sábado, 19 de fevereiro de 2011

A imprensa brasileira de rock: os primeiros anos (parte 1/4)


por Marcelo Pimenta e Silva.


Introdução 
Nesta série de artigos voltados à imprensa musical nacional, em especial às publicações direcionadas ao universo do rock, destacaremos as revistas Bizz e Rock Brigade como as principais revistas de música do país. Responsáveis pela abertura de espaços editoriais para o segmento da imprensa voltada à cultura pop e rock, devem-se destacar também a importância e a influência que ambas tiveram nas décadas de 80 e 90. Contudo, em tempos de disseminação de blogs e revistas “on line”, as duas publicações encontraram problemas para continuar a trajetória de publicações inovadoras. A revista Bizz encerrou as atividades por duas vezes e hoje está fora de circulação desde 2007, quando surgiu a Rolling Stone Brasil. É importante ressaltar que a Rolling Stone é para a imprensa musical dos últimos 40 anos um império editorial mundial. Nessa luta inglória, entre uma publicação tupiniquim e uma estrangeira, com boa parte do conteúdo produzido no exterior, sobrou para a Bizz, que saiu do mercado, mesmo tendo em seu currículo a importância de ter ditado, com força e evidência, opiniões e rumos na indústria fonográfica no período pós Rock In Rio I e pré-MTV brasileira.

Em relação a Rock Brigade, depois de uma década de números expressivos, como quando foi destacada como a principal revista de música da América Latina em termos de edições publicadas (a Brigade ostentava uma tiragem de cerca de 60,000 exemplares), ela teve uma profunda reformulação interna que culminou com a saída de diversos jornalistas tradicionais da revista.

Atualmente, conforme alguns críticos e leitores, a principal revista do gênero de heavy metal no Brasil é a Roadie Crew que surgiu em 1997 e também tem suas origens a partir de um fanzine. A Roadie Crew conta com uma expressiva tiragem, edições especiais e é publicada também em Portugal.

As décadas de 60 e 70
Durante a década de 60, as revistas de rock traziam um aspecto mais conservador em suas reportagens, a maioria divulgando os astros da Jovem Guarda que eram ídolos da televisão, bem como a “beatlemania” e o rock mais comercial do período. A falta de informação era um dos entraves dessas publicações, afinal com o fechamento cultural imposto pela ditadura militar (1964-1985) o rock era visto como “subproduto do imperialismo americano”.

Com a quebra de costumes proposta pela Tropicália no final dos anos 60 houve a abertura para o rock no Brasil como símbolo de uma cultura universal. No contexto de contracultura, o Brasil estava amordaçado e a imprensa também. Contudo, deve-se levar em conta que o período de exceção e fechamento causado pelo Ato Institucional N° 5, o AI-5, limitou a contracultura no Brasil a núcleos de produção underground, vozes discordantes que desenvolveram uma imprensa alternativa ao jornalismo censurado pela ditadura.

O espaço para o rock e todo o universo pop do final dos anos 60, por si só a própria face mundialmente conhecida da contracultura, passou a ter espaço na coluna de Luiz Carlos Maciel no clássico jornal alternativo Pasquim. Conhecido através do Pasquim, Maciel participou de diversos impressos nanicos, culminando com a editoria da Rolling Stone pirata, publicação que durou apenas um ano. Do começo dos anos 70 até o fim da década foram inúmeras as publicações direcionadas que auxiliaram a fomentar o rock como símbolo máximo da cultura jovem mundial. A maioria durou pouco, mas consolidou o jornalismo musical brasileiro, em especial a crítica de rock.

Com o fim da ditadura militar e a abertura política, o rock tornou-se o principal produto cultural da juventude brasileira que não tinha uma ligação ideológica com as reivindicações por liberdade de expressão e combate ao regime de exceção. Portanto, sem mais um ideal coletivo de mudanças políticas, os jovens queriam apenas se divertir e viver de forma expansiva os primeiros anos sem a mordaça e a repressão do regime militar. É nesse contexto, que as editoras percebem um grande filão: o público jovem hedonista e individualista que consomes produtos culturais que o distinguem em tribos. Dessa forma, há um nicho editorial para todo o tipo de jovem: o surfista, o esportista, o adepto da filosofia ambientalista, o cinéfilo, bem como aqueles jovens que adoram o universo da música pop.

No próximo artigo, iremos abordar o festival Rock In Rio como marco cultural para a juventude brasileira e a consolidação da imprensa segmentada ao universo do rock.

Referências bibliográficas:

BISSIGO, Luís. E assim se passaram 20 anos. Jornal Zero Hora. 19/01/2005. Porto Alegre. P. 6 e 7.

BRUNELLO, Aline Viviani; BORGES, Maria Fernanda Duarte Guimarães; TAKAHASHI, Vivian Cristina Bezerra. A Revista Bizz/Showbizz no jornalismo musical brasileiro da década de 90. Monografia de conclusão de curso de jornalismo da Universidade de Ribeirão Preto, São Paulo. Disponível em: http://www.unaerp.br/comunicacao/i. Acesso em 28 de agosto de 2009.

FIGUEIREDO, Alexandre. A volta por cima. Observatório da Imprensa. Disponível em: http://observatorio.ultimosegundo.ig.combr/artigos.asp?cod=358JDB003. Acesso em: 17de julho de 2008.

GUIMARAENS, Edgar. Algo sobre Fanzines. Disponível em: http://kplus.cosmo.com.br/materias.asp?co+4. Acesso em: 22 de setembro de 2009.

MAFFESOLI, Michel. O Tempo das Tribos. 2 ed. Rio de Janeiro. Editora Forense Universitária, 1998.


Contribuição do leitor Marcelo Pimenta e Silva, natural de Bagé/ Rio Grande do Sul, nascido em 11 de outubro de 1979. Jornalista pela Universidade da Região da Campanha – Urcamp, atua como assessor de imprensa e pesquisador. E escreve artigos sobre política e cultura em geral.

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