São tantas as adversidades; tantas as problemáticas da vida; tantos os
temores; tantos os sentimentos, mas ainda em meio a tantos os conflitos, sejam
eles existenciais ou concretos, existe um sentimento maior que se firma para
além das barreiras a nós impostas [...].
Ah! O amor, como expressar em
palavras um sentimento tão grandioso; um sentimento tão humano; um sentimento
tão “eu”; um sentimento tão “outro”; um sentimento que se intersecta aos demais,
se envolve se mistura, e ainda assim continua superior – é nobre, superior a
todas problemáticas, superior a todos os temores, superior a vida. Pois para
além da vida, ainda sim existe amor, o amor é incondicional, transcendental, o
amor é tudo, sem ele não somos nada.
Em nosso emaranhado cotidiano, muitas vezes, esquecemo-nos de exteriorizar
este sentimento tão belo. Perguntas-te: quando deixaste de exprimi-lo [?], deixaste
todas as vezes que negaste o seu Ser no mundo; todas as vezes que negaste o Ser
do outro. O amor é tudo, sem ele não somos nada.
Ainda que as adversidades provinda de nossa sociabilidade venham adestrar
esse sentimento tão maravilho, digo, o amor é tudo, sem ele, seremos loucos.
Taysa Silva Santosé graduanda do Curso de Serviço Social da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB. Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas Gênero, Raça e Etnia e também do Grupo de Pesquisa NATUSS, Natureza, Trabalho, Ser Social e Serviço Social da mesma universidade.
A música sertaneja de raiz é a lembrança do homem que
vive na terra e tira dela seu sustento. São histórias comoventes de homens e
mulheres que passam seus dias na labuta, de sol à sol, plantando, colhendo e
cuidando das pequenas criações de gado.
Pela falta de incentivos governamentais e fatores climáticos, alguns pastos tendem a desaparecer e os prejuízos, com a perda do gado e das lavouras, motivam o grande
êxodo rural. A carência de programas governamentais sérios ao pequeno agricultor, continua fazendo os jovens se
desencantarem com o campo, buscando na cidade novas perspectivas, novos horizontes.
Até os médios agricultores sentem falta de melhor orientação e
incentivo para produzirem. Faltam desde cisternas, para guardar a água da chuva, até fertilizantes. Sem técnicos de assistência agrícola
e pecuária e sem um sistema eficaz de incentivo ao plantio do pequeno e médio proprietário, o Brasil continua colhendo os frutos do descaso, triste realidade que se mantém no decorrer das últimas décadas.
Essa situação precária contribui cada vez mais para tirar o jovem do campo, que sem perceptivas de trabalho, abandona sua família e suas terras para morar precariamente na cidade. Muitos vão à cidade em
busca de dinheiro mas o que encontram é desemprego, pobreza e humilhação.
Com o êxodo rural a cultura do homem do campo o acompanha até as cidades. Nesta coluna de hoje, a aluna Nicilmar da Faculdade de Música da FAC-FITO, veio contar-nos um pouco da dor da partida. Nossos estudos na
disciplina Cultura Popular, vão atrás da música sertaneja de raiz e de suas transformações adquiridas pelo contato com o universo urbano, suas implicações
e intervenções. Fiquem agora com o relato poético de Nicilmar.
FOGÃO DE LENHA
Nicilmar Maria de Oliveira
Lima 1
Era uma tarde outonal, avermelhada pelo por do sol, que pouco a pouco se
escondia atrás das montanhas. O gigantesco pé de boleiras, cujos galhos naquela
estação, um pouco secos, quase cobriam a pequena casinha de taipa. A paisagem
sonora era típica daquela hora: os passarinhos que faziam enorme barulho ao se
aninharem nos arvoredos em redor. Tudo parecia normal, exceto pelo ar de melancolia, além daquele que para mim, sempre vinha com o crepúsculo da
tarde. Era o outono de 1987, do qual nunca me esquecerei.
Caçula de uma família de nove irmãos dos quais, alguns já haviam migrado
para a cidade quando nasci. MInha mãe,
pessoa simples, descendente de índios; pai, homem da lavoura, pele da cor da terra,
com muito suor e calos nas mãos trabalhava para manter o sustento daquela
humilde família.
Naquela tarde, vi meu irmão partir, são vagas as lembranças da
despedida, mas há uma paisagem que ficou gravada em minha memória para sempre.
Quando vi meu irmão, filho do meio, adentrar o estreito caminho entre a relva que levava à cidadezinha. Carregava apenas uma malinha de couro marrom,
não acenava, nem sequer olhava para trás, certamente porque sabia que minha mãe
chorava ao ver mais um filho deixar o lar em busca de seus sonhos
numa grande cidade. Seu destino, a cidade de São Paulo, e seus sonhos não
eram diferentes do grande número de pessoas que migraram, segundo estatísticas, da zona rural para os grandes centros urbanos entre as
décadas de 1960 e 1980.
Por alguns dias perdurou aquele clima de despedida na pequena casinha
naquele sertão do interior de Minas Gerais. Meu pai ficou alguns dias sem tocar
a velha viola à luz do candeeiro e minha mãe não cantava mais as antigas cantigas
que me faziam dormir. Não obstante se ouvia, no velho rádio à pilha, uma canção que fazia com que eu aumentasse o volume todas as vezes que tocava: Fogão de Lenha. A letra da
música é como uma carta de um filho que partiu do sertão, com sonhos de grandeza,
mas arrependido e talvez frustrado, decide voltar: “Pegue a viola e a sanfona
que eu tocava, deixe o bule de café em cima do fogão. Fogão de lenha e uma rede
na varanda arrume tudo mãe querida o seu filho vai voltar.” (Fogão de Lenha:
Meu disfarce, 1987).
Muitas vezes, vi meu pai ler as cartas dos filhos distantes para minha
mãe que ouvia atentamente com os olhos cheios d’água, demonstrava saudades e
ao mesmo tempo alegria e felicidade pois diziam estararem bem na cidade grande.
Ela aos poucos compreendia que a nossa casinha estava ficando pequena para
abrigar tantos sonhos e que seus filhos haviam crescido, embora, no próximo
inverno houvesse mais um lugar vazio ao redor do fogão de lenha ao anoitecer.
Hoje, vinte e quatro anos depois, ao ouvir Fogão de Lenha, me volto interiormente para essa
história e para minha cultura de origem, minha verdadeira essência que não se
rompeu, mesmo diante de todas às adaptações que tive que sofrer para viver
nesta grande metrópole.
Fogão de Lenha (Chitãozinho e Xororó )
Espere minha mãe estou voltando Que falta faz pra mim um beijo seu O orvalho da manhã cobrindo as flores Um raio de luar que era tão meu O sonho de grandeza, ó mãe querida Um dia separou você e eu Queria tanto ser alguém na vida Apenas sou mais um que se perdeu Pegue a viola, e a sanfona que eu tocava Deixe um bule da café em cima do fogão Fogão de lenha, e uma rede na varanda Arrume tudo mãe querida, que seu filho vai voltar Mãe eu lembro tanto a nossa casa As coisas que falou quando eu saí Lembro do meu pai que ficou triste E nunca mais cantou depois que eu partí Hoje eu já sei, ó mãe querida Nas lições da vida eu aprendi O que eu vim procurar aqui distante
eu sempre tive tudo e tudo está ai
Referências bibliográficas:
DUBOC, Maurício; COLLA, Carlos; XORORÓ. Fogão de lenha In: Meudisfarce, São Paulo: EMI 1987 CD.
1- Nicilmar Lima é mineira do Vale do Jequitinhonha. Reside na cidade São
Paulo há quinze anos, onde atua como cantora e professora de técnica vocal.
E-mail: nicioliveiralima@gmail.com.
Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.
"A fotografia é no máximo uma pequena voz, mas às vezes, não sempre é verdade, acontece de um só clichê, ou até um conjunto, seduzir os sentidos a ponto de desembocar numa tomada de consciência. Tudo depende de quem olha; algumas fotografias suscitam tal emoção que geram reflexão. (...) A fotografia é uma pequena voz. Acredito nisso. Se for bem concebida, consegue fazer-se ouvir." (Eugene Smith, Centre National de la Photographie)
Há momentos em que a vida se torna um instante combinando biografia e história. Os anos de 1968 e 1989 foram instantes assim na história alemã do pós-guerra, onde itens, da maneira como eram, mudaram radicalmente e cada dia carregava o potencial das possibilidades consigo. Em tais momentos, assim descreve o filósofo francês Alain Badiou, o universal e o único se mesclam cada qual em seu evento concreto, o qual não está disponível ao poder do conhecimento com nenhum conceito conhecido. Estes são os momentos nos quais o sujeito encontra-se com a consciência social.
A mostra fotográfica de Michael Ruetz, 1968:Tempos Incômodos combina as características de biografia e história como o sociólogo Wright Mills define em seu livro "A Imaginação Sociológica".
Mas o trabalho de Ruetz não se limita apenas a documentar a dinâmica do movimento político de 68, mas é concebido como um diário fotográfico que contempla o período a partir da greve na Universidade de Berlim, em 22 de junho de 1966, até os acontecimentos do final de maio de 1975. As imagens mostram um mundo que despertava e se movia a um clima de liberação e emancipação, contemplando também fotografias tiradas na Grécia, em Roma, em Angola e no Chile.
A curadora da mostra em Curitiba, Stephanie Dahn Batista, descreve-a como um "diário de acontecimentos, tanto históricos quanto banais". "O público vai encontrar uma testemunha ocular de uma época histórica e vai ver também imagens de um cenário pouco conhecido das rebeldias nas ruas."
A curadora avalia que é muito grande a importância histórica do período retratado, permeado que foi por mudanças profundas." Era uma época de extrema revolta. O movimento estudantil contra as autoridades e a Guerra do Vietnã, por exemplo, eram questões sobre levantar a voz contra o sistema autoritário", diz ela. Para Dahn, é um tema que continua atual.
Ruetz capta com nitidez essas situações. "Ele não é fotógrafo documental, mas tem uma preocupação estética." Nascido em Berlim em 1940, ele já colaborou com os periódicos Time, Life, Der Spiegel e Stern e cobriu eventos como a invasão da Tchecoslováquia pelas tropas soviéticas em 1968.
O autor das imagens disse repetidas vezes que "1968 foi um estado de ânimo e que transitava entre o regozijo e a depressão". O fotógrafo alemão registrou situações históricas em imagens de efeito atemporal, além de capturar imagens do cotidiano. As fotos se transformaram em ícones de uma forma de vida perdida, em um período que a válvula de escape se traduzia em lutas de rua, manifestações e iniciativas artísticas e políticas.
O diário mostra os líderes políticos e culturais de Willy Brandt a Joseph Beuys, bem como as linhas divisórias entre a ditadura e o desenvolvimento democrático: em Berlim Oriental e Ocidental, em Portugal, no Chile, na Grécia e na África do Sul.
O termo que melhor define esse fotógrafo é o de "documentarista político", segundo João Urban, fotógrafo curitibano. "Ele tinha grande sensibilidade para esses temas. Talvez tenha sido esse o motivo de ele ter sido mandado ao Chile quando Allende (Salvador Allende, presidente do país entre 1970 e 1973) foi eleito." Imagens fortes e próximas do personagem são algumas características marcantes na obra do fotógrafo. Ele trabalha com lentes grande angular, perto das pessoas, e registra os momentos decisivos na cena.
Ganhador de diversos prêmios na área de fotografia e com vários livros publicados, Ruetz não se concentrou somente em retratos políticos. "Ele foi um cronista visual daquele tempo, e não se focou apenas nos grandes acontecimentos históricos, mas também nas figuras da rua, no dia a dia. A composição e a ironia presentes nos seus trabalhos provocam um riso inteligente".
As fotografias de Ruetz têm significado excepcional. São documentos muito emocionais sobre os acontecimentos de 1968. Mas não é o ponto de vista do jornalista que detém essas imagens. A sua perspectiva nasceu com o movimento e ele é parte do mesmo. Igualmente transparece nas suas fotografias o estilo de um escrito manual artístico desses acontecimentos. A experiência subjetiva e a mediação objetiva se fusionam, segundo K.Staeck e J.Odenthal da Academia de Artes de Berlim.
Michael Ruetz nasceu em Berlim em 1940 e se tornou conhecido pelos registros do
movimento de protesto estudantil. Após estudar Sinologia, Estudos Japoneses e Jornalismo em Freiburg e Munique, se transferiu em 1963 para a Universidade Livre de Berlim. Lá testemunhou as primeiras ações que levaram à revolta estudantil e começou a registrar os eventos com sua câmera, fazendo suas primeiras obras importantes em 1964. Como morava em Berlim, Rütz pode viajar livremente pela Alemanha Oriental, fotografando a vida oficial e privada na RDA.
Serviço:
Exposição fotográfica
"1968 - Tempos Incômodos"
Período expositivo: de 20/06 a 12/08/2012.
Caixa Cultural
Rua Conselheiro Laurindo, 280 – Centro
Curitiba - Pr.
Fone:(41) 2118.5114
Izabel Liviski, é Fotógrafa e Professora de Sociologia, disciplina em que é Doutoranda pela UFPR.
Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e da Cultura, e Linguagens Visuais.
Escreve a coluna INCONTROS quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.
Nesta edição do festival de Inverno na vila de Paranapiacaba, estamos realizando a divulgação do projeto Neblina Sobre Trilhos no Antigo Mercado e na Casa 28, que fica bem ao lado.
Abaixo um flyer/cartaz com as informações de horarios:
Foi criado um evento para convidar os contatos e colaboradores do projeto na nossa página do facebook/neblinasobretrilhos: https://www.facebook.com/events/360821673989763/
Intervenção do Neblina na Casa 28.
Fotografia de Soraia O. Costa.
Exposição no Antigo Mercado.
Fotografia de Melina Resende
Agradecemos a prefeitura pelo espaço concedido e aos colaboradores que também projetarão o documentário na Vila, o ex-ferroviario Aldo do Som, o morador Gercino e o historiador Eduardo Pim, responsável pela Associação de Monitores Ambientais de Paranapiacaba (AMA).
Exibição do documentário na R. Varanda Velha, Vila de Paranapiacaba.
Fotografia de Melina Resende
Exibição do documentário na Casa 28.
Fotografia de Melina Resende
Pôsteres sobre a história da regional e do trabalho audiovisual que mostra a Vila de Paranapiacaba, construída pela empresa São Paulo Railway Company Ltd. (SPR) para abrigar os trabalhadores do sistema funicular, a partir de entrevistas dos ferroviários, seus parentes e moradores da vila, além de pessoas ligadas ao turismo, estudiosos e turistas.Com enfoque na ferrovia que ligava Santos a Jundiaí e seus trabalhadores na Vila de Paranapiacaba. Nossa equipe de pesquisadores busca fazer o levantamento das motivações e dos movimentos históricos que levaram ao descontentamento, desemprego e desencanto dos antigos e atuais moradores da Vila de Paranapiacaba, pois mesmo pelo fato de ser considerada um patrimônio Histórico pelo Governo Federal, Estadual e Municipal, pouco se é difundido os ensinamentos sobre a história da Vila, já que o baixo e mal direcionado incentivo ao turismo não se manifesta como suficiente aos atuais moradores, muito menos pedagógico à história da Vila, que um dia foi um marco da pujança e da tecnologia em solo do Estado de São Paulo e do Brasil, por meio da sua repercussão no mundo foi amplamente reconhecida.
E sobre o festival, ainda terão dois finais de semana para quem ainda não foi pode tentar aproveitar o evento, abaixo outras informações de shows:
21/07/2012 - SÁBADO
14 hs no Mercado - Pedro Luis e Banda 15 hrs Sesc - Grupo Moinho do Tempo 15:30 Sesc - 2por4 - Brit Project 17 hs Mercado- Ná Ozetti 18 hs Sesc - Grupo Moinho do Tempo 18:30 Sesc - João Donato 20 hs Campo - FAFA DE BELEM
22/07/2012 - DOMINGO
14 hs no Mercado - sapopemba 15 hrs Sesc - Banda Sax4Sax 15:30 Sesc - Banda Publica com Jhonny Monster 17 hs Mercado - Eliana Pittmann 18 hs Sesc - banda Sax4ax 18:30 Sesc - Banda Mantiqueira e Fabiana Cozza 20 hs Campo - JOÃO BOSCO
28/07/2012 - SÁBADO
14 hs no Mercado - Rose Calixto 15 hrs Sesc - Banda saxofonica 15:30 Sesc - Gross 17 hs Mercado- Banda Black Rio 18 hs Sesc - Grupo sarau Tropical 18:30 Sesc - Maogani e Renato Braz 20 hs Campo - CLAUDIO ZOLI
29/07/2012 - DOMINGO "ULTIMO DIA"
14 hs no Mercado - Chico teixeira e Tuia 15 hrs Sesc -Grupo ìkaro 15:30 Sesc - Daniel Belleza 17 hs Mercado- 14 Bis 18 hs Sesc - Banda Saxofonica 18:30 Sesc - Nhocuné Soul 20 hs Campo - FLAVIO VENTURINI
Soraia Oliveira Costa, graduada em Ciênciais Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA). Professora de sociologia na Secretária de Educação Estadual, trabalha também com fotografia, audiovisual e oralidades desde meados de 2007, quando começou a analisar o cenário urbano, a natureza, o trabalho, os transportes, o comportamento, a cultura, a arte...
"Roupa pra tirar retrato", 2004, de Sérgio Roizenblit
Um vestido azul ganha destaque perspectiva afora, em direção a uma câmera de vídeo. Os sons de um sino de vaca anunciam, em verdade, a presença humana. Uma dama de azul conversa com o homem com a câmera. Um "bom dia" se transforma na busca pelo seu nome próprio e dessa pequena investigação, um elogio se transforma em um problema: "gostei muito da sua roupa" é elevada ao nível de um leve embate sobre teoria do retrato. A retratada afirma que aquela não é uma "roupa para tirar retrato" e com isso coloca em xeque a falsa espontaneidade de qualquer objeto da retratística. Todo retrato é uma apresentação que passa por uma negociação entre o pêndulo que o causa, ou seja, aquele que mira o olhar e aquele que tem seu espírito roubado e apropriado pelo outro.
O ponto de interesse, talvez, deste curta-metragem está justamente na resposta oral e rasteira desta humilde senhora; as lentes do homem de São Paulo puderam capturá-la em seu caminhar diário e mesmo transformar este encontro em cinema institucionalizado em festivais, mas ao mesmo tempo ela foi capaz de verbalizar sua discordância. Não, não trajava uma roupa "limpa e passada", como aquelas que julgava serem as ideais para um retrato. Em dado momento, diz "roupa para tirar retrato não é assim não, mas se quer tirar, tire", ou seja: visto que você tem essa arma mais forte do que eu, a câmera de vídeo, faça o que bem entender dela.
Não satisfeita em explicitar o domínio da técnica em contraposição à sua própria vontade, a retratada inverte a hierarquia da retratística e dispara diversas perguntas àqueles que filmam: de onde eles são? São casados? Por fim, elogia a beleza de todos eles e deseja que sigam com Deus. A relação de poder aqui é percebida, escancarada e mesmo ironizada por esta inteligente senhora. Seus verbos proferidos nos deixam curiosos, visto que, diferente de algumas pinturas do Renascimento, não há aqui um espelho dentro do quadro que possa mostrar também a face daqueles que retratam.
Com que roupa iríamos ali ao lado, como ela diz, visitar uma amiga? Quais os limites entre diálogo e vigilância através do vídeo? Quais novos códigos de ética e estética perpassam a relação que o homem contemporâneo criou entre a câmera de vídeo, a alteridade cultural e a rápida disseminação possibilitada por um circuito de divulgação audiovisual? Num segundo momento, quais diferenças surgem quando se disponibiliza esse encontro num campo virtual público e Maria é, além de uma habitante de Exu, em Pernambuco, objeto de um texto como este?
Raphael Fonseca é crítico e historiador da arte. Doutorando em História e Crítica da Arte pela UERJ.Bacharel em História da Arte pela UERJ, com mestrado na mesma área pela UNICAMP. Professor de Artes Visuais no Colégio Pedro II (RJ). Curador de mostras e festivais de cinema como “Commedia all’italiana” (Caixa Cultural de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, 2011) e "Cinema pós-iugoslavo" (Caixa Cultural de São Paulo, 2012). Membro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP) e da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA).
Termina hoje o prazo para envio de trabalhos para o VIII Seminário Racismo e Educação & VII Seminário de Gênero, Raça e Etnia, que acontece de 08 a 10 de novembro na Universidade Federal de Uberlândia, campus Santa Mônica.
Este ano, o seminário vai girar em torno do tema “A mulher negra e indígena no século XXI”. De acordo com os organizadores, “Os trabalhos selecionados para a apresentação serão publicados nos anais do evento que conta com a certificação da Biblioteca Nacional através do ISSN 2176-1949”.
Os artigos podem ser enviados para o e-mail seminarioneab2012@yahoo.com.br. Informações sobre o formato para envio de trabalhos, a programação do evento e as inscrições (que serão abertas em agosto), clique aqui.
Foi aberta ontem (14) a exposição “Linha aparente”, na Sérgio Gonçalves Galeria, no Rio de Janeiro (próxima ao Centro Cultural do Banco do Brasil). A exposição, que fica aberta até o dia 18 de agosto, tem curadoria do colaborador da Contemporartes Raphael Fonseca e reúne obras de onze artistas selecionados por ele.
Nas palavras do curador, “Paisagem, desaparecimento, escrita e desenho caminham lado a lado dentro desta curadoria que, assim como qualquer exposição, cria um novo horizonte junto aos artistas selecionados”. Se você passar pelo Rio de Janeiro no período, não deixe de conferir!
Também estão abertas as inscrições para o I Simpósio de História e Arte, realizado pelo Núcleo de Artes Visuais - NAVIS (CNPq) juntamente com a Linha de Pesquisa Intersubjetividade e pluralidade, do Programa de Pós-Graduação em História – PGHIS/UFPR.Serão disponibilizadas apenas 80 vagas, por isso se apresse. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas pelo e-mail simposio.historiaearte@gmail.com.
O Simpósio tem como tema “História e arte: encontros disciplinares” e será realizado entre 29 e 31 de agosto, na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Já estão definidas a participação dos seguintes palestras, especialistas em Arte, História e Visualidade: : profa. Dra. Annateresa Fabris (USP), profa. Dra. Cristina Freire (USP), prof. Dr. Francisco Alambert (USP), profa. Dra. Glória Ferreira (UFRJ), profa. Dra. Lilia Moritz Schwarcz (USP), profa. Dra. Marize Malta (UFRJ), prof. Dr. Paulo Knauss (UFF) e prof. Dr. Tadeu Chiarelli (USP).
O procedimento completo para inscrição e a programação do evento você confere aqui.
Também em Curitiba, aconteceu no dia 01° de julho o lançamento do documentário “João Baptista da Luz dos Pinhais”, do cineasta Estevan Silveira. O filme registra um pouco da história e do trabalho do também cineasta paranaense João Batista Groff, responsável por alguns dos principais registros da história de Curitiba e do Brasil nas primeiras décadas do século XX. Mais informações sobre a exibição do filme podem ser obtidas diretamente com o diretor Estevan Silveira, pelo telefone (41) 3224-2821.
Uma última dica para finalizar o Drops de hoje: a 9a. edição da Darandina Revisteletrônica, dedicada à literatura portuguesa, já pode ser consultada no site http://www.ufjf.br/darandina/.
Mônica Bento é jornalista, formada pela Universidade Federal de Viçosa (MG). Em seu trabalho de conclusão de curso estudou a função social das salas de cinema e desenvolveu a reportagem multimídia CineMemória. Pertence a equipe de Comunicação da Contemporartes-Revista de Difusão Cultural.