sábado, 5 de março de 2011

A imprensa brasileira de rock: Rock Brigade e Bizz (parte 3/4)


por Marcelo Pimenta e Silva


Rock Brigade e a imprensa heavy metal
Como vimos no artigo anterior, o Rock in Rio e a cobertura da Rede Globo ajudou a divulgar o universo da cultura heavy metal, porém a revista que era o principal informativo do universo “metaleiro” a Rock Brigade nasceu no início da década de 80. Fundada por jornalistas que, antes de mais nada, eram também fãs de bandas de heavy metal, a publicação nasceu como um fanzine. O informativo do fã-clube Rock Brigade de São Paulo passou a circular no ano de 1981. A resposta do público foi tamanha que a partir da segunda metade da década de 80, a Rock Brigade já era a ser uma das principais publicações do gênero no mundo.

O diferencial na publicação através dos anos foi contar com uma eficiente distribuição nacional. Aos poucos a revista ganhava mais páginas e logo passaria de um informativo com folhas de papel jornal em preto e branco para uma revista toda em cores. Essas mudanças gráficas que seriam perceptíveis durante os anos 80, até o começo da década de 90, resultaram num aumento de anunciantes, a maioria composta por gravadoras e lojas de discos. Contudo, a Rock Brigade não ficaria restrita ao mercado editorial, ainda na década de 80, nascia a Rock Brigade Records, selo fonográfico que tinha a função de distribuir discos de grupos estrangeiros e lançar inúmeras bandas de heavy metal do país. Inúmeros grupos tiveram seus primeiros lançamentos produzidos e distribuídos pela Rock Brigade Records.

Na década de 90, a Rock Brigade era a principal revista de rock e heavy metal do Brasil. Contava com diversos correspondentes no exterior e abria espaços para outras revistas segmentadas dentro do nicho da imprensa musical. Top Rock, Dynamite, Metalhead, Valhalla, entre outras foram algumas das principais publicações da década de 90 e da década 00 que surgiram a partir do sucesso da Rock Brigade.



Bizz: um marco para a música pop nacional
A Bizz nasceu em um período único na história cultural do país, onde com maior liberdade social houve a ascensão do rock nacional como música popular. Com essa nova perspectiva dentro de uma indústria cultural consolidada, a Abril planejou lançar no mercado uma publicação mensal nos moldes das já consagradas Rolling Stone, Melody Maker, New Music Express (NME). A Bizz foi às bancas com uma bem definida estratégia de intenção e entendimento comercial, algo diferente de outras publicações anteriores, que na maioria dos casos foram efêmeras.

Durante o Rock in Rio de 1985, a Editora Abril encomendou uma pesquisa de mercado tendo como fonte o público que estava no evento. Nessa enquete havia perguntas sobre bandas prediletas; o tipo de publicação musical que gostariam de ler, entre outras questões que deram respaldo para que a Abril publicasse alguns meses depois, uma revista que voltada ao cenário da cultura pop. (Brunello, Borges e Takahashi, 2005).

A revista teve sua primeira edição publicada em agosto de 1985 e surgiu para atender uma demanda existente após a constatação que havia um mercado a ser explorado. Um grande consumo de produtos para a faixa etária dos jovens, que ia de vestimentas a aparelhos de som e vídeo; o aumento de público em shows nacionais e internacionais; a crescente venda de discos, além da revolução causada pelo videoclipe, fez com que a Editora Abril planejasse um veículo que pudesse suprir as necessidades desse público ávido por consumir informações sobre o mundo musical e cultural, além de atender a proposta do mercado editorial. (Brunello, Borges e Takahashi, 2005).

Com periodicidade mensal, linguagem adaptada à atual geração jovem, estilo gráfico moderno, material inédito que não se resumisse em biografias “requentadas” de “dinossauros” dos anos 60 e 70, mas matérias realizadas por jovens jornalistas que tinham especialização em crítica musical e cultural. A revista, além de contextualizar suas pautas com a produção do cenário brasileiro, soube captar essa mudança de perfil no jovem brasileiro, o que fez com que a publicação fosse um sucesso de vendas por mais de dez anos, tendo uma tiragem de cerca de 50 mil exemplares. Sem concorrentes na época, a Bizz tornou-se, de fato, o maior expoente como veículo impresso em jornalismo musical.


Referências bibliográficas:

BISSIGO, Luís. E assim se passaram 20 anos. Jornal Zero Hora. 19/01/2005. Porto Alegre. P. 6 e 7.

BRUNELLO, Aline Viviani; BORGES, Maria Fernanda Duarte Guimarães; TAKAHASHI, Vivian Cristina Bezerra. A Revista Bizz/Showbizz no jornalismo musical brasileiro da década de 90. Monografia de conclusão de curso de jornalismo da Universidade de Ribeirão Preto, São Paulo. Disponível em: http://www.unaerp.br/comunicacao/i. Acesso em 28 de agosto de 2009.

FIGUEIREDO, Alexandre. A volta por cima. Observatório da Imprensa. Disponível em: http://observatorio.ultimosegundo.ig.combr/artigos.asp?cod=358JDB003. Acesso em: 17de julho de 2008.

GUIMARAENS, Edgar. Algo sobre Fanzines. Disponível em: http://kplus.cosmo.com.br/materias.asp?co+4. Acesso em: 22 de setembro de 2009.

MAFFESOLI, Michel. O Tempo das Tribos. 2 ed. Rio de Janeiro. Editora Forense Universitária, 1998.



Contribuição do leitor Marcelo Pimenta e Silva, natural de Bagé/ Rio Grande do Sul, nascido em 11 de outubro de 1979. Jornalista pela Universidade da Região da Campanha – Urcamp, atua como assessor de imprensa e pesquisador. E escreve artigos sobre política e cultura em geral.

0 comentários:

Postar um comentário

Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.