiro romance em 1931, "Amigos à volta de Bernhard", mal terminou os estudos. Ao dom da palavra escrita juntou-se a profissão de Jornalista que iniciou ainda enquanto estudava.

A vida de Annemarie, foi recheada de conflitos interiores e descobertas. Numa época em que se propagava a ideologia Nazi e Fascista, criou amizade com judeus e refugiados políticos alemães, entrando em conflito com a ideologia da própria família.

Assume-se como homossexual, atraindo no entanto, homens e mulheres, devido a sua beleza andrógina, e ao seu estilo de vida invulgar que a caracterizava. Em Berlim, na companhia de Klaus Mann, seu grande amigo, Annemarie adota um estilo de vida boêmio. Círculos artísticos, contato com drogas, estados de embriaguez frequentes, faziam parte da sua vida noturna, vivendo perigosamente e tornando-se, mais tarde, tóxico-dependente.

Ao longo da sua breve vida (1908-1942), Annemarie Schwarzenbach, efetuou numerosas reportagens fotográficas pela Europa, Oriente Médio (Irã, Iraque e Afeganistão), África e América do Norte, destacando-se a sua passagem por Lisboa durante o Estado Novo.

As suas reportagens fotográficas, textos jornalísticos e literários, desempenharam a função de nos permitir entender o que era o mundo entre as duas Grandes Guerras. Foi-nos deixado todo um legado de imagens reais e estados de alma genuínos. Muito da personalidade de Annemarie consta nas suas obras, como por exemplo, “A morte na Pérsia”, obra que escreveu após ter enfrentado o isolamento no seu percurso pelo país.

Durante sua trajetória de vida casou com um amigo homossexual apenas por conveniência, e viveu algumas relações com mulheres, que resultaram em relações frustradas, sobretudo devido à sua dependência em relação às drogas. Travou lutas constantes contra essa dependência e contra a depressão. As viagens, assumiam uma forma de escape, e a fotografia e a escrita uma forma de entrega pessoal para com o mundo.

Annemarie Schwarzenbach morreu em 1942, vítima de uma queda de bicicleta, e de um diagnóstico equivocado. Deixou-nos um legado de imagens e textos literários que nos enchem a alma, um testemunho de vida surpreendente, recheado de coragem, e uma visão histórica de épocas difíceis de serem vividas.

Após a sua morte a mãe destruiu imediatamente os diários e as cartas de Annemarie. As fotografias e os trabalhos literários ficaram aos cuidados de um amigo e foram posteriormente arquivados no Arquivo de Literatura da Suiça, em Berna.

A sua vida e obra personificam a história de toda uma geração européia, que viveu entre as duas Grandes Guerras, num ambiente hostil, em que as interrogações existenciais conviveram com um mundo conflituoso e trágico. O legado desta autora contribui, assim, para entender a realidade e a imagem do mundo contemporâneo.
"Não tenho profissão. Poderia exercer qualquer uma. Viver em todas as cidades. Sentir-me em casa em todos os países." (Annemarie S.)

Fonte: Obvious, um olhar mais demorado...

Izabel Liviski, Mestre em Sociologia na linha de Imagem e Conhecimento pela UFPR e consultora da Contemporâneos, escreve quinzenalmente às 5ªs. no ContemporARTES.
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Nada Rima - Desgosto



Hoje usarei esse espaço para divulgar um blog: o Nada Rima. Que pertence a minha pessoa. Mas publicarei aqui uma história minha inacabada. O Nada Rima é quase poesia, mas não é. Tem dia que é ficção - como no exemplo abaixo, mas mesmo assim é cheio de referência pessoais. Tem dia que sou eu mesmo ali retratado. Nada Rima: http://bassbassbass.blogspot.com/

Desgosto

Um homem decide voltar
para a cidadezinha onde fora criado
próxima à divisa com o Paraguai
já está feito na vida

o ônibus faz mais uma parada
mais uma cidade
mais um café
mais um cigarro

começa a chover
todos correm para os seus lugares
menos ele
que se deixa levar

quando era criança ele brincava na chuva
de repente ouve gritos
saia daí menino
vai pegar um resfriado

...

A lembrança dela veio com o gosto da chuva
posso quase tocá-la
aquela boca macia
o gosto da novidade

eu na minha bicicleta
ela na dela
parávamos no topo da ladeira
subíamos o mais rápido possível

a respiração dela acelerada
minha respiração aceleradíssima
o irmão dela não poderia saber
quebraria minha cara

mas já estavam ficando desconfiados
o pessoal ficava com piada sem graça
mas algo aconteceu
espalharam um boato estranho

...

O motorista avisou que eles haviam chegado
todos já tinham descido
Cascavel, Paraná
quinze horas de viagem

tinha deixado a cidade em 1990
depois da Copa
as ruas todas enfeitadas
mas uma tristeza no ar

agora, reencontrara velhos amigos
seu antigo amor, no entanto,
havia casado com um paraguaio rico
agora morava do outro lado da fronteira

sua madrasta estava doente
se hospedaria lá para cuidar dela
quando anoiteceu o irmão dela apareceu
e apontou-lhe uma arma na testa


...

Ela foi embora por sua culpa
disse ele encostando o ferro frio na sua fronte
ergueu os ombros como quem diz
do que é que você está falando?

ele então o fez voltar a 1990
quando acreditavam num futuro melhor
para o país, para o mundo
com a idade deles, até para o Universo

naquela época eles eram os melhores amigos
confidentes
é claro que ele sabia que eles se gostavam
se fingia de João-sem-braço

mas não era nada disso que ele estava pensando
ele não fugiu de medo
fugiu de desgosto
algo que viu, um segredo

...

Eles foram para o bar
encheram a cara. muito
no meio da bebedeira fez uma confissão
ainda a amava. muito

o irmão dela deu uma gargalhada
disse que ela também o amava
que tinha se casado por conveniência
e para curar uma grave depressão

depois de sua partida
casou com o primeiro que apareceu
alguém que pudesse tira-la de lá
todos acharam que faria bem a ela

mas foi bem assim que aconteceu
ele era rico por causa do contrabando
e violento, batia nela
eles se olharam. precisavam fazer alguma coisa

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A CRIATURA MÃE

 


Mãe, que amor é esse, que de tão grande até dói na gente, quando nos olhos dela escorre a tristeza do filho?


Mãe é vento que sopra o machucado embora.

Mãe é beijo de boa-noite que todos os maus espanta.

Mãe é seio que transfere vida ao recém-nascido.

Mãe é sorriso que inspira mesmo quando não vencemos a lide.

Mãe é leito onde descansamos quando lutamos sozinhos.

Mãe é dicionário da vida que explica os destinos.






Mãe é luz que orienta quando a noite chega.


Mãe é barco que navega em violentos mares.

Mãe é tempo que espera que a gente cresça para gostar dela.

Mãe é peito que aconchega quando o nosso dói, sendo que o dela doe por todos nós.

Mãe é alimento recebido, mesmo com a barriga dela vazia.

Mãe é flor que nos perfuma e com suas pétalas aveludadas nos dedilha.

Mãe é ainda mais mãe,quando visita o filho no presídio.





Mãe é mais ainda mãe, quando não abandona a cabeceira da cama até a febre ceder.


Mãe é mais mãe ainda, quando na capela, implora sofrer no lugar do filho ... Como se nela já não doesse mais que nele.

Mãe não deixa de ser mãe nem quando a vida lhe rouba o filho.

Mãe não deixa de ser mãe nem quando a morte lhe rouba o filho.












De todas as mães, nenhuma é mais triste que a sofrida que não sabe se o filho está bem.Ou se está vivo...










Mãe é gladiadora que mata um leão por dia para defender sua prole da baba destilada.

Mãe é pomba que sozinha enfrenta o dragão quando ataca o ninho com fogo e fumaça.



Mãe é deusa mitológica com forças sobrenaturais quando ganha o pão de cada dia.

Mãe é professora, que emocionada, conjuga o verbo doar-se desde o momento em que o filho aceita o convite para nascer ou conviver com ela. Anda descalça no gelo, mas o carrega no colo.

Mãe é guardiã que só descansa quando tranca a porta, depois que o filho retorna à casa de madrugada.


Mãe é generosidade que em primeiro, segundo e terceiro lugar oferece o que possui ao filho.Em quarto, quinto e sexto também. Infinitamente.



Mãe, que criatura é essa, humana ou animal, que dá a vida pela cria?Mesmo que a cria não seja sua. Há tantas mães que nunca deram a luz mas iluminam o caminho de seus filhos.

Feliz daquele que tem mãe e pode repousar nas suas asas.


Simone Pedersen, escritora,  há dois anos, participa ativamente de concursos literários, tendo conquistado inúmeros prêmios no Brasil e no exterior.Tem textos publicados em dezenas de antologias de contos, crônicas e poesias. É colunista do Folha de Vinhedo.Seus lançamentos literários para esse ano são: Infantis “Vila Felina”, “Sara e os óculos mágicos”, “Conde Van Pirado” e “Vila Encantada”, “Colcha de Retalhos” com poemas e “Fragmentos e Estilhaços” com crônicas e poemas. É mãe da Natalie de 8 anos e do Dennis de 16 anos.
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Apresentando ANAIR WEIRICH


 
QUEM É A SACOLEIRA DOS SONHOS

                 por Marilda Confortin

Durante a infância pobre no interior de Santa Catarina, no início da década de sessenta, Anair  Weirich,  já encarava os palcos improvisados nas escolas e no coreto da praça recitando poemas nas datas comemorativas da pequena cidade de Chapecó.

Na adolescência, mesmo sem nunca ter assistido a um show, já que não tinha televisão em sua casa, a loirinha Anair, se vestia de Wanderléia e divertia os amigos, cantando “...Essa é uma prova de fogo, você vai dizer se gosta de mim”.

A desinibição, a vocação artística, o gosto pela poesia, a alegria e a habilidade com as palavras, foram completamente abafadas na fase adulta, ao casar-se com um homem que não permitia que sua esposa, “exibisse suas emoções por aí”. Por muito tempo, desempenhou o papel da mulher submissa que só servia para lavar roupas, criar filhos, aceitar as bebedeiras e maus tratos do marido, ser traída e sufocar todos os seus sonhos e sentimentos.

Um dia, encorajou-se e interrompeu o caminho do suicídio. Pegou seus dois filhos e abandonou a casa. Começou tudo de novo. Para sustentar a família, passou a vender produtos de beleza e potinhos de plástico de casa em casa. Para conquistar as clientes, Anair recitava poesias de amor e motivacionais.

Como a estratégia de venda estava dando certo, a empresa de perfumaria patrocinou seu primeiro livro de poesias. Com o lucro, Anair produziu mais um livro, depois outro e mais outro.

Naquele tempo, os textos de auto-ajuda ainda não estavam em moda. Mas, a história da Anair e sua determinação em sobreviver da poesia, por si só já era uma poesia motivacional. A clientela feminina daquela época, composta na maioria por donas de casa, adorava seus textos eróticos, seus poemas de amor em linguagem simples e coloquial e suas mensagens que elevavam a auto-estima feminina. Percebendo esse mercado,  Anair  deixou de oferecer produtos que embelezavam só o rosto. Passou a oferecer produtos que embelezavam principalmente a alma. Além dos livros, produziu artesanalmente vários tipos de recipientes que continham poesias e mensagens motivacionais em seu interior. Verdadeiros mimos como por exemplo: potinhos de vidro decorados, caixinhas de fósforo,  cestinhos de poesia, livrinhos em formato de pacote de presente, etc.

LIMIAR DO TEMPO

“Amar é...
Te encontrar, como agora.
Só que na velhice, de bengala,
E ainda assim, sentir a mesma emoção
Que estou sentindo nessa hora!


Colocava tudo em sua enorme mala, pegava um ônibus e viajava pelo sul do Brasil, vendendo seus produtos poéticos de porta em porta. No retorno, trazia muitos livros usados que ganhava, comprava ou trocava pelos seus.

Casou-se novamente e Cláudio passou ajudá-la, incentivando-a como escritora e até investiu no negócio, abrindo um sebo chamado Panacéia, que atualmente é gerenciado pela filha Deny. A palavra uniu a família novamente.

Com uma ajudinha de um famoso apresentador de televisão, Anair ficou conhecida como “sacoleira dos sonhos” por percorrer diariamente as estradas do sul do Brasil recitando poesias e oferecendo livros em escolas, creches, teatros, universidades, postos de gasolina, livrarias, papelarias, banquinhas, mercados, açougues, fila de banco, fila de ônibus e onde lhe desse na telha. 

Essa mulher já publicou 23 livros, tem outros cinco no prelo, participou de mais de 20 antologias, seu pequenino livro “Mensagens para um dia melhor” vendeu mais de 80 mil exemplares que somados aos demais livros de sua autoria, atinge a fabulosa marca de  cento e cinqüenta mil exemplares vendidos de porta em porta por esse Brasil afora.

Tinha tudo para dar errado: pobreza, descriminação, falta de oportunidade de estudo, solidão, abandono, mas ela deu a volta por cima. Perguntei  à Anair:


PC- Afinal, você abriu os olhos e encarou a vida, ou você fechou os olhos e mergulhou?  Ela me respondeu assim:

AW- Bom, eu mergulhei de olhos fechados, confiando no instinto. Quando voltei à  superfície, abri meus olhos, respirei fundo e percebi que queria mergulhar outra vez. Gostei de viver perigosamente. 

PC- Você escreve livros que valorizam o otimismo, a perseverança, a esperança. Você se considera uma escritora de auto-ajuda?  Como você encara as críticas dos que dizem que auto-ajuda não é poesia?

- Eu divido minha literatura assim: Tenho os livros do coração, que escrevo por puro prazer. São os livros de poesia. Esses não vendem quase nada porque as pessoas preferem ler romances e auto ajuda.  E tenho os livros que dão o sustento do corpo e da alma, que são os motivacionais.  Amo a poesia mas sou muito grata aos meus livros de mensagens, pois eles sustentam minha família, fazem bem às pessoas e eu me emociono cada vez que alguém me diz o quanto eles lhe fazem bem.

LEMA DE VIDA

Topas ir ao topo?
Mas tem que ser
Escolado em escalar!
Tem que ter tenacidade
Como escopo...
Ninguém chega ao topo
Sem suar!




PC- A emocionante história da Anair, está registrada no livro “Como consegui” que logo, logo  estará nas bancas. Li uma primeira versão e lembro de uma história onde você foi confundida com uma vendedora de livros e pediram para você se retirar do local. Isso continua acontecendo? Como você reage?

AW- Esse livro mudou de título. Agora chama-se: A VENDEDORA DE LIVROS. Na verdade é o que eu sou: Uma vendedora de livros. Assumi.  Ser a própria autora ajuda, mas o que adianta ser autora, se não consigo vender? Por isso, me tornei uma boa vendedora. Resisti muito à esse título,  mas acabei aceitando. Minha estratégia e minha arma de sedução são os diferenciais:  Ao oferecer meus livros, eu recito uma poesia.  Quando os olhos brilham emocionados, eu sei que conquistei meu cliente e plantei a semente da leitura. É claro que tem muito coração duro, que não se comove com nada.

Outro diferencial que conquista em meus livros, são os marcadores de páginas ecológicos, que se transformam em bijuterias de pescoço artesanais, feitos pelo meu marido. E também perfumo meus livros com óleo de rosas. É uma delícia ver como eles se surpreendem e cheiram, cheiram e cheiram! Esses atrativos conquistam o público e tornam meu trabalho mais emocionante, um delicioso desafio.

Em SC eu represento autores catarinenses, mas, vendo em maior quantidade mesmo os  meus livros, pois as pessoas se sensibilizam ao ver o próprio autor oferecendo seu produto. Cria um laço entre o escritor e o leitor. E olhe que tem muito café no bule escondido em gavetas e armários, é de cortar o coração. Eu ofereço, faço minha parte, mas..., tenho pena desses autores que não sabem vender e nem têm uma editora ou distribuidora trabalhando por eles. Deveria existir um incentivo bem maior por parte do governo para os pequenos autores. É dolorido chegar nas bibliotecas e livrarias e ver um percentual bem maior de livros estrangeiros ou que a grande mídia promove, na maioria traduções, enquanto os escritores locais ficam cada vez mais anônimos. Deveria existir uma cooperativa de pequenos autores e uma mídia que os promovesse. Os vendedores acham bem mais fácil oferecer o que já está bem divulgado, que não precisa de convencimento. Eles não se dão ao trabalho de ler para saber do que se trata o livro.  

PC- Anair teve um livro inteiro que foi “pirateado”. Ela conta como isso aconteceu: 

AW-  Foi assim: No ano 2000, mandei imprimir numa gráfica do Rio Grande do Sul,  dez mil exemplares do meu livro “Mensagem para um dia melhor”. A gráfica entregou-se a encomenda e  imprimiu por conta, sem a minha autorização, mais uma quantidade que não consegui determinar e colocou nas livrarias por um preço bem menor do que eu paguei para imprimir. Abri um processo contra a gráfica. Mas na hora de testemunhar a meu favor, os próprios livreiros que me avisaram que isso estava acontecendo, caíram fora, argumentando que não poderiam deixar suas livrarias para ir testemunhar, que teriam despesas de viagem, alimentação e hospedagem, que não queriam se expor, que eles já tinham feito muito em me avisar. E a corda arrebentou do lado mais fraco: o meu.

Mas em tudo se tira uma lição. Se essa gráfica não tivesse feito isso, eu não teria criado o “Livro Lúdico das Cores”. Foi um livro gerado na hora da raiva, da indignação. Eu sabia que tinha que criar algo diferente. Hoje é o carro chefe dos meus livros. Cada vez que o pego nas mãos, um sentimento de gratidão muito grande me invade, pois é dele que vem tudo que precisamos e permite que possamos viajar e conhecer tantos lugares diferentes daqui do sul, enquanto trabalhamos.  

PC- A escritora Anair ministra palestras, oficinas e recitais em escolas. Sua poesia infantil é muito bem aceita nesse meio: 


PACIÊNCIA

Quem já viu algo funcionar
aos tapas e empurrões?
Nada mesmo dá certo,
quando é feito aos trambolhões!

Mas, se formos com jeitinho,
(como diz sempre a ciência...)
com amor e com carinho
tudo conseguiremos!

- Isso se chama PACIENCIA!

(do livro infantil Doce Jeito de Ser Criança)


A EMOÇÃO DE LER

- Passarinho, passarinho!
Eu também queria voar
E conhecer outros mundos...
Mas não tenho asas, nem dinheiro.

-Menininho, menininho!
Você deixe de bobagem.
Quem lê viaja ao mundo inteiro,
Sem ter que pagar passagem.



PC- Falando sobre a literatura catarinense, Anair desabafou: 

AW- Falta incentivo, sim, e muito! Existe uma lei chamada Cocali, que está só no papel, e quando funciona, é pra meia dúzia de uma panelinha que existe na capital.

Tem muita gente boa na nossa terra. A Urda Alice Klüeger, por exemplo, historiadora e romancista, é a escritora de maior projeção de SC, teve muitos livros adotados para o vestibular catarinense e paulista e mesmo assim, em algumas escolas os professores dizem que nunca leram nada dela.

Tem o Norberto Pontel, de Planalto SC, que é um romancista cujos temas são os “sem terra”. São romances que mostram como é o lado de lá, cheios de emoção. Pontel é tão bom no que escreve, que até eu, que condeno invasões de terra, acabo me comovendo com a vida e a história dessa gente.

Tem o Afonso Martini, que escreveu A FAVELA ENCANTADA, eleito o “Romance do Ano 2008” pela Academia Catarinense de Letras.

 O  Miguel Russowsky, de Joaçaba, é o sonetista mais premiado do Brasil, mas poucas pessoas sabem disso.

Eu fico indignada com a falta de divulgação dos autores catarinenses! Mas também vibro de alegria, quando algo acontece de bom.. Um prêmio ou uma homenagem são comemorados com festa! E choro quando perdemos alguns deles, como o Reinaldo Corona, poeta de Chapecó, e o Miguel, citado à pouco.




AMIGOS
 
Amigos vêm e vão.   
Amigos são uma nação
de corações leais.
Amigos são demais!
Amigos são trigos ao sol.
São cama e lençol
para deitar-se tranqüilo.
Amigos são aquilo
de tudo o que contas.
Amigos são contas
de um colar de diamantes.
São vogais e consoantes
do alfabeto do amor.
Amigos são abrigos
da maldade e da dor.
São a segurança das pontes,
e a água das fontes!
Amigos são artigos de luxo.
Amigos são bruxos
da distância e do tempo.
Amigos são o elemento
que conta na hora H...
Amigos são maná!
São faróis no nevoeiro.
São arco e arqueiro
na precisão do alvo.
Amigos estão a salvo
das tempestades da vida.
Amigos são guarida
nas horas incautas.
Amigos são flautas
que anunciam companheirismo.
Amigos são o muro seguro
que nos protege do abismo.

(Do livro Melodias do Coração 2008)


Para conhecer mais sobre Anair Weirich,  comprar seus livros ou fazer contato, acesse o site: www.literaturacatarinense.com.br e seu blog: http://anairweirich.blogspot.com/

Ilustrações: foto da poeta Anair Weirich; foto de declamação na E. E. professor Giovani Trentini em Rio dos Cedros - SC; foto de sessão de autógrafos na E.E. Tancredo Neves em Chapecó - SC e foto da capa do livro "Estrela Mensageira".
Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve às segundas-feiras no ContemporARTES. Contará com a colaboração de Marilda Confortin (Sul),  Rodolpho Saraiva (RJ / Leste) e Patrícia Amaral (SP/Centro Sul).
 
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Vale a pena anotar na agenda!


A Coluna de hoje está eclética, porém recheada de dicas que valem a pena serem anotadas com antecedência nas agendas.

Vamos lá!

V Encontro Internacional de Contadores de História Boca do Céu
 Acontece  nos dias 10 a 16 de maio de 2010 na Oficina Oswald de Andrade – Bom Retiro/ São Paulo. As inscrições podem ser feitas pelo site: www.bocadoceu.com.br



Curso História Oral e Memória: o que é e como se faz com Ricardo Santhiago. O curso apresenta os conceitos fundamentais e as técnicas necessárias para confecção de projetos de história oral, que permitem o registro e a difusão de memórias de indivíduos, grupos e comunidades.
Acontece de 06 de maio a 24 de junho – quintas-feiras, das 20 às 22h
Local: Sesc Ponheiros.


E o destaque da Coluna Drops de hoje é a Virada Cultural de São Paulo. O evento, que  na verdade se desmembra em vários eventos simultâneos, já faz parte do calendário da cidade. Acontece esse ano nos dias 15 e 16 de maio. Mais informações pelo site : http://viradacultural.org/



 Ana Paula Nunes é jornalista, graduada pela Universidade Federal de Viçosa/MG. Coordena a equipe de Comunicação de Contemporâneos - Revista de Artes e Humanidades e escreve aos domingos na ContemporARTES.
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