Dicotomias, lutas, fé e amor: Gays versus Igreja?


Certa feita, uma amiga comentava sobre as crises possíveis na cabeça de homossexuais religiosos. Se a sociedade diz que a homossexualidade é anormal, a religião diz que é errado, que é pecado...

Todo mundo pode se sentir no direito de fugir da normalidade, se for esse o caso (não é esse o caso). Mas fugir do que é certo tem efeitos piores. A carga do “anormal” pode até ser suportada (quem disse que estou a fim de ser “normal”?), mas a carga do “errado” pesa.

E enquanto seguem essas dicotomias extremistas, esse jeito limitado mesmo de enxergar as coisas, seguem cristãos e homossexuais massacrados dentro de sua própria consciência, sem liberdade, sem vida, sem fé, sem amor. Os paradigmas ainda atrasados que as igrejas oferecem são um grande desafio para a luta LGBT, para as saídas do armário, para o fim da homofobia.

Mas disso, todo mundo sabe. Preciso falar diferente.
Se as igrejas ainda erram ao tratar dos gays, o movimento ainda erra ao tratar da igreja.

Vício de tantos grupos que se articulam em torno de várias causas, temos a mania de personificar as lutas em torno de um inimigo só. Muitas vezes, o nosso debate sobre homofobia soa como se desejássemos acabar com as religiões (especialmente com o cristianismo) para ter, enfim, tudo muito resolvido.

A matriz religiosa da formação da nossa sociedade meio que já limitou nossa visão de mundo, nessa coisa de céu e inferno, homem e mulher (opostos completos, sem se misturar ou se confundir). A bagunça já está feita. Assim, simplesmente derrubar a instituição não faz com que derrubemos o pensamento discriminador que anda espalhado por aí, influenciando até mesmo quem está fora das igrejas. A mudança tem que proceder no pensamento do povo, não na estrutura, na hierarquia. Muitas vezes, precisamos até mesmo da estrutura para mudar o pensamento.

Digo isso por visualizar um lado (muito forte, por sinal) da igreja e do cristianismo que enxerga um outro Cristo, um carinha que morava lá pelas periferias da Galiléia, carpinteiro, favelado, sofredor... e que por isso entendeu e defendeu na sua mensagem todo um povo que, como ele, sofreu alguma opressão.

Jesus hoje iria na Parada Gay. Mesmo que não gostasse de homens, estaria lá pela causa política, pelo debate, pela luta por visibilidade de uma galera segregada pela falta de amor e respeito pela diferença. Estaria lá, assim como estaria no acampamento dos sem-terra, na ocupação dos atingidos por barragens, no protesto do movimento estudantil. Foi um preso político do seu tempo, defendendo as causas dos oprimidos, fortalecendo as lutas do povo, e cobrando de seus seguidores (até hoje) um posicionamento transformador.

Lá, na multiplicação dos pães, Jesus pede que as pessoas “se sentem” em grupos de cinquenta e p povo que o seguia era um povo de sofridos, de escravos. Nessa época, escravo não comia sentado. Pedir que se sentem, assim, sutilmente, é pedir que se libertem. As pessoas só precisam entender isso, mudar os pensamentos.

E assim, mais do que segregar e desejar um forte “cala a boca, senhor bispo!”, é preciso fazer entender que há um diálogo possivel, pela compreensão de que o amor tem a função primordial de libertar (assim como Jesus o quis)... A missão é fazer com que as pessoas acreditem é direito de todos sentir essa coisa que é o sentimento, coisa doida que deixa mais vivo, que faz lutar pela vida do outro através do cuidado e da afetividade, que pega a gente sem que possamos escolher o alvo... nem homem, nem mulher...

Faço, sim, uma defesa da religião. Faço por entender que, ao contrário do que se imagina, lá dentro a gente também se livra de alienações. Não se trata de uma evangelização cega, mas de um desabafo de cansaço por ouvir os comentários chatos de quem (dicotomicamente, também) acha que gays não podem estar na igreja, e que tudo o que virá dela será prejudicial. Se ainda precisamos que ela mude, a função de quem quer mudança é se inserir para mudar. É necessário postura de quem quer tranformação.

Pode até não parecer possível, mas é cá na minha fé que eu milito. Mais que por qualquer coisa, é por ser muito religioso que eu repito incessantemente o grito de não à Homofobia!!!



Murilo Araújo é estudante de Comunicação Social – Jornalismo pena Univesidade Federal de Viçosa. É militante da Pastoral da Juventude, onde realiza trabalho de assessoria a grupos de Jovens, defendendo as várias causas das Juventudes oprimidas. Escreve esporadicamente no blogue Eu Complexo.
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O Cinema uruguaio chega a Cannes e a Hollywood







Ataque de Pánico, Alvarez




La Casa Muda, Hernández


É inegável o poder midiático da Internet,  inúmeros internautas que estão em tempos e lugares distintos podem ter acesso as grandes Redes de Comunicação mundial formando uma extensa Aldeia Global, como defendia o visionário Mc Luhan na década de 1960. Entretanto, vale ressaltar, que a exclusão digital é uma triste realidade, também mundial, que deixa uma extensa camada da sociedade a margem das novas tecnologias da informação, lamentável constatação pois o acesso à Internet e a outros meios digitais podem nos proporcionar façanhas comunicacionais que até pouquíssimo tempo atrás seriam praticamente impossíveis. A abrangência de público e a visibilidade que um fato pode alcançar através de sites, blogs e You tube, é impressionante. A Internet ainda não é como a TV em termos de audiência, no entanto possui pelo menos dois diferenciais importantes; o primeiro,  a não-linearidade espacial e temporal, capaz de deixar a disposição dos freqüentadores uma imensa gama de opções de consultas a inúmeros assuntos e temas diversificados. Na Internet o receptor pode ser, ao mesmo tempo, autor, co-autor e público, indo atrás livremente do que quer e deseja de forma direta e sem rodeios. É o jeito mais eficaz e pós-moderno de atingir o famoso target group (público alvo), objetivo tão desejado e idealizado pelos marqueteiros e publicitários. O segundo, a capacidade que os meios digitais possuem de promover uma certa interatividade com o público pois não é uma via de uma só mão, como é o caso da TV. O emissor também é receptor e estão interligados e  conectados a vários outros emissores e receptores formando canais de várias mãos em sentidos infinitos que podem variar na horizontalidade, na verticalidade e na circularidade.  O retorno do receptor, mais comumente como comentários escritos, pode enriquecer as comunicações e as relações interpessoais. Nesses quesitos, alcance segmentado e interatividade, a Internet supera a TV, pelo menos a TV que conhecemos nos dias de hoje. Um bom exemplo disso é o Sr. Google, instância de grande sabedoria que pode encaminhar o internauta a manchetes de jornais e revistas, artigos científicos, sites, You tube, blogs e  uma infinidade de lugares que podem ser acionados apenas com alguns cliques. Essa revolução midiática perpassa por todos os meios de comunicação e lógico, também pelo audiovisual. Pensando nisso, lembrei-me de um fato que ocorreu com um diretor uruguaio ao colocar o vídeo de seu curta de 4 mim e 48 seg. Ataque de Pânico, no You Tube. Ele conseguiu chamar atenção de algumas pessoas influentes e figuras importantes do cinema mundial. Pesquisando a respeito, constatei outro caso semelhante com um jovem cineasta uruguaio que colocou o trailer do seu filme, La Casa Muda, em sites de filmes de terror e com isso conseguiu também uma visibilidade importante. Resolvi que seria interessante relacionar esses dois casos pois tem pelo menos dois pontos em comum; o fato dos realizadores serem  uruguaios e de terem seus filmes divulgados por sites, blogs e/ou You tube.

Fede Alvarez

O primeiro realizador é Fede Alvarez, um jovem de 30 anos que fez seu curta Ataque de Pánico, 2009, com menos de 500 dólares. Filme criativo e repleto de efeitos especiais obtidos, principalmente, pela experiência do diretor na área e pela manipulação de programas como o Aftereffects, 3dMax, Photoshop e Premiere. Alvarez consegui simular um fabuloso ataque de robôs alienígenas que destroem importantes prédios de Montevidéu, patrimônios históricos e culturais da capital; a Torre de Antel, o Palácio Legislativo, o Palácio Salvo e a Prefeitura. Vocês estão com a sensação de que já viram algo parecido? É verdade, o curta tem ares de Independence Days, mas vale lembrar o pouco investimento do diretor e também que o gênero de ficção cientifica é pouquíssimo explorado pelo cinema latino. Outro fato relevante que enriquece esse curta, são as referencias que ele faz aos clássicos do cinema mundial, como na cena em que o carrinho de bebê  desce a escada sem controle.  Alvarez repete, em grande estilo,  a cena de  O Encouraçado Potenkim de Eisenstein, 1925, onde a escadaria de Odessa é pano de fundo para um carrinho de bebê também descer sem controle. Cena similar podemos presenciar também em Os Intocáveis, 1987, de Brian de Palma em que o tiroteio entre policiais e gângsteres acontece também em uma escada e novamente o carrinho de bebê fica a mercê da gravidade e vai escada a baixo.  A trilha sonora do curta também é uma referência ao diretor Juan Carlos Fresnadillo de 28 Weeks Lates, 2007. O diretor de Ataque de Pánico usou a música In the House, in a Heartbeat de John Murphy para preencher as cenas de destruição de Montevidéu. Você talvez já tenha se perguntado, porque será que só os norte-americanos merecem os ataques alienígenas?  Nós, latinos americanos também não os merecemos? Acredito que essa tenha sido a grande sacada de Alvarez!


Gustavo Hernández

O segundo é o jovem cineasta Gustavo Hernández, formado em 2002 pela ECU, Escuela de Cine Del Uruguay. O diretor realizou La Casa Muda, 2009 com apenas 6 mil dólares e uma equipe de quinze pessoas em quatro dias de filmagens. Equipamento utilizado: duas lanternas e uma câmera fotográfica Canon 5D que fora emprestada e utilizada na função vídeo. O grande trunfo de Hernández foi filmar La Casa Muda em um único plano-seqüência, isto é, sem cortes.  Com o slogan: O medo em Tempo Real, o diretor consegui um diferencial importante, levando em consideração os filmes de terror de Baixo Orçamento como, A Bruxa de Blair, 1999 e Atividade Paranormal, 2009. Em entrevista ao LatAm e La Latina, Hernández diz que ele e o produtor do filme estabeleceram um conceito básico: Assustar e entreter, “(...) queremos que o espectador experimente o medo em tempo real. Depois desse parâmetro, tínhamos as coisas muito claras. Também chegamos à conclusão de que a técnica não poderia cegar a história, mas a linguagem tinha que ajudar as personagens de forma invisível (...)”. Com câmeras únicas e subjetivas a la Alfred Hitchcock, alguns referencias dos trashes americanos e o lema de Glauber Rocha, Hernández levou o filme com literalmente, uma câmera na mão e uma boa idéia aterrorizante na cabeça. O que o excepcional José Mojica Marins, Zé do Caixão, infelizmente não consegui aqui no Brasil - Fazer Escola no terror, Hernándes deu o troco lá do Uruguai. Grande genialidade e criatividade do diretor.

As relações entre esses dois diretores são: Os dois são uruguaios, vieram do mundo dos comerciais, usaram a Internet para divulgarem seus filmes e o melhor, alcançaram algum prestigio.


O jovem Gustavo Hernández jamais poderia imaginar que seu filme, La Casa Muda, realizado com apenas 6 mil dólares chegaria a Cannes. Seu trailer, quando divulgado na Internet,  acabou sendo visto por um dos jurados do Festival. Ele procurou Hernández e sugeriu-lhe que apresentasse seu filme para concorrer na Quinzena de Realizadores, seis meses depois o filme havia sido selecionado

Já com o curta de Alvarez, Ataque de Pânico, o sucesso veio dos Estados Unidos. O filme foi visto inclusive por pessoas influentes de Hollywood, incluindo nada menos que o produtor Sam Raimi, aquele que dirigiu a Trilogia do Homem-Aranha (Spider-Man). Raimi convidou Alvarez para realizar um longa de 40 milhões de dólares em Hollywood, feliz e admirado, o diretor uruguaio só sabe que o filme terá robôs e que ele não precisará fazer as invasões alienígenas nos Estados Unidos, poderá ser em Montevidéu ou Buenos Aires. Que bom! podemos comemorar que os homens do espaço também notaram nossa importância como terrestres. Alvarez em Hollywood e Hernandez em Cannes, os jovens uruguaios começam suas carreiras em grande estilo graças ao mundo digital. Que a força estejam com vocês, muchachos!






Assistam,  Ataque de Pánico e o trailer de La Casa Muda.  Vamos esperar ansiosos pelas estréias no Brasil do terror de Hernández e do primeiro longa de ficção científica de Alvarez.
Até mais....  e, bom filme!







Ataque de Pánico, Alvarez











La Casa Muda, Hernandez










Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP
onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.
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Dois momentos da Antropofagia entre nós


Só interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. - Oswald de Andrade

Tarsila do Amaral, Abaporu (1928)
85 X 73 cm, colección Constantini, Buenos Aires

O retrato da estranha criatura com enormes pés fincados na terra e pequena cabeça melancolicamente apoiada em uma das mãos é talvez o mais conhecido trabalho da pintora Tarsila Amaral. Intitulada Abaporu (Aba = homem, poru = que come), a pintura teria levado a uma das mais originais formulações teóricas sobre a questão da dependência cultural no Brasil - a Antropofagia.


A experiência da pintura teria sido capaz de catalisar idéias que se encontravam dispersas - idéias relativas ao desejo de criação de uma arte brasileira própria a partir do contato com as diversas linguagens das vanguardas européias. Proposta utópica de processamento de um modelo europeu junto ao nosso primitivismo, a noção de antropofagia pode ser considerada fundamento de nosso modernismo – que tem seu marco simbólico na Semana de 22 e se manifesta na fase da pintura de Tarsila Amaral conhecida como Pau-Brasil, assim como no Manifesto Pau-Brasil , 1924, de Oswald de Andrade. Em 1928 a relação entre a (sofisticada) cultura européia e a (primitiva) cultura brasileira se destaca a partir da ênfase no primitivismo como arma crítica seletiva, com a imagem do selvagem que devora e assimila apenas o que interessa, destruindo todo o resto.

Na pintura de Tarsila, a devoração do pai totêmico – a cultura européia – para incorporar suas virtudes reforçando o próprio organismo – a cultura brasileira - será evidenciada por uma maior subjetividade adquirida com uma incorporação do Surrealismo, o que se fará sentir pela inclusão da mitologia brasileira. De posse do aprendizado moderno de redução formal e planificação do espaço pictórico, a artista mergulha na "materialidade cultural" brasileira ao criar, com formas arredondadas e cores emblemáticas um alegre universo "selvagem", que se liga ao mundo mágico das lendas indígenas e africanas.

A partir da experiência dessa pintura de tons fortes de amarelo, verde, azul, laranja e roxo, profundamente enraizado na cultura popular brasileira, Oswald é mobilizado a organizar o chamado Clube de Antropofagia, e veicular a Revista de Antropofagia, onde publica o Manifesto Antropófago. O texto fragmentado, repleto de frases de impacto, reelabora o conceito eurocêntrico e negativo de antropofagia como metáfora de um processo crítico de formação da cultura brasileira. Na visão positiva e inovadora de Andrade, exatamente nossa índole canibal permitiria, na esfera da cultura, a deglutição/apropriação crítica das idéias e modelos europeus para produzir algo genuinamente nacional, sem cair na antiga relação modelo/cópia, que dominou uma parcela da arte do período colonial e a arte brasileira acadêmica do século XIX e XX.

O pensamento de Karl Marx, a descoberta do inconsciente pela psicanálise e o estudo Totem e Tabu, de Sigmund Freud, a liberação do elemento primitivo no homem proposta por alguns escritores surrealistas como André Breton, o Manifeste Cannibale escrito por Francis Picabia em 1920,as questões em torno do selvagem discutidas pelos filósofos Jean-Jacques Rousseau e Michel de Montaigne. Inúmeras as influências teóricas identificadas no Manifesto, todas elas se aglutinam sob a rubrica do inédito conceito de antropofagia – que possui, porém, raízes na história brasileira, com Hans Staden (Duas viagens ao Brasil, 1557).



Contra todas as "catequeses", todos os importadores de consciência enlatada, o Padre Vieira, a suposta verdade dos povos missionários, Anchieta ou a corte de D. João VI, Oswald proclama a "realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituição e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama". Pois se é inevitável a assimilação das conquistas da civilização moderna, é preciso que o brasileiro se eleve à cultura "desde que conserve suas qualidades próprias. Assim, o pensamento antropofágico não recusa simplesmente a moderna civilização industrial, sendo capaz de distinguir seus aspectos positivos, eliminar o que não interessa e promover a “revolução Caraíba” e seu novo homem “bárbaro tecnicizado”. Oswald reconta de forma metafórica a história do Brasil a partir da oposição entre eventos históricos e símbolos míticos: Padre Vieira, Anchieta, a corte de D. João VI aparecem junto às figuras mitológicas de Jabuti, Guaraci, Jaci e da Cobra Grande - de algum modo, talvez possamos pensar, sugerindo uma visão historiográfica oposta ao histricismo eurocêntrico

A partir dos anos 1930, junto ao agravamento da situação econômica e social, com a crise do Café, o craque da Bolsa de Nova York em 1929, Getúlio no poder, e posteriormente a eclosão da Segunda Grande Guerra, a questão do "moderno" como tensão entre nacional e internacional toma outros rumos. Oswald então renega o "sarampão antropofágico" – espécie de doença infantil que atingira indiscriminadamente aqueles que não tinham recebido a vacina marxista -, voltando a ele somente em 1945, um ano depois de O caminho percorrido, como oposição crítica ao marxismo e interesse crescente pela filosofia.

A idéia de antropofagia, capaz de inverter a questão do colonizador e do colonizado como procedimento estético só é conscientemente retomada, em meados dos anos 1960, com a montagem da peça O Rei da Vela, pelo Teatro Oficina, e o movimento tropicalista de 1967-1968. Mais conhecido dentro da música popular brasileira – que possui maior penetração social em nosso país, até hoje - o tropicalismo é batizado a partir do Penetrável Tropicália de Hélio Oiticica, exposto em 1967 no MAM-Rio, na mostra Nova Objetividade Brasileira, onde são reunidas as mais significativas tendências dos nossos artistas plásticos do período. No texto de apresentação da mostra, Oiticica destaca um “novo estado da arte brasileira”, passível de confronto com as tendências mais atualizadas da arte contemporânea internacional. Logo de saída, Oiticica invoca Oswald de Andrade e o sentido de antropofagia como um elemento importante na tentativa de caracterização nacional. Ele reconhece a noção de Antropofagia como representante de uma “vontade construtiva”, característica nossa, que, partir do Movimento de 22, teria levado “Oswald de Andrade à conclusão do que seria nossa cultura antropofágica, ou seja, redução imediata de todas as influências externas a modelos nacionais. Isso não aconteceria não houvesse, latente na nossa maneira de apreender tais influências, algo de especial, característico nosso, que seria essa vontade construtiva geral”.

E enfatiza nossa especificidade: “somos um povo à procura de uma caracterização cultural, no que nos diferencia do europeu com seu peso cultural milenar e do americano do norte com suas solicitações superprodutivas (...) Aqui, subdesenvolvimento social significa culturalmente a procura de uma caracterização nacional,ou seja, nossa vontade construtiva. Não que isso aconteça necessariamente a povos subdesenvolvidos,mas seria um caso nosso, particular. A antropofagia seria a defesa que possuímos contra tal domínio exterior, e a principal arma criativa,essa vontade construtiva, o que não impediu de todo uma espécie de colonialismo cultural, que de modo objetivo queremos hoje abolir, absorvendo-o definitivamente numa superantropofagia. Por isto e para isto, surge a primeira necessidade da Nova Objetividade: procurar pelas características nossas, latentes e de certo modo em desenvolvimento, objetivar um estado criador geral, a que se chamaria de vanguarda brasileira numa solidificação cultural (...)”.

Nessa mostra Oiticica apresenta Tropicália, um ambiente em que se pode penetrar, surgido a partir de suas experiências com o samba, e a arquitetura “orgânica” das favelas cariocas, processadas através nos Parangolés. Cabe destacar: parangolés e penetráveis de Oiticica constituem trabalhos que rompem com as tradicionais categorias das belas-artes, pintura e escultura, estabelecendo nova relação entre espectador, aliás, agora participador, e obra. Os Parangolés constituíam espécies de capas que, como tais, deveriam ser vestidas, e posteriormente movimentadas por aqueles que as vestem. Os Penetráveis , por sua vez, formavam ambientes nos quais, como a palavra indica, se podia penetrar. O artista cria uma espécie de cenário tropical com plantas, araras, areia, pedrinhas (em entrevista de 67 ele declara que parecia “caminhar pelo cenário de Tropicália, estar dobrando pelas 'quebradas' do morro, orgânicas tal como a arquitetura fantástica das favelas (...) ou de estar pisando na terra outra vez”. Oiticica descreve: “Ao entrar no Penetrável principal, após passar por diversas experiências táctil-sensoriais, abertas ao participador, que cria aí o seu sentido imagético através delas, chega-se ao final do labirinto, escuro, onde um receptor de TV está em permanente funcionamento: é a imagem que devora então o participador, pois é ela mais ativa que o seu criar sensorial. Aliás, este Penetrável deu-me permanente sensação de estar sendo devorado... é a meu ver a obra mais antropofágica da arte brasileira”.


Oiticica, artista e pensador de seu próprio trabalho, reconhece Tropicália como “uma espécie de campo experimental com as imagens”. E que imagens são essas? As imagens típicas de país tropical. Segundo o crítico Carlos Zílio, “o cálculo implícito desse trabalho seria provocar a explosão do óbvio. Isto é, a ruptura com as tentativas de atualização do realismo da ideologia nacional e popular.” No centro da obra, uma TV, elemento importante na formação do olhar contemporâneo, aparelho que acaba por invadir todo o espaço com seu ruído incessante – exatamente como o faz nas cidades. Imagens tipicamente brasileiras das araras e pedrinhas dos jardins-florestas-tropicais se misturam/contaminam e são contaminadas pela TV que zumbe. Há uma regularidade, uma racionalidade estruturando todos esses elementos – o que é, porém, transpassado por um “riso irônico e contra-aculturativo que desconcerta seu transplante” (Zílio).



Fernanda Lopes Torres, historiadora da arte, graduada pela ESDI (Escola Superior de Desenho Industrial) da UERJ, mestre e doutora em História pela PUC-Rio, pesquisadora de arte da Multirio (Empresa Municipal de Multimeios) e professora do Instituto de Artes da UERJ, escreve às quintas-feiras quinzenalmente no ContemporARTES.
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Silêncio era valorizado como estratégia na II Guerra Mundial

Olhem que interessante esses cartazes. O link da postagem foi enviada pela socióloga Soraia Costa, uma amante das ferrovias, mas uma curiosa sobre o nazismo e a II Guerra Mundial. Agradeço, Soraia!
"Não somente nos Estados Unidos mas também em diversos outros países, durante a Segunda Guerra Mundial, o trabalho de design era usado para informar que era “melhor pra saúde” tomar cuidado com o que era falado por aí e que algum vacilo poderia custar vidas. O resultado desse trabalho eram cartazes bem interessantes com belas composições e ilustrações muito bem feitas."
Fonte de texto e cartazes:
http://designices.com/cartazes-fique-em-silencio-da-segunda-guerra-mundial/






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Sophia de Mello Breyner Andresen: Revolução e Luta.


Olá, Leitores do Bar ContemporARTES! Depois de quatro meses sem escrever aqui na revista, retorno agora em uma nova coluna. Estava a pensar a respeito do que eu poderia conversar com vocês aqui, previamente aviso que falarei acerca de Literatura e, nada melhor do que começar com pé direitíssimo, com minha amada poeta, Sophia de Mello Breyner Andresen.

Esta artista foi uma escritora portuguesa de contos e poemas, que dentre outras coisas, teve uma importante participação política em seu país - Portugal -, seja pela luta empreendida contra o regime ditatorial “Salazarismo”, ou ainda por ter se tornado deputada em sua pátria.

A atividade literária desta grande poeta se pautou pelas idéias de justiça, liberdade e integridade moral. Sophia foi a primeira mulher a receber o mais importante prêmio de Literatura em Língua Portuguesa, O prêmio Camões, em 1999, além de muitas outras congratulações por seus escritos.

As informações apresentadas acima são importantes, uma vez que apresentarei a vocês um poema desta revolucionária mulher, o poema “Revolução”:

Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta

Como puro ínicio
Como tempo novo
Sem mancha nem vício

Como a voz do mar
Interior de um povo

Como página em branco
Onde o poema emerge

Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação

27 de Abril de 1974

Este poema, como a data ao seu fim indica, foi escrito muito recente em relação à Revolução dos Cravos que depôs o regime ditatorial em Portugal – o que se deu no dia 25 de Abril de 1974. Por esse motivo, o valor simbólico e histórico imbuído nestas poucas frases é incomensurável.

A poeta, com seu senso de justiça e liberdade, compara o momento que o país vivia a uma casa limpa, pronta para o ato de recomeçar, renovar, ou mesmo receber novos moradores e idéias. Esta casa se encontra de “portas abertas”, não só para a liberdade de escrita e do falar, mas sim para tudo que de alguma forma contribuísse para a reconstrução que seria necessária naquele momento.

Este novo momento é marcado pelo recomeçar, pelo deixar os males no passado, reiniciar a vida “sem mancha nem vício”, em um tempo novo que marca o início de um novo governo, de uma nova vida, na qual todos terão o direito e dever de juntos lutarem para apagar as manchas vivenciadas no passado.

Se o mar é um elemento que impulsiona em direção ao encontro com as verdades e com as mudanças, e que foi indispensável para o crescimento de Portugal enquanto nação e para seu desenvolvimento econômico no momento pós-revolução, este mar deveria se rebelar no interior dos portugueses, a fim de que com a mesma ânsia de conquistas a partir dele almejadas no passado, todos pupessem navegar por mares desconhecidos por si e em si mesmos em busca da construção de um país mais justo.

Portugal deveria ser também “Como uma página em branco/ Onde o poema emerge”, uma página que possibilita aos escritores alçarem vôos nunca imaginados, se superarem, se surpreenderem com a capacidade de transformar que a palavra encerra. O começar do zero figuraria como altamente necessário, não somente para a reforma de um país em ruínas, como também para apagar os erros passados causados pela colonização massacrante em relação a outros países, no caso da Revolução dos Cravos uma colonização repressiva e cruel, principalmente, em relação às Colônias portuguesas na África.

A arquitetura necessária para se erguer uma habitação, seria necessária, naquele momento, para reerguer Portugal, os Portugueses, a identidade destes e de certa forma apagar o imaginário de grandeza que se desfez com a perda das últimas colônias.
Essa minha breve e pequena leitura deste poema consegue mostrar minimamente a grandeza desta mulher, de sua escrita, de seu amor às pessoas e à pátria. Garanto a vocês leitores que a obra de Sophia Andresen é muito mais rica, enigmática e consegue tocar o leitor quanto à sensibilidade exprimida pelos poemas.

Encontrar obras desta autora aqui no Brasil não é fácil, confesso que durante quatro meses procurei um livro dela intitulado “O Nome das Coisas”. Solicitei a uma amiga que o trouxesse de Portugal, no entanto, um dia em busca pelos sebos encontrei a obra que tanto queria. O melhor de tudo é que meu livro amado é da primeira edição portuguesa, exatamente de 1977. Fiquei bastante contente.

Outro problema encontrado na aquisição de livros desta autora é também o alto valor pelo qual são vendidos. O importante é que ao encontrarmos e degustá-los somos tocados em nosso íntimo e levados a questionar nós mesmos, o mundo, enfim, não tenho mais palavras para descrever a emoção que sinto ao ler os poemas de Sophia Andresen.

Os leitores que se interessaram pela vida e obra desta poeta podem acessar o site que possui muitas informações sobre ela e também poesias.









Rodrigo C. M. Machado é Graduando em Letras pela Universidade Federal de Viçosa e, neste momento, pesquisa a representação dos corpos na poesia de António Botto.
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Entrevista: João Luiz de Souza

O Ativista de uma Política Poética
por Altair de Oliveira e Rodolpho Saraiva.

O poeta que apresentamos hoje não se diz poeta, pelo menos não se apresenta como tal, nunca tive a oportunidade de ler seus poemas, mesmo assim ele é uma das pessoas mais envolvidas e comprometidas com a poesia que já tive a oportunidade de conhecer.

João Luiz de Souza é professor de literatura na Universidade Salgado de Oliveira (Universo) em Niterói –RJ, criador e maestro de um delicioso encontro de poesia falada denominado “Corujão da Poesia e da Música” que acontece semanalmente em vários “points” do Rio de Janeiro e também do projeto “Biblioteca Solidária” que, através de doações de livros, possibilitou que mais de 80 bibliotecas pudessem ser instaladas em escolas, hospitais, presídios e comunidades carentes do Grande Rio.

Enfim, João Luiz é uma pessoa grande, verdadeiro ativista de uma política poética e cultural, como ele mesmo gosta de ser chamado. Gentilíssimo, ele nos concedeu esta bela entrevista que aqui compartilhamos.

Um pouco sobre o “Corujão da Poesia e da Música”.

Conhecido simplesmente como “Corujão da Poesia”, o sarau cultural promovido por João Luiz reúne poetas, músicos, atores e amantes da poesia, num encontro cultural que é um verdadeiros show em homenagem à poesia. Ali, num ambiente descontraído, além da possibilidade de se falar e ouvir bons poemas, pode-se ouvir boas músicas ou até assistir a performances teatrais e ainda informar-se sobre eventos culturais que estão acontecendo na cidade.

Não raro, há edições especiais do “Corujão da Poesia” para homenagear determinado autor ou para fazer lançamento de livros de poemas ou de CDs.
Em sua edição do Leblon, na Livraria Letras & Expressões, o Corujão assume um caráter de vigília poética e atravessa a madrugada feito um farol, indo até às 06:00 h. da manhã. É uma rara maneira que os artistas, boêmios e amantes da poesia em geral encontram para terminar ou iniciar o dia com alguma poesia!

Para participar deste sarau declamando ou fazendo leitura de poemas, a inscrição pode ser feita na hora, junto aos organizadores. Para auxiliar nestes eventos, o João conta sempre com um pequeno grupo de amigos, solidários poetas e músicos e que também participam das apresentações, contribuindo para que o evento mantenha sempre um bom nível.

Quem participa do Corujão da Poesia ganha carinhosamente e automaticamente o simbólico título de “coruja”. Se assumido, este título pode ser levado para sempre, calado e colado junto ao coração. Ser “coruja” significa que a pessoa foi uma vez marcada pela poesia e que agora está vigilante para nunca mais permitir que a poesia venha a perecer neste mundo. Grandes nomes da literatura, da música e da dramaturgia brasileira, se tornaram afiliados de João Luiz e hoje são orgulhosos “corujas”!

A Entrevista

PC- João, inicialmente gostaria de pedir-lhe para falar-nos um pouco de como foi esta tua trajetória de menino de São Gonçalo que, com muita poesia, um dia veio fazer os olhares ascenderem e acenderem-se no baixo Leblon e daí para o mundo, como bem disse a nossa amiga poeta Natália Parreiras!?

JL- Nasci 1961, em São Gonçalo, cidade do Grande-Rio, com população de maioria operária e de classe média modesta. Estudei em boas escolas nas quais a literatura eram privilegiadas. Levei do Jardim de Infância à sétima série, a vida numa escola particular no meu bairro, onde éramos tratado pelos pré-nomes e sobre nomes. Isto me conferiu uma identidade forte. E nessa escola, havia muito espaço para poesia. E eu o ocupava, movido pelas professoras, por minha mãe e por minha madrinha. Em seguida, fui para o Instituto de Educação Clélia Nanci, escola estadual, que era um centro de excelência. Lá, a cultura, mesmo em período de ditadura militar tinha um espaço sagrado e desde então tornei-me ativista. Daí para frente, fosse na UFF, UERJ ou UNIVERSO, universidades nas quais sentei nos bancos de aprendizagem, sempre fui um agitador literário. Eu era um leitor compulsivo e, naturalmente, falava do que lia. E estas falas foram abrindo portas, até que em 2003, invadi a Zona Sul do Rio com os projetos de POESIA FALADA que desenvolvi coletivamente desde os 17 anos em São Gonçalo e Niterói. Hoje, moro em Niterói, mas devo tudo à São Gonçalo, pois foi lá que aprendi a fazer. A realizar. Mesmo que não houvesse recursos ou equipamentos.

PC- E está idéia do projeto "Corujão da Poesia", poderia contar-nos como tudo começou e como está o projeto agora?

JL- Ah, o Corujão da Poesia e da Música-Universo da Leitura nasceu de minha insônia e da insônia de outros poetas e artistas. Ficava matutando sobre como poder ter um projeto profissional, via Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO), onde sou Assessor de Cultura, que contemplasse as minhas horas insones e que pudesse atender às expectativas de outros insones.
Escrevi o projeto, submeti à Magnífica Reitora Marlene Salgado de Oliveira, que o aprovou e propus a parceria à Livraria Letras&Expressões, no Leblon, que funciona 24 horas por dia. Toparam. Era o casamento perfeito. Daí surge um projeto de extensão universitária bastante original e que tornou-se a única vigília de periodicidade semanal de poesia, leitura, música e literatura de toda a América. Quando fizemos um ano de existência, começamos a arrecadar livros usados e novos e já montamos 84 Bibliotecas Solidárias, que são as nossas maiores alegrias e realizações, pois o principal compromisso do projeto é com a difusão do prazer da LEITURA.

PC- Quem milita nas artes poéticas há algum tempo em nosso país sabe o quanto é difícil reunir um grupo de bons poetas num sarau de poesia, ainda mais se fizer a apresentação destes eventos por longo tempo. A falta de incentivo, a indisponibilidade de tempo, os interesses políticos, a competição, o conflito de egos, o estrelismo, etc; enfim, há uma porção de fatores que normalmente fazem estes eventos de poesia serem esporádicos e de curta duração. Gostaria que você nos revelasse qual o segredo que faz com que você mantenha o Corujão da Poesia como um evento de sucesso e com bons poetas se apresentando por tanto tempo e em tantos lugares?

JL - A razão de nosso reconhecimento social e cultural e de nossa permanência é porque somos uma OFICINA aberta para qualquer um que venha apresentar-se, sem roteiro prévio e com um profundo sentimento de acolhida a todo os que chegam. Em novembro de 2010 faremos 5 anos e não para de chegar pessoas. Nós as abraçamos e dizemos "És coruja!" e muitas delas ficam. Outras não. Isto nos permite a continuidade da grande maioria e a permanente renovação dos novos talentos independentemente da idade ou do estilo de obra. Somos uma oficina viva, dinâmica e aberta aos que queiram militar em nossas fileiras poéticas ou sociais.

PC- Gostaria que agora você falasse como o professor de literatura que é; sabemos que quem morre são os poetas, não a poesia. Mas, que tipo de poesia sobrevive ao seu autor? Ou seja, que a poesia precisa ter para conquistar a sua longevidade?

JL- Para ser longeva, a poesia carece de ser atemporal. No mais, os caminhos que os poemas fazem são misteriosos. Quem dera se um professor pudesse definir os rumos dos poemas e o que fazem eles sobreviverem. Nem os poetas podem imaginar o que de suas obras será lembrado no futuro. São mistérios. É o território sagrado da POESIA.

PC- Agora, por favor, esqueça que o professor de literatura que é, e fale-nos desta vez como leitor. Quais os grandes autores deste país, aqueles cuja leitura te tocam e te trazem deleite, crescimento e aprendizado e que, com certeza, você recomendaria?

JL - Meus poetas amados são Manuel Bandeira, Cruz e Sousa, Manoel de Barros, Hilda Hilst, Solano Trindade, Eugénio de Andrade, Adélia Prado, Baudellaire, Gonçalves Dias, Mário de Sá Carneiro, Federico Garcia Lorca, Fernando Pessoa e muitos outros. Dos vivos não direi os nomes, mas o Antônio Cícero é uma de minhas paixões. Chega!

PC- Muitos poetas populares são questionados nas universidades. Há críticos que enaltecem autores acadêmicos, de escrita hermética e há também poetas populares que desconsideram os cânones da crítica. Afinal, qual é a importância da crítica literária na formação da Poesia Brasileira?

JL- A crítica é necessária pois é um exercício de conhecimento e pesquisa, compartilhado nos meios especializados, mas, nós sabemos que ela não é definidora daquilo que o público consagra. A academia pode consagrar um autor e o povo desmerecê-lo ou vice-versa. O importante é que haja espaços de reconhecimento e leitores para todos. E aí entram os saraus, os eventos, os blogs etc.

PC- Muitos poetas afirmam escrever por catarse. Fazer poesia pode ser terapêutico?

JL - Tudo pode ser terapêutico, especialmente, o exercício de escrever-se ou a tentativa de cometer alguns poemas. Não sei julgar esta questão. Sei que a poesia é mais libertária do que qualquer terapia.

PC- A poesia inevitavelmente é influenciada por sua época. Qual é a cara da poesia dos dias atuais? Do que ela trata?

JL - A poesia dos dias de hoje é tão plural. Ela não tem cara nos dias de hoje. Ela é um movimento de infinitas faces. Está tudo aí. Só precisamos ter antenas plugadas para percebermos, o que também é uma atitude poética. Estar aberto para perceber a poesia do hoje é uma atitude poética. É dialógica.

PC- A internet, blogs e redes sociais são uma realidade. Muitos críticos afirmam que essas tecnologias ameaçam a literatura. Você concorda?

JL- A teconologia tem ajudado a literatura e a poesia até aqui. Nós, os seres das palavras é que precisamos invadir com nossos conteúdos o mundo da internet. E vamos lá. Estamos fazendo isto aqui agora quando eu respondo-lhe estas perguntas. Vamos invadir às redes sociais com poesia e literatura. E com o afeto que nos caracteriza.

PC- Você é um estudioso da realidade brasileira, principalmente das grandes cidades, o que você acha que ainda falta para o Brasil se tornar realmente um grande país?

JL - O Brasil é um grande país. Precisamos acertar mais na educação pública e privada. Precisamos ler mais. Precisamos resgatar as idéias do Mestre Darcy Ribeiro. Precisamos defender a escola de horário integral e rica de imaginação criativa para todas as crianças e adolescentes, de modo que elas apaixonem-se pelo aprender coletivamente e por produzir conhecimentos. No mais, a sociedade vem avançando e o Brasil nos últimos anos disse ao mundo: PRESENTE!

PC- Nos eventos do Corujão, a participação é aberta a todos. Para alguém de fora, que esteja de passagem no Rio de Janeiro, como proceder para assistir ou para participar deste eventos?

JL- É só acessar o www.corujaodapoesia.com e conferir a nossa agenda. Ou ainda: http://corujaodapoesiaedamusica.blogspot.com/. No Leblon, é toda madrugada de terça para quarta, na Letras&Expressões, da Rua Ataulfo de Paiva, 1292. Começamos meia noite e terminamos às seis da manhã de quarta. Toda semana, enquanto Deus e a História nos permitirem.

PC- Gostaria que você informasse-nos como proceder para fazer doações de livro para o teu projeto de bibliotecas, quem contar e se é possível enviar-lhe livros também de outras cidades ou de outros estados?

JL- Todo livro é recebido com festa. Muita festa. Podem entrar em contato conosco pelo e-mail corujicespoeticas@gmail.com, sempre com cópia para a.cultura@nt.universo.edu.br. Será um prazer responder aos e-mails e conversarmos sobre como faremos para procedermos a retirada da doação. Gratidão. Muita gratidão sempre.

* Fotos de vários eventos do Corujão da Poesia, por Júlio Pereira: 1- João Luiz; 2- panorama do Corujão da Poesia na Barra da Tijuca; 3- panorama do Corujão da Poesia no Leblon; 4- João Luiz e a atriz Letícia Sabatela.


Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve às segundas-feiras no ContemporARTES. Contará com a colaboração de Marilda Confortin (Sul), Rodolpho Saraiva (RJ / Leste) e Patrícia Amaral (SP/Centro Sul).
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A programação de junho começou!


A coluna Drops já começa com uma dica que vale para o mês inteiro!


O Cineclube Adamastor já lançou a programação do mês de junho. A temática desse mês faz parte do Ciclo “Direção Cinematográfica” e antes da exibição dos filmes haverá uma introdução sobre universo da Direção de Cinema.
Este mês serão exibidos os filmes:
12/06 – “Fale com ela” Pedro Almodovar" (Espanha)

19/06 – “São Paulo Sociedade Anônima” (Brasil)

26/06 – “Laranja Mecânica” Stanley Kubrick (Inglaterra)

Local: Cineclube Adamastor - Av. Monteiro Lobato, 734 - Macedo - Guarulhos
informações: 2087-4171
Todas as exibições são às 16h e tem a Entrada Franca.

Outra dica é a Oficina Regional do Prêmio Culturas Cigana 2010. O evento tem como objetivos ssclarecer, incentivar e facilitar a participação dos interessados no edital Prêmio Culturas Ciganas 2010. Assim, preparar gestores, educadores locais para atuarem como divulgadores do Edital, replicadores da oficina e facilitadores em inscrições em comunidades ciganas não representadas na oficina.
Acontece no dia 14/06 das 09h às 12h e das13h às 16h.
Local: Praça IV Centenário, s/nº - Salão Burle Marx – 9º andar, Santo André/SP.

Ainda para os moradores do ABC, outro evento que merece destaque essa semana é o ABCena: Memória e invenção no Teatro ABC Paulista. O evento será uma mesa que reunirá o jornalista e pesquisador José Armando Pereira da Silva e a jornalista e mestranda Paula Venâncio. Eles apresentarão os recortes de suas pesquisas sobre a produção teatral do ABC.
Acontece no dia 15/06 às 20h.
Local: SESC Santo André

E para aqueles que já estão em clima de Copa do Mundo, o Drops tem uma dica bem interessante, o curso de Criação de vídeoblogs e produção de webvídeos para a Copa do Mundo. As oficinas, que tem como público-alvo pessoas da terceira idade, pretende fazer com que os oficinandos realizem sua própria cobertura da Copa do Mundo 2010 através da criação de vídeoblogs e produção de vídeos via celular e câmera fotográfica digital.
Acontece de 15/06 a 08/17 às terças e quintas.
Horário: das 20h às 21h30.
Local: SESC Santanta


Ana Paula Nunes é jornalista, pós-graduanda em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo/USP. Coordenadora de Comunicação da Contemporâneos - Revista de Artes e Humanidades e escreve aos domingos na  ContemporARTES.
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