quinta-feira, 15 de abril de 2010

Contribuição do leitor - O belo artístico na obra de Andy Warhol


Posto hoje uma contribuição de Douglas Negrisolli, mestrando em Educação, Artes e Culturas pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie que tem como tema a discussão da estética da obra de Andy Warhol e o que o artista reflete na sociedade e os produtos de consumo. Warhol, um dos mais significativos artistas pós-anos 60, tem algumas de suas obras em exposição na Pinacoteca de São Paulo (Andy Warhol, Mr. America, 20 de março a 23 de maio de 2010). Não deixem de checar in loco a parte da produção desse que é um dos grandes artistas do século XX.
Recomendo também a leitura de um artigo meu que dialoga com o de Douglas:
Um reencontro com Warhol em Buenos Aires

Deixo agora a palavra com Douglas.

Fernanda Lopes Torres é pesquisadora e historiadora da arte e escreve às quintas-feiras, semanalmente, na Contemporartes - Revista de Difusão Cultural.



                                             Turquoise Marilyn

O belo artístico na obra de Andy Warhol (Parte 1)
 Douglas Negrisolli
Universidade Mackenzie
                               
O conceito de beleza e cultura


           O belo nas artes plásticas determina a razão e a emoção dessa arte existir, sobretudo o sentimento de uma expressão diversa dentro de um grupo de pessoas, grupo este, que varia incessantemente o conceito de beleza através do tempo em que vivem.
    "A beleza não é universal" (CHOCHOFEL, p. 93) nas artes plásticas, elas representam um grupo dentro de um período histórico, e variam de acordo com diferenças regionais, por exemplo, o belo para um contemporâneo a Ticiano, pode não se qualificar tão belo para Mondrian, ou ao contrário. Visto que a arte tem sua capacidade de transformação e de transformar, a mais significativa é a comunicabilidade entre a obra, o artista e o público; para eles, a necessidade de uma ‘sensibilidade cultivada’ é importante para suprir as expectativas de uma pintura que agrade a todos.
    A beleza de uma pintura abstracionista, está no fato de não representar o objeto explícito, a forma secular de algo que se quer representar, a arte escultórica, dependendo do estilo e vanguarda, está muito ligada na forma e no volume. Todos estes tipos de expressão estão presentes em épocas diversas e ideologias que ora atraem as direções de uma classe dominante, ora fazem ruptura a elas, como o caso da Pop Arte estadunidense.
    O simbolismo nas artes visuais produz uma ligação com o presente em que o artista está produzindo; geralmente os símbolos são representações visuais simplificadas com o intuito de "não apenas ser visto e reconhecido, mas lembrado, e mesmo reproduzido" (DONDIS, 1997, p. 91). Os símbolos formam idéias ou fáceis motivações artísticas, sobretudo os artistas da Pop Arte utilizaram muito desse recurso estilístico para promover uma ruptura com o Expressionismo Abstrato. As representações simbólicas podem sair da natureza e serem reduzidos e simplificados ao máximo, também podem ser motivados de outros elementos como os media da Pop. Um ícone desse simbolismo da arte Pop foi Robert Indiana, de origem popular, ele intencionalmente produziu sequências de números como insígnias em todos os seus quadros e esculturas.
    A motivação artística e as representações na perspectiva do pensador Roger Chartier, "são formas simbólicas diferenciadas de interpretação que os diversos grupos sociais elaboram de si mesmos" (CHARTIER, 1990). As diferentes leituras são provenientes de uma construção histórico-social com práticas concretas da sociedade em que se observa, ainda mais no contexto do artista que está inserido nessa sociedade ou a margem dela.
    “O objeto artístico possui o conteúdo indissociável da forma” (CHOCHOFEL, p. 94), ou seja, o objeto é intrínseco a materialidade ou falta dela, relacionada com o sujeito que a produz, observado pela critica da comunidade que observa esta arte. Certas formas de arte, apesar de não serem universais, tornam-se objetos de conceitos únicos, principalmente motivados pelas mudanças tecnológicas, a Pop Arte criou uma intensa identidade visual com o mundo capitalista no momento em que torna exatamente esses produtos de consumo e do cinema como objetos de arte.

O impulso Pop


    A Pop Arte foi um movimento não organizado, que teve seu impulso no início com artistas ingleses que, como Richard Hamilton, na sua colagem Just what is it that makes today's homes so different, so appealing? exposta na Inglaterra, na exposição This is Tomorrow(1956), na famosa WhiteChapel Art Gallery, que foi uma exposição única, uniu arquitetos e artistas plásticos a fim de criarem espaços que refletissem o futuro do urbanismo e arte. Foi uma exposição bastante criticada pelo público que não estava preparada pra idéias tão ousadas e novas, como a colagem de Hamilton contrapondo-se a velha arte.
    Um importante artista para o Pop britânico foi Jasper Johns, que desde 1954, preocupava-se em demonstrar o vazio da arte e remontar a idéia de que o novo seria na arte. Ele propõe novas nuances nos objetos, muitas vezes trabalhados com detalhes; a interpretação de suas obras reflete a multiplicidade de coisas simples tornando-as únicas. Porém Johns não se considerava um artista Pop, mas teve um importante papel por abrir caminho à ela.
    Alguns elementos importantes da arte como os happenings se tornam vitais nas "tentativas estéticas de fugir do isolamento auto-escolhido pelas avant-guard” (DEMPSEY, 2003, p. 118), ou seja, de contrapor-se aos dogmas artísticos burgueses, que até o momento predominavam o bom gosto de acordo com as pinceladas do Expressionismo Abstrato, que encontrava muita força nos EUA, sobretudo, na personificação de Jackson Pollock (1912-56). Os happenings são expressões artísticas que se utilizam de construções frequentemente em conjunto com o público, para criar estímulos visuais, muito influenciados pela fotografia e música.
    Os readymades também foram utilizados pelos artistas da Pop Arte, originário do Dadaísmo, é um método criado por Marcel Duchamp, onde os objetos “não eram selecionados pelo gosto, mas baseada numa reação de indiferença visual"6. Na Pop, serviram mais para desvencilhar a arte burguesa e se referir aos produtos de massa como sinteticamente visuais e criar neles um interesse artístico de certa forma, banalizados.
    A Pop Arte chegou aos EUA, quando alguns artistas ingleses foram estabilizar moradia em Nova Iorque, mais especificamente na ilha de Manhattam. Na gíria das ruas, o pop, deu início para o nome característico dessa arte que é sobretudo uma arte dos Estados Unidos por excelência, "sua obra remetia um imaginário urbano que se espalhava por todos os lugares, tais como grafitte e publicidade" (DEMPSEY, 2003, p. 118). O termo "Pop Art" foi caracterizado por Lawrence Alloway, crítico de arte inglês que usou este termo pela primeira vez para designar os produtos de mass media, mais tarde ele se muda para Nova Iorque.
    A iconografia proposta pelos artistas contemporâneos, surgidos de uma relação pragmática com a classe média, que sem dúvida, necessitavam desta venda de arte para sobreviver. Os motivos usados foram elementos cotidianos de consumo, os enlatados de Warhol, os quadrinhos de banda desenhada de Roy Lichtenstein, o sensualismo das pinp ups, mulheres que representavam o esteriótipo desejado, de Wesselmann.

                                 Electric Chair

CONTINUARÁ EM 29.4

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