quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Transformação Sensível Neblina sobre trilhos



           O objetivo crucial para a idéia do documentário é o de retratar a capacidade do gênero humano que em função de sua atividade prática transforma a sociedade em que vive. O dinamismo das relações sociais devido à ação humana em conjunto determina as mutações ocorridas em todo contexto histórico, mas se torna necessário mostrar também que infelizmente na sociedade atual esta capacidade estrita do ser humano se encontra submissa ao julgo do capital. Por isso, através do cotidiano nos deparamos com uma sociedade em que os valores e tradições são inseridos como perenes os que nos remete a concluir que definitivamente nos relacionamos num mundo estático, em que as mudanças se encontram na jurisdição de algo maior e, principalmente, externo ao conjunto dos homens.

A base fundamental da forma de organização em questão consiste na separação do trabalhador de seus meios de produção, um fator que é determinante para incompreensão da capacidade humana de buscar e, desta maneira, transformar a natureza para sanar as suas necessidades básicas. Numa sociedade em que os objetivos estão voltados intrinsecamente ao acúmulo do capital a capacidade humana se restringe a produzir e reproduzir esta meta, diferente de todas as formas anteriores de organização em que era possível encontrar os meios de subsistência (matéria-prima e instrumentos de trabalho), de forma livre pelo homem visto que o mesmo e capaz de produzir além do necessário para sua sobrevivência e ao mesmo tempo, incapaz de produzir a totalidade de suas necessidades de forma isolada.
No sistema capitalista a troca que anteriormente era realizada como mero intercambio passa a ser a força motriz de toda a relação social e assim o excedente de toda produção humana se amplia apenas e sobre posse dos detentores dos meios de trabalho. O que anteriormente era produzido para usufruto imediato, entendido como valor de uso, através do capital se torna valor de troca e esta passa a ter como objetivo o acúmulo e a ampliação de riqueza. Portanto, podemos afirmar que o sistema capitalista a relação de troca é a base de toda a relação humana e por isso temos acesso a todas as potencialidades humanas apenas através da mesma.

A capacidade do gênero humano se encontra, desta maneira, submissa a lei da oferta e da procura, as propriedades estão livres para compra e a venda e não para o usufruto coletivo de toda a humanidade. Por isso a ação consciente do homem se torna de forma dissimulada fadada a atender aos interesses de poucos em detrimento ao desenvolvimento da capacidade de produção do restante em todos os âmbitos.

Nosso trabalho procura através da história do impacto que ferrovia trouxe ao implantar os caminhos do trilho São Paulo Railway, mostrar que, apesar de deturpado e controlado, a transformação é sensível, e por isso a sociedade sempre produz e reproduz o resultado da ação dos homens em conjunto, e por meio desta produção audiovisual surtir no espectador a retomada do ser humano como sujeito do processo histórico, comprovar que tudo que é feito, desde as coisas mais plausíveis até as mais repugnantes, são frutos da ação humana consciente submissa ao sistema de organização atual.

Neblina sobre trilhos não é somente pelo charme poético do clima no Alto da Serra, mas também por apesar de existir o conhecimento sobre o processo histórico e o homem como sujeito está nebuloso, perdido na égide da efemeridade do cotidiano imediato, no senso comum. Portanto, em um primeiro momento julgamos ser necessário a descoberta do mundo para que se torne possível o entendimento da ação consciente sob os ditos do capital e desta maneira remeter o espectador a entender o momento atual de sua sociedade.
Foi elaborado um vídeo com fotos de nossa autoria e com material de arquivos, para vossa apreciação:




Soraia O. Costa é graduada em Ciênciais Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André (2009). Pesquisadora e documentarista do projeto Neblina sobre Trilhos sobre a memória ferroviária de Paranapiacaba - apoio institucional Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA), Universidade Federal do ABC (UFABC) e Ministério de Cultura e Educação MEC/SEsu. Funcionária superintendente de operações e pesquisas econômicas do Intituto Brasileiro da Economia, Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (IBRE/FGV-SP). Participam dessa coluna o historiador  Demócrito Mangueira Nitão Junior FSA/UFABC e a socióloga Marina Rosmaninho FSA/UFABC.

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