NOVA COLUNA: Apresentação e Breviário
Vieram-me, durante semanas, milhares de começos moldados em apatia. Tardei a decidir que começaria por onde se é esperado que comece, pelo Título – vencido por tentativa e erro. São dois os motivos dessa franco-vasão e, sem muita certeza da veracidade, vou-me embrenhando na tentativa de uma explicação confortável.
Primeiro me alcançou o nome sem justificativa, havia a necessidade
e o feito se me criou no repente, sem muita introdução ou por-vir,
me atou como as coisas do sem-razão num solavanco. Estava posto,
seria QUICONQUE, mas que motivos dar ao leitor? Que lacuna me restava
há ceder detalhamento? Bem, sigamos ao segundo ponto.
- Original -
À quiconque a perdu ce qui ne se retrouve
Jamais, jamais! à ceux qui s'abreuvent de pleurs
Et tètent la Douleur comme une bonne louve!
Aux maigres orphelins séchant comme des fleurs!
Jamais, jamais! à ceux qui s'abreuvent de pleurs
Et tètent la Douleur comme une bonne louve!
Aux maigres orphelins séchant comme des fleurs!
- Tradução I -
Penso em quem perdeu o que não se recupera
Jamais, jamais! Em quem mata a sede chorando
E mama na Dor como numa boa fera!
Nos órfãos famintos, como flores murchando!
Jamais, jamais! Em quem mata a sede chorando
E mama na Dor como numa boa fera!
Nos órfãos famintos, como flores murchando!
- Tradução II -
Naqueles que
perderam o que não se pode reencontrar
Jamais, jamais! naqueles que bebem das lágrimas
E mamam da Dor como uma boa loba!
Nos magros órfãos que secam como uma flor!
Jamais, jamais! naqueles que bebem das lágrimas
E mamam da Dor como uma boa loba!
Nos magros órfãos que secam como uma flor!
- Tradução III -
Em alguém que perdeu o que o tempo não traz
Nunca mais, nunca mais! nos que mamam da Dor
E das lágrimas bebem qual loba voraz!
Nos órfãos que definham mais do que uma flor!
Nunca mais, nunca mais! nos que mamam da Dor
E das lágrimas bebem qual loba voraz!
Nos órfãos que definham mais do que uma flor!
- Tradução IV -
Em quantos a Fortuna, e para sempre, rouba
Seu bem melhor! Nos que se alimentam de dor,
Onde soem mamar, como de boa loba,
Nos órfãos a mirrar mais secos de que a flor!
Seu bem melhor! Nos que se alimentam de dor,
Onde soem mamar, como de boa loba,
Nos órfãos a mirrar mais secos de que a flor!
O primeiro verso da quinta estrofe na segunda parte do poema Le
Cygne / O Cisne em As Flores do Mal de Charles Baudelaire. O poema
dedicado à Victor Hugo, trás uma variação na linha a que me
refiro. Na Tradução I a palavra é “quem”, na posterior é
“naqueles” e nas seguintes “alguém” e
“quantos”, nessa
confluência de escolhas para re-significar um vocábulo tornamos ao
Traduttore, traditore. Nenhuma das variantes pode ser considerada
falha na substituição. A verdade é que não há um equivalente
aproximativo em português que caiba em justa forma. Sem a
preocupação métrica, rítmica ou cadencial, poderíamos arriscar
um limite, algo como “Quem-quer-que tenha perdido o que não pode
ser encontrado”.
Atingimos nesse verso a razão do segundo ponto, o marco anterior ao
nome, a NECESSIDADE. Foi a partir dela que tudo se levantou.
Perguntas como: O que é a Arte? O que é a Literatura? Despertam um
incomodo de perda e busca pelo que não pode ser encontrado. A
questão continua e continuará sempre em aberto, se atentarmos para
o quanto fugidio esses conceitos são, tendo em vista sua mudança
condicionada pelo contexto histórico-cultural de cada época.
Afinal, o que é a verdade? Talvez não o Encontro, mas a Busca.
A Coluna Quiconque buscará responder algumas dessas questões,
prometendo Buscar e garantindo o desencontro. A Vocês, Leitores de
toda ordem, fica o nosso alento e a vontade no regresso.
BREVIÁRIO
- PRÓXIMA COLUNA: 05 de Maio
- ASSUNTO: Fronteira - Poema e PoesiaLucca Tartaglia é o tudo onde Deus é servido conceder-lhe que seja, em companhia dos anseios, desejos, moscas, mosquitos e outros elementos auxiliares do bom estado das casas e dos sonos. Gradua-se (ou Graduam-no) na Faculdade de Letras e Artes (mais uma que outra) da Universidade Federal de Viçosa. É colunista na ContemporARTES desde que se tem por isso. Desenvolve pesquisas na área de Literatura (Ocultismo em Fernando Pessoa – Ele Mesmo) e LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais).