quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Do Cinza ao Dark - Escombros na Via Férrea: Cia Antártica








Ao embarcar na estação da LUZ sentido Rio Grande da Serra nos deparamos com paisagens, pessoas, trabalho, economia, cotidiano mas será que por trás desta rotina não exista algo a mais, algo que a apreensão imediata não nos mostra?
Minhas pesquisas atuais estão voltadas a reconstituir conforme o balanço típico do trem este trecho específico da via férrea, e desta forma, entender quais são os motivos para que atualmente o seu entorno seja uma paisagem composta por escombros, imensos galpões abandonados, composições quebradas,indústrias abandonadas.
No caminho deste trecho específico é possível mapear ao menos uma "carcaça" de grande uma grande indústria para cada estação que possui. Mas nesta coluna vou me focar na Cia Antártica que hoje promove uma paisagem de abandono em frente a estação Mooca da linha turquesa da CPTM.

A história da cerveja Antártica em solo brasileiro se inicia em 1885 quando a Antárctica Paulista se instala primeiramente no bairro da água branca - São Paulo- capital. No ínicio produzia apenas gelo e gêneros alimentícios, como o abatedouro de suínos que também levava o nome Antarctica. Em 9 de fevereiro de 1891 é fundada a Companhia Antártica Paulista e o casal Antõnio e Helena Zerrener passam a ser os brasileiros acionistas. Com a desvalorização da moeda no ano de 1893 o casal Zerrener investem na Antarctica e passam a ser a ser acionistas majoritários. Com o crescimento acelerado a Antarctica sob a direção da Zerrener, Bülow & Cia passou a dar enfâse à produção de refigerantes e cerveja e decidiu então expandir ao adquirir em 1904 o controle acionário da então Cervejaria Bavária, esta que se encontrava na Mooca ao lado da via férrea SPR, neste momento em sua fase áurea, em que o café e o processo imigratório estavam em alta.


Logo da Antiga Cervejaria Bavária, que seria o local da nova sede da Cia Antárctica.









Em 1920 a sede da Cia Antarctica passou a ser na Av. Presidente Wilson no bairro da Móoca. A então conhecida alameda bavária, como era conhecida a Av. Presidente Wilson, não teria mais razão de ser conhecida desta forma. É impressionante como as história das indústrias são necessárias para se entender a história de uma cidade ou da própria ferrovia. A Cia Antarctica foi uma das primeiras indústrias a se instalar no Brasil e compõe uma parte importante na história de SP e também da manutenção da ferrovia em geral.
Assim como a Cia Antártica nos remete ao que foi a fase áurea da industrialização paulistana ela nos remete também ao agente deste desenvolvimento frenético, que foi o sucesso da SPR como meio de escoamento de mercadorias. Na fase áurea do Café a locomotiva era a forma mais moderna e eficaz que uma nova fábrica metade brasileira e outra metade Alemã poderia utilizar.

Logo encontrado no interior da Cia Antártica na Av. Presidente Wilson.


Por isso não apenas a Antarctica mas muitas outras fábricas e indústrias viram no entorno da então SPR, a primeira via férrea paulista, o local ideal para a instalação de suas sedes. A ferrovia abriu caminhos para o surgimento de novas cidades, pontos de comércio e juntamente com isso as indústrias e fábricas vieram reforçar o surgimento de bairros operários como a Matarazzo e a formação dos bairros de Utinga e Vila Indústrial. A partir disso podemos entender também porque a região do grande ABC foi considerada até o início da década de 90 o pólo industrial brasileiro em relação ao PIB, por meio das indústrias e sua instalação no espaço físico destas três cidades.

Mas a paisagem atual que encontramos hoje da Cia Antártica reflete o que houve com a maioria das indústrias e fábricas que se encontravam no entorno deste trecho específico, a linha turquesa da CTPM. Com a mudança da Cia Antárctica para a cidade de jaguariúna-SP, uma tendência para a maioria das indústrias, que mantiveram seus escritórios na região metropolitana de SP e migraram para o interior de SP em busca de mão-de-obra mais barata. Mas este evento ocorreu não apenas pelo custo que era manter as fábricas e indústrias no entorno da ferrovia, a opção rodoviária na década de 50 refletiunos anos 80 e 90 de forma voraz neste trecho, então no ponto de vista logístico as indústrias não estavam mais localizadas em um ponto estratégico para ter maior eficiência em escoar suas mercadorias.


Cia Antártica hoje: paisagem de abandono

Nesta altura era bem mais rentável migrar sua sede para o interior, no entorno de uma grande Rodovia, como é a paisagem que encontramos hoje na rodovia Ayrton Senna. Entendemos que tudo ao nosso redor tem uma justificativa para ser, a transformação as vezes é lenta,em cada vento, em cada chuva tudo aquilo que um dia foi o símbolo da insdustrialização paulista passa a ser um vazio, um conjunto de escombros. Mas assim como é a dinâmica do capital enquanto o partimônio indústrial definha os grandes galpões e escombros são vistos por metro quadrado e se perde em meio á tanta especulação imobiliária.
Aos poucos aquele grande espaço vazio da Antarctica, sua grande torre, os ferros distorcidos, passam pelo vidro do trem como restos de uma história que precisa de mais tempo para ser contada do que uma simples parada de estação. O cenário passa a ter mais sentido e podemos entender melhor o quanto fábricas, indústrias, linhas férreas são determinantes para o nome de ruas, para a história de cidades, para o entendimento de nosso cotidiano.

Marina Rosmaninho é graduada no Centro Universitário Fundação Santo André(2008) Bacharel e Licenciada no curso de Ciências Sociais. Atualmente trabalha junto com Ana Maria Dietrich no grupo de pesquisa Neblina sobre Trilhos. Marina atualmente trabalha para realizar o documentário intitulado Transformação Sensível, Neblina sobre trilhos. É socióloga e amante da linguagem audivisual, gosta de fotografia, documentários, filmes e de utilizar de tudo isso para investigar a sociedade.

















2 comentários:

Ju disse...

O abandono é mundial e tudo virou descartavel. Mas financeiramente é mais viavel deixar o que ja foi util degradar, e mudar a localizacao pra economizar...é a modernidade esquecendo dos proprios alicerces. Muito bom relembrar que ali ja foi util pra sociedade, e trabalharemos para que a cidade não vire um museu abandonado. Parabens!

3 de dezembro de 2010 às 08:40
Marcus Sluppek disse...

Nossa, adorei, sabe ??? muito bom ter te lido, vc ... Pontua bem, figura bem, nos abre o contexto geral p/ entender aonde isso se encaixa e depois nos foca numa particuliaridade em específico !!!
Adorei !!!

6 de dezembro de 2010 às 18:29

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