Em defesa da Literatura

    


O Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (COLUNI) possui um rigoroso processo de seleção (uma espécie de vestibulinho) para selecionar os alunos que nele desejam cursar o Ensino Médio. Nesse ano de 2012, a obra literária indicada para esse vestibulinho foi Violetas e Pavões (2009) do premiado escritor Dalton Trevisan[1].
Tendo como principal protagonista a obra de Dalton Trevisan, pais de alunos que concorrem às vagas de tal colégio, cursinhos preparatórios e, pasmem, até instituições religiosas repudiaram a escolha dessa obra literária. Conforme uma matéria publicada no jornal Estado de Minas no dia 05 de setembro, os moradores de Viçosa ficaram chocados com a linguagem picante, diálogos incomuns e eróticos, universo de drogas, crime e sexo.
O pior disso tudo é que o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da Universidade Federal de Viçosa (UFV) lançou uma nota no site de tal instituição avisando que no dia 03 de setembro houve uma reunião que deliberou pela retirada de Violetas e Pavões do edital do vestibulinho. Enquanto aqueles que repudiavam o livro viam seus desejos satisfeitos através de uma atitude provinciana (palavras utilizadas em uma matéria publicada no dia 05 de setembro no site da VEJA, através da qual a editora Record lamenta a atitude da UFV) e marcada pela censura, outras pessoas, como os próprios alunos do COLUNI, questionavam essa ação – uma matéria do jornal Estado de Minas publicada no dia 06 de setembro alunos e professores do COLUNI protestaram contra a medida autoritária da universidade.
Em meio a essa confusão que vejo pela janela de minha casa, eu, que li a obra, me questiono, primeiramente acerca do conteúdo e do julgamento que a “sociedade” viçosense fez acerca dos contos que compõem Violetas e Pavões. É inegável que os contos de Dalton Trevisan retratam temáticas relacionadas a drogas, tráfico, sexo, estupro, autodescobrimento, enfim, assuntos que são nossos contemporâneos. Basta ligar a TV a qualquer hora do dia, assistir a telenovelas, acessar qualquer site de notícias, ler qualquer jornal (enfim, ter acesso aos meios de comunicação) para deparar-se com alguma matéria que contemple tais temas.
Eu que moro nessa cidade “provinciana”, após ler os julgamentos acerca de tal obra literária, até me perguntei se o mundo no qual a “sociedade” de Viçosa vive é diferente do meu, apesar de desfrutamos do mesmo espaço físico. Questiono-me, será que os jovens de 13 e 14 anos que querem adentrar em tal colégio não estão preparados para ler contos que contenham matérias contemporâneas? Sendo assim, eles estão devidamente preparados para viver no mundo contemporâneo?
Por fim e não menos grave, a atitude da UFV é totalmente autoritária, hipócrita e, porque não, paternalista, uma vez que somente durante regimes ditatoriais a Censura a uma obra era exigida e levada a cabo. Parece que uma Universidade Federal como essa desconhece a importância da literatura para a formação crítica dos cidadãos. O que Dalton Trevisan almeja através da escritura de seus contos, certamente, não é aliciar jovens para o tráfico, incitar ao sexo, ao estupro, à violência. O autor somente retrata aquilo com o qual todos nós deparamo-nos diariamente. Sendo assim, a literatura, é uma das maneiras de levar o leitor a refletir sobre os acontecimentos que assolam o seu mundo e de refletir acerca das maneiras de solucionar tantos problemas que se dão não só no Brasil, como em todo o mundo.

Sites Consultados:
Jornal Estado de Minas:
VEJA:


Rodrigo C. M. Machado é mestrando em Letras, com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa. Dedica-se ao estudo da poesia portuguesa contemporânea, com destaque para a lírica de Sophia de Mello Breyner Andresen.




[1] Autor que recebeu nesse ano de 2012 o Prêmio Camões, maior prêmio literário em Língua Portuguesa.
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São Paulo em cena IV


Verbos conjugados
Leandro Daniel

Dar e receber
em troca
ou pela obra
da gratidão
Viver e saber
que o tempo
é ida, v
de vinda, vida
Pensar e agir
como crer
ser livre
em si
De dentro
pro centro

Chorar e secar
as lágrimas de dor
por que o indizível
está à espera
da palavra

De dentro vejo a cidade

Dentro
Arnaldo Antunes

de
dentro
entro
centro
sem
centro
entro
dentro
de
dentro
entro
centro
sem
centro
dentro



A cidade e eu
Fotos e textos:Katia Peixoto

A cidade lá fora e eu aqui dentro entro, sinto o cheiro de carros, ruidos de trânsito mas resguardada e segura posso enfim tomar o silêncio de dentro

A porta é minha única fronteira entre o dentro e o fora, afora
Pelas frestas posso ver a luz, ela não me queima, resguardada e segura dentro estou
dentro, fora... do outro lado do Espaço Itaú nasce outra faculdade... 
O sol está lá, posso vê-lo por entre as cortinas, lá estão os prédios, a cidade está lá fora... eu cá dentro
Luz natural, luz da TV que iluninam o dentro 
Posso dentro descansar daquilo que não posso fora ter
 Cá fora estou eu,  posso sentir a cidade, ela não me assusta, sou parte dela e ela parte de mim.... Que venham os ruídos, os odores... cá estou eu dentro da cidade e fora de dentro


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.
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O COTIDIANO SURREAL DE FLAVIO DAMM



“Fotografar é prender o fôlego quando todas as nossas faculdades se conjugam diante da realidade fugidia; é quando a captura da imagem constitui uma grande alegria física e intelectual.”  (Henri Cartier Bresson)


É necessário extrair o instante expressivo e decisivo do fluxo temporal; desse modo, romper com a cadeia do fluxo e, ao mesmo tempo, destacar a essência do real: os elementos em jogo estão em equilíbrio. A fotografia deve apoderar-se desse instante. Essa fábula do instante decisivo, de Bresson, tem relação com aquela de Lessing a respeito do instante fecundo: “Por suas composições que supõem a simultaneidade, a pintura não pode explorar senão um único instante da ação e deve, por conseqüência, escolher o mais fecundo, aquele que melhor fará compreender o instante que precede e o que segue.


Para o fotógrafo, é preciso, primeiramente, fazer coincidir seu fluxo pessoal com o fluxo das coisas: “Cada fotografia é tirada galopando no mesmo ritmo que o acontecimento”; essa correspondência temporal é a condição necessária de toda boa foto. “O acontecimento central do trabalho fotográfico é a fração de segundo durante a qual se produz a colisão entre, de um lado, o fluxo da realidade e, de outro, a experiência do fotógrafo, observa Beceyro. O fotógrafo deve estar sintonizado com o real e, portanto, buscar “a coincidência entre sua experiência e o real”.
                              

Para isso, ele deverá exercitar-se durante anos para saber fotografar no instante exato em que deverá fotografar. Porque se ele não estiver disponível e em ação, será tarde demais: nunca mais a foto será feita. Tal é o desafio existencial trágico dessa fábula em que a morte e o tempo desempenham aqui os papéis tradicionais que têm no Ocidente moderno: “Depois será tarde demais, não se poderá retomar o acontecimento às avessas. (...) Para nós, o que desaparece o faz para sempre; daí nossa angústia e também a originalidade essencial de nossa profissão”, declara Bresson.


Para Cartier Bresson, todo fotógrafo deve seguir quatro exigências:



 Não metralhar ao acaso pensando que Deus reconhecerá os seus. É necessário escolher com respeito e humanismo. “Entretanto, evitar-se-á metralhar”, senão o conjunto do trabalho será menos claro. Há um homem e não uma máquina atrás de cada foto;



 Trabalhar a cópia por contato do filme, mas nunca retocar nem reenquadrar, senão se trai esse instante decisivo e essa estrutura significativa;



 Nunca encenar, senão não se trata mais de fotografia, mas de teatro (fotografado): “O arranjo artificial é o que se deve temer acima de tudo”, o fotógrafo não deve intervir, deve tornar-se invisível, como um anjo, sem corpo, como o geômetra de Descartes, “fazer-se esquecer a si e à máquina fotográfica, que é sempre visível demais”;



 Não utilizar a cor, porque, por um lado, ainda não é dominada tecnicamente; por outro, como nos aproxima da natureza, ela nos afasta da estrutura: “A emoção, encontro-a no preto e branco: ele transpõe, é uma abstração, não é o ‘normal’. (...) a cor, para mim, é o campo especifico da pintura.



“Quando olho um bloco de mármore, vejo a escultura dentro: tudo o que tenho que fazer é retirar as aparas...”


Foi o que disse, há cinco séculos, o escultor, pintor de afrescos da Capela Sistina, arquiteto e poeta italiano Michelangelo Buonarroti quando lhe perguntaram como produzia tão belas obras de arte. Quando o profissional está diante de um fato que se desenrola imprevisível, “afia a navalha nos olhos”, como recomenda o poeta João Cabral de Melo Neto, e “retira as aparas” – como dizia o gênio Michelangelo – para chegar à foto que está surgindo, preocupado em ver para mostrar para quem não viu...



O fotógrafo Flavio Damm relata que," menino ainda, nos meus 11 anos, vi no jornal que meu pai lia as primeiras fotos da Segunda Guerra e, ao lhe perguntar quem fazia aquelas fotos dramáticas da invasão da Polônia, me explicou que eram soldados que iam para o campo de batalha para ver a guerra por quem não estava lá... pensei então: “quero ser isto, o de ver para mostrar para quem não viu Magnum Photos”. Aos 14 anos, fiz a minha primeira foto."


Dorothea Lange dizia que “no preto e branco está o recurso perfeito para mostrar a cara da miséria americana dos anos da recessão”.  David Douglas Duncan obedeceu a exigência de Picasso de lhe fotografar exclusivamente em preto e branco. Da praia de Omaha, em 1944 Robert Capa deixou para a história a mais dramática pagina da Segunda Guerra, o desembarque na Normandia. Mestre da fotografia em preto e branco, Henri Cartier Bresson sempre se negou a fotografar em cores.


E continua Damm: "lembro, com encanto especial, os meus preferidos na arte do preto e branco: o húngaro André Kertész e o norte americano Eugene Smith. No prefacio de seu livro Spanish Village, magnífico ensaio sobre Deleitosa, uma aldeia espanhola da Extremadura, essa afirmação de Smith de que “cor é excesso. A verdade da aldeia é mesmo em preto e branco”.


"Com o advento das novas tecnologias, a fotografia foi democratizada e dela, em preto e branco, mais se fala, mais se faz, mais se mostra. E a arte fotográfica, vista, publicada, exposta e comprada em galerias por colecionadores ganhou um espaço até então desconhecido. Fotografar em preto e branco, para mim, é juntar o prazer ao desafio: o “momento decisivo” na tentativa da composição perfeita."

A fotografia de Damm‚ é sempre em preto-e-branco, “uma boa foto não precisa de cor”‚ garante, e é voltada para o que chama de “cotidiano surreal”. Assim ele extrai da aparentemente banal rotina das ruas‚ situações tão únicas e surpreendentes que parecem ter sido montadas por alguma força superior‚ apenas para seu olhar privilegiado.

 
Flavio Damm nasceu em 1928 em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Aos 16 anos lecionava latim para os colegas de sua classe e, com o dinheiro que recebia, comprava filmes e material para o laboratório. Assim, publicou sua primeira foto, em 1946, na Revista do Globo, onde, por dois anos, foi o titular do Departamento Fotografico. Em 1948 fez as primeiras – e únicas – fotos do ex-ditador Getulio Vargas em seu autoexilio na fronteira do sul. Vargas não se deixara retratar durante os três anos posteriores à sua queda e, publicada a reportagem intitulada A Longa Viagem de Volta, foi lançada sua candidatura as eleições de 1950, na qual foi eleito. Suas fotos correram o mundo, publicadas pelos mais importantes jornais e revistas, incluindo o Pravda de Moscou. Durante dez anos Flavio Damm foi membro da equipe da revista O Cruzeiro, e o único fotógrafo brasileiro presente à Coroação da Rainha da Inglaterra, em 1953.

Foi também correspondente nos EUA (1957-58). Profissionalmente fez 74 viagens ao exterior, expôs na Europa, Estados Unidos e paises da América do Sul. Tem arquivados 60.000 negativos em preto e branco, só opera com luz ambiente e em formato 35 mm. Não usa equipamento digital e nunca fotografou em cores. Ilustrou 25 livros, com textos de Jorge Amado e Gilberto Freire sobre a Bahia. Atualmente trabalha no projeto do livro Vejo Lisboa, resultado de sete meses fotografando a capital portuguesa. Foi escolhido pelo curador do Museu de Arte de São Paulo, Eder Chiodetto, como um dos oito fotógrafos “Bressonianos” do Brasil. Fotografa diariamente e é colunista da revista Photo Magazine, onde há oito anos escreve sobre fotojornalismo. Faz palestras regularmente em universidades, espaços culturais e favelas.

Serviço:

Flavio Damm – Passageiro do Preto & Branco
Fotografias 1946 – 2012
Caixa Cultural Curitiba
Rua: Conselheiro Laurindo, 280/Centro
Fone: (41) 2118-5144
Curitiba – Pr.
21 de agosto a 21 de outubro de 2012


Referência:

Soulages, François – Estética da Fotografia, Perda e permanência. Editora Senac: S.P., 2010.






Izabel Liviski, é Fotógrafa e Professora de Sociologia, disciplina em que é Doutoranda pela UFPR. Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e da Cultura, e Linguagens Visuais. Escreve a coluna INCONTROS quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.


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Uma versão White Power para a canção Johnny B. Goode



Johnny B. Goode é sem dúvida um clássico do Rock n Roll. A canção composta por Chuck Berry, na década de 1950, que fala de um rapaz do campo e sua habilidade excepcional como guitarrista, ganhou ao longo das décadas inúmeras regravações honoríficas, conhecidas como covers, executadas por conjuntos musicais dos mais variados estilos.  

 Outros conjuntos se apoiaram no sucesso da canção para publicizar versões que modificaram o sentido original da música e serviram para difusão de ideais políticos. É o caso de Johnny Joined the Klan (Johnny ingressou na Klan), versão de autoria do conjunto The Klansmen, nome em referência aos membros da organização supremacista racial norte americana Ku Klux Klan.

 Fundado por Ian Stuart, que também foi mentor da banda skinhead inglesa Skrewdriver e, supostamente, por membros da também inglesa Demented Are Go, no final da década de 1980, este conjunto tocava canções no estilo Rockabilly abordando temas como cultura Redneck sulista norte americana, a cultura Biker (motociclistas) ou a guerra civil americana, com um forte discurso supremacista branco. O objetivo era conquistar o público norte americano que comungava com estes ideais.

 A canção Johnny Joined the Klan foi lançada em 1989, pela gravadora Klan Records, em um EP homônimo. Ao invés de tratar do excepcional guitarrista descrito por Chuck Berry, a versão trata de um jovem branco que teve seus bens roubados e por conta disso decidiu ingressar na “Klan”. 

Capa do EP Johnny Joined the Klan. Klan Records, 1989.

 A letra da canção possui alterações significativas em relação à letra original. Entre elas, destaca-se o refrão e uma frase que, na versão original, "previa" o nome de Johnny exibido em um letreiro luminoso, enquanto que na versão da Klansmen a luz emanaria de uma cruz em chamas, um dos símbolos mais conhecidos da Ku Klux Klan.

 Johnny Joined the Klan, não é um cover, nem uma paródia. Trata-se de uma ferramenta de difusão de ideais supremacistas raciais. O fato de Chuck Berry ser afrodescendente e, provavelmente, o Johnny da versão original também, não provoca nenhum constrangimento, pois a versão da Klansmen pretendeu, como já dito no início texto, ganhar visibilidade com a polêmica.

 Abaixo, para fins de comparação, deixo as letras das canções e um link para a versão da Klansmen. As imagesn do vídeo são do filme " O nascimento de uma nação" (Birth of a Nation, 1915) de David W. Griffith.



Johnny Joined The Klan (The Klansmen)
 Deep down in Louisiana close the New Orleans,
Way back up in the woods among the evergreens,
There stood a log cabin made of earth and wood,
Where lived a country boy named Johnny B Good,
Didn't like muggers taking over his land,
Johnny got clever and joined the Ku Klux Klan.
Go, go Johnny go go,
Go Johnny go go,
Go Johnny go go,
Go Johnny go go,
Well Johnny joined the Klan.
He used to carry his shotgun in a gunny sack,
Or sit beneath the tree by the railroad track,
Watching for the muggers who had robbed the girls,
Johnny put up the rifle and his flag unfurled,
Muggers seen the gun held in Johnny's hand,
Johnny put his life into another land.
His mother told him one day you will be a man,
And you will be the leader of a big old Klan,
Many people coming from miles around,
And see your burning crosses when the sun goes down,
Maybe one day your name will be in light,
Sayin' Johnny join the Ku Klux Klan tonight.


Johnny B Goode (Chuck Berry)

Deep down Louisiana close to New Orleans
Way back up in the woods among the evergreens
There stood a log cabin made of earth and wood
Where lived a country boy named Johnny B. Goode
Who never ever learned to read or write so well
But he could play the guitar just like a ringing a bell
Go go
Go Johnny go go
Go Johnny go go
Go Johnny go go
Go Johnny go go
Johnny B. Goode
He used to carry his guitar in a gunny sack
Go sit beneath the tree by the railroad track
Oh, the engineers would see him sitting in the shade
Strumming with the rhythm that the drivers made
People passing by they would stop and say
Oh my that little country boy could play
His mother told him "Someday you will be a man,
And you will be the leader of a big old band.
Many people coming from miles around
To hear you play your music when the sun go down
Maybe someday your name will be in lights
Saying Johnny B. Goode tonight.





Alexandre de Almeida é graduado em Historia e mestre em Antropologia, ambos pela PUCSP. Sua pesquisa tem como foco os grupos juvenis urbanos e seus posicionamentos políticos/partidários. Também realiza pesquisa na área de Arquivologia, com ênfase em documentos audiovisuais e sonoros. Foi radialista na Patrulha FM, em Santo André (SP), especializada no gênero Rock, no final da década de 1990, onde além de apresentar a programação comercial noturna, produziu e apresentou o programa “Expresso da Meia Noite”. Trabalha, há mais de dez anos, com patrimônio histórico arquivístico, atuando em instituições como o Arquivo Público do Estado de São Paulo e Centro de Memória Bunge. Atualmente, coordena a área de Arquivos Sonoros e Audiovisuais do Acervo Presidente FHC e trabalha como professor na rede pública de ensino de São Paulo.
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Agir

 


“Eu sou gay” – sujeito, verbo e orientação sexual em três palavras. Se hoje podemos iniciar um texto com esta frase, o livro “Eu, Pierre Seel, deportado homossexual” [Rio de Janeiro, Cassará, 2012] nos traz um relato de um momento adverso à aparente liberdade que a contemporaneidade proporciona. Publicado na França em 1994 e escrito com a ajuda do ativista Jean Le Bitoux, o livro se trata da autobiografia do homem que dá título à obra e tem como enfoque primeiro a sua relação com a homossexualidade e a repercussão social no período da Segunda Guerra Mundial.

Como a suástica rosa da capa da publicação mostra, esta escrita gira em torno da condenação de homossexuais aos campos de concentração nazistas. Pierre Seel possuía em sua ficha policial na cidade francesa de Mulhouse, na Alsácia, uma ocorrência acerca da perda de um relógio em um local onde era sabido que homossexuais flertavam. Durante a invasão alemã, portanto, ele é preso e enviado a um campo de concentração em SchirmeckSeus relatos, majoritariamente, descrevem os acontecimentos que sua memória ainda guardava de modo vívido com cerca de sessenta anos de espaçamento. O cotidiano de um campo de concentração, a humilhação, a sensação de ser empurrado e obedecer a ordens de modo involuntário são elementos centrais à sua fala, sempre tomados por questionamentos existenciais. O Seel jovem é sobreposto e se funde ao idoso que amargamente se vê a recorrer a uma nostalgia de chumbo.

Finito o regime fascista, retornando ao solo francês e na tentativa de erguer uma nova biografia que apagasse seus traumas da guerra, Seel constrói uma família. Casa-se com uma mulher, tem filhos e vive, como diz o título de seu quarto capítulo, “os anos de vergonha”. Qualquer esforço para ocultar sua homossexualidade era pouco e, segundo sua escrita, a depressão e inércia atingem seu corpo. Após se enxergar sem os membros da família ao seu redor, constantemente embriagado e rodeado de fantasmas do nazismo, ele esbarra, de modo torto, com um debate acerca da relação entre homossexualidade e nazismo em uma livraria. A audição de uma narrativa da História que perpassava a sua própria biografia acende uma luz no autor e alimenta a sua vontade da fala na primeira pessoa do singular. Entre as décadas de 80 e 90, ele se coloca a escrever e proferir palestras sobre o que viu e velou nos campos de concentração e na inserção dos homossexuais na sociedade francesa durante o século XX.

Ao finalizar a leitura deste livro, veio à mente uma pintura de Keith Haring, artista norte-americano de produção extensa durante o final do século XX. Três pictogramas típicos da produção de Haring se movimentam e ocupam a faixa central da imagem. Um tampa o que seriam seus olhos, ao passo que ao centro as mãos tampam orelhas e, por fim, a outra figura cobre a boca. Três frases estão presentes também. “Ignorância = medo”, “Silêncio = morte” e “Lute contra a Aids. Aja”. Um triângulo rosa ganha notoriedade aqui e os três homens representados tem também um X da mesma cor sobre seu tronco.

Penso em como a fala de Seel a partir dos anos 80, a década assombrada pela AIDS, pode ter sido importante. Mais do que isso, é interessante ler seu relato em um momento em que a homofobia é lançada nos holofotes dos debates públicos – se não pelas grandes empresas da comunicação (da televisão, precisamente), ao menos por mídias como a Internet e as redes sociais. Ler suas palavras é constatar que muito foi feito, mas que muito mais há por se fazer. Apenas como exemplo, recentemente o governo russo aprovou uma lei que proíbe manifestações públicas LGBT pelos próximos cem anos. Quão absurda uma lei pode ser? Como não aproximar este documento de uma postura fascista tal qual descrita pelo autor?

Vejamos, ouçamos e falemos. Levando Pierre Seel como uma espécie de mártir dos direitos dos homossexuais, ergamos nossas bandeiras em seus diversos tamanhos (longas como as que cortam a Avenida Paulista uma vez por ano ou pequenas como um ímã de geladeira) e lutemos em conjunto para que os triângulos rosa não voltem à tona. Tenhamos o verbo de Keith Haring como direção: agir.
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SONETEANDO II



SONETEANDO II.

INSPIRADO NO CURSO DE ORATÓRIA FEITO ESSE ANO
COM PROF. LUCAS, VALDETE E GUILHERME.



Abraços literários e até +.



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Drops: cinema, literatura, fotografia, arte e Direitos Humanos





Até o dia 16 de setembro está aberta a mostra Documental Imaginário – Fotografia Contemporânea Brasileira, no espaço cultural Oi Futuro, no Rio de Janeiro. A exposição, que tem curadoria do vencedor do Prêmio Jabuti Eder Chiodetto, traz uma série de “fotografias que transitam entre a ficção e a realidade”, que mostram o mundo e que criam um mundo paralelo. Fazem parte da mostra trabalhos de João Castilho, Breno Rotatori, Guy Veloso, Gustavo Pellizzon, Fábio Messias, Pedro David, Pedro Motta, Fernanda Rappa e do coletivo Cia de Foto. 
A exposição pode ser visitada até o próximo domingo, de terça-feira a domingo, das 11h às 20h. A entrada é gratuita.  


Entre 19 e 21 de setembro, será realizado na Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, o II Colóquio Internacional de História da Arte e da Cultura: O artista e a sociedade. A programação inclui conferências e mesas-redondas com professores brasileiros e estrangeiros sobre a relação dos artistas com as instituições de Arte e também com os poder político, a religião e o mercado, entre outros temas. Clique aqui para acessar a programação completa.


Simone Pedersen (colunista da ContemporARTES) prepara-as para lançar “O Curumim Poeta”, com ilustrações de Luiz Gustavo PAFFARO. Na história, “Apuã acreditava que se cada índio da tribo tivesse uma estrela todos veriam a vida com poesia.
Mas, quando as estrelas somem do céu e o mundo chora, ele precisa decidir se continuará com seu plano...”. O livro estará disponível em breve, pela editora Duna Dueto



Ainda em setembro, do dia 25 ao 27, será realizado o IV Seminário de Sociologia e Política da Universidade Federal do Paraná – UFPR, com o tema “Pluralidade e garantia dos Direitos Humanos no século XXI”.  Pesquisadores e autoridades do assunto vão falar sobre a situação dos Direitos Humanos, com foco nos países da América Latina. Mais informações, aqui


Os fãs do cinema de Martin Scorcese vão poder aprender ainda mais sobre o diretor no curso “Martin Scorcese – da Nova Hollywood à Atual Hollywood”. As aulas serão ministradas pelos críticos de cinema Francis Vogner dos Reis e Paulo Santos Lima, nas terças e quintas-feiras entre 18 de setembro e 11 de outubro, das 19h30 às 22h30, no Espaço Unibanco de Cinema (Anexo Rua Augusta, 1470, Cerqueira César), em São Paulo. As vagas são limitadas. Inscrições e informações pelo telefone  (11) 3266 – 5115 ou pelo e-mail cursos@cinespaco.com.br



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