terça-feira, 8 de setembro de 2009

Aparição com poesia

Coluna Trôpegos tropos







...palavras on the rocks, bacos e apolos, poetas e prosadores, anjos e demônios fazem encontros marcados para essa conversa de bar virtual. Sempre às 3a. feiras no ContemporARTES


A tecnologia hoje nos põe à mão um verdadeiro oceano de informações (textos, sons, imagens, etc) sem que a máquina humana tenha evoluido. Falar de poesia neste tempo de pouco tempo e de muitas palavras é meio como quem, no dito antigo, procurava chifres em cabeças de cavalos. Primeiramente ao ponto de poder processá-las e acatá-las com a perspicácia exigida pelos catedráticos para a leitura de um poema. Depois há o próprio impasse da poesia que não responde nunca com precisão às perguntas seculares que lhe são impostas pela lógica. Questões como "o que é poesia?", "qual a utilidade da poesia?", "a poesia tem que estar escrita para ser poesia? e etc, têm sido respondida de diferentes formas, por poetas, por leigos ou por estudiosos do assunto. Das definições que já ouvi sobre a utilidade de poesia e poetas, não foram poucas, uma das que mais me satisfez foi a do poeta e romancista francês Anatole France "Os poetas ajudam-nos a amar: só servem para isso." Se for isso mesmo, ser poeta é então uma ocupação grandiosa!
A poesia é a arte da palavra, dizem. E a palavra "poesia" é proferida quase sempre com uma conotação do belo e do sublime, usamo-a quando queremos dizer que ficamos tocados ou sensibilizados com o que vimos. Logo, poesia é uma palavra boa, é do bem.
Já a palavra "poeta" tem significados distintos, muito além do mero fazedor de versos, ela tanto pode ser usada para elogiar como para escarnecer alguém.
Apesar de ouvirmos com bastante frequência os termos "nova poesia" ou "novissíma poesia" – esta, irmã caçula da primeira - geralmente atribuido a grupos de vanguarda poética, sabemos que poesia é uma arte antiga, talvez tão antiga como a a dança ou a música, dum tempo em que o homem nem sabia escrever ainda. Em suma, a poesia deve ser mesmo uma coisa boa! Digo isto porque o homem soube preservá-la até hoje, muito embora. Ela é talvez a mais precária das artes, uma arte que não mantém-se por si mesma, depende dos poetas para sobreviver. Em suma, a poesia deve ser mesmo uma coisa boa! Digo isto porque o homem soube preservá-la até hoje, muito embora seja ela talvez, a mais precária dentre as artes, aquela que não mantém-se por si mesma e depende dos poetas para sobreviver.
Escrever poesia parece fácil mas não o é. Em tese, qualquer pessoa alfabetizada pode, com auxílio de um lápis e de um guardanapo, redigir algo e declará-lo como poema, daí em diante, contrariá-la ficaria difícil. Escrever poemas parece ser o caminho mais fácil de alguém tornar-se artista, talvez por isto é uma atividade tão tentadora.

O interessante é que o sonho de quase todo aquele que escreve poesia, ou que decide começar a fazê-lo, é de um dia poder viver do que escreve. Mas a realidade me soa contrária. Explico: após 30 anos de militância na poesia independente, para mim o que fica é que a poesia sobrevive aos poetas, estes morrem para mantê-la viva e renovada custeando a publicação de seus escritos. Assim, não seria um equívoco dos poetas imaginarem que poderiam adquirir a imortalidade ao conseguirem um modo de serem aceitos nas academias de letras ou de artes de seus respectivos paises, estados, ou municípios? Recentemente ouvi falar sobre as academias de letras de bairros e de distrito e, confesso, fiquei tentado a fundar uma academia de letras de quintal, de fundo de quintal... de fundo de quintal de quitinete, para ser mais preciso.
Quem sou eu? Tenho já muitas respostas sobre esta pergunta, que não me satistazem porque ainda me procuro. Quero crer que sou feito do mesmo barro com o que são feitos os poetas, pois desde cedo senti a influência da poesia em minhas leituras do mundo, soube que era rara, daí quis um dia ter palavras para descrevê-la. Tenho comigo que o processo do nascimento de um poema começa na leitura de nossos próprios espantos. Uma emoção que necessite de um processamento para se conseguir alcançar a elaboração de algo que era antes apenas uma percepção difusa, sensorial. Dessa forma, a tarefa de quem escreve o poema seria “traduzir” este sentimento ao mundo, revelá-lo ou dar-lhe entendimento comum. Mas ainda assim, o poema necessita de um leitor para completar-se. É no leitor que a poesia acontece, isto se ela conseguir tocá-lo. Pois, como qualquer arte, se a poesia não conseguir tocar, ela dança!
Altair de Oliveira, setembro de 2009.

Um poema:

EX-CRAVO, ESCREVO...

A musa quando me usa
Me ativa como cativo,
Um serviçal obtuso,
Um apaixonado de ofício.
Eu me dôo todo por ela,
A bela que me escraviza.
Eu me dôo todo à ela,
Tentando mostrar serviço.
Mas sei que sempre me esnoba
E me rouba a alma e o viço.
Me deixa pedindo esmolas,
Me imola num sacrifício...

Altair de Oliveira - In: "O Lento Alento".


Foto de Giba sobre trabalho de areia da escultora santista Cristiana Oliveira






Altair de Oliveira nasceu em Panorama-SP em 1961. Foi criado no noroeste paranaense (Xambrê) onde estudou, escreveu seus primeiros versos e trabalhou na lavoura até os 17 anos. Em seguida, mudou-se para o centro-oeste onde permaneceu por 10 anos (Dourados e Campo Grande, Cuiabá, Goiânia e Brasília). Fez suas primeiras publicações, (Fases, 1982 e Curtaversagem ou Vice-Versos, 1988) e freqüentou o curso de direito até o sétimo semestre. Em 1988 mudou-se para Curitiba-PR onde trabalha como técnico em telecomunicações. Morou em várias cidades do Brasil e também no exterior (Minas, RS, SC e SP - Alemanha, Venezuela, EUA, Nicarágua e Bolivia). Publicou seu terceiro livro de poemas O Embebedário Diverso em 1996, com uma segunda tiragem em 2003. Escreveu alguns contos esparsos e resenhas literárias, publicados em antologias e diversos jornais do país. Publicado no ano passado, O Lento Alento é o quarto livro de poemas do autor e reúne seus escritos de 1996 a 2008 e celebra 30 anos da militância do autor na poesia independente.

altairolivei@gmail.com

27 comentários:

Rosana disse...

Amei esta coluna. Conteúdo, formato e poética.
Que mais para um início de semana? Nada, só relê-la.

8 de setembro de 2009 às 14:27
Anônimo disse...

Bela coluna mesmo...

Poética até a medula!

Francisco

8 de setembro de 2009 às 14:52
Ivana Lima disse...

Querido Amigo....
Como tudo teu que li até hoje, gostei muito e estou muito feliz por ti, por teu trabalho e por estar em contato com estas maravilhas que tu escreves...............Bjs

8 de setembro de 2009 às 15:03
Anônimo disse...

Altair é um poeta "neológico" de talento artístico inato. Sua arte é apreciada não somente por amantes da boa poesia como também aos leigos e desavisados. Parabéns pelo sucesso!

Júnia Esteves
Pesquisadora e escritora

8 de setembro de 2009 às 17:13
Elizaingles disse...

OLA MEU AMIGO ALTAIR ADOREI A COLUNA.
SOU AMANTE DA POESIA, POR ISSO PARABÉMS
E MUITO SUCESSO A VOCE....
MUITO SUCESSO!
ABRAÇO FRATERNO

8 de setembro de 2009 às 17:52
Claudia disse...

Nada melhor que uma bela poesia pra alimentar a alma e começar bem a semana... Congratulações à musa que atormenta todos nós!

8 de setembro de 2009 às 19:29
Mario Auvim disse...

Altair... você é um poeta guerreiro de talento... não só tem talento com as palavras, mas também com articulações bem vistas na Bienal do Livro em Curitiba onde arrebanhou vários poetas... parabéns Ser Poético!!!


Mario Auvim

8 de setembro de 2009 às 20:43
Anônimo disse...

Nossa Altair Amei!!! Parabéns...Li uma frase q diz assim: Lutar pelo q nós queremos é algo inexplicável e conquistar aquilo q lutamos é brilhante...Vc é bem mais q um vencedor, mais q um exemplo e sua luz brilha intensa como o sol. Vc é um Poeta Estrela! Abraço!!!

Lenir Fogaça

8 de setembro de 2009 às 21:12
Anônimo disse...

Altair ficou lindo gosto da maneira como se expresa parabens querido amigo susseso senpre bjos Eudalia....

8 de setembro de 2009 às 22:02
Marilda Confortin disse...

Muito boa matéria, Altair. Expressou muito bem essa dificil "tarefa" de traduzir o intraduzível. Você é bom nisso. E está ficando bom também em recitar poemas... gostei de ver você lá no Bardo Tatára recitando "Estela" e aquela dos Heróis .
Parabéns pela coluna e um beijo
Marilda Confortin

8 de setembro de 2009 às 22:04
Unknown disse...

Altair,
com certeza a poesia é uma coisa boa!
Você sem dúvidas a mantem.
A sua poesia é eterna e você um verdadeiro mantenedor desta arte milenar que me ensina amar. Amar sem dor. Amar com calor.

Muito obrigada por existir.

Beijos e abraços da Crissssssssss

9 de setembro de 2009 às 01:56
lya toledo disse...

Altair, parabéns pela coluna tão bem escrita!
Você que transmite os sentimentos humanos através da poesia, brincando com as palavras de maneira tão gostosa, digo que aqui você acaba de completar sua arte!

lya toledo

9 de setembro de 2009 às 03:45
Rodrigo Machado disse...

Coluna muito boa. Adorei o poema.

9 de setembro de 2009 às 10:02
Anônimo disse...

deixando um abraço ao meu amigo e poeta Altair!

valeu, irmão!

Antoniel Campos

9 de setembro de 2009 às 15:54
Otilia disse...

Querido amigo Altair, adorei. Vc sabe que te desejo muitos sucessos. Segue na tua escrita abrindo teu coração, para que nós, teus eleitoras possamos cada vez mais ter boas leituras poéticas.
Beijos no teu coração!!!
Otilia

9 de setembro de 2009 às 23:15
Otilia disse...

Aonde se lê (eleitoras), lê-se Eleitores.
Obrigada.

9 de setembro de 2009 às 23:18
Eduardo B. Penteado disse...

Querido amigo poeta cada vez mais chiquérrimo!!!
Parabéns, está tudo lindo.
Uma dúvida me persegue:
você, tendo morado em Cuiabá, será que não conheceu o meu primo querido e artista plástico Carlos Cabral, de Aquidauana? Aí, o círculo iria se fechar... Hehehehe... Beijos!!!!

10 de setembro de 2009 às 07:27
Anônimo disse...

Altair,
Sim, tenho certeza que vc é feito do barro dos poetas, é feito do barro da sensibilidade e percepção do âmago das coisas, e sabe colocá-las em palavras com maestria. Só não concordo com uma frase deste belo texto que escreveu:"Escrever poemas parece ser o caminho mais fácil de alguém tornar-se artista, talvez por isto é uma atividade tão tentadora."
Sempre considerei muito difícil escrever poesia, e olhe que falo como artista que sabe se expressar pela escultura, e não sabe fazê-lo pela poesia...
Beijão, sucesso sempre!

Márcia Píramo

10 de setembro de 2009 às 11:02
Unknown disse...

Querido poeta Altair!

Adorei e copiei uma poesia que acho linda, Ex Cravo, escrevo... Fiquei sabendo também algumas coisas de sua vida que eu não conhecia!!

Parabéns!! Amei! Ivone

10 de setembro de 2009 às 21:34
Anônimo disse...

Poeta e amigo Altair,
Tu tens muito o que nos dizer, teu olhar traduz o simples e o faz grandioso... Adoro tuas poesias.
Parabéns pela coluna.
Arlete Bistocchi

11 de setembro de 2009 às 00:16
Anônimo disse...

Belo texto, Altair.Extrair das palavras sentimento, emoção, e vida é um dom sublime para poucos. E você o faz tão bem!
JOSÉ SARAMAGO:-"Quem de palavras tem experiência sabe que delas se deve esperar tudo."
Beijo .Dalvíssima (contar).

12 de setembro de 2009 às 12:25
Anônimo disse...

Que escultura bonita, parece uma deusa africana!

12 de setembro de 2009 às 14:58
Bruna Bavia disse...

Parabéns pela coluna, Poeta!
Adoro qdo escreve sobre poesia!

grande beijo, e sucessos mil pra vc...

12 de setembro de 2009 às 22:52
Unknown disse...

Ao poeta Altair: gosto muito de seus poemas... vc fala com a alma. Beijos.

13 de setembro de 2009 às 15:43
Anônimo disse...

Altair,

Em prosa e verso!!!

Parabéns!!!

Beijso ternurentos

Clau Assi

15 de setembro de 2009 às 09:19
Anônimo disse...

Belo poema com características medievais (servidão amorosa). Muito obrigada por fazer da palavra um presente para o leitor.

Beijos no coração:
Ana Rita.

26 de setembro de 2009 às 18:51
Anônimo disse...

Altair, parabens!!!!

Seu sucesso nao tem mais freio. Vejo que o universo das palavras esta feliz. Porque com voce elas sairao pelo espaco de nosso encantamento e deixarao astros que recitaremos, que leremos e lembraremos com felicidade a oportunidade de ter conhecido seu criador, voce!!!!!

Adorei a coluna e o assunto . Sinto-me tocada e feliz por isso.
Abracos.


Eloisa Galvao.

1 de outubro de 2009 às 20:05

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