quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Flor de Ébano na Coluna Anadietrich




Agenda lotada, se deixar passo a madrugada aqui na frente do computador tendo o facebook como companhia. Mas, entre uma correria e outra, teve um evento que marcou meu calendário na semana passada, a mesa Redonda Extrema-Direita e suas controvérsias no Tempo Presente, um evento do ABC das diversidades, que aconteceu na UFABC São Bernardo. Discussão profícua, debates muito quentes. Também conheci uma nova amiga, a Alexandra, sentada na primeira fileira. Respondendo a uma pergunta, eu disse que hoje os extremistas não estão no poder como na época de Hilter, ela desferiu um contra-ataque, mas se o poder vem do povo e eles são parte do povo, eles estão no poder sim... Confesso que fiquei com a pulga atrás da orelha.
Logo mais trocamos contatos e entre um post e outro do facebook, convidei-a para participar da revista e sua primeira contribuição figura abaixo.

Flor do Ébano, Alexandra, bem vinda!


Ana Maria Dietrich é professora adjunta da UFABC e coordenadora da Contemporartes-Revista de Difusão Cultural - junto a Rodrigo Machado.

DA TRISTEZA A RESISTÊNCIA – A HISTÓRIA DE UM POVO



Desde a captura dos negros no Continente Africano, a vida de cada um deles foi pautada em condições sub-humanas. Mesmo tendo um grande valor comercial nada mais eram do que seres sem almas e que não mereciam nenhum tipo de cuidado ou piedade humana.

O transporte era feito da África para o Brasil nos porões dos navios negreiros, amontoados, em condições desumanas, muitos morriam antes de chegar ao Brasil, sendo que os corpos eram lançados ao mar. Como vemos no trecho do Poema de Castro Alves:



IV
Era um sonho dantesco... o tombadilho 
Que das luzernas avermelha o brilho. 
Em sangue a se banhar. 
Tinir de ferros... estalar de açoite... 
Legiões de homens negros como a noite, 
Horrendos a dançar... 
Negras mulheres, suspendendo às tetas 
Magras crianças, cujas bocas pretas 
Rega o sangue das mães: 
Outras moças, mas nuas e espantadas, 
No turbilhão de espectros arrastadas, 
Em ânsia e mágoa vãs! 
E ri-se a orquestra irônica, estridente... 
E da ronda fantástica a serpente 
Faz doudas espirais... 
Se o velho arqueja, se no chão resvala, 
Ouvem-se gritos... o chicote estala. 
E voam mais e mais... 
Presa nos elos de uma só cadeia, 
A multidão faminta cambaleia, 
E chora e dança ali! 
Um de raiva delira, outro enlouquece, 
Outro, que martírios embrutece, 
Cantando, geme e ri! 

Os brancos tratavam os negros como seres ignorantes, sem nenhum tipo de habilidade, amaldiçoados por Deus e que necessitavam da misericórdia da Igreja para que fossem resgatados mediante a palavra de um Deus que eles nem sabiam quem era.


Os negros, trazidos para o Brasil como escravos, a partir do século XV, destinados à lavoura canavieira, à lavoura cafeeira, e para mineração, pertenciam a dois grandes grupos: os Sudaneses e os Bantos. 

Por mais de 300 anos os negros sofrem todos os tipos de abusos, atrocidades que um ser humano pode imaginar. As mulheres eram abusadas, violentadas, tiveram seus filhos tirados dos seus braços para que fossem vendidos como escravos, mesmo quando a Lei do Ventre Livre estava em vigor. 

Depois da abolição, os negros foram jogados à margem da sociedade, pisoteados, maltratados e ignorados. 
E infelizmente continuamos a ver essas situações acontecendo diariamente, a maioria sofre por falta de moradias, atendimento precário na saúde, de estudos, emprego não negros. Isso sem falar que a cada 10 mortes no Brasil 7 são de negros.Quando vemos as estatísticas de violência doméstica também temos a triste constatação que as mulheres negras corresponde à maioria.

Em pleno século XXI, um povo que ajudou na formação desse país ainda sofre com o preconceito, a discriminação, a segregação.  O primeiro passo para a mudança é fazer com que a Lei contra o Racismo seja reavaliada e colocada em prática como se deve, e que o mito da Democracia Racial seja tirada de vez das escolas.  Os afrodescendentes não necessitam de cotas para Universidades, para emprego, concursos, precisamos exigir que os Artigos 1º e 5º da Constituição Brasileira sejam cumpridos.


Alexandra Eliziario da Silva, é graduanda no curso de Pedagogia na Uniabc, moradora da cidade de Santo André - São Paulo








Amanhã, 16h, 10o edição do Café com PP na UFABC São Bernardo.
Rua João Pessoa, 59,  (11) 4122-7520.




Inscrições abertas para envio de resumo, ouvintes e Mini-cursos do I Seminário Nacional Laboratório de Estudos da Contemporaneidade - Lepcon, Minorias e suas representações até 30 de outubro. Não perca!




0 comentários:

Postar um comentário

Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.