Tatear o mundo
Vinte e dois artistas exibiram seus trabalhos dentro da exposição Novíssimos, realizada no Rio de Janeiro, na Galeria de Arte IBEU, entre os dias 28 de julho e 2 de setembro. Como o próprio nome anuncia, o evento (nem tão novo, já na sua 41ª edição) tem por objetivo exibir produções de “novas gerações” de artistas contemporâneos, não exatamente no que diz respeito à sua faixa etária, mas sim ao caráter de “novidade” no contato com a instituição galeria/museu.
Mais do que isso, trata-se da oportunidade de lidar diretamente com a figura de um curador externo, ou melhor, de um grupo de curadores (composto por Cezar Antonio Elias, Fernanda Pequeno, Humberto Farias, Ivair Reinaldim, Marcos Nogueira e Toyoko Lepesqueur), que estabeleceu um “tema”, um mote para a exposição (“Mergulhos”) e dentro deste outros pequenos universos poéticos em que os trabalhos foram agrupados e expostos em conjunto. Os artistas tiveram suas obras distribuídas em sete blocos que tangenciavam questões latentes da produção contemporânea, tais quais “Marcas e escrituras”, “Gêneros e comportamentos” e “Paisagem e construção”. Subtítulos plurais que mais sugeriam uma proposta inicial de leitura para as obras do que as aprisionavam em gavetas.
Mais do que isso, trata-se da oportunidade de lidar diretamente com a figura de um curador externo, ou melhor, de um grupo de curadores (composto por Cezar Antonio Elias, Fernanda Pequeno, Humberto Farias, Ivair Reinaldim, Marcos Nogueira e Toyoko Lepesqueur), que estabeleceu um “tema”, um mote para a exposição (“Mergulhos”) e dentro deste outros pequenos universos poéticos em que os trabalhos foram agrupados e expostos em conjunto. Os artistas tiveram suas obras distribuídas em sete blocos que tangenciavam questões latentes da produção contemporânea, tais quais “Marcas e escrituras”, “Gêneros e comportamentos” e “Paisagem e construção”. Subtítulos plurais que mais sugeriam uma proposta inicial de leitura para as obras do que as aprisionavam em gavetas.
Somando ao salão e à publicação de um catálogo distribuído gratuitamente (impresso ou por download), no website da galeria é possível encontrar entrevistas com alguns dos artistas participantes. É interessante constatar em seus discursos que o salão, aparentemente, cumpre seu papel de dar oportunidade a estes de exibir seus trabalhos dentro de um espaço institucionalizado não apenas no Rio de Janeiro, mas dentro do cenário cultural brasileiro.
Não é de surpreender, por exemplo, que o trabalho de Bianca Bernardo esteja dentro de “Tempo e registro” e também possa ser interpretado como parte de “Paisagem e construção”, vide sua relação com a ficção da paisagem através de um vídeo que tem o corpo como protagonista ou junto do registro de uma ação nas ruas de Copacabana. Esses conceitos constituem uma colcha de retalhos que sugerem, como o título da proposta expográfica, que o espectador “mergulhe” dentro das experiências artísticas, nade, seja empurrado e quase afogue nestas sete ondas, de diferentes intensidades, que dão uma amostra das direções da arte contemporânea no Brasil.
Oceano ou aquário? Dos vinte e dois selecionados, mais da metade é do estado do Rio de Janeiro e apenas dois são do Centro-Oeste, indicando que a maior representatividade nesta exposição, assim como em outros salões e eventos baseados em editais públicos, é do Sudeste e do Sul. A que podemos atribuir esse fato? Uma maior tradição universitária dentro das Artes Visuais nestas regiões? Ficariam os artistas fluminenses, obviamente, mais estimulados a enviar seus trabalhos devido à proximidade geográfica? Haveria uma “coincidência geográfica”, ou seja, os trabalhos da região Sudeste foram considerados melhores do que os trabalhos de outras regiões pelo comissão cultural do evento?
Mesmo sem respostas exatas, importante esse dado quantitativo em vista. Não se trata, claro, de estabelecer “cotas” geográficas para o salão; creio que a “qualidade” (aquele conceito cruel, subjetivo, mas presente) deve vir em primeiro lugar no momento de montagem de uma exposição desse porte. De todo modo, não custa desejar que Novíssimos cada vez mais seja divulgado e receba propostas das mais diversas localidades do Brasil, possibilitando que o seu leque geográfico seja mais amplo.
Ao ler as entrevistas dos artistas participantes, é claro o modo como o Rio de Janeiro é enxergado e valorizado como pólo do mercado de arte contemporânea. Ivan Grilo, por exemplo, diz:
Vejo ‘Novíssimos’ como um ponto importante na minha trajetória, principalmente por uma questão geográfica. Por estar baseado numa cidade do interior de São Paulo, via uma dificuldade em iniciar um diálogo com a produção carioca, e a exposição trabalhou muito bem isso, proporcionando um diálogo não só com cariocas, mas com artistas de todo o país.
Expor é ser institucionalizado e nada melhor do que sê-lo no eixo Rio-São Paulo. Não se trata apenas de ter mais um nome de espaço cultural em seu currículo, mas sim de participar do processo único e criativo de se montar uma exposição em conjunto. Mesmo tendo em vista que os trabalhos exibidos foram projetados anteriormente e enviados para a comissão, o processo de torná-los concretos, “reais”, faz com que os artistas alterem suas próprias percepções sobre suas obras. Explicar com palavras e esboços é o lado oposto da longa ponte que leva à adequação ao cubo branco, à iluminação e à interação e discurso dos outros expositores. Podemos comparar aqui com o processo cinematográfico, do roteiro à montagem e sonorização de um filme.
Futuras pesquisas artísticas e institucionalizações irão dar pistas ao público e à crítica sobre a potência das poéticas demonstradas em Novíssimos. De todo modo, tal qual as obras de Virgílio Neto, um dos selecionados para o projeto, por enquanto temos uma amálgama de formas, mídias e percursos; como esta sua série de obras se intitula, são “rastros” da arte contemporânea. É possível colocá-los em diálogo direto dentro de uma galeria, mas faz-se necessário esse espaço vazio entre as imagens, o tempo em si, a fim de que estas respirem e ecoem.
Como este artista diz na entrevista sobre o seu processo artístico, “ainda estou ‘tateando’ o mundo”. Que os trabalhos destes vinte e dois artistas tateiem e sejam tateados pelos constituintes do fenômeno da arte contemporânea no Brasil.
Raphael Fonseca é crítico e historiador da arte. Bacharel em História da Arte pela UERJ, com mestrado na mesma área pela UNICAMP. Professor de Artes Visuais no Colégio Pedro II (RJ). Curador de mostras e festivais de cinema como “Commedia all’italiana” (realizada na Caixa Cultural de Brasília e São Paulo, 2011), o Festival Brasileiro de Cinema Universitário, a Mostra do Filme Livre e o Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora. Membro da Associação Nacional de Pesquisadores
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