A imprensa brasileira de rock: a era Rock In Rio (parte 2/4)
por Marcelo Pimenta e Silva
O primeiro Rock in Rio foi um marco para o mercado musical no Brasil. Realizado durante o mês de janeiro de 1985, o evento tornou-se um dos símbolos da juventude pós-ditadura que mitificaria a cultura rock e pop no país. O Brasil vivia a redemocratização e essa foi apenas uma das novidades naquele ano. O Rock in Rio vinha de encontro a esse momento histórico na política nacional e possibilitou uma “abertura” para que shows internacionais ocorressem com maior freqüência no país, bem como proporcionou a consagração do cenário pop e rock nacional. Entre 11 e 20 de janeiro, mais de um milhão e meio de pessoas presenciaram na ‘Cidade do Rock’, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, diversas atrações internacionais como Iron Maiden, Queen, Ozzy Osbourne, B-52s, Nina Hagen e nacionais como Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Ney Matogrosso (BISSIGO, 2005).
O festival sedimentou uma credibilidade de público e de organização que consolidou o mercado nacional num dos principais consumidores do produto rock. A importância do festival foi ter traduzido, naquele momento, o estilo musical como fenômeno político e social da juventude que vivia uma nova fase do Brasil.
Dois anos antes do Rock in Rio, bandas como Blitz, Barão Vermelho e Paralamas do Sucesso passaram a fazer sucesso trazendo uma identificação frente ao público jovem desejava músicas mais contextualizadas com o período de redemocratização.
O rock nacional expressava um fenômeno da classe média brasileira que após o Rock in Rio fortaleceu o mercado fonográfico graças também ao Plano Cruzado do governo do presidente José Sarney (1985-1990). O plano econômico serviu como ponte para que uma sociedade ávida por consumo e com condições de aquisição de bens se instalasse no país, ou seja, cerca de vinte milhões de pessoas que sobreviviam com um salário mínimo também passaram a adquirir produtos culturais como o hábito de comprar discos.
Desta forma, é evidente que a primeira metade dos anos 80, chegando até o Rock in Rio, serviu para “formar” um público que não era mais representado pelos músicos de MPB. Ao invés da contestação social por metáforas, agora a juventude podia expressar de forma mais autêntica suas angústias, demonstrando toda sua pressa e impaciência, além da grande vontade de se divertir, sem precisar adotar ideologias ou utopias para ter seu espaço na sociedade.
A tribo heavy metal
O heavy metal já é um estilo quarentão dentro do rock e assim como o próprio rock tem inúmeras ramificações com grupos e cantores consagrados e outros obscuros, mas influentes dentro do próprio gênero. Os críticos apontam a banda inglesa Black Sabbath como a fundadora do estilo, isso porque em 1970 a banda lançou um disco que contrariava todos os preceitos do rock feito em plena contracultura. Com o fim do sonho hippie, o momento era devastador para uma juventude inteira que não poderia mudar o mundo, as letras tomadas de imagens obscuras como a de War Pigs(1) era a resposta para a alienação provocada pela política americana imposta ao mundo durante a Guerra Fria. A partir daí o metal se alastrou com diversas bandas e subgêneros, passando a fomentar inúmeras publicações underground que divulgaram o gênero.
Em contrapartida, no Brasil ainda vivia-se sob o clima de fechamento cultural, tendo como resultado desse processo político, uma cultura massificada que não permitia contato com outros formatos de música, em especial a feita em guetos como o punk, hip hop e o próprio metal. Como saída, havia uma profícua troca de informações que sustentava um underground ávido por rock pesado, bandas e cantores que não se enquadravam no modelo comercial veiculado pela grande mídia. Nesse cenário underground, os públicos de música heavy metal e punk rock se diferenciavam de qualquer outra tribo dentro da cultura pop, isso porque pareciam criar um universo simbólico dentro do sistema já estabelecido da música comercial. Esses fãs formavam tribos que sobreviviam às margens de grandes editoras e gravadoras, fomentando uma comunicação direta entre artistas e fãs, através dos fanzines e de fitas cassete que eram repassadas entre os fãs.
No próximo artigo, destacaremos a revista Rock Brigade e a revista Bizz.
Notas:
(1) - "Porcos de Guerra" – Música do grupo britânico Black Sabbath. Canção anti-guerra que protesta de forma agressiva contra a Guerra do Vietnã.
Referências bibliográficas:
BISSIGO, Luís. E assim se passaram 20 anos. Jornal Zero Hora. 19/01/2005. Porto Alegre. P. 6 e 7.
BRUNELLO, Aline Viviani; BORGES, Maria Fernanda Duarte Guimarães; TAKAHASHI, Vivian Cristina Bezerra. A Revista Bizz/Showbizz no jornalismo musical brasileiro da década de 90. Monografia de conclusão de curso de jornalismo da Universidade de Ribeirão Preto, São Paulo. Disponível em: http://www.unaerp.br/comunicacao/i. Acesso em 28 de agosto de 2009.
FIGUEIREDO, Alexandre. A volta por cima. Observatório da Imprensa. Disponível em: http://observatorio.ultimosegundo.ig.combr/artigos.asp?cod=358JDB003. Acesso em: 17de julho de 2008.
GUIMARAENS, Edgar. Algo sobre Fanzines. Disponível em: http://kplus.cosmo.com.br/materias.asp?co+4. Acesso em: 22 de setembro de 2009.
MAFFESOLI, Michel. O Tempo das Tribos. 2 ed. Rio de Janeiro. Editora Forense Universitária, 1998.
Contribuição do leitor Marcelo Pimenta e Silva, natural de Bagé/ Rio Grande do Sul, nascido em 11 de outubro de 1979. Jornalista pela Universidade da Região da Campanha – Urcamp, atua como assessor de imprensa e pesquisador. E escreve artigos sobre política e cultura em geral.
O festival sedimentou uma credibilidade de público e de organização que consolidou o mercado nacional num dos principais consumidores do produto rock. A importância do festival foi ter traduzido, naquele momento, o estilo musical como fenômeno político e social da juventude que vivia uma nova fase do Brasil.
Dois anos antes do Rock in Rio, bandas como Blitz, Barão Vermelho e Paralamas do Sucesso passaram a fazer sucesso trazendo uma identificação frente ao público jovem desejava músicas mais contextualizadas com o período de redemocratização.
O rock nacional expressava um fenômeno da classe média brasileira que após o Rock in Rio fortaleceu o mercado fonográfico graças também ao Plano Cruzado do governo do presidente José Sarney (1985-1990). O plano econômico serviu como ponte para que uma sociedade ávida por consumo e com condições de aquisição de bens se instalasse no país, ou seja, cerca de vinte milhões de pessoas que sobreviviam com um salário mínimo também passaram a adquirir produtos culturais como o hábito de comprar discos.
Essa gente também saiu comprando discos, a ponto de os Paralamas venderem trezentos mil e o Legião Urbana, oitocentos mil. O RPM contabilizou mais de dois milhões de consumidores em sua estréia. Em parte, o plano contribuiu para tornar o rock uma música realmente popular no Brasil. (Brunello, Borges e Takahashi, 2005).
Desta forma, é evidente que a primeira metade dos anos 80, chegando até o Rock in Rio, serviu para “formar” um público que não era mais representado pelos músicos de MPB. Ao invés da contestação social por metáforas, agora a juventude podia expressar de forma mais autêntica suas angústias, demonstrando toda sua pressa e impaciência, além da grande vontade de se divertir, sem precisar adotar ideologias ou utopias para ter seu espaço na sociedade.
A tribo heavy metal
O heavy metal já é um estilo quarentão dentro do rock e assim como o próprio rock tem inúmeras ramificações com grupos e cantores consagrados e outros obscuros, mas influentes dentro do próprio gênero. Os críticos apontam a banda inglesa Black Sabbath como a fundadora do estilo, isso porque em 1970 a banda lançou um disco que contrariava todos os preceitos do rock feito em plena contracultura. Com o fim do sonho hippie, o momento era devastador para uma juventude inteira que não poderia mudar o mundo, as letras tomadas de imagens obscuras como a de War Pigs(1) era a resposta para a alienação provocada pela política americana imposta ao mundo durante a Guerra Fria. A partir daí o metal se alastrou com diversas bandas e subgêneros, passando a fomentar inúmeras publicações underground que divulgaram o gênero.
Em contrapartida, no Brasil ainda vivia-se sob o clima de fechamento cultural, tendo como resultado desse processo político, uma cultura massificada que não permitia contato com outros formatos de música, em especial a feita em guetos como o punk, hip hop e o próprio metal. Como saída, havia uma profícua troca de informações que sustentava um underground ávido por rock pesado, bandas e cantores que não se enquadravam no modelo comercial veiculado pela grande mídia. Nesse cenário underground, os públicos de música heavy metal e punk rock se diferenciavam de qualquer outra tribo dentro da cultura pop, isso porque pareciam criar um universo simbólico dentro do sistema já estabelecido da música comercial. Esses fãs formavam tribos que sobreviviam às margens de grandes editoras e gravadoras, fomentando uma comunicação direta entre artistas e fãs, através dos fanzines e de fitas cassete que eram repassadas entre os fãs.
No próximo artigo, destacaremos a revista Rock Brigade e a revista Bizz.
Notas:
(1) - "Porcos de Guerra" – Música do grupo britânico Black Sabbath. Canção anti-guerra que protesta de forma agressiva contra a Guerra do Vietnã.
Referências bibliográficas:
BISSIGO, Luís. E assim se passaram 20 anos. Jornal Zero Hora. 19/01/2005. Porto Alegre. P. 6 e 7.
BRUNELLO, Aline Viviani; BORGES, Maria Fernanda Duarte Guimarães; TAKAHASHI, Vivian Cristina Bezerra. A Revista Bizz/Showbizz no jornalismo musical brasileiro da década de 90. Monografia de conclusão de curso de jornalismo da Universidade de Ribeirão Preto, São Paulo. Disponível em: http://www.unaerp.br/comunicacao/i. Acesso em 28 de agosto de 2009.
FIGUEIREDO, Alexandre. A volta por cima. Observatório da Imprensa. Disponível em: http://observatorio.ultimosegundo.ig.combr/artigos.asp?cod=358JDB003. Acesso em: 17de julho de 2008.
GUIMARAENS, Edgar. Algo sobre Fanzines. Disponível em: http://kplus.cosmo.com.br/materias.asp?co+4. Acesso em: 22 de setembro de 2009.
MAFFESOLI, Michel. O Tempo das Tribos. 2 ed. Rio de Janeiro. Editora Forense Universitária, 1998.
Contribuição do leitor Marcelo Pimenta e Silva, natural de Bagé/ Rio Grande do Sul, nascido em 11 de outubro de 1979. Jornalista pela Universidade da Região da Campanha – Urcamp, atua como assessor de imprensa e pesquisador. E escreve artigos sobre política e cultura em geral.
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